A Campanha da Palestina na Primeira Guerra Mundial (1917-1918)

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Imagem meramente ilustrativa, gerada por inteligência artificial.

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De Suez a Jerusalém, a campanha da Palestina na Primeira Guerra Mundial selou o fim do Império Otomano e redesenhou o mapa do Oriente Médio; promessas não cumpridas e acordos contraditórios deram origem aos conflitos que assolam a região até hoje.


Introdução

O que hoje entendemos por Oriente Médio, era muito diferente antes de 1914. A potência hegemônica por séculos (desde os inícios do ano 1500 aproximadamente) era o Império Otomano, o qual, embora em decadência, ainda conservava os territórios da Síria, Palestina, Mesopotâmia e oeste da Península Arábica.


FIGURA 1: Império Otomano em 1914.

O enclave mais estratégico da região, o Canal de Suez, estava em poder do Império Britânico, já que o Egito, desde 1888, era o seu protetorado. O Egito era nominalmente governado por um Jedive 1, mas eram os britânicos que de fato detinham o poder político, econômico e militar. O controle desse canal lhes permitia a comunicação via marítima com diversas partes do seu Império, como a Índia e demais posições do sudeste asiático e do extremo oriente, além das colônias da África Oriental britânica. Ou seja, era uma linha logística de primeiríssima importância não apenas para o Império Britânico, mas também para seus aliados da Entente.

O Império Otomano estava alinhado com as Potências Centrais do Império Alemão e do Austro-húngaro. O Egito ocupava uma posição muito estratégica, não somente geográfica pelo Canal de Suez, mas também por ser uma base logística de fornecimento para a Entente pela sua abundante produção de alimentos e de algodão. Além do mais, havia os estratégicos portos de Alexandria e Porto Said, no Mediterrâneo – região do delta do Rio Nilo –, e do Canal de Suez, respectivamente. Em 14 de novembro de 1914, o Império Otomano entra na guerra ao lado das Potências Centrais, declarando guerra à Entente.

Ao mesmo tempo, o xeque (chefe religioso islâmico) de Constantinopla proclama uma Guerra Santa islâmica (jihad), convocando os muçulmanos do mundo todo a defender o Império Otomano – que se considerava Protetor do Islã –, e levantar armas contra seus inimigos: Grã-Bretanha, França, Rússia, Sérvia e Montenegro. A partir daí, essa área do Canal seria um objetivo cobiçado pelos otomanos e seus aliados.

Preparativos das Potências Centrais

No Império Otomano estava baixo o poder do sultão Maomé V, mas o poder real estava no grupo chamado “Os Três Paxás”, (Enver Paxá 2, Talat Paxá e Djemal Paxá), que incentivaram a aliança do Império com as Potências Centrais. Principalmente para Enver Paxá, a prioridade era a região do Cáucaso devido aos poços petrolíferos de Baku 3 e a região da Mesopotâmia 4, sendo as regiões da Síria e da Palestina uma frente secundária nesse momento. Apesar disso, e antes de o Império Otomano entrar em guerra com a Entente, em agosto de 1914, Enver Paxá decide que os exércitos otomanos devem se mobilizar, nomeando o brigadeiro-general Djemal Paxá 5 como líder das forças otomanas em Damasco, sob o comando do general alemão Kress von Kressenstein. Essa mobilização tinha como objetivo atacar o Canal de Suez 6, a partir de suas posições na Palestina.


FIGURA 2: Rotas de invasão otomana 26 janeiro a 4 de fevereiro de 1915.

Para isso contavam com um exército de 25.000 homens, compreendendo cinco divisões e oito baterias de artilharia, na maioria turcas, incluindo corpos de engenheiros militares alemães com pontes flexíveis e portáteis para atravessar o Canal. O componente das tropas era composto majoritariamente por regimentos otomanos, mas havia também corpos auxiliares alemães na artilharia e na engenharia. Além disso, havia batalhões de austro-húngaros com metralhadoras pesadas. Finalmente, havia milícias de beduínos auxiliares.

Os problemas logísticos eram enormes, pois tinham que atravessar a península desértica do Sinai para chegar ao Canal de Suez sem estradas e sem água, contando apenas com alguns poços e cisternas na região central do Sinai.

Por esse motivo, o avanço foi planejado em três colunas: uma ao norte, outra pelo centro (a principal por contar com maior abastecimento de água no caminho) e a última pelo sul.

A ferrovia mais próxima terminava em Jerusalém, a cerca de 440 quilômetros do Canal. O transporte de água, mantimentos, munições e artilharia era feito por meio de camelos, mulas e cavalos, fator que desde o início lhes causou sérios problemas de abastecimento e coordenação entre as colunas.

Os otomanos esperavam contar com o fator surpresa, mas o serviço de inteligência britânico tinha conhecimento da ofensiva otomana. Portanto, os otomanos já não contavam com a vantagem da surpresa, porque os britânicos estavam preparando suas defesas a oeste do Canal.

Preparativos dos Britânicos

Uma vez que o Império Otomano declarou a guerra à Entente, o general britânico no Egito, sir John Maxwell decidiu retirar suas forças do Sinai e estabelecer suas defesas do lado oeste do Canal de Suez para estar mais próximo de sua linha logística: a ferrovia que atravessava o Canal de norte a sul, e o Canal de água doce (Sweet Water Channel) que trazia água doce do Nilo, pois a água dos lagos do Canal era salobra.

Contava com 30.000 homens, mas tinha que defender um canal que do norte (Porto Said) até o sul (Ismailia), cobria uma longitude de 146 quilômetros. O componente das tropas britânicas era bastante heterogêneo: regimentos da Grã-Bretanha, da Índia, da Austrália e da Nova Zelândia (ANZACS, Forças Armadas da Austrália e Nova Zelândia). Também contava com auxiliares egípcios, estes na parte de transporte e logística. Isso tudo, em conjunto, formava a Força Expedicionária Egípcia (FEE) 7.

Tanto o litoral do Sinai como o do Canal contavam com o apoio de unidades da Royal Navy (três encouraçados, um cruzador e navios mercantes armados) que forneciam apoio de fogo aos defensores.

Vale lembrar que, embora a defesa do Canal fosse um ponto estratégico para o Império Britânico, ao mesmo tempo não era uma frente prioritária como a frente ocidental na França.

Primeiro Ataque ao Canal de Suez

O plano de Von Kressenstein consistia em flanquear a duas pontas (norte e sul) e realizar o ataque principal pelo centro.

As forças que avançavam pelo norte foram constantemente bombardeadas pela Royal Navy, o que causou muitas baixas e atrasos, o que, além da demora, resultou em falta de coordenação com as outras duas colunas.

O ataque fracassou pela resistência das posições defensivas britânicas ao longo do Canal. Somente duas companhias otomanas conseguiram atravessar o Canal no dia 2 de fevereiro em Ismailia, mas, superadas em número e artilharia pelos defensores, foram obrigados a retroceder. Os otomanos sofreram 1.500 baixas entre mortos, feridos e prisioneiros, e os britânicos 250 baixas entre mortos e feridos.

Apesar de defender o Canal, ficou demonstrada a inviabilidade da defesa passiva do general Maxwell para defendê-lo pelo lado ocidental, já que ficava à mercê dos disparos da artilharia pesada inimiga.

No alto comando britânico, obviamente que, assim como para seus aliados da Entente, a guerra não prosseguia conforme o esperado, porque a vitória rápida que esperavam em 1914 estava cada vez mais longe de acontecer. Isso gerou, em 1915, uma divisão interna entre “westerners”, que consideravam que o esforço principal aliado devia continuar sendo na frente ocidental contra os alemães (ofensivas de Champagne e Ypres), e os “easterners” que sustentavam que, pela estagnação da guerra de trincheiras na frente ocidental, nada viria dali, pelo contrário, o esforço aliado deveria se centrar contra os otomanos, o lado mais fraco das Potências Centrais, para tirar o Império Otomano da guerra (ataque em Gallipoli).

Devido a expedição a Gallipoli 8, o Egito passou a receber maior importância como base logística, e por consequência, mais tropas, armamentos e suprimentos.

Em março de 1916, com o fracasso do ataque a Gallipoli, as tropas restantes, somadas a algumas divisões vindas do Reino Unido, totalizavam 400.000 homens em 13 divisões de infantaria e cavalaria, formando a Força Expedicionária Egípcia sob o comando do general britânico sir Archibald Murray.

Murray decide instalar as defesas no Sinai, e não no lado ocidental do Canal, razão pela qual construiu uma ferrovia e um duto de água doce vinda do Nilo. Ambos chegavam até Romani, no oeste do Sinai, à 35 quilômetros a leste do Canal. Ao mesmo tempo, os britânicos fazem incursões visando destruir as cisternas e poços intactos na estrada central do Sinai, para que os os otomanos não tivessem água caso voltassem a atacar, o que efetivamente iria acontecer.

Segundo Ataque ao Canal de Suez

Apesar do fracasso do primeiro ataque ao Canal, os otomanos planejavam um segundo. Para isso, engenheiros alemães estenderam a ferrovia de Jerusalém até Bersebá, ponto estratégico no limite entre a Palestina e o Sinai. A estratégia de Von Kressenstein desta vez não era tomar o Canal de Suez, mas impedir que os britânicos recuperasse totalmente a península do Sinai, expulsá-los de Romani, se aproximar na orla leste e cortar a navegação no Canal de Suez, colocando-o ao alcance da artilharia. Se os otomanos perdessem totalmente o Sinai, o caminho para a Palestina estaria aberto ao Exército britânico. Em 4 de agosto, os otomanos atacam Romani com 16.000 homens. Os britânicos a defendiam com 14.000. A batalha durou dois dias.


FIGURA 3: Batalha de Romani (4 a 6 de agosto de 1916).

Terceiro Ataque ao Canal de Suez

As baixas otomanas foram de 9.600 homens entre mortos e feridos, incluindo mais de 4.000 prisioneiros. As baixas britânicas somaram 1.200. Apesar da derrota e das enormes baixas o exército de Von Kressenstein consegue se retirar sem ser perseguido pelas forças britânicas, o que facilitou a retirada dos otomanos. Foi muito criticado o fato de que as táticas da cavalaria dos ANZACS consistiram mais em ataques diretos do que em flanqueio, o que facilitou a retirada de Von Kressenstein.

Esse seria o último ataque otomano na área do Canal de Suez. Nessa retirada os otomanos percorreram a totalidade da península do Sinai, sendo derrotados nas batalhas de Magdhaba, em dezembro de 1916, e Rafa, em janeiro de 1917. A partir daí, os britânicos recuperaram a totalidade da Península do Sinai e as Potências Centrais, desde a derrota em Romani em agosto de 1916, passaram da ofensiva à defensiva, cedendo a iniciativa dessa frente aos britânicos. Esse seria o fim da campanha do Sinai e o início da campanha da Palestina.

A conquista de Rafa deixa os britânicos na entrada do território de Gaza, que estrategicamente é a porta de entrada a Jerusalém. Por esse motivo, Gaza tinha que ser defendida a qualquer preço.

Em 1916, um evento mudaria a situação da frente, e com o tempo contribuiria para mudar o curso da guerra no Oriente Médio: a Revolta Árabe.

Campanha da Palestina

Revolta Árabe

Em junho de 1916, o xarife Hussein 9, Emir de Meca, oeste da península arábica, lançou ataques contra as guarnições otomanas de Medina, Meca e Jedá. Esta última se rendeu rapidamente, dando à Royal Navy um porto estratégico de acesso ao Mar Vermelho.

O plano da inteligência britânica era desestabilizar a ocupação otomana na região e cortar a linha ferroviária de Hejaz, que ligava Damasco a Meca e Ma’an a Meca. Se essa revolta árabe vingasse, facilitaria os planos do general Murray de iniciar o ataque a Gaza. A tomada do porto de Aqaba (Jordânia), no Mar Vermelho 10, em 6 de julho de 1917, foi muito importante para o avanço da Força Expedicionária Egípcia na futura campanha da Palestina.

A diplomacia e a espionagem britânicas estavam por trás desta revolta: prometeram aos árabes não só a independência se colaborassem com a Entente no combate ao Império Otomano, mas também a formação de um estado árabe unificado desde Alepo (Síria) até Aden (Iêmen), mas não havia um acordo formal 11 e essas promessas nunca foram cumpridas. Os árabes não sabiam do Acordo Sykes-Picot 12, que, ao contrário ao que fora prometido às lideranças árabes, a Grã-Bretanha e a França planejavam dividir entre si o que restava do Império Otomano.

Além do mais, as promessas feitas pelos britânicos eram contrárias à Declaração Balfour 13, que a imprensa tornou pública depois da tomada de Jerusalém em 9 de dezembro de 1917.


FIGURA 4: Avanço dos britânicos no Sinai até a Primeira Batalha de Gaza.

Primeira Batalha de Gaza

No decorrer de 1917, Londres não apenas negou reforços ao general Murray, como lhe pediu duas divisões de infantaria para a frente francesa; ou seja, o Oriente Médio era ainda uma frente secundária. Os fracassos dos britânicos em Arras e dos franceses na Ofensiva Nivelle na frente ocidental, e os reveses da Ofensiva de Kerensky na frente oriental, finalmente forçam o gabinete de guerra britânico decidir pela autorização de uma ofensiva de primavera em Gaza.

Em fevereiro de 1917, tanto a ferrovia como a tubulação de água do Nilo se estenderam até Alarixe. A tomada de Gaza era indispensável como primeiro passo para posteriormente avançar para Jerusalém. Sabendo disso, os otomanos estabeleceram duas linhas de trincheiras e redutos ao redor de Gaza para se defender de ataques pelos flancos.

Além do mais, criaram uma linha defensiva de cerca de 30 quilômetros de Gaza a Bersebá, totalizando 19.000 homens. Esta última cidade era um importante centro logístico de abastecimento de água e de terminal ferroviário. Para a ofensiva, os britânicos vão dispor de 30.000 homens e mais de 100 peças de artilharia. A ofensiva começou em 26 de março de 1917, mas desde o início os movimentos não ocorreram conforme o planejado.

A falta de coordenação entre os ataques frontais da infantaria desde o sul com os movimentos de flanqueio da cavalaria pelo leste terminam levando a ofensiva ao fracasso, carecendo totalmente de efeito surpresa, já que Von Kressenstein esperava o ataque da infantaria britânica pelo sul. Estes não conseguiram avançar pela forte defesa otomana e a névoa que dificultou a manobra, com a cavalaria conseguindo chegar a Gaza pelo leste, mas, sem apoio da infantaria, teve que retroceder com pesadas baixas. Entre mortos e feridos, os britânicos sofreram 4.000 baixas, e os otomanos, 2.000 baixas.

Segunda Batalha de Gaza

Na primeira batalha de Gaza, os britânicos priorizaram o movimento e a velocidade da cavalaria, que quase definiu a batalha a seu favor. Por causa disto, os otomanos reforçaram ainda mais suas trincheiras e redutos, aumentando a largura e profundidade destes, assim como estabeleceram pontos fortificados que se apoiavam mutuamente. Este sistema de defesas mudou totalmente a natureza da Segunda Batalha de Gaza, travada de 17 a 19 de abril de 1917.


FIGURA 5: Segunda Batalha de Gaza.

Para este ataque, os britânicos contavam com 30.000 tropas (20.000 de infantaria e 10.000 de cavalaria). As tropas otomanas somavam cerca de 20.000 homens.

Os ataques frontais da infantaria britânica foram muito previsíveis, e apesar de as tropas contarem com oito tanques Mark I para se protegerem, isso não funcionou porque os tanques afundaram na areia e se tornaram alvos fáceis para a artilharia inimiga.

Os ataques da cavalaria australiana foram derrotados pelos contra-ataques localizados da cavalaria turca e de auxiliares beduínos. As baixas britânicas são discutidas até hoje: oficialmente foram 6.500 entre mortos, feridos e prisioneiros, mas outras versões indicam até 14.000 baixas. Os otomanos sofreram cerca de 4.000 baixas. Esse resultado desastroso teve como consequência a destituição do general Murray.

Terceira Batalha de Gaza

De abril a outubro de 1917 a frente esteve estagnada e ambos os lados aproveitaram para construir extensas linhas de trincheiras. Também ambos exércitos nomearam novos comandantes. Do lado britânico, Murray foi substituído por Edmund Allenby em junho de 1917. No mesmo mês os otomanos nomearam o general alemão Erich von Falkenhayn. Foi criada uma força de choque ao estilo stormtrooper alemão: o Grupo de Exércitos Yildirim (“Relâmpago”). Este general já vinha do fracasso em Verdun 1916 e da campanha bem-sucedida contra Romênia no final do mesmo ano. Nesta frente, Falkenhayn planejou uma ofensiva em dois tempos: primeiro um reconhecimento em força desde Bersebá, e depois um ataque total ao longo dos 20 quilômetros da frente, sem saber que, justamente, Allenby planejava sua ofensiva em Bersebá para esse mesmo dia. Em vez de surpreender Allenby, Falkenhayn terminou sendo pego de surpresa, sendo este um gravíssimo erro de falta de inteligência militar: o conhecimento preciso dos planos operacionais do inimigo.


FIGURA 6: Terceira Batalha de Gaza.

Pelo lado de Allenby, ele fez inovações importantes no Exército britânico:

• Melhora nas armas combinadas, ou seja, melhor coordenação entre infantaria, artilharia, cavalaria, blindados ligeiros e a aviação.

• Uso do fator surpresa e engodo: mostrar ao inimigo posições e movimentos para enganá-lo e confundi-lo sobre o ataque principal.

• Utilização de forças de guerrilha para auxiliar e coordenar movimentos com o exército regular. Exemplo, as forças árabes de T. E. Lawrence (Lawrence de Arábia).

• Obter supremacia aérea: o uso maciço de biplanos Bristol permitiu aos britânicos dominarem o espaço aéreo superando os aviões inimigos.

• Reconhecimento mais apurado: obtendo supremacia aérea, Allenby soube utilizá-la. Realizando reconhecimento aéreo fotográfico nas linhas inimigas, ele não apenas sabia dos dispositivos de defesa do inimigo, mas também a exata localização de suas forças e seu tamanho, bem como sua logística e eventual chegada de reforços, sempre se antecipando aos movimentos do inimigo. Ele também usou a aviação para bombardeio de linhas de logística e comunicação, deslocando e impedindo a chegada de reforços em tempo hábil.

Esta ofensiva britânica seria totalmente diferente das anteriores: o reconhecimento aéreo foi muito mais apurado e a inteligência militar britânica (principalmente uma rede judaica em Jerusalém) dariam a Allenby informações precisas dos dispositivos defensivos otomanos na linha Gaza-Bersebá, suas logísticas, comunicações e, fundamentalmente, seus pontos fracos.

Falkenhayn, ao contrário, desconhecia onde se concentraria o principal ataque britânico. Ele estava convencido de que seria novamente em Gaza, como os anteriores, mas na realidade seria onde ele menos esperava: Bersebá.

Batalha de Bersebá

Em 31 de outubro de 1917 começa o ataque britânico a Bersebá. Os defensores contavam com 4.400 soldados, 60 metralhadoras e 28 peças de artilharia. Os britânicos tinham 15.000 soldados e 242 peças de artilharia, e realizaram movimentos envolventes pelos flancos leste e oeste de Bersebá. A posição caiu em poder britânico, abrindo múltiplas possibilidades: envolver a Gaza pelo oeste e ao mesmo tempo facilitar o avanço à Jerusalém. Nesta batalha se sobressai a carga da cavalaria australiana, que pegou os otomanos de surpresa e fez colapsar a linha defensiva em um só dia.

Na noite de 1º de novembro de 1917 se inicia o ataque a Gaza, tanto pela artilharia pesada do exército, como pela Royal Navy. A força de ataque britânica era composta por 35.000 homens e 218 peças de artilharia, incluindo um cruzador, cinco monitores, duas canhoneiras e dois destróieres. Os otomanos tinham em Gaza um total de cerca de 8.000 homens e 110 peças de artilharia.


FIGURA 7: Avanço britânico posterior à terceira batalha de Gaza.

O avanço envolvente da cavalaria australiana pelo leste da frente ameaçou a retirada para Jafa ao norte. A combinação devastadora do fogo de artilharia se intensificou no dia 6. Os redutos foram caindo um por um, bem como as defesas costeiras. No dia 7 foi lançado o assalto final desde sul e leste, culminando com a retirada dos otomanos de Gaza.

As baixas dos otomanos foram de aproximadamente 4.000 entre mortos, feridos, desaparecidos e prisioneiros. As dos britânicos foram de cerca de 2.500 entre mortos e feridos, incluindo um monitor e um destróier afundados com a perda de 35 marinheiros.

Um fator importante nesta campanha é o Exército Árabe de T. E. Lawrence, Emir Faiçal e Auda Abu Tayi, formado por cerca de 500 a 1.000 beduínos, que paralelamente à Força Expedicionária Egípcia de Allenby, avançavam pelo flanco leste, fazendo reconhecimento das forças inimigas, atacando ferrovias, destruindo linhas telegráficas, explodindo pontes, atacando guarnições otomanas isoladas e cortando linhas de comunicações, criando assim caos na retaguarda otomana e fazendo uma guerra psicológica que incentivava deserções de contingentes árabes auxiliares no Exército otomano, criando ainda mais desmoralização.

Batalhas de Jerusalém e Jafa

As tropas da Força Expedicionária Egípcia somavam 200.000 homens, sendo quase a metade auxiliares árabes e egípcios no transporte e logística, com 46.000 cavalos e mulas e 26.000 camelos. As forças de combate somavam 100.000 soldados e 500 peças de artilharia, o que implicava um enorme esforço logístico.

Depois das batalhas de Gaza e Bersebá, Falkenhayn se retirou ao longo de uma linha defensiva entre Jafa e Jerusalém de cerca de 65 quilômetros, distribuindo 50.000 homens e 200 peças de artilharia, defendendo principalmente o vital porto de Jafa e a linha ferroviária entre este porto e Jerusalém, passando pela Junction Station (eixo ferroviário entre várias linhas) que ligava Beirute, Damasco e Alepo. A entrada de Jerusalém estava bloqueada por vários bastiões otomanos nas chamadas Colinas da Judeia, onde havia 20.000 homens e mais de 100 peças de artilharia.

Nessa ofensiva, Allenby iria dispor de cerca de 85.000 soldados e 500 peças de artilharia ao longo da frente, e no ataque a Jerusalém contaria com 35.000 homens e 220 peças de artilharia.

O objetivo era tomar as posições defensivas das colinas, mas evitar combater dentro da mesma Jerusalém, motivo pelo qual a prioridade era não apenas tomar as colinas, mas fazer movimentos de flanqueio para cortar a retirada otomana e forçar o abandono de Jerusalém ao ter suas linhas de retaguarda cortadas. Em 14 de novembro, como consequência de um ataque em pinça sobre a ferrovia Jafa-Jerusalém com suporte de uma coluna britânica, foi tomada não apenas a estação, mas também muito material ferroviário, munições e suprimentos, cortando ao meio a linha logística otomana.

Jafa foi finalmente tomada pelos britânicos em 20-21 de dezembro. Do restante das forças otomanas, uma parte se retira para as Colinas de Judeia para bloquear o acesso à Jerusalém e outra para o norte de Jafa. No leste da frente, entretanto, a ofensiva contra as Colinas de Judeia começou em 17 de novembro de 1917 e terminou em 9 de dezembro de 1917. Esta foi uma das batalhas mais duras da campanha, pois os otomanos tinham o terreno elevado das colinas a seu favor e estavam bem entrincheirados. Os otomanos realizaram vários contra-ataques que atrasaram os avanços, mas não puderam reverter a situação.

Depois de as posições defensivas otomanas caírem em poder dos britânicos, em 1º de dezembro a situação estava quase perdida, e no dia 9 os otomanos retraem para Jerusalém. Allenby então entra simbolicamente “a pé” pela porta de Jafa, como sinal de respeito religioso e humildade. Em toda a campanha os britânicos sofreram aproximadamente 18.000 baixas e os otomanos cerca de 29.000, incluindo 10.000 prisioneiros e mais de 100 peças de artilharia apreendidas.

Essa foi a maior vitória militar dos britânicos, não somente no sentido estratégico, mas também pelo seu simbolismo político e religioso. Chegou em um momento oportuno para a Entente, e foi uma esperança de vitória em meio a vários fracassos em outras frentes na Europa 14.

O primeiro-ministro britânico Lloyd George considerou a conquista de Jerusalém pelos britânicos como “um presente de Natal”, já que Allenby lhe havia prometido tomar essa cidade antes de 25 de dezembro, e assim foi. Foi a maior derrota dos otomanos até esse momento, o que aumentou ainda mais a desmoralização em todos os setores da sociedade do Império, além das tropas.

Para a Força Expedicionária Egípcia de Allenby, esta vitória abre caminho para Damasco e Alepo na Síria. Como se isso fosse pouco, os otomanos também estavam perdendo a Mesopotâmia (Iraque) para as forças britânicas do general Maude, que já tinham tomado Bagdá em 11 de março de 1917.

O Império Otomano estava a caminho de se desintegrar.


FIGURA 8: Batalhas de Jerusalém e de Jafa (novembro-dezembro 1917).

Outro elemento problemático interno do Império Otomano foi sua corrupção desmedida em todas as esferas do poder político e administrativo, e a estrutura das forças otomanas não era diferente. Isso freou muitas iniciativas, fazendo com que os suprimentos e reforços chegassem quase sempre tarde e mal. Todo este quadro fez com que a população em geral do Império perdesse a crença em suas lideranças. No Exército otomano aconteceu algo similar, porque as tropas deixaram de acreditar em seus oficiais, sendo isto agravado pelo equipamento inadequado, pela falta de munição, de alimentos e pelas condições sanitárias precárias. Foi o início do do colapso que estava por vir.

Apesar do sucesso da tomada de Jerusalém, Londres considerava que essa frente era um desperdício de tropas britânicas, e que elas eram muito mais necessárias na frente ocidental europeia, razão pela qual transferiram duas divisões de exército para a França.

As dificuldades climáticas do inverno chuvoso na região, se somavam aos problemas logísticos, já que o porto de Jafa não tinha infraestrutura suficiente e o descarregamento dos navios eram feitas na praia, atrasando o transporte.

Do lado otomano, é a partir deste ponto que Enver Paxá, o líder político do Império, percebe que o Império Otomano não está apenas sendo derrotado militarmente, mas se está desintegrando e pode desaparecer depois de quatro séculos de hegemonia no Oriente Médio.

No entanto, é muito tarde para evitar o desastre.

Em 1º de março de 1918, o general alemão Otto Liman von Sanders (participou na defesa de Gallipoli) substituiu Falkenhayn no comando do Exército otomano. Von Sanders é partidário de uma defesa mais flexível em detrimento de uma defesa estática como a que Falkenhayn implementou em Bersebá, provocando sérios desentendimentos com os oficiais otomanos.

Batalha de Megido

O impasse forçado na frente é aproveitado por Allenby para consolidar e segurar as posições ganhas na campanha anterior. A partir de março de 1918, os britânicos continuam seu avanço pelo vale do Rio Jordão, mas fracassaram no ataque a Amã na Transjordânia (Jordânia) no mesmo mês.

No mês de maio de 1918, foi realizado um segundo ataque à Amã, resultando também em fracasso, já que as linhas britânicas são muito estendidas, com tropas insuficientes e exaustas, e os otomanos têm as linhas logísticas de Damasco intactas até aquele momento. Desta vez os britânicos não contavam com o auxílio do Exército árabe de T. E. Lawrence 15, já que este tinha muitas deserções e precisou se reorganizar.

Ao não conseguir entrar no flanco pela Transjordânia (leste do Jordão), Allenby tinha que avançar pela margem esquerda do Jordão, e foi o que ele fez. Avançou em direção à Galiléia, tomando Jericó pelo leste, e em direção à Haifa pelo oeste.

Von Sanders retira o Exército otomano até Megido, onde concentra a maioria das suas forças como eixo para uma defesa flexível e um posterior contra-ataque. Ele queria repetir em Megido a defesa bem-sucedida que fez em Gallipoli junto com Mustafá Kemal. O que ele fez, sem perceber, foi se posicionar justamente no ponto que Allenby esperava, o que teria resultados desastrosos.

Paralelamente, Allenby teve que aumentar os subsídios para o Exército Árabe de T. E. Lawrence e o Emir Faiçal para somar mais tribos beduínas à campanha com mais armamentos, blindados ligeiros, metralhadoras e até artilharia ligeira para atacar a ferrovia de Hejaz-Daara (Síria), cortando as linhas de comunicações otomanas.


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Finalmente, em 19 de setembro de 1918, Allenby cria uma série de distrações e ataques de decepção (engano) contra os otomanos: ao fazer crer que o ataque principal seria no vale do Jordão, e com avanços de distração em direção à costa de Haifa, escondeu que o avanço estratégico seria em Megido, onde menos se esperava. Como Von Sanders não sabia onde ia ser o ataque principal, dispersou suas 40.000 tropas e 400 peças de artilharia ao longo de mais de 65 quilômetros de Haifa até o Jordão, deixando muitos pontos fracos.

Os aliados da Entente também contavam com supremacia aérea, tendo o domínio quase completo do espaço aéreo do campo de batalha.

Para esta ofensiva os britânicos e seus aliados contariam com 57.000 homens de infantaria, 12.000 de cavalaria e 540 peças de artilharia, tendo inclusive 4.000 árabes irregulares auxiliares.

Os ataques do Exército árabe cortam a ferrovia em Daara, os bombardeios da aviação contra a retaguarda turca, e a técnica da barragem rastejante 16 da artilharia (creeping barrage), criam caos e confusão nas linhas inimigas. Isso escondeu o verdadeiro movimento envolvente contra as posições de Megido, colapsando as defesas otomanas em várias direções e cortando as rotas de retirada dessas divisões. Muitas deixaram de existir como unidades operativas, a maioria se dispersando e deixando de obedecer aos oficiais. Nessa ofensiva, Allenby seguiu os princípios de concentração de forças, surpresa e velocidade.

Finalmente, os britânicos, com o apoio dos árabes irregulares, tomam finalmente Amã em 21 de setembro. No dia 25 o Exército otomano se desintegra totalmente, começando a perseguição das forças isoladas em retirada.

As baixas da Entente foram de cerca de 6.000 entre mortos e feridos. Já as baixas otomanas foram quase totais: de 40.000 homens, somente 6.000 conseguem escapar, apenas para serem capturados nas perseguições que se seguiram. Foi a destruição completa do Exército otomano.

Dessa batalha em diante se segue uma perseguição do restante das forças otomanas desorganizadas e desmoralizadas.

Em 1º de outubro as tropas australianas e as de Lawrence entram em Damasco sem resistência. Alepo, a terceira maior cidade do Império Otomano, foi tomada em 25 de outubro de 1918 também sem oposição, abrindo o caminho para a invasão da Anatólia (Turquia).

A rendição da Bulgária (aliada das Potências Centrais) e o avanço da Entente em direção da Trácia oriental (Turquia europeia), força o governo otomano a assinar o Armistício de Mudros 17 em 30 de outubro de 1918, encerrando as hostilidades entre o Império Otomano e seus aliados contra as potências aliadas da Entente.

As baixas totais de 1915-18 das forças da Entente (de 460.000 mobilizados em 1918) foram 60.000 entre mortos e feridos em combate e mais de 100.000 evacuados por doenças. Já as baixas do Império Otomano (de 260.000 mobilizados em 1918) somaram 230.000 entre mortos, feridos e prisioneiros.


FIGURA 9: A Batalha de Megido.

Resultados

Para os Otomanos: foi o fim do Exército otomano como unidade operacional e a desintegração do Império Otomano, com a perda da Palestina, da Síria, do oeste da Península Arábica e da Mesopotâmia (Iraque). Somente lhe restou o território da Anatólia e da Trácia oriental, que formam a Turquia atual.

Como consequência do Armistício de Mudros 1918, o Império Otomano teve que desmobilizar todas as suas forças, entregar todas as suas fortalezas nos estreitos dos Dardanelos e do Bósforo às forças da Entente, bem como tiveram que entregar todas as ferrovias, portos e instalações estratégicas aos aliados, reservando-se estes o direito de intervenção militar a qualquer momento nos estreitos. No Cáucaso, tiveram que retroceder às fronteiras pré-guerra 1914 contra o Império Russo.

No Tratado de Sèvres de 1920 o restante do Império Otomano foi partilhado entre as potências vencedoras da Entente. Este acordo nunca foi ratificado pelo parlamento turco, e deu lugar a um movimento de resistência nacional que dá fim à monarquia, proclama a república e lidera o combate contra as forças estrangeiras ocupantes, sendo expulsas do território da Anatólia na Guerra de Independência Turca (1920-1923) conduzida por Mustafá Kemal Atatürk, verdadeiro fundador da Turquia moderna. Este tratado seria anulado pelo posterior Tratado de Lausanne de 1923, que anulou o tratado anterior e reconheceu internacionalmente a independência e integridade do território da Turquia.

Para os Aliados da Entente: a Campanha da Palestina representou um dos maiores sucessos militares do Exército britânico durante a Primeira Guerra Mundial. Contudo, essa vitória trouxe consequências políticas complexas: com a destruição do Império Otomano, abriu-se um vácuo de poder na região que gerou instabilidade política duradoura. As consequências dessa instabilidade ecoam no Oriente Médio até os dias atuais, principalmente em decorrência de compromissos britânicos contraditórios assumidos durante a guerra.

A raiz do problema encontra-se na Declaração Balfour, pela qual a Grã-Bretanha se comprometeu a apoiar a criação de um lar nacional judeu na Palestina, contando com o apoio de organizações sionistas nos Estados Unidos e na Europa. Simultaneamente, porém, o governo britânico havia prometido aos líderes árabes, especialmente ao Xarife Hussein, a formação de um estado árabe independente e unificado no mesmo território. Essa dupla promessa, feita para angariar apoio contra o Império Otomano, nunca foi cumprida. O resultado foi a Palestina sendo prometida a dois povos distintos, gerando o conflito que se intensificou a partir de 1920 e persiste até hoje.

Erros das Potências Centrais

Falta de Objetivos Claros: cada Estado um tinha objetivos diferentes e não havia coordenação entre otomanos, alemães e austro-húngaros. Cada um fazia a sua guerra.

Falhas na Inteligência Militar: careciam de informações precisas dos planos inimigos. Por isso, na Campanha de Palestina Allenby os confundiu mais de uma vez: a) Em 1917, quando acreditavam que ele atacaria Gaza, atacou Bersebá; e b) Em 1918, quando achavam que ele atacaria no vale do Jordão, e atacou Megido.

Erros no Planejamento das Operações: na distribuição das tropas, na logística e falta de coordenação entre as unidades.

As falhas principais começavam pelo próprio Enver Paxá, com seus objetivos desmedidos, que levaram o Império Otomano a uma guerra que culminou em sua destruição.

Falta de Cooperação e Entendimento entre generais alemães e oficiais turcos, contribuindo com o desastre.

Insistência na Defesa Rígida de Posições Defensivas a Qualquer Custo: Falkenhayn fez isso nas defesas de Gaza e Bersebá. Decisões como essas causam desmoralização das tropas.

Descuido do Moral das Tropas: a falta de alimentos, munições e estruturas sanitárias de campanha provocaram uma crescente queda do moral entre as tropas otomanas, levando em conta que a guerra não era popular no Império, fatores pioraram ainda mais o quadro, o que culminou na Batalha de Megido.

Erros da Entente

Insistir na Defesa Estática no Canal de Suez: a) na primeira invasão, o general Maxwell abre a possibilidade dos otomanos se instalarem no lado direito do Canal, implantando artilharia e bombardeando os navios que o atravessavam, causando terríveis prejuízos na logística e na navegação. b) na segunda invasão na Batalha de Romani, deixaram as forças otomanas escaparem sem cortar ou ameaçar suas linhas de retaguarda.

Falhas Iniciais na Logística Transporte e Unidades Sanitárias, o que dificultou o avanço da campanha do Sinai e aumentou as baixas por doenças, especialmente dadas as duríssimas condições do deserto e da falta de água, sendo isto tão ou mais estratégico que as munições.

Indecisão do Poder Político ao não ter clareza sobre como continuar uma campanha já que a prioridade era a frente ocidental na Europa.

Negociações Turvas e Contraditórias que no final também acabaram prejudicando seus próprios interesses depois da Primeira Guerra Mundial: Acordo Sykes-Picot, promessas da Correspondência McMahon-Hussein e a Declaração Balfour.

Criação de Estados e Fronteiras Artificiais: caso do Iraque e da Jordânia, e as fronteiras da Síria e do Líbano.

Conclusões

A Campanha da Palestina 1917-1918 foi a mais bem-sucedida do Exército britânico na Primeira Guerra Mundial:

a) Mostrou uma curva de aprendizado que começou com a defesa estática de posições, como no primeiro ataque no Canal de Suez, até a guerra de manobras da Campanha da Palestina, com movimentos envolventes, fator surpresa e velocidade.

b) Uso eficaz de forças de guerrilha (Revolta Árabe) nos flancos e retaguarda do inimigo.

c) Uso maciço da aviação tanto para reconhecimento quanto no ataque.

d) Bom uso da inteligência militar, criando falsas mensagens e informações, confundindo o inimigo e ao mesmo tempo camuflando seus próprios planos operacionais. Isto seria feito também por Montgomery na Batalha de El Alamein em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial.

e) Aproveitamento ao máximo da retirada inimiga através da perseguição. Tudo isto difere muito das táticas da frente ocidental da Europa, com exceção da ofensiva dos 100 dias de 1918.

Em compensação, o fator político só criou instabilidade pelos seguintes motivos: Mandatos da Síria (Líbano incluso) a cargo da França, e Mandatos na Palestina, Transjordânia e Mesopotâmia a cargo da Grã-Bretanha. Foram territórios inventados e com fronteiras arbitrárias com resultados desastrosos, e nenhuma das duas Potências tinha como sustentar essas ocupações.

Pelo caos que criaram, tiveram que dar um prêmio consolação para o emir Faiçal, e finalmente terminaram inventando o Reino do Iraque (1932), coroando-o como rei com o título de Faiçal I, sendo este de fato um protetorado britânico, o qual também não se sustentou.

Notas

[1] O Jedive era no Egito uma espécie de sultão. Desde 1500 o Egito era província otomana. Desde 1805, começou a se independizar de fato, embora até 1885 seguisse teoricamente sob domínio otomano. A partir de 1885 foi ocupado militarmente pela Grã-Bretanha como protetorado, deixando o Jedive como figura visível, e mantendo o Império Britânico no controle da administração, política, economia e defesa.

[2] Enver Paxá era o homem forte do Império Otomano e foi ele o responsável por se aliar às Potências Centrais e entrar na Primeira Guerra Mundial do lado delas. A prioridade dele era a revanche contra o Império Russo pelos territórios perdidos no Cáucaso. Seu sonho era criar um grande Império Turco na Ásia Central; essa foi a sua ruína e a do Império Otomano. Por esse motivo, Enver Paxá foi o mais favorável a uma aliança com as Potências Centrais, fazendo um pacto secreto com estas em 2 de agosto de 1914, concluindo uma aliança militar e se comprometendo a entrar na guerra do lado destas alguns meses mais tarde. O Império Otomano nessa época hesitava em entrar na guerra, e de que lado participar, porque já tinha perdido a maioria de seus territórios europeus dos Bálcãs nas guerras balcânicas (1912-1913) e na Tripolitânia (Líbia) para a Itália. Por isso, achavam que essa aliança era a melhor maneira do Império Otomano salvar a integridade dos territórios que lhe restavam. Acabou sendo o contrário.

[3] Baku está na atual Azerbaijão, sendo em 1914 parte do Império Russo. A ambição do Enver Paxá eram seus poços petrolíferos, mas o Império Alemão também os queria, havendo uma disputa entre ambos em 1918. Finalmente foram tomados pela URSS em 1922.

[4] A Mesopotâmia era uma província otomana, hoje é o atual Iraque.

[5] Djemal Paxá era um dos “Três Paxás” que detinham o verdadeiro poder no Império Otomano por trás do sultão. Eram parte do Comitê da União e do Progresso (CUP) sendo estes mais conhecidos como “Jovens Turcos”, movimento político que ambicionava a modernização do Império e a sua recuperação, sendo eles os incentivadores do acordo secreto do Império Otomano com as Potências Centrais.

[6] O plano era cortar as linhas de comunicação do Império Britânico com a Índia, Singapura, Austrália e Nova Zelândia, coisa que devia ser evitada a qualquer custo. No início do primeiro ataque ao Canal de Suez incentivou uma revolta dos beduínos Senussi na fronteira Oeste do Egito desde a Líbia, que fracassou.

[7] Havia também um corpo expedicionário francês, porque a França tinha ambições na Síria e no Líbano. A Itália também enviou um destacamento simbólico de 500 soldados. A participação destes contingentes reduzidos quase que passa despercebida em todas as fontes ou na maioria delas.

[8] Gallipoli (1915-16) foi um ataque anglo-francês nos estreitos dos Dardanelos próximo da atual Istambul para tomar a capital do Império Otomano e tirá-lo da guerra. Foi um rotundo fracasso da Entente e um triunfo das Potências Centrais. As tropas que conseguiram ser evacuadas foram enviadas para o Egito.

[9] O Xarife Hussein Ali de Meca iniciou uma revolta contra a ocupação otomana incentivado por agentes ingleses, entre eles T. E. Lawrence (Lawrence de Arábia).

[10] Aqaba é um porto da atual Jordânia no Mar Vermelho. Em junho de 1917 foi tomado pelo Exército árabe liderado por T. E. Lawrence, Auda Abu Tayi e o príncipe Faiçal, atacando por surpresa os turcos pelo lado do deserto. Esse porto cobria o flanco direito da Força Expedicionária Egípcia, garantindo assim o abastecimento por mar e consolidando a posição no Sinai, abrindo caminho para a campanha da Palestina.

[11] Essas promessas de diplomatas e agentes britânicos feitas ao Xarife Hussein Ali de Meca se originaram da “correspondência McMahon-Hussein”, uma série de cartas entre o Xarife Hussein Ali de Meca e o tenente coronel sir Henry McMahon, alto comissário britânico no Egito, através de quem os britânicos prometeram reconhecer a independência de um estado árabe em troca de iniciar uma revolta contra o Império Otomano.

[12] Os Acordos Sykes-Picot foram feitos entre o diplomata francês François Pycot e o britânico Mark Sykes. Esses acordos estão em aberto conflito com a correspondência McMahon-Hussein e a Declaração Balfour, que criaram os estados artificiais de hoje no Oriente Médio.

[13] A Declaração Balfour de 2 de novembro de 1917 foi feita pelo então secretário britânico dos assuntos estrangeiros Arthur James Balfour ao Barão Rothschild, líder da comunidade judaica do Reino Unido para ser transmitida à Federação Sionista da Grã-Bretanha. A declaração consiste no compromisso britânico de facilitar o estabelecimento do Lar Nacional Judeu na Palestina, caso a Grã-Bretanha conseguisse derrotar o Império Otomano, que nessa época dominava a região.

[14] A conquista de Jerusalém era um alívio para a Entente em dezembro de 1917, porque a Rússia já estava fora da guerra pela revolução bolchevique, que se somava ao desastre italiano de Caporetto, aos motins do Exército francês e aos desastres das ofensivas de Nivelle e da batalha de Passchendaele.

[15] Supostamente T. E. Lawrence foi capturado e torturado pelos turcos em Daraa (Síria) quando tentou um reconhecimento disfarçado de beduíno. Só se têm como referência desse episódio o próprio livro de Lawrence “Os Sete Pilares da Sabedoria”. Alguns autores duvidam desse incidente.

[16] É uma técnica de bombardeio sincronizado que cria uma barreira de fogo à frente da infantaria cobrindo assim o seu avanço e posição.

[17] O Armistício de Mudros foi assinado em 30 de outubro de 1918 a bordo do encouraçado britânico HMS Agamemnon no porto de Mudros, na ilha grega de Lemnos.

Referências

AZ Archives(Canal YouTube). Sinai and Palestine Campaign (1916-1918). The Forgotten Desert War. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=HEzSHFL5EBE.

The Great War(Canal YouTube). Battle for Gaza 1917: The Palestinian Campaign of WWI (Documentary). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=cXqnw1OWecw.

The Great War(Canal YouTube). How WWI Created the Middle East Conflicts (Documentary). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=tjnBmH8b0Ko.

Wikipedia, The Free Encyclopedia. Sinai and Palestine Campaign. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Sinai_and_Palestine_campaign.

Wikipedia, The Free Encyclopedia. Arab Revolt. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Arab_Revolt.

CAWTHORNE, Nigel. Os 100 Maiores Líderes Militares da História. 416 pág. 2010, Bertrand Brasil.

LIDDELL HART, Basil Henry. Strategy. 448 págs. 1991, Plume Books.

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