Origens Históricas da Iugoslávia: Etnias, Impérios e Geopolítica nos Bálcãs

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Imagem meramente ilustrativa, gerada por inteligência artificial.

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A formação da Iugoslávia refletiu disputas imperialistas nos Bálcãs; a diversidade étnico-religiosa, tensões nacionalistas e intervenções estrangeiras moldaram a instabilidade crônica da região.


Este artigo tem como objetivo oferecer um panorama histórico da formação da Iugoslávia, destacando os fatores étnicos, imperialistas e geopolíticos que moldaram os Bálcãs ao longo do século XX.

A problemática que orienta esta análise pode ser formulada da seguinte maneira: o processo de evolução geopolítico nos Bálcãs deu origem a um interesse nacional alemão em criar uma esfera de influência germânica nessa área?

A hipótese de trabalho é que sim, houve a consolidação de um interesse alemão nos Bálcãs, e que esse processo trouxe consigo reflexos profundos para o futuro da Iugoslávia.

A metodologia adotada baseia-se em análise bibliográfica, com referência a obras como Yugoslavia: A Concise History de Leslie Benson, Understanding Yugoslavia de Rick Steves, NATO and the Fall of Yugoslavia publicado pela Pambazuka News e A Brief History of the Balkans (Yugoslavia) da Sovereign Limits.

Cabe destacar que esta hipótese é exploratória e não conclusiva neste artigo. O objetivo é preparar o terreno para um projeto maior, que irá se chamar “Entendendo as Origens da dissolução da Iugoslávia”, no qual a questão será aprofundada em etapas posteriores.

Raízes Históricas dos Bálcãs

A região dos Bálcãs sempre se caracterizou por uma profunda diversidade étnica e religiosa. Sérvios, croatas, eslovenos, bósnios, albaneses e macedônios compõem um mosaico de povos que, ao longo dos séculos, desenvolveram identidades próprias, mas também compartilharam espaços de convivência e conflito. Como observa Benson (2001, p. xiii), “a pluralidade cultural e religiosa dos Bálcãs tornou-se um dos fatores centrais da instabilidade política da região”.

Essa instabilidade foi reforçada pelo sistema do millet, instituído pelo Império Otomano, que concedia às comunidades religiosas não-muçulmanas autonomia para administrar seus próprios assuntos internos, como casamento, divórcio e educação, sob supervisão do Estado. Segundo Aviv (2016), o termo millet originalmente significava “religião” ou “comunidade religiosa”, mas no século XIX passou a se aproximar da ideia de “nação”. Esse arranjo permitiu uma convivência relativamente pacífica, mas também institucionalizou diferenças que seriam exploradas posteriormente em disputas nacionalistas.

Bor (2025) destaca que o sistema foi “extraordinário e eficaz” para garantir a coexistência de muçulmanos e não-muçulmanos, funcionando como chave da ordem social otomana.

As Reformas Tanzimat (1839–1876), iniciadas com o Édito de Gülhane (1839) e o Hatt-ı Hümayun (1856), prometeram igualdade legal entre muçulmanos e não-muçulmanos, reorganizaram a administração provincial e modernizaram o exército. Como destaca a Encyclopaedia Britannica (2025), o Tanzimat buscava “preservar a integridade do Império diante da pressão europeia, promovendo reformas legais e administrativas”. Nesse contexto, Clements (2025) observa que o sistema do millet se transformou em um paradigma moderno de diferença, reorganizando a vida política e social do Império Otomano.

Em síntese, a pluralidade étnico-religiosa e a disputa imperial moldaram os Bálcãs como uma zona de contato múltipla entre impérios. Essa constante rivalidade transformou a região em um espaço de instabilidade crônica, onde alianças e fronteiras se modificavam com frequência. É fundamental destacar, contudo, que até este momento histórico não se pode afirmar a existência de um interesse nacional alemão consolidado. O que se observa é a presença indireta da Alemanha por meio da Monarquia Austro-Húngara, sem que isso configure, de forma conclusiva, uma política alemã própria para os Bálcãs. Como sintetiza Rick Steves (2019), “os Bálcãs funcionaram como uma ponte entre o Oriente e o Ocidente, mas também como linha de fratura entre civilizações”.

A Figura 1 mostra o crescimento da Sérvia entre 1817 e 1913, evidenciando como o Estado sérvio se expandiu às custas do recuo otomano.


FIGURA 1: Crescimento da Sérvia entre 1817 e 1913 (BENSON, 2001, p. xix).

Já a Figura 2 apresenta a fronteira militar entre a Áustria-Hungria e o Império Otomano, destacando os Bálcãs como linha divisória tripla: germânica, eslava e otomana.


FIGURA 2: Fronteira militar entre a Áustria-Hungria e o Império Otomano (BENSON, 2001, p. xx).

Em síntese, pode-se afirmar que os Bálcãs se consolidaram como um espaço de instabilidade crônica, marcado por disputas imperialistas e fronteiras em constante transformação. Até o momento histórico aqui revisitado, não se pode afirmar a existência de um interesse nacional alemão consolidado: observa-se apenas sua presença indireta por meio da Monarquia Austro-Húngara, sem configurar, de forma conclusiva, uma política alemã própria para a região.

Primeira Guerra Mundial e Sarajevo

O assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando em Sarajevo, em 28 de junho de 1914, tornou-se o estopim da Primeira Guerra Mundial. Como observa Benson (2001, p. 57), o atentado foi resultado direto das tensões nacionalistas nos Bálcãs, especialmente da ação de grupos como a Mão Negra, que defendiam a unificação dos povos eslavos sob liderança sérvia.

A Áustria-Hungria utilizou o episódio como justificativa para atacar a Sérvia, desencadeando uma reação em cadeia: a Rússia posicionou-se como protetora dos eslavos, a Alemanha apoiou a Áustria-Hungria, e França e Reino Unido entraram em defesa da Rússia. Os Bálcãs, assim, deixaram de ser apenas uma zona periférica de contato entre impérios e se tornaram o epicentro da escalada que levou ao conflito mundial.

O desenrolar da guerra evidenciou o papel central da região. A Sérvia resistiu inicialmente, mas em 1915 foi invadida por forças austro-húngaras, alemãs e búlgaras, transformando o front balcânico em palco de campanhas prolongadas e extremamente sangrentas. Em 1917, a Grécia aderiu à Tríplice Entente (aliança formada por França, Reino Unido e Rússia), reforçando ainda mais o peso estratégico dos Bálcãs. O resultado foi devastador: a Sérvia sofreu enormes perdas humanas e deslocamentos populacionais, enquanto a Áustria-Hungria se enfraquecia progressivamente, incapaz de sustentar o esforço de guerra.

Com o fim da guerra e o desmembramento da Áustria-Hungria, foi criado em 1918 o Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos, posteriormente denominado Reino da Iugoslávia. Essa nova entidade política buscava realizar o ideal de unidade eslava, mas já trazia em seu interior tensões étnicas e religiosas que se revelariam nas décadas seguintes.

Concluindo parcialmente, observa-se que os Bálcãs não apenas simbolizaram a instabilidade imperial, mas se tornaram o gatilho da Primeira Guerra Mundial. A Alemanha aparece mais claramente vinculada ao destino austro-húngaro, mas ainda não se pode falar em uma política alemã autônoma para os Bálcãs. O que existia era uma solidariedade estratégica com Viena, que projetava Berlim diretamente na crise balcânica.


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Entre Guerras e Segunda Guerra Mundial

Após a Primeira Guerra Mundial, o Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos (posteriormente denominado Reino da Iugoslávia) buscava consolidar a unidade dos povos eslavos do sul. No entanto, desde o início, o novo Estado revelou uma profunda fragilidade política. As tensões étnicas e religiosas entre sérvios, croatas, eslovenos e outras comunidades minavam a estabilidade institucional, e os sucessivos governos enfrentavam dificuldades para construir uma identidade nacional comum. Como observa Benson (2001, p. 38), a breve experiência constitucional foi marcada por crises e pela incapacidade de conciliar os diferentes interesses regionais.

Essa fragilidade interna se tornaria ainda mais evidente durante a Segunda Guerra Mundial. Em abril de 1941, a Alemanha nazista e a Itália fascista invadiram a Iugoslávia, desmembrando o território em diferentes zonas de ocupação. Nesse contexto, foi criado o Estado Independente da Croácia (NDH), sob forte influência alemã e italiana, governado pelo movimento Ustasha de Ante Pavelić.

O movimento Ustasha surgiu no final da década de 1920 como um grupo ultranacionalista croata, inspirado diretamente no fascismo italiano e no nazismo alemão. Pavelić, advogado e político croata, defendia a independência da Croácia contra o domínio sérvio no Reino da Iugoslávia e assumiu o título de Poglavnik (equivalente a Führer ou Duce). A ideologia Ustasha combinava separatismo croata, racismo, xenofobia, antissemitismo, anticomunismo e catolicismo militante, e utilizava métodos de terrorismo e violência política para alcançar seus objetivos.

Durante o governo do NDH, os ustashas promoveram perseguições sistemáticas contra sérvios, judeus, ciganos e opositores políticos, sendo responsáveis por genocídios e massacres que integraram o Holocausto e o Porajmos (genocídio cigano). Embora subordinado às potências do Eixo, o regime tinha autonomia para implementar políticas de terror interno, tornando-se um dos mais violentos Estados colaboracionistas da Segunda Guerra Mundial.

A ocupação estrangeira estimulou o surgimento de movimentos de resistência armada. De um lado, os partisans, liderados por Josip Broz Tito, organizados sob orientação comunista e com apoio da União Soviética. De outro, os chetniks, nacionalistas sérvios que inicialmente combateram os invasores, mas em alguns momentos colaboraram com os alemães e italianos contra os partisans. Essa guerra interna entre partisans e chetniks acrescentou uma dimensão de guerra civil à ocupação estrangeira, tornando a Iugoslávia um dos palcos mais complexos da Segunda Guerra Mundial.

A Figura 3 ilustra o desmembramento da Iugoslávia em 1941, evidenciando a fragmentação territorial e a multiplicidade de zonas de ocupação sob controle alemão, italiano e húngaro.


FIGURA 3: Desmembramento da Iugoslávia em 1941 (BENSON, 2001, p. xxv).

A partir de 1943, com a derrota italiana e o recuo progressivo das forças alemãs nos Bálcãs, o equilíbrio militar começou a mudar. A capitulação da Itália em setembro daquele ano desorganizou parte da ocupação fascista, enquanto o avanço soviético em 1944 pressionava os alemães a abandonarem gradualmente a região. Nesse cenário, os partisans de Tito ganharam força, recebendo apoio logístico da União Soviética e dos Aliados ocidentais, e passaram a assumir o protagonismo da resistência contra o Eixo.

Em 1945, com a retirada das forças alemãs e italianas da região, os ustashas ficaram isolados diante da ofensiva dos partisans, o que levou ao colapso do governo do Estado Independente da Croácia (NDH). Isso marcou o fim da experiência colaboracionista nos Bálcãs. Ante Pavelić fugiu para o exílio, enquanto os partisans de Tito, apoiados pela União Soviética e pelos Aliados ocidentais, consolidaram sua posição como força dominante. Diferentemente dos chetniks, cuja credibilidade foi abalada por colaborações ocasionais com o Eixo, os partisans foram reconhecidos internacionalmente como legítimos representantes da resistência iugoslava. Esse triunfo abriu caminho para a fundação da República Federativa Popular da Iugoslávia, inaugurando a era socialista sob a liderança de Tito.

Podemos afirmar que a intervenção alemã nos Bálcãs durante a Segunda Guerra Mundial revela um interesse estratégico conjuntural, vinculado às necessidades militares do Reich e à lógica da guerra total. Embora a criação do Estado Independente da Croácia e a ocupação direta indiquem influência alemã, não se pode interpretar esse movimento como uma política de longo prazo para os Bálcãs, mas sim como parte da conjuntura da guerra.

Tito e a Iugoslávia Socialista

Com o fim da Segunda Guerra Mundial e a derrota definitiva dos regimes colaboracionistas, os partisans de Tito emergiram como força dominante nos Bálcãs. Reconhecidos internacionalmente como legítimos representantes da resistência, eles assumiram o poder e, em 1946, proclamaram a República Federativa Popular da Iugoslávia, posteriormente denominada República Socialista Federativa da Iugoslávia.

O novo regime se caracterizou por uma combinação singular de socialismo e federalismo. A federação foi organizada em seis repúblicas (Sérvia, Croácia, Eslovênia, Bósnia-Herzegovina, Montenegro e Macedônia) e duas províncias autônomas dentro da Sérvia (Kosovo e Voivodina). Esse arranjo buscava equilibrar as tensões étnicas e regionais, oferecendo autonomia relativa às diferentes nacionalidades, ao mesmo tempo em que mantinha a unidade sob liderança centralizada.

Nos primeiros anos, Tito manteve relações estreitas com a União Soviética, mas em 1948 rompeu com Stalin, afastando-se da esfera soviética. A Iugoslávia seguiu um caminho próprio, adotando o chamado socialismo autogestionário, que permitia maior participação dos trabalhadores na gestão das empresas e diferenciava o país dos modelos soviéticos. Esse distanciamento abriu espaço para uma aproximação com o Ocidente, que passou a ver a Iugoslávia como um contrapeso à influência soviética nos Bálcãs.

No plano internacional, o marechal Josip Broz Tito (Figura 4) projetou a Iugoslávia como liderança do nascente Movimento dos Países Não-Alinhados, ao lado de Nasser (Egito) e Nehru (Índia).


FIGURA 4: Retrato do Marechal Tito em uniforme militar (imagem criada por inteligência artificial).

O país desempenhou papel ativo na descolonização africana e asiática, oferecendo apoio político e diplomático a novos Estados independentes. Essa postura reforçou a imagem da Iugoslávia como ponte entre Leste e Oeste, capaz de dialogar com ambos os blocos sem se subordinar a nenhum deles.

A aproximação com o Ocidente também se refletiu em relações econômicas, especialmente com a Alemanha Ocidental, que se tornou um dos principais parceiros comerciais da Iugoslávia. Essa cooperação contribuiu para modernizar setores da economia, mas não configurou uma aliança estratégica: tratava-se de vínculos pragmáticos, condicionados pela lógica da Guerra Fria e pela necessidade iugoslava de diversificar suas fontes de apoio.

A Figura 5 mostra a configuração territorial da Iugoslávia socialista entre 1945 e 1991, com as repúblicas e províncias autônomas que compunham a federação.


FIGURA 5: A Iugoslávia socialista, 1945–1991 (BENSON, 2001, p. xxvi).

A análise desse período da Iugoslávia sob a liderança de Tito nos revela uma experiência única de socialismo independente, capaz de equilibrar tensões internas e projetar influência internacional. O reconhecimento internacional, a ruptura com a esfera soviética e a aproximação com o Ocidente permitiram ao país desempenhar papel ativo no Movimento dos Não-Alinhados e na descolonização. Nesse contexto, a Alemanha Ocidental destacou-se como parceira econômica relevante, mas não necessariamente estratégica nos Bálcãs, já que sua atuação esteve condicionada pela lógica da Guerra Fria e pela divisão entre blocos.

Fim da Era Tito e a Crise da Federação

A morte de Josip Broz Tito, em maio de 1980, marcou o início de um período de vazio de liderança na Iugoslávia. Durante décadas, Tito havia sido o fiador da unidade federativa, equilibrando as tensões entre sérvios, croatas, eslovenos, bósnios, montenegrinos e macedônios. Sua ausência abriu espaço para o ressurgimento de nacionalismos regionais, que rapidamente se transformaram em disputas políticas e étnicas.

Sem a figura central de Tito, a federação revelou sua fragilidade institucional. O sistema de presidência coletiva, criado para substituir o poder pessoal de Tito, mostrou-se incapaz de conter as rivalidades entre as repúblicas. Ao mesmo tempo, a crise econômica agravava a instabilidade: inflação crescente, endividamento externo e desemprego corroíam a legitimidade do modelo autogestionário e aumentavam o descontentamento social.

Nesse contexto, a diáspora croata e eslovena na Alemanha Ocidental desempenhou papel relevante. Desde os anos 1960, milhares de trabalhadores iugoslavos migraram para a Alemanha como parte dos programas de Gastarbeiter, estabelecendo vínculos econômicos e sociais duradouros (MOLNAR, 2014).

Além da dimensão laboral, comunidades organizadas criaram associações culturais e políticas, que serviram como redes de apoio às demandas nacionalistas. Parte dessa diáspora se engajou em movimentos separatistas, chegando a organizar atos de violência contra representações diplomáticas e instituições iugoslavas no exterior, especialmente na Alemanha Ocidental, durante a Guerra Fria (TOKIĆ, 2020).

Embora não se possa reduzir toda a diáspora a esses grupos radicais, sua presença contribuiu para manter viva a pauta da independência croata e eslovena no espaço político alemão e aproximar setores da sociedade e da política da Alemanha Ocidental das demandas croata e eslovena (WINLAND, 2005).

A Figura 6 mostra a distribuição dos povos na Iugoslávia em 1991, evidenciando a complexidade étnica da federação e os potenciais focos de conflito.


FIGURA 6: Distribuição dos povos na Iugoslávia, 1991 (BENSON, 2001, p. xxviii).

Dito isso, podemos concluir que o fim da era Tito abriu espaço para o ressurgimento das tensões étnicas e para a fragilidade institucional da federação. A crise econômica agravou o cenário, enquanto os vínculos da diáspora croata e eslovena na Alemanha Ocidental criaram canais de influência que podem ajudar a explicar a rapidez com que a Alemanha reconheceu as independências dessas repúblicas em 1991. Essa hipótese, de caráter exploratório, prepara o terreno para o projeto “Entendendo as Origens da dissolução da Iugoslávia”, no qual será aprofundada em artigos posteriores.

Considerações Finais

A trajetória da Iugoslávia, analisada ao longo deste artigo, evidencia um entrelaçamento complexo de fatores étnicos, imperialistas e geopolíticos que moldaram os Bálcãs no século XX. A pluralidade cultural sob o sistema otomano, a formação do Reino da Iugoslávia, a ocupação nazifascista, a resistência dos partisans e a consolidação da federação socialista sob Tito revelam uma constante tensão entre projetos de unidade e forças de fragmentação.

A hipótese exploratória que orientou esta análise, em especial a existência de um interesse alemão nos Bálcãs, encontra respaldo parcial em diferentes momentos históricos. A presença indireta da Alemanha via Áustria-Hungria, a ocupação nazista durante a Segunda Guerra Mundial e os vínculos econômicos com a Alemanha Ocidental no período socialista sugerem uma continuidade de influência, ainda que não necessariamente uma política estratégica de longo prazo. No contexto da crise federativa pós-Tito, os vínculos da diáspora croata e eslovena na Alemanha Ocidental reforçam a possibilidade de que o rápido reconhecimento alemão das independências em 1991 tenha resultado de uma convergência entre fatores históricos e decisões conjunturais.

Cabe destacar, contudo, que este artigo não pretende encerrar a questão. O caráter exploratório da hipótese abre caminho para investigações futuras, especialmente no âmbito de um projeto em desenvolvimento sobre as origens da dissolução da Iugoslávia, no qual a análise será aprofundada em etapas posteriores. Assim, o presente estudo deve ser entendido como uma preparação metodológica, que oferece bases interpretativas para compreender os desdobramentos que levaram à fragmentação da federação iugoslava.

Referências

AVIV, Efrat. Millet System in the Ottoman Empire. In: Oxford Bibliographies in Islamic Studies. Oxford University Press, 2016.

BENSON, Leslie. Yugoslavia: A Concise History. Basingstoke: Palgrave, 2001.

BOR, Yunus. Millet System in Ottoman Empire: An Extraordinary Policy with Extraordinary Implications. Akademik Tarih ve Düşünce Dergisi, v. 12, n. 4, p. 806–815, 2025.

BRITANNICA. The Tanzimat reforms (1839–76). Encyclopaedia Britannica, 2025. Disponível em: https://www.britannica.com/place/Ottoman-Empire/The-Tanzimat-reforms-1839-76.

CLEMENTS, Henry. The “Millet” Paradigm: On Difference in the Late Ottoman Empire. Comparative Studies in Society and History, Cambridge University Press, 2025.

COPILOT. Retrato de Josip Broz Tito. Imagem elaborada por inteligência artificial. 2025.

MOLNAR, Christopher A. Imagining Yugoslavs: Migration and the Cold War in Postwar West Germany. Central European History, v. 47, n. 1, p. 138–169, 2014.

PAMBAZUKA NEWS. NATO and the Fall of Yugoslavia. Pambazuka Press, 2000.

SOVEREIGN LIMITS. A Brief History of the Balkans (Yugoslavia). Sovereign Limits, 2020.

STEVES, Rick. Understanding Yugoslavia. Rick Steves’ Europe, 2019. Disponível em: https://www.ricksteves.com/.

TOKIĆ, Mate Nikola. Croatian Radical Separatism and Diaspora Terrorism During the Cold War. West Lafayette: Purdue University Press, 2020.

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3 comentários

  1. A pergunta que eu faço é a seguinte: O Marechal Tito não deveria fazer uma transição de poder antes de morrer ou não havia condições para isso?

    1. Bom dia Vitor! Excelente pergunta. No próximo artigo que vou escrever sobre esse tema, vou começar justamente por esse ponto. Tito sempre defendeu uma federação com entes muito autônomos. Para se ter uma ideia, a única instituição verdadeiramente nacional eram as Forças Armadas. Com a morte de Tito e surgimento de nacionalismos, a situação se degradou.

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