Sala de Gerenciamento de Incidentes da PMESP em Piracicaba-SP mostra resultados importantes, mostrando sua relevância no enfrentamento dos desafios da segurança pública e servindo como como modelo a ser replicado.
Introdução
A gestão de crises na segurança pública exige precisão, integração e respostas rápidas. O Comando de Policiamento do Interior 9 (CPI-9), com sede em Piracicaba, é responsável pelo policiamento em 52 municípios no interior do Estado de São Paulo. Com um Centro de Operações (COPOM) localizado no mesmo complexo, o CPI-9 possui uma infraestrutura estratégica que facilita a coordenação centralizada de operações e o suporte em tempo real às equipes em campo. Essa proximidade entre o comando e o centro operacional potencializa a integração das informações, permitindo respostas mais ágeis e eficazes em situações de crise.
Estruturada com base em diretrizes publicadas no início de 2023, a Sala de Gerenciamento de Incidentes (SGI) consolidou-se como uma ferramenta estratégica, promovendo maior eficiência e segurança na condução de incidentes críticos. Uma das diretrizes tem como foco estabelecer os princípios do Comando e Controle na Polícia Militar, consolidando práticas como comunicação integrada, flexibilidade e unidade de comando. Outra diretriz detalha os protocolos para operações interagências e a interoperabilidade entre instituições, assegurando um fluxo de informações contínuo e qualificado para a tomada de decisões em cenários críticos.
Tais abordagens estão alinhadas aos princípios da Federal Emergency Management Agency (FEMA), agência norte-americana responsável pela gestão de emergências, e do National Incident Management System (NIMS), que oferecem uma estrutura padronizada baseada em comando unificado, interoperabilidade e coordenação em tempo real. Segundo FEMA (2017), o NIMS é projetado para “fortalecer a capacidade de diferentes agências em trabalhar como uma só unidade, promovendo eficiência e mitigação de riscos”.
Aguilar (2017), ao abordar a aplicação de táticas em situações de crise, destaca que “o sucesso em operações complexas está diretamente relacionado à precisão da análise inicial do perigo e à capacidade de resposta integrada”. Essa visão corrobora a importância de estruturas como a SGI, que centralizam informações e integram múltiplas equipes.
A relevância dos Centros de Operações
Os Centros de Operações desempenham um papel crucial nos incidentes críticos, atuando como núcleo estratégico para supervisão, comunicação e coordenação. No caso do CPI-9, o COPOM localizado no mesmo complexo do comando em Piracicaba desempenha um papel central na coordenação das ações em uma região abrangente e diversificada. Essa configuração física favorece a integração das decisões estratégicas com a execução em campo, criando um fluxo contínuo de informações e ações.
Souza (2019) destaca que “a capacidade de consolidar informações em tempo real é o elemento-chave para coordenar respostas ágeis e minimizar riscos em operações de segurança pública”. Essa integração é ainda reforçada pelo uso de tecnologias avançadas, como o Painel de Status do Incidente, que possibilitam a análise contínua de dados e a comunicação instantânea entre diferentes equipes e unidades.
Além disso, Racorti (2021) observa que “a eficácia dos Centros de Operações não reside apenas na tecnologia empregada, mas na capacidade de alinhar objetivos estratégicos a ações táticas coordenadas”. Esse alinhamento, amplamente implementado no CPI-9, garante que as operações sejam conduzidas com precisão e eficiência, mesmo em situações de alta complexidade.
Quando instalada a Sala de Gerenciamento de Incidentes, uma série de ações e procedimentos são adotados no Centro de Operações de Piracicaba. Com elementos físicos e virtuais temporários, o Centro de Despacho se transforma em um Centro de Operações Emergenciais voltados para auxiliar todos envolvidos no incidente, principalmente o comandante.
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Sistema de Gerenciamento de Incidentes e Crises
• Wanderley Mascarenhas de Souza, Márcio Santiago Higashi Couto, Valmor Saraiva Racorti e Paulo Augusto Aguilar (Autores)
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Aplicações práticas e resultados
A implementação da Sala de Gerenciamento de Incidentes (SGI) no CPI-9 foi acompanhada por uma análise detalhada dos incidentes em que a sala foi ativada, complementada por pesquisas realizadas com os policiais militares que participaram das operações. Essas avaliações foram fundamentais para medir o impacto da nova sistemática e identificar pontos de melhoria.
Os dados das pesquisas evidenciaram avanços significativos em aspectos cruciais da gestão de crises. A maior parte dos policiais relatou que o fluxo de informações durante os incidentes foi claro, atualizado e direcionado, o que facilitou a tomada de decisões estratégicas em tempo hábil. Além disso, a integração entre equipes locais e unidades especializadas foi apontada como altamente eficiente, mesmo em situações de alta complexidade operacional.
Outro destaque das aplicações práticas foi a padronização de procedimentos, que proporcionou uma base sólida para lidar com incidentes de diferentes naturezas, como crises sociais e crimes de alta violência. Racorti (2021) complementa que “protocolos bem estruturados não apenas padronizam ações, mas fortalecem a confiança entre as equipes, garantindo desfechos mais seguros e eficientes”.
Nos incidentes analisados, constatou-se uma significativa redução de falhas operacionais, atribuída ao suporte tecnológico oferecido pela SGI e ao alinhamento estratégico proporcionado pelas ferramentas empregadas, como o Painel de Status do Incidente. Esses avanços também foram percebidos na gestão de recursos, com otimização do emprego de viaturas, equipamentos e pessoal, garantindo que as operações fossem conduzidas de forma mais ágil e precisa.
Destaque: o simulado em Piracicaba
No dia 27 de agosto de 2024, foi realizado em Piracicaba um simulado de criminalidade ultraviolenta envolvendo roubo a veículo de transporte de valores (carro-forte). O treinamento contou com a participação do 3º Batalhão de Polícia Rodoviária (3º BPRv), do 10º Batalhão de Polícia Militar do Interior (10º BPM/I) e do COPOM CPI-9. O principal objetivo foi avaliar e aperfeiçoar os protocolos de resposta a incidentes críticos, utilizando a estrutura da Sala de Gerenciamento de Incidentes (SGI).
Durante o exercício, a SGI foi ativada para centralizar a gestão da ocorrência simulada, possibilitando maior integração entre equipes e comando, além de proporcionar análises em tempo real. O treinamento marcou também a estreia do Painel de Status do Incidente, uma ferramenta avançada que centraliza informações críticas da ocorrência, como alocação de recursos, etapas do incidente e imagens operacionais.
O painel foi integrado ao sistema do COPOM São Paulo, permitindo que as informações fossem compartilhadas em tempo real com os videowalls do Comando do Policiamento da Capital e outros centros operacionais relevantes. Essa integração garantiu uma visão abrangente das ações em andamento, fortalecendo a comunicação e o alinhamento estratégico entre unidades.
Conclusão
A evolução da Sala de Gerenciamento de Incidentes do CPI-9 demonstra como a aplicação prática de diretrizes normativas, aliada ao aprendizado contínuo, pode transformar a gestão de crises. O alinhamento entre tecnologia, planejamento estratégico e integração operacional proporcionou não apenas respostas mais rápidas e precisas, mas também um ambiente de maior segurança para civis e agentes.
Os resultados alcançados, confirmados pelas pesquisas realizadas junto aos policiais envolvidos nos incidentes, evidenciam a relevância da SGI como modelo replicável e adaptável. A experiência acumulada no CPI-9 reafirma a importância de iniciativas inovadoras e colaborativas para enfrentar os desafios crescentes da segurança pública.
Referências bibliográficas
AGUILAR, Paulo A. Ações e Operações Táticas Especiais: Aplicação do Conceito de Concepção Imediata do Perigo em Entradas Táticas Realizadas pelo Grupo de Ações Táticas Especiais. Monografia de Conclusão do Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais – II/17. Academia de Polícia Militar do Barro Branco, Polícia Militar do Estado de São Paulo, 2017.
FEMA. National Incident Management System (NIMS). Department of Homeland Security, 2017. Disponível em: https://www.fema.gov/nims.
RACORTI, V. Gestão Estratégica de Crises Policiais. São Paulo: Editora Segurança Pública, 2021.
SOUZA, Wanderley Mascarenhas de. Gestão de Operações Policiais: Princípios Estratégicos em Crises. São Paulo: Ed. Militar, 2019.