Por Stephen Bryen*

Projeto do couraçado de Trump enfrenta diversos riscos críticos: falta de experiência contemporânea, projeto incompleto, armas experimentais, falta de estudos de missão e vulnerabilidades, sistemas não testados e custos que podem exceder US$ 25 bilhões.
O projeto do couraçado da classe Trump (oficialmente, “programa de couraçado de mísseis guiados BBG(X)”) prevê que ele seja o maior navio de guerra construído pelos Estados Unidos desde
o período da Segunda Guerra Mundial. Todo o projeto envolve inúmeros riscos, qualquer um dos quais poderia inviabilizá-lo.
A seguir, alguns deles.
(1) Os EUA não têm experiência contemporânea em projetar e construir um couraçado. A última vez que isso foi feito foi entre 1943 e 1945, quando construíram quatro couraçados da classe Iowa. Eles foram modernizados e reformados algumas vezes até serem finalmente desativados no início da década de 1990. Todos os quatro são agora peças de museu: o Missouri em Pearl Harbor, o Iowa em Los Angeles, o New Jersey em Camden, Nova Jersey, e o Wisconsin em Norfolk, Virgínia.
De acordo com o que sabemos até agora, o primeiro navio da classe Trump será batizado de USS Defiant. Ele pesará (vazio) mais de 35.000 toneladas e terá propulsão convencional. Será um pouco mais lento que os navios da classe Iowa.
Atualmente, não existe um projeto adequado para o Defiant, então os arquitetos navais estarão ocupados definindo uma configuração apropriada, avaliando os requisitos de energia para o próprio navio e para o armamento de bordo, e determinando como o navio será construído.
Na Itália, ao construir seu porta-aviões Cavour, os italianos não possuíam um estaleiro naval grande o suficiente para o navio proposto. Optaram pela construção modular e soldaram as partes do navio em alto-mar. Os planejadores da Marinha dos EUA podem ter uma ideia semelhante: fabricar o navio em segmentos, construídos nos EUA ou no exterior (provavelmente na Coreia do Sul), e depois montar tudo em um local nos Estados Unidos.
Uma reportagem afirma que a Hanwha, da Coreia do Sul, foi escolhida pelo presidente Trump para construir o Defiant.
Uma abordagem modular é algo novo para os estaleiros da Marinha dos EUA. Não está claro se essa abordagem será escolhida (já que envolve riscos significativos), mas não há muitas opções. Um problema crucial é a falta de mão de obra qualificada e engenheiros necessários para um projeto dessa escala. A maioria das reportagens indica que a construção propriamente dita não começará antes da década de 2030.
(2) Não há informações concretas sobre o projeto da usina de energia convencional do navio, nem sobre quem a fornecerá quando os requisitos reais forem definidos. Devido às armas a laser e ao canhão eletromagnético, o navio também vai precisar de uma enorme capacidade de armazenamento de energia a bordo.
(3) Muitas das armas propostas para o Defiant são experimentais e não comprovadas. Isso inclui as armas hipersônicas, o canhão eletromagnético, o míssil de cruzeiro lançado da superfície proposto com ogiva nuclear e até mesmo o canhão de cinco polegadas com projétil de hipervelocidade (HVP, hyper velocity projectile).
(4) Até onde se sabe, nenhum estudo de missão para o programa de couraçado de mísseis guiados BBG(X) foi realizado. Como essa embarcação será utilizada com as capacidades existentes (destróieres, cruzadores, submarinos, porta-aviões)? Quais vantagens ela traz, especialmente contra os principais adversários em potencial?
(5) Como o couraçado de mísseis guiados BBG(X) será protegido de um inimigo bem equipado com mísseis, armas guiadas, drones, submarinos etc.? Recentemente, muitos têm questionado a viabilidade de grandes porta-aviões enfrentando armas de precisão de longo alcance (especialmente da China). Não é uma presunção injusta supor que um couraçado de grande porte enfrentaria o mesmo tipo de risco.
(6) Alguns dos sistemas propostos, como o canhão eletromagnético de 32 megajoules, ainda estão em desenvolvimento e apresentam sérios problemas, principalmente superaquecimento e enormes requisitos de energia. Se esses sistemas forem instalados prematuramente e falharem, poderão causar acidentes a bordo, incluindo explosões e incêndios que poderiam incapacitar o couraçado.

(7) O canhão eletromagnético não é o único sistema que ainda precisa de testes e desenvolvimento antes de ser incorporado permanentemente ao projeto do navio de guerra. Um deles, o SLCM-N (Míssil de Cruzeiro Lançado da Superfície com Ogiva Nuclear), está em grande parte não testado e em desenvolvimento, requer um sistema de lançamento especial baseado em um sistema de gás frio para ejetar a arma do navio e ainda não possui uma ogiva nuclear aprovada e segura. Assim como outros sistemas no navio de guerra proposto, está longe de estar claro por que o SLCM-N é necessário, visto que os mísseis Trident de submarinos podem transportar pequenas ogivas nucleares até o alvo. O argumento a favor do SLCM-N é que ele atuaria como um fator de dissuasão para um adversário: de fato, tal sistema poderia levar um adversário a implantar ainda mais mísseis nucleares (convencionais e de cruzeiro).
(8) Não existe um sistema de controle de fogo para esta nova classe de navio que possa otimizar e integrar as capacidades de bordo, interligar-se e coordenar-se com os recursos existentes, incluindo navios de superfície e submarinos, e lidar com novas ameaças à medida em que surgirem (o que certamente ocorrerá). Considerando os problemas de software em curso com o F-35, um conjunto complexo de armas no Defiant e a sua integração com a frota existente (naval e aérea) representam um grande desafio de desenvolvimento.
(9) Um grande risco é a acessibilidade financeira. Atualmente, alguns valores estão sendo mencionados, entre US$ 10 e US$ 15 bilhões por navio, mas certamente essa estimativa aumentará consideravelmente e terá que levar em conta o armamento embarcado. Dados os prazos, a inflação e os atrasos, um preço na faixa de US$ 25 bilhões não seria surpreendente para um único navio (dois estão inicialmente planejados e a Marinha afirma que pretende adquirir 25 navios antes de concluir o projeto).
A pergunta óbvia é: qual será a compensação pelos custos exorbitantes, visto que todos os sistemas propostos podem ser instalados em navios menores a um custo muito menor? Da mesma forma, o projeto consumirá os escassos recursos existentes dos estaleiros e do desenvolvimento, o que significa que outros programas inevitavelmente sofrerão como consequência.
Em última análise, o Congresso deve considerar cuidadosamente se os riscos superam os benefícios. No mínimo, o Congresso deve analisar cuidadosamente as justificativas para este projeto e seu impacto geral nos programas e na prontidão da Marinha dos EUA.
Publicado no Weapons and Strategy Substack.
*Stephen Bryen é ex-subsecretário de Defesa dos EUA e especialista em estratégia e tecnologia de segurança. Bryen escreve para o Asia Times, American Thinker, Epoch Times, Newsweek, Washington Times, Jewish Policy Center e outros.
Leia Mais
OLAY, Matthew. Trump Announces New Class of Battleship. Pentagon News, U.S. Department of War, 22 de dezembro de 2025. Disponível em: https://www.war.gov/News/News-Stories/Article/Article/4366952/trump-announces-new-class-of-battleship.
UNITED STATES OF AMERICA. President Trump Announces New Battleship. Department of the Navy, 22 de dezembro de 2025. Disponível em: https://www.navy.mil/Press-Office/Press-Releases/display-pressreleases/Article/4366856/president-trump-announces-new-battleship.
JIE, Lim Hui. The Trump-class battleship faces a large obstacle in its way: reality. CNBC, 26 de dezembro de 2025. Disponível em: https://www.cnbc.com/2025/12/26/trump-class-battleship-uss-defiant-golden-fleet-rail-gun-laser-reality-defense-war-experts-skeptical.html.
LENDON, Brad. Trump’s new battleship plan could transform the US Navy – or sink it. CNN, 23 de dezembro de 2025. Disponível em: https://edition.cnn.com/2025/12/23/us/trump-new-battleships-analysis-intl-hnk-ml.








