O mundo em 2022: não espere tédio

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O presidente dos EUA, Joe Biden, e seu homólogo da Rússia, Vladimir Putin (Denis Balibouse/Reuters/AP).

O presidente dos EUA, Joe Biden, e seu homólogo da Rússia, Vladimir Putin (Denis Balibouse/Reuters/AP).

2022 começou tenso, e as perspectivas indicam que deve continuar convulsionado. Certamente não será um ano tedioso para quem acompanha questões geopolíticas.


O desenrolar da crise entre a Rússia e a OTAN na Ucrânia parece se encaminhar para uma vitória russa sem que haja efetivamente uma guerra. Embora os EUA e a OTAN continuem mantendo elevados os níveis de alerta, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, declarou recentemente que os líderes do Ocidente exageram sobre as chances de guerra, e que os ucranianos aprenderam a viver com a tensão desde 2014.

Interesses conflitantes fazem com que seja possível que a OTAN saia da crise enfraquecida. Por outro lado, não obstante a ameaça dos EUA de sancionar inclusive o próprio presidente russo, Vladimir Putin, na prática as sanções econômicas impostas pelos EUA/Ocidente cada vez mais vem perdendo eficácia, tanto devido à ascensão econômica da China, quanto por interesses conflitantes na Europa.

Embora a pandemia da covid-19 continue representando um desafio, o mundo parece estar se ajustando para recuperar-se dos danos causados pelo vírus, ao menos em termos econômicos. Em termos sanitários e sociais, países europeus já falam em classificar a doença como endêmica, ou seja, devem passar a tratá-la como uma gripe, por exemplo, e alguns já baixaram as exigências de “passaporte sanitário” e uso de máscaras.

Durante o ano, boa parte da atenção do planeta deverá se concentrar nas eleições que ocorrerão no Brasil (onde o presidente Jair Bolsonaro concorre à reeleição), na Coreia do Sul, Filipinas, Malásia, Austrália, Hong Kong, Hungria, Angola, Quênia, Itália e França (onde Emmanuel Macron também pretende se reeleger, o que explica em grande parte seus ataques ao Brasil e à questão amazônica).

Por falar em questões ambientais, em junho a Assembleia Geral da ONU organizará a Conferência “Stockholm+50”, na capital sueca de Estocolmo, sob o tema “Stockholm+50: um planeta saudável para a prosperidade de todos – nossa responsabilidade, nossa oportunidade”. O evento pretende acelerar o cumprimento de “objetivos de desenvolvimento sustentável”, incluindo a Agenda 2030, o Acordo de Paris sobre mudanças climáticas, o Quadro Global de Biodiversidade pós-2020, e incentivar a “adoção de planos verdes de recuperação pós-covid-19”.

No Brasil, devemos prestar muita atenção a esta conferência.

Em setembro, será realizada a Cúpula da Educação, tendo em vista que este setor foi gravemente afetado durante a pandemia. De acordo com um relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) publicado em setembro do ano passado, a interrupção na educação provavelmente causará problemas para o bem-estar econômico e social de pessoas de todas as idades.


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A respeito da OCDE, o presidente Jair Bolsonaro recebeu carta-convite do secretário-geral da organização, Mathias Cormann, para que o Brasil ingresse na instituição. Esta é uma das prioridades do governo Bolsonaro, que desde 2019 vem procurando cumprir os requisitos exigidos para o ingresso. O convite não é uma garantia de adesão, e a candidatura do Brasil será analisada por uma série de comitês da entidade. No entanto, o eventual ingresso não é uma unanimidade entre analistas, e há controvérsias sobre as possíveis vantagens versus a potencial submissão do país a determinadas exigências para ingresso.

Outros eventos que devem receber atenção: em outubro, a Indonésia sediará a Cúpula do G20, reunindo as maiores economias do planeta; e em data a ser definida, Pequim, que ocupa a presidência rotativa dos BRICS, sediará a XIV Cúpula do bloco.

O Indo-Pacífico

O eixo geopolítico do planeta mudou para o Indo-Pacífico, onde os EUA pretendem combater os desafios apresentados pela China. Acredita-se que as duas superpotências vão rivalizar em todas as áreas, de comércio a tecnologia militar, passando por vacinas e estações espaciais. Nos EUA, o presidente Joe Biden vai enfrentar as mid-term elections (eleições de meio de mandato, onde serão disputadas todas as cadeiras da Câmara e parte das cadeiras do Senado). Em Pequim, o presidente chinês, Xi Jinping, vai presidir o 20º Congresso do Partido Comunista.

As relações Rússia-China também devem receber atenção, uma vez que Moscou e Pequim parecem estar mantendo suas diferenças de lado em favor de uma cooperação estratégica contra o Ocidente, leia-se OTAN/EUA/UE. Este é um aspecto que o Brasil deveria observar, visando posicionar-se de maneira a tirar o melhor proveito possível para os interesses do país.

Finalmente, os Jogos Olímpicos de Inverno em Pequim, em fevereiro, e a Copa do Mundo de Futebol no Catar, em novembro/dezembro, devem ser objeto de atenções, já que tem potencial para se tornar eventos politizados, com os EUA liderando um boicote aos jogos em Pequim, ao qual já aderiram diversos países.

Estes, é claro, são alguns dos principais eventos esperados, já que este artigo não pretende esgotar todas as possibilidades, e o mundo da geopolítica sempre pode nos surpreender com acontecimentos absolutamente inesperados.

Enfim, 2022 começou de forma tensa, e as perspectivas indicam que deve se manter como um ano extremamente convulsionado. Certamente não será um ano tedioso para quem acompanha a geopolítica mundial.

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