Por Albert Caballé Marimón |
A situação na Venezuela é muito confusa: fala-se em movimentos militares em todo o país, o que sugere um golpe contra Nicolás Maduro. Um ponto parece claro: o líder da oposição Juan Guaidó tem o apoio de setores das forças armadas. Dois pontos confirmam isso: primeiro, o fato dele estar na Base Aérea La Carlota, de onde conclamou o povo e os militares. Segundo, o líder de seu partido – e seu mentor político –, Leopoldo López, foi libertado, o que só poderia ser possível com o apoio de autoridades de segurança.
O movimento de hoje é mais uma das ações desenvolvidas por Guaidó, desde conseguir o reconhecimento internacional, especialmente dos EUA e do chamado Grupo de Lima, até a tentativa (frustrada) de forçar a entrada da ajuda humanitária. Todas essas ações indicam uma escalada, embora Maduro venha resistindo e não dê mostras de ceder. Pelo menos até este momento. Se o movimento de hoje será ou não decisivo, neste momento não há como prever.
Declarações do ministro Jorge Rodríguez, do Ministério del Poder Popular para la Comunicación e Información, dão conta de que os integrantes do golpe são apenas “um pequeno grupo de traidores militares”. Especula-se que este grupo de militares, seja grande ou pequeno, supostamente seria liderado por José Adelino Ornella Ferreira, ex-comandante da Guarda Presidencial de Hugo Chávez e atual Chefe de Estado Maior Conjunto do CEOFANB, o Comando Estratégico Operacional de las Fuerzas Armadas Nacionales Bolivarianas. No entanto, não há nenhuma evidência concreta de sua participação, e nem de quais ou quantas unidades militares estão apoiando Guaidó.
Mesmo que uma parcela considerável das forças armadas decida apoiar Guaidó, Nicolás Maduro ainda poderia manter um apoio significativo. Ainda nos tempos de Chávez foram criados grupos com o objetivo de defender a revolução bolivariana. Até onde se sabe, Maduro expandiu estes grupos. Teoricamente, ele pode contar com a lealdade dos chamados “colectivos”, cujo número exato é desconhecido, mas que têm presença significativa em boa parte da Venezuela. Nos últimos meses, estes grupos vem atuando na repressão aos protestos. Até que ponto vai sua lealdade, é também uma incerteza.
Especula-se que muitos líderes desses grupos apoiam Maduro por receberem garantias de impunidade em troca da fidelidade ao regime e apoio à repressão. Outros tem uma forte orientação ideológica, como o “Colectivo de Seguridad Fronteriza”, que opera no Estado de Táchira, formado e treinado por dissidentes das FARC e do ELN na Colômbia.
Há também as chamadas “Fuerzas de Acciones Especiales” (FAES), uma espécie de unidade de elite especializada em situações de conflito, que também tem atuado bastante nos últimos meses. E, claro, há as centenas de milhares de membros da Milícia Nacional Bolivariana de Venezuela. Recentemente Maduro divulgou um plano para expandir seu número para dois milhões e garantiu que “mais de 50.000 unidades populares de defesa” já estavam criadas por todo o país. Embora mal-equipada e com treinamento duvidoso, formam um número considerável.
Maduro também conta com apoio internacional: Além dos conselheiros cubanos, Rússia e China têm declarado apoio ao atual regime. Supõe-se que haja um pequeno número de mercenários do Wagner Group (cuja efetividade real, no entanto, possivelmente seja mais para formar uma espécie de guarda pretoriana para Maduro). Há também os cem técnicos militares russos que chegaram recentemente. Essas unidades, embora materializem algum apoio, dificilmente teriam grande efetividade num conflito real.
A ameaça de uma intervenção militar americana paira no ar, e embora não pareça iminente, a ideia não está descartada. E apesar do apoio manifestado por Rússia e China, a Venezuela está localizada no Caribe, bem longe da Europa e do Oriente Médio: dadas as distâncias, seria logisticamente impraticável, seja para Moscou ou Pequim, manter um apoio militar realmente efetivo por um período prolongado.
Há especulações (mais especulações!), de que uma parcela dos militares quer negociar uma saída para Maduro, mas outra parte, mais radical, quer manter a posição e ir às últimas consequências. A Venezuela é hoje, portanto, uma colcha de retalhos.
Existe o risco de uma guerra civil, que seria desastrosa não apenas para a Venezuela, mas também para os demais países da região. Neste momento, entretanto, há muita informação desencontrada e muito sensacionalismo. Pode acontecer tudo, ou a situação pode arrefecer e voltar à “normalidade” do último mês, e não acontecer nada.
Aguardemos os acontecimentos.
RECOMENDADOS PELO VELHO GENERAL
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Houve quebra de comando, Maduro já era!
Vamos aguardar!
Ao melhor padrão do VG, o artigo trata com equilíbrio a questão. Quando alguém vier com sensacionalismo sobre uma “3ª Guerra Mundial”, dê-lhe uma dose de VG na hora!
Comentários sempre gentis, Sinclair! Muito obrigado!
Momentos difíceis para a Venezuela e países vizinhos. Precisamos de mais gente centrada como o VG e o Cmdt Farinazo e menos sensacionalismos.
Procuramos manter os pés no chão, sempre. Obrigado pelo comentário!
Se Maduro se firmar no poder seremos catapultados para essa nova guerra fria.
Só o tempo dirá! Grato por comentar!
Bom, para acabar com esta situação, somente um país é capaz : EUA. Se o Guaido resolver juntar seus homens para um levante mais organizado belicamente, ele poderia mandar uma DM via twitter para o Trump. Aí era só combinar onde pegar o material.
Guerra coordenada via Twitter seria uma novidade! Rss
São as novidades do tempos modernos. Antigamente os chefes de estado enviavam emissários. Hoje, os chefes das grandes nações movem as massas e implantam reações na Grande Mídia via redes sociais. Rs
Bom, que o Maduro, tirando a jocosidade com o próprio sobrenome, realmente deveria se reunir, sim com seu adversário(s) e tentar reorganizar o país, tratar de realizar eleições com monitoramento externo, mas o poder parece sempre driblar qualquer vontade de fazer algo de um jeito pacífico.
E nós, se não fosse anos e anos de política externa tipo oba-oba, patrícios e afins, muito poderíamos como “líder” ajudar, e talvez evitado tantos problemas.
No final, a Venezuela, seja qual o caminho escolher, qual governante subir ao púlpito da alegoria carnavalesca que virou o país, são apenas peões entre interessados. Não à toa é tão bem observado… Intervenção… Nada como um dia depois de amanhã.
Maduro negociar com seus adversários e discutir uma saída pacifica seria o ideal. Vamos acompanhar desenrolar dos fatos, o tempo dirá. Obrigado pelo comentário!