Enquanto autoridades ucranianas continuam pedindo armamento, o Pentágono descobriu que “perdeu” um bilhão em armas destinadas a Kiev, e lançadores de foguetes americanos foram encontrados nas mãos do Hamas.
O ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmitro Kuleba, alertou que “o tempo está se esgotando” para os legisladores dos EUA aprovarem ajuda militar adicional a Kiev, dizendo que os custos para as nações ocidentais serão muito mais elevados se as forças russas conseguirem derrotar a antiga república soviética, segundo a RT.
Fornecer mais dinheiro e armas à Ucrânia ajudará os Estados Unidos e seus aliados da OTAN a evitar um confronto direto com a Rússia, disse Kuleba em uma entrevista à ABC News publicada na segunda-feira. “Qualquer que seja o preço de apoiar a Ucrânia agora, o preço de limpar a confusão no mundo se a Ucrânia perder será muito, muito mais elevado”, acrescentou.
Washington, o maior apoiador daquilo que alguns políticos americanos chamaram de “guerra por procuração” na Ucrânia, ficou sem dinheiro para Kiev depois de gastar 113 bilhões de dólares em pacotes de ajuda aprovados pelo Congresso. O último pedido de financiamento do presidente Joe Biden, que inclui 61,4 bilhões de dólares em assistência militar e financeira adicional para a Ucrânia, foi paralisado devido à crescente oposição dos legisladores republicanos.
O senador J. D. Vance e outros críticos republicanos argumentaram que falta a Biden uma estratégia para a vitória na Ucrânia e que ele está simplesmente prolongando o derramamento de sangue ao continuar a enviar ajuda (Veja em: https://www.rt.com/news/586862-us-senator-jd-vance-decries-ukraine-policy/).
Onde há fumaça…
Kuleba também rejeitou um relatório da semana passada que mostrava que uma investigação interna do Pentágono descobriu que os Estados Unidos não tinham rastreado adequadamente mais de um bilhão de dólares em armas enviadas para a Ucrânia. “Tudo o que nos dão é usado com o melhor propósito de acabar com esta guerra com a vitória da Ucrânia o mais rapidamente possível”, disse ele.
Sabe-se também que “Bruxelas está realizando uma auditoria na quantidade de armamento que os estados membros da UE forneceram à Ucrânia desde a invasão em grande escala do país pela Rússia, em resposta a alegações de que algumas capitais não enviaram tudo o que poderiam. A ajuda militar e financeira ocidental à Ucrânia diminuiu nos últimos meses, restringindo a capacidade de Kiev de se defender contra ataques russos e lançar operações de contraofensiva, levantando preocupações de que a vontade de ajudar a Ucrânia esteja diminuindo após quase dois anos de guerra”.
De acordo com o que nos diz o Financial Times (veja matéria em: https://www.ft.com/content/af95ad49-2529-48d4-9a2b-8e10dbc28eeb), existem sérias evidências de tráfico obscuro de armas no Pentágono. Esta verificação surge em um momento em que o Pentágono descobriu que tinha “perdido” mísseis, drones e outras armas destinadas a Kiev no astronômico valor de um bilhão de dólares, assim como lançadores de foguetes de fabricação americana foram encontrados nas mãos de terroristas palestinos do Hamas.
Alguém sempre ganha…
Por outro lado, o jornal alemão Der Spiegel noticiou também que as autoridades alemãs só conseguiram realizar duas verificações aos numerosos fornecimentos que foram realizados de 2022 até hoje, embora a Alemanha seja um dos países que tem garantido maior apoio militar ao presidente Volodymyr Zelensky, o que se traduziu com a mais importante indústria de armamento alemã, a Rheinmetall, registrando um aumento de 53% no valor das suas ações em apenas um ano.
Neste sentido, foi tornado público que a Rheinmetall (com sede em Dusseldorf e maior empreiteira de defesa da Alemanha) planeja lançar uma nova linha de produção devido ao crescente número de encomendas recebidas em consequência do conflito na Ucrânia, conforme noticiou o jornal Die Welt, citando dados da empresa.
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Por seu lado, o serviço diplomático da UE, o Serviço de Ação Exterior (SEAE), está realizando uma auditoria nas armas fornecidas pelos Estados-membros desde o início das operações militares em grande escala, em fevereiro de 2022, conforme disseram ao Financial Times três diplomatas da UE informados sobre os planos.
O SEAE pretende apresentar os resultados às capitais antes de uma cúpula dos líderes da UE em 1º de fevereiro. A auditoria vai se basear nas contribuições dos Estados-membros em resposta a pedidos do SEAE, que já encontrou resistência por parte de alguns países relutantes em fornecer dados completos, segundo um dos diplomatas.
A decisão de realizar a auditoria segue-se a uma exigência do chanceler alemão, Olaf Scholz, na semana passada, de que as entregas militares dos países para Kiev sejam contabilizadas e comparadas.
A Alemanha fez as maiores promessas de armas da UE em termos de valor, de acordo com uma pesquisa do Instituto Kiel para a Economia Mundial. Com mais de 17 bilhões de euros até 31 de outubro do ano passado, seus compromissos são aproximadamente cinco vezes maiores do que o valor dos aportes da Dinamarca, o segundo maior contribuinte.
Embora os comentários de Scholz tenham sido interpretados como uma repreensão a outros grandes estados da UE, como a França e a Itália, cujos compromissos militares são muito menores, seu apelo público para uma maior transparência foi apoiado privadamente por altos funcionários de Bruxelas que acreditam que alguns estados poderiam fornecer mais armas para Kiev em um momento crítico do conflito.
Algumas ideias que adiantamos de nosso próximo artigo sobre o segundo aniversário do reinício das operações militares no Leste Europeu.
Tudo o que se refere ao lobby das armas e o apoio financeiro é muito importante porque a forma como a guerra na Ucrânia vai continuar em 2024 depende principalmente do apoio do “Ocidente”, isto é, principalmente dos Estados Unidos e da UE, à Ucrânia. Talvez fosse melhor – embora geograficamente incorreto – falar em “Norte Global”, uma vez que, além da China, muitos estados do “Sul Global” têm maior probabilidade de apoiar a posição russa.
A Rússia entra em 2024 com autoconfiança e espera alcançar sucessos mais decisivos – especialmente militares – nos próximos meses. A Rússia está cada vez mais convencida de que terá uma trégua mais longa contra o “Norte Global”. O ano de 2024 é um ano eleitoral importante, não apenas nos Estados Unidos. Neste contexto, a Rússia espera que estas eleições fortaleçam as forças que se opõem a um maior apoio à Ucrânia. Portanto, bastaria esperar até o resultado eleitoral projetado. Putin se vê no “Caminho da Vitória”, o que também significa dificuldade em avançar nas negociações neste momento; trata-se apenas de chegar ao fim deste caminho, apesar de todas as perdas. Putin também aguarda com interesse suas próprias eleições em 2024. A população russa segue maciçamente a narrativa da “Grande Guerra Patriótica 2.0” e, embora existam opiniões internas diferentes, hoje encontram ressonância.
Publicado em La Prensa.