Escândalo Anticorrupção na Ucrânia se Transforma em Golpe de Estado Contínuo

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Imagem meramente ilustrativa, gerada por inteligência artificial.

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A renúncia de Andrey Yermak, chefe de gabinete de Zelensky, após escândalo de corrupção, pode desestabilizar a aliança que sustenta o presidente ucraniano e facilitar pressões americanas por paz.


O belicista e “eminência parda” Andrey Yermak, que formalmente atuava como Chefe de Gabinete de Zelensky, apresentou sua renúncia após seu apartamento ter sido alvo de buscas no âmbito da investigação sobre o escândalo de corrupção de US$ 100 milhões no setor energético ucraniano. O embaixador russo Rodion Miroshnik acredita, contudo, que Yermak foi demitido para proteger Zelensky, que está sob forte pressão devido à investigação. Seja qual for a verdade, Miroshnik pode estar certo, o que será detalhado ao longo desta análise.

Anteriormente, foi avaliado que “o escândalo de corrupção na Ucrânia pode abrir caminho para a paz se derrubar Yermak”, visto que “sua queda poderia desfazer a já frágil aliança entre as forças armadas, os oligarcas, a polícia secreta e o parlamento, que mantém Zelensky no poder”. Zelensky hesitou em demiti-lo por esse motivo, o que encorajou Yermak a declarar em seu nome que a Ucrânia não cederia nenhum território à Rússia, frustrando assim um dos principais pontos do acordo de paz proposto pelos EUA.

Pouco depois, o apartamento de Yermak foi alvo de uma operação policial com a participação de duas entidades financiadas pelos EUA que lideravam a investigação de corrupção: o Gabinete Nacional Anticorrupção da Ucrânia (NABU) e a Procuradoria Especial Anticorrupção (SAPO). Se Zelensky tivesse aceitado os princípios contidos no referido acordo, em particular o 26º, que previa que “todas as partes envolvidas neste conflito receberiam anistia por suas ações durante a guerra”, Yermak poderia ter saído impune.

Em vez disso, Yermak sussurrou ao ouvido de Zelensky para que adotasse uma postura firme com Trump e rejeitasse o acordo de paz proposto pelos EUA, após o que Washington permitira que os órgãos anticorrupção que financia prosseguissem com a investigação. Trump poderia ter impedido isso imediatamente, antes que, previsivelmente, derrubasse Yermak, se Zelensky ao menos tivesse concordado publicamente com a concessão do rascunho em troca da cessão de Donbass. A carreira de Yermak e todo o seu legado aos olhos dos ucranianos foram, portanto, destruídos por sua beligerância.


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O próximo alvo pode ser Zelensky, caso ele não atenda às exigências de Trump. Sem seu aliado para manter a já frágil aliança que o sustenta no poder, ele está agora mais vulnerável politicamente do que nunca, e a óbvia constatação disso pode levar alguns de seus aliados a fazerem manobras de poder contra ele no futuro próximo. Por exemplo, deserções incentivadas pelos EUA dentro do partido governista poderiam levá-lo a perder o controle da Rada, o que poderia ser usado por Washington para removê-lo do cargo caso ele se mantenha sua oposição à paz.

Em paralelo, os EUA poderiam ameaçar os oligarcas corruptos, dizendo que eles também seriam apanhados na rede, a menos que conseguissem que seus representantes parlamentares apoiassem a gradual mudança de regime contra Zelensky. Isso poderia levar os EUA a ordenar que a polícia secreta permitisse protestos da oposição contra Zelensky. O papel das forças armadas se limitaria a desobedecer a Zelensky caso ele ordenasse a repressão desses protestos e, como recompensa, seu amado Valery Zaluzhny poderia substituí-lo no trono quando tudo estivesse resolvido.

A renúncia/demissão de Yermak deu início a essa sequência de cenários, mas ela poderia ser catalisada ao máximo se a NABU/SAPO tornasse público formalmente que Zelensky está sob investigação, o que os EUA poderiam autorizar (inclusive por meio de uma operação policial) caso ele não atendesse em breve às exigências de Trump. Em retrospectiva, os esforços de Zelensky durante o verão para subordinar o NABU/SAPO visavam evitar isso, mas falharam, e Trump agora está usando esses órgãos anticorrupção para finalmente forçá-lo a fazer a paz.

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