
As esperanças de mediação de Trump na Ucrânia foram frustradas, enquanto tensões militares escalam na Europa; a dinâmica global aponta para um mundo multipolar, com desafios crescentes à hegemonia ocidental e reconfiguração de alianças.
As esperanças foram frustradas em todos os níveis: em Kiev, ninguém mais acredita no papel de Trump como mediador, afirma Gustav Gressel. Ao mesmo tempo, o especialista militar alerta: “Sem pressão dos Estados Unidos, não haverá cessar-fogo.”
Na Ucrânia, as pessoas estão decepcionadas com os resultados diplomáticos de Trump, afirma Gressel. O presidente dos EUA, Donald Trump, pressionou por possíveis negociações entre a Rússia e a Ucrânia há algumas semanas. Não houve muito progresso desde então. O especialista enfatizou na ZDF Heute: “Ninguém mais tem ilusões de que Trump possa conseguir algo aqui.”
Em vez disso, eles agora estão se concentrando em enfraquecer os fundamentos financeiros do esforço de guerra russo, por exemplo, por meio de ataques à indústria de petróleo e gás. Apesar dos contratempos, eles estão “determinados a conseguir reverter o curso da guerra”. Apoiadores ocidentais da Ucrânia se reuniram em Paris. Segundo o presidente francês Emmanuel Macron, 26 países estão prontos para mobilizar tropas para garantir a paz. Segundo nossos informes, sabemos que os Estados Unidos já retiraram a maior parte de seu apoio. Sempre se fala que Trump pode levantar mais sanções ou conceder outros favores ao presidente russo, Vladimir Putin, disse Gressel. Para evitar isso, os europeus e seus aliados tentaram se envolver construtivamente com os Estados Unidos. Em Paris, por exemplo, o enviado especial de Trump, Steve Witkoff, representou Washington. “Esta é uma tática para evitar que algo pior aconteça.”
Ao mesmo tempo, enfatiza Gressel, Washington não está suficientemente motivada para alcançar um cessar-fogo. Trump não está disposto a endurecer as sanções ou expandir o apoio militar, afirma o cientista político. E sem pressão, Putin não aceitará seu cessar-fogo.
Dinâmica Própria
Enquanto isso, vemos a frente de combate seguindo sua própria dinâmica: segundo notícias divulgadas pela mídia ocidental, no conflito ucraniano, houve um suposto ataque contra um prédio do governo. Em 10 de setembro, a mídia ocidental noticiou que a Polônia estava em alerta máximo após relatos de pelo menos uma dúzia de drones russos se infiltrando na fronteira entre a Ucrânia e o país da Europa Central naquela noite. Segundo relatos (sem imagens…), “o Exército polonês e a Força Aérea de Varsóvia abateram os drones Geran-2, modelados com base nos drones Shahed iranianos. O primeiro-ministro Donald Tusk declarou que notificou imediatamente o secretário-geral da OTAN, Mark Rutte.” A guerra sem fim está novamente em curso em todas as frentes, sem restrições.
Pouco se pode dizer sobre o suposto ataque a Kiev, já que foi negado pelo prefeito da cidade, Vitali Klitschko, que, sem saber que o governo estava tentando explorar o incidente, relatou o que realmente aconteceu em uma publicação republicada pelo Ukrinform: “Um incêndio irrompeu em um prédio do governo no distrito de Pechersk após um drone provavelmente ter sido abatido.”
Portanto, o míssil não foi direcionado ao prédio do governo, entre outras coisas porque, se tivesse sido direcionado a ele, teria causado danos muito maiores, enquanto esses danos parecem ter sido causados por um incêndio.
Uma explicação, aliás, dada posteriormente pelo Defense Express, segundo o qual o edifício foi atingido por um míssil de cruzeiro Iskander 9M727, que, no entanto, “não explodiu”, mas cujos tanques o teriam incendiado (também não se poderia escrever que explodiu porque foi interceptado e que o que atingiu o edifício foi o que restou dele).
Também não há razão lógica para os russos terem atacado aquele edifício, já que nunca o haviam feito antes, e tal ataque apenas teria complicado o já complexo processo diplomático, como de fato aconteceu após a fanfarra geral e os vídeos dramáticos do edifício atacado.
Pressionado pelos defensores de uma guerra sem fim, Trump declarou imediatamente que provavelmente imporia sanções contra a Rússia, uma iniciativa que a UE já considera com seu 19º pacote de sanções (e contando). Resta saber se a possibilidade de um encontro com Putin, previamente anunciado por Trump, se confirma, embora o drama atual tenda a descartá-la.
Além disso, a dramatização atual lembra muito e está conectada a muito recente da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que há alguns dias acusou Moscou de tentar matá-la ao bloquear o GPS de seu avião ao pousar em um aeroporto búlgaro. Mais Névoa de Guerra 2.0. As múltiplas negações dessa acusação infantil foram seguidas por declarações oficiais das autoridades búlgaras, segundo as quais não houve sabotagem, mas apenas uma leve perturbação do GPS, “como ocorre frequentemente em áreas densamente povoadas.”
Outras Frentes
Outras frentes da Guerra Europeia estão se aquecendo: sobre o incidente com drones na Polônia, Stephen Bryen, renomado especialista internacional em defesa e segurança e autor do blog Substack, Arms and Strategy, declarou: “Acredito que os ucranianos conseguiram controlar alguns drones russos e os enviaram para a Polônia.” Bryen foi Diretor Sênior de Gabinete do Comitê de Relações Exteriores do Senado e Secretário Adjunto de Defesa para Política de Tecnologia de Segurança durante o governo Reagan.
Ele e outros analistas sugerem a possibilidade de um evento de “bandeira falsa” como parte da Névoa da Guerra 2.0 para manter o “grupo de guerra” vivo. Sabe-se que os drones que aparecem nas fotos publicadas pela mídia polonesa estão desarmados e são usados principalmente para reconhecimento ou como iscas para sobrecarregar as defesas aéreas. O que poderia estar por trás desse incidente? Segundo declarações bielorrussas, se acreditarmos nelas, houve interferência eletrônica significativa, e os drones podem ter se desviado de sua rota. Uma possibilidade, a mais provável, é que os ucranianos tenham conseguido assumir o controle de vários drones e os enviado para a Polônia. Estou inclinado a acreditar nessa hipótese pelas seguintes razões: nenhuma das áreas onde os drones foram interceptados era remotamente sensível; assumir o controle dos drones seria uma excelente maneira de orquestrar uma provocação; e esse tipo de dispositivo é descrito como um drone barato com componentes americanos e asiáticos, o que o torna relativamente fácil de controlar.
Jogando lenha na fogueira: ultimamente, temos visto nas manchetes que os Estados Unidos, a Alemanha e a Noruega estão conduzindo manobras antissubmarino no Mar de Barents, ao mesmo tempo em que a OTAN continua a sua guerra por procuração contra a Rússia.
Poderia surgir um cisne negro? Devemos nos lembrar dos comentários feitos pelo tenente-general Christopher Donahue em junho, que finalmente vieram à tona em julho. Ele é o comandante das Forças Terrestres do Exército dos EUA na Europa, um soldado de infantaria leve e alguém cuja carreira foi amplamente dedicada a operações especiais. Ele falou sobre o fato de que as forças sob seu comando poderiam tomar Kaliningrado, a parte da Prússia Oriental que a Rússia reteve após a Segunda Guerra Mundial e agora é território russo soberano, em poucas horas.
Este local não é apenas uma base naval e uma unidade de produção de navios e equipamentos navais, mas também um importante centro de capacidades militares russas, especialmente em relação a foguetes, mísseis, defesa aérea e antimísseis e ataques. Isso não é algo que devemos encarar levianamente. O fato de ele ter feito tal declaração é impressionante, porque oficiais de alta patente normalmente não fazem tais declarações em público. Segundo o coronel Douglas Macgregor: “O contexto é bastante importante porque, para a Rússia, toda a sua história tem sido uma luta para obter acesso confiável a vias navegáveis, e ela tem três oceanos em suas fronteiras ocidentais: o Ártico, o Báltico e o Mar Negro. Agora, suponho que não seja segredo que o principal objetivo desta guerra na Ucrânia era transformar o Mar Negro em um lago da OTAN. No entanto, no Mar Báltico, a Polônia e os países bálticos argumentam que o Mar Báltico agora é um lago da OTAN desde que a Suécia e a Finlândia aderiram à organização. Há também o ex-secretário-geral da OTAN, Anders Fogh Rasmussen, que argumenta que poderíamos agora bloquear São Petersburgo se quiséssemos, visto que agora temos a Finlândia e a Suécia. Há algum tempo, o Financial Times publicou um artigo alegando que a Dinamarca poderia impedir que petroleiros russos chegassem aos mercados do Mar Báltico. É claro que o último mar, o Ártico, também está se tornando um pouco mais militarizado com mais bases americanas na Escandinávia.”
Com base no que observamos, parece que a OTAN, os EUA e seus parceiros estão presos à ideia de que táticas de intimidação funcionam, que Moscou, Pequim, Teerã ou qualquer outro país, ou mesmo Nova Délhi, podem ser intimidados ou coagidos a fazer o que o “hegemon” quer. Isso é muito perigoso. Significa não compreender que a ordem mundial está buscando mudar para uma direção diferente.
Atenção!!! Os exercícios Zapad-2025, que começaram na sexta-feira, 12 de setembro, e durarão até 16 de setembro, estão sendo realizados na Bielorrússia e incluirão exercícios de longo alcance entre as Forças Armadas russa e bielorrussa. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou em uma coletiva de imprensa na quinta-feira que os exercícios não têm como alvo nenhum país terceiro. Suas declarações ocorrem no momento em que a Polônia acusa a Rússia de enviar intencionalmente ondas de drones para seu espaço aéreo.
Mais Tensão
Do desfile de Pequim: as mensagens que o Ocidente não conseguiu entender. Algumas declarações dos principais líderes europeus da atualidade demonstram como os países ocidentais frequentemente interpretam mal e limitam sua compreensão dos eventos globais.
A China, sem dúvida, aproveitou a oportunidade do 80º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial e da vitória sobre o Japão para consolidar uma imagem de força, mas isso não significa que sua intenção fosse prever uma ameaça militar iminente. O arsenal em exibição, por mais impressionante que seja, nunca foi testado em combate. O Exército de Libertação Popular não trava uma guerra há décadas. Portanto, seu tamanho numérico não corresponde necessariamente à sua real capacidade operacional.
Xi afirmou que a China deseja estar do lado certo da história e, independentemente de se acreditar ou não na sinceridade de suas palavras, é importante que cada nação questione sua própria posição: em um mundo que caminha para o multilateralismo, que atitude adotar? Aceitar o surgimento de novos polos e coexistir, ou se envolver em rivalidades, abrindo caminho para o confronto? A presença de mais de 30 representantes do Sul Global, reunidos primeiro em Tianjin para a 25ª Cúpula da Organização de Cooperação de Xangai e depois em Pequim para o Desfile da Vitória, demonstra um claro impulso rumo ao diálogo entre iguais para coordenar a segurança internacional e enfrentar os desafios do nosso tempo.
Portanto, é dever de cada país reconhecer que ninguém pode ditar unilateralmente o destino de um mundo com outros “polos” de poder. O mundo não é mais unipolar. A Argentina (e o Brasil — nota do tradutor) não pode escapar disso e, para além de suas linhas de fratura, deve enfrentar seus desafios estratégicos. Somente o interesse nacional, nossa soberania e capacidade de autodeterminação devem guiar a política externa de nossa nação. O resto é mais rendição e mais dominação.
Publicado no La Prensa.









