Bilhões de dólares fluem para a indústria de defesa dos EUA, que por sua vez os direciona para o sistema político em um mecanismo que se retroalimenta; apenas isso já bastaria para explicar a guerra na Ucrânia.
Tucker Carlson, conhecido jornalista americano, entrevistou o coronel Douglas MacGregor, aposentado do Exército dos EUA e veterano da Guerra do Golfo. A entrevista foi publicada em vídeo na plataforma X (ex-Twitter). MacGregor não só reafirmou sua convicção de que a Ucrânia está sendo derrotada, mas também falou sobre as consequências disso para a Europa e para os Estados Unidos. E foi além, afirmando que, ao contrário do que se acredita, atualmente os EUA não estão em condições de derrotar a Rússia em um confronto direto.
Quem se informa apenas pela chamada “imprensa tradicional”, provavelmente não tem dúvidas de que, após cerca de um ano e meio de guerra, as forças armadas ucranianas estão vencendo a Rússia, conquistando vitórias palmo a palmo, lenta, mas inexoravelmente. Segundo as reportagens que vemos diariamente, a Rússia estaria desmoralizada por “não ter tomado Kiev em uma semana”, não sendo incomuns relatos de que o Exército russo está “lutando com pás” e outras baboseiras. Aliás, segundo muitas dessas reportagens, já há meses que a Rússia estaria sem munição.
Talvez o absurdo mais recente seja a derrubada de um drone russo por uma dona de casa ucraniana, que para tanto usou um pote de molho de tomates, conforme “relatado” pela primeira-dama de Kiev a ninguém menos que Hillary Clinton, devidamente repercutido pela “imprensa tradicional”.
O coronel MacGregor tem uma versão bem diferente dessas histórias. Segundo ele, as forças armadas da Ucrânia já sustentam 400 mil mortes, enquanto os russos teriam perdido cerca de 50 mil militares. Os russos contam com uma inteligência mais eficiente, que lhes permite lançar ataques com mísseis minutos após tomarem conhecimento da movimentação de tropas ucranianas, como veremos adiante. A Rússia também possui grandes reservas de efetivos; de acordo com MacGregor, os russos poderiam travar uma guerra total, embora não o façam, e mantém cerca de 750 mil homens ao redor da fronteira russo-ucraniana, em uma espécie de reserva, porque Vladimir Putin não descarta a possibilidade de uma intervenção do Ocidente na guerra.
Caso isso aconteça e os EUA enviem tropas para combater a Rússia na Ucrânia, a avaliação de MacGregor é, para dizer o mínimo, tenebrosa para os americanos. Ele afirma que a prontidão das forças armadas americanas está em declínio há muito tempo, citando problemas de disciplina entre os soldados. As teorias raciais e o wokeísmo são os fatores que estão destruindo a disciplina e a coesão das tropas. Um dos grandes problemas, diz MacGregor, é que não há foco no mérito, mas na política e na engenharia social. E, continua ele, se essa falta de coesão é visível agora, em uma situação de guerra isso se agravaria de forma catastrófica.
Além disso, ele recorda que no pico da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos tinham mais de 12 milhões de militares em combate e sete (SETE) generais de quatro estrelas. Hoje, as forças armadas americanas contam com pouco menos de 1,2 milhão de militares na ativa e 44 (QUARENTA E QUATRO) generais de quatro estrelas. Segundo explica MacGregor, essa discrepância ajuda a entender os gastos estratosféricos do Pentágono. Os EUA se auto-atribuíram a responsabilidade de “cobrir o globo” com seus comandos militares. Assim, cada um desses generais requer muitos milhões de dólares tanto para manter seu staff como para desenvolver os projetos sob seu comando. Esse padrão, essa “teia”, acabam tendo ramificações na política americana, multiplicando as despesas.
Ele também lembra que as tropas americanas estão habituadas a combater exércitos informais e desorganizados, com a maior parte das baixas americanas causadas por minas e explosivos e não por confronto direto. Depois anos combatendo “homens vestindo sandálias” no Oriente Médio, os americanos não estão preparados para travar uma guerra contra um exército regular organizado. E a Rússia possui um exército regular e organizado que vem aperfeiçoando suas capacidades de combate direto há mais de um ano.
Na entrevista, MacGregor elenca uma série de fatores para sustentar sua posição.
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Primeiro, ao contrário do que se acredita, os sistemas de armas americanos são frequentemente obsoletos. Como exemplo, ele cita o tanque Abrams, que possui um motor baseado em turbina que “queima” mesmo em marcha lenta. Isso significa que ele aquece a uma intensidade tal que é possível rastrear a movimentação de colunas de tanques americanos através de satélites de órbita baixa. Embora isso não fosse um problema no Oriente Médio, os sistemas russos podem localizá-los e destruí-los rapidamente.
Uma segunda razão são os estoques de munição e a capacidade industrial para produzi-la. Apesar das já mencionadas afirmações da imprensa de que a Rússia está quase sem munição, MacGregor afirma que Moscou não tem problemas nessa área, com fábricas produzindo em regime 24×7. Além disso – ele não disse –, mas sabe-se que há uma alta probabilidade de que pelo menos a Coréia do Norte esteja fornecendo munição aos russos.
Já nos Estados Unidos, o setor industrial quase desapareceu; MacGregor tampouco disse isso, mas sabe-se que a indústria americana de defesa depende de insumos que vem da própria Rússia e da China, aliada de Moscou. Há estudos que mostram que os EUA atualmente não dispõem de linhas de produção capazes de atender picos de demanda em caso de necessidade, o que pode rapidamente comprometer seus estoques de munição em caso de conflito (já há várias análises, inclusive aqui no Velho General e no Canal Arte da Guerra, sobre a redução dos estoques americanos de munição devido aos fornecimentos para a Ucrânia). E isso, continua MacGregor, pode levar ao uso de armas nucleares táticas no campo de batalha, o que, por sua vez, precipitaria uma escalada nuclear de grandes proporções.
Portanto, a decisão mais sábia agora seria terminar imediatamente esta guerra.
MacGregor explicou que a Rússia foi a primeira a compreender, ainda nos anos 1970, a importância de interconectar inteligência (vigilância e reconhecimento no espaço, bem como em terra e no mar), à artilharia de precisão (foguetes, projéteis e mísseis guiados), e fez isso muito bem. Graças a isso, continua ele, o tempo de resposta russo é extremamente curto: assim que identifica um movimento de tropas ucranianas, por exemplo, a Rússia pode lançar um ataque com mísseis (ou foguetes ou drones ou artilharia) em pouco mais de cinco minutos.
MacGregor também discorre sobre os problemas nos EUA por trás da guerra. Ele fala – sem muito apreço – sobre Victoria Nuland e a infestação de neocons em Washington no governo Joe Biden, sobre Democratas e Republicanos (aos quais ele se refere como “uni-party”), diferenças entre a Rússia soviética e a Rússia atual, sobre a evolução dos objetivos tanto russos como ucranianos ao longo da guerra, e diversos outros assuntos relacionados.
Somando-se o papel de longa data da Ucrânia como “lavanderia de dinheiro” e os bilhões de dólares que fluem para a indústria de defesa dos EUA, que por sua vez direciona dinheiro para o sistema político criando um mecanismo que se retroalimenta, não é preciso recorrer a teorias conspiratórias para explicar esta guerra. O poder e o dinheiro são suficientes.
MacGregor afirma que os americanos devem se dar conta de que, nas atuais circunstâncias, os Estados Unidos caminham para a autodestruição. Pode-se concordar ou não com ele, mas sua experiência é suficientemente relevante para valer a pena assistir à entrevista completa.
A turminha da Direita no site da trilogia fica desesperada com informações como essas. Agradecido pelo trabalho e disponibilização gratuita.
Assisti a entrevista e não me surpreendeu pois já sabia disto pelo canal do Comandante Robson Farinazzo, apenas confirmou as palavras do comandante, e é notável como os americanos são cegos, mas eu por ser contra a OTAN, Estados Unidos e esses europeus ideologicamente só espero que a Rússia cumpra seus objetivos e que no futuro o sul global possa estabelecer suas regras no jogo político.