A Batalha de Verdun: Ponto de Inflexão na Primeira Guerra Mundial

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Imagem meramente ilustrativa, gerada por inteligência artificial.

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A Batalha de Verdun (1916), entre França e Alemanha, foi um conflito brutal da Primeira Guerra Mundial, resultando em enormes baixas e um impasse sangrento com consequências duradouras para ambos.


Introdução

Há séculos Verdun tem importância estratégica para a França. A cidade está situada às margens do Rio Meuse, a cerca de 220 quilômetros a leste de Paris, o que a tornou um bastião defensivo contra ofensivas vindas do leste. Desde 843, Verdun fez parte do Sacro Império, sendo por séculos uma cidade eclesiástica (um bispado). Em consequência do Tratado de Vestfália (1648), que encerrou a Guerra dos Trinta Anos, a França, vitoriosa, obteve a posse da cidade pelo Tratado de Münster (1655). A partir de então, os franceses reconheceram sua importância estratégica.

No reinado de Luís XIV, o engenheiro militar Vauban iniciou a construção de anéis de fortalezas defensivas ao redor da cidade. Esses trabalhos durariam todo o século XVIII e permaneceram inconclusos na época da Revolução Francesa. Em 1792, Verdun seria tomada pelos prussianos em seu avanço a Paris, mas eles foram derrotados em Valmy. Em 1870, na Guerra Franco-Prussiana, Verdun foi a última fortaleza a se render. Entre 1880 e 1913, foram construídas 20 fortalezas interligadas em duas linhas defensivas. Antes de 1914, Verdun possuía três linhas defensivas: a primeira linha correspondia à defesa externa. A segunda linha estava posicionada nas alturas do Rio Meuse, ocupando elevações de 300 metros, sendo, portanto, as posições mais estratégicas do perímetro defensivo, já que quem as controlasse teria o domínio de Verdun. Finalmente, havia a terceira e última linha defensiva, com um anel de fortificações que rodeava a cidade. Todas as três estavam equipadas com linhas telefônicas e telegráficas que interligavam as fortalezas, e uma ferrovia conectava as linhas defensivas entre si.

Havia também postos de observação avançados blindados, refúgios subterrâneos blindados para as tropas e bunkers de comando. As fortalezas principais, como Douaumont e Vaux, possuíam torres giratórias e retráteis com canhões de 155 mm e canhões duplos de 75 mm. No início do conflito, em agosto de 1914, o avanço alemão ocorreu através da Bélgica, seguindo o Plano Schlieffen [*], entrando em território francês pelas Ardenas. Isso fez com que, naquele momento, Verdun se tornasse uma frente secundária. A ofensiva alemã na Bélgica, que era neutra até ser invadida, foi rápida, e as fortalezas de Liège e Namur foram destruídas por artilharia de ultragrande calibre (350 e 400 mm). Isso levou o marechal Joseph Joffre a considerar as fortalezas de Verdun obsoletas, e ele ordenou a retirada de mais da metade das peças de artilharia para outros setores da frente, bem como munições e metade das tropas. Como resultado, restaram apenas 30.000 soldados e 400 peças de artilharia, com vários fortes operando com guarnição mínima e munições para poucos dias.

[*] O Plano Schlieffen foi um plano de guerra alemão para a Primeira Guerra Mundial, criado pelo chefe do Estado-Maior, Alfred von Schlieffen. Seu objetivo era uma vitória rápida e decisiva contra a França, contornando suas defesas pela Bélgica neutra, antes de retornar as tropas para enfrentar a Rússia, cuja mobilização se supunha ser lenta.

O Plano Schlieffen fracassou na Primeira Batalha do Marne e na Primeira Batalha de Ypres, encerrando a guerra de movimentos do plano original, que visava eliminar rapidamente o Exército francês. A partir de dezembro de 1914, a Alemanha construiu uma linha de trincheiras ao longo da frente ocidental para consolidar seus ganhos territoriais daquele ano.

Em 1915, a Alemanha esteve na defensiva na frente ocidental, resistindo às ofensivas aliadas de Champagne e Artois. Estabeleceu-se a guerra de atrito, na qual os Aliados da Entente tinham relativa vantagem por dispor de maiores reservas de tropas provenientes de seus respectivos impérios coloniais. A Alemanha estava combatendo em duas frentes ao mesmo tempo: na ocidental contra franceses e ingleses, e na oriental contra os russos. A guerra de atrito não podia ser sustentada pelas Potências Centrais por muito tempo. A escassez de reservas, suprimentos vitais e matérias-primas, agravada pelo bloqueio naval da Royal Navy no Mar do Norte e no Canal da Mancha, forçava o Alto Comando Alemão a empreender uma ofensiva em uma das duas frentes.


Mapa da Batalha de Verdun, 1916 (Gdr/Wikimedia Commons/CC BY-SA 3.0).

Na frente oriental, embora as tropas alemãs e austro-húngaras estivessem avançando e os russos em retirada, essas retiradas impediam a destruição total do Exército russo, que, apesar de derrotado, seguia combatendo e continuava na guerra. Isso obrigava as Potências Centrais a manter um total de dois milhões e meio de soldados nessa frente, entre alemães, austro-húngaros e otomanos. Dada a superioridade numérica das forças russas, a falta de reservas e suprimentos dos austro-húngaros, e a situação caótica dos otomanos nas frentes do Cáucaso, Palestina e Mesopotâmia, além dos desentendimentos permanentes entre os Aliados das Potências Centrais (onde cada um agia por conta própria), tornava quase impossível conceber uma ofensiva nessa frente oriental.

Estratégia Alemã e Preparativos Para a Ofensiva

No final de 1915, a frente em Verdun era uma saliência que preocupava o Alto Comando Alemão. Por isso, o general Erich Von Falkenhayn, chefe do Estado-Maior Alemão, decidiu fazer uma ofensiva limitada na frente ocidental, na saliência de Verdun, com grande concentração de artilharia pesada em uma frente de 30 quilômetros de extensão e cinco quilômetros de profundidade. O objetivo era dizimar as tropas francesas e forçá-las a enviar reforços a posições de fogo previamente preparadas, para, assim, provocar grandes baixas que levassem a um colapso do Exército francês. O objetivo final era forçar o governo francês a negociar a paz separadamente, retirando a França da guerra e, consequentemente, permitindo o envio dessas tropas para a frente oriental para lançar uma ofensiva final e decisiva contra a Rússia.

Para essa ofensiva – denominada “Operação Julgamento” –, Falkenhayn tinha à sua disposição o 5º Exército Alemão. Ele destinou 60.000 soldados para o assalto inicial, incluindo 1.300 peças de artilharia, a maioria delas de grande calibre (canhões de 350 mm) e ultragrande calibre (morteiros pesados de 400 mm). O problema principal era que Falkenhayn não contava com tropas de reserva, o que exigia um assalto rápido e bem-sucedido para colapsar as defesas francesas. O primeiro objetivo era a primeira linha defensiva francesa, que deveria ser tomada no assalto inicial. A fase seguinte era tomar a segunda linha defensiva de fortificações, situadas nas colinas ao norte de Verdun (as alturas do Meuse). Uma vez atingido esse objetivo, as tropas deveriam deter seu avanço, consolidar posições e entrincheirar-se, reposicionando as peças de artilharia nas alturas para aguardar os contra-ataques franceses, que seriam aniquilados de posições favoráveis. Dessa maneira, a terceira linha defensiva, que rodeava Verdun, estaria em uma posição inferior às colinas do Norte, ficando à mercê da artilharia alemã, o que tornaria sua defesa insustentável. Outro problema do plano era sua falta de objetivo estratégico preciso, pois não detalhava como seria alcançado na prática.

Estratégia Francesa e Preparativos Para a Defesa

A frente de Verdun foi secundária desde o início da guerra até 1916, sendo bastante negligenciada pelo general Joffre, que, no comando do 2º Exército Francês na área de Verdun, tinha outras prioridades: lançar uma ofensiva juntamente com o Exército britânico na frente do Rio Somme, que estava aproximadamente a uns 180 quilômetros ao norte de Verdun. A inteligência francesa havia detectado informações de que os alemães estavam preparando uma ofensiva na saliência de Verdun para o início de 1916. Joffre desdenhou essa informação, acreditando que o ataque seria uma “diversão”, ou seja, secundário. Em termos de logística, as ferrovias que ligavam Paris a Verdun estavam cortadas pelos alemães. A única estrada que mantinha os suprimentos para Verdun era a chamada “Voie Sacrée” (Estrada Sagrada), que conectava Bar-le-Duc com Verdun. Essa estrada, juntamente com uma ferrovia de bitola estreita paralela, manteve-se em funcionamento durante os mais de nove meses de batalha, apesar dos bombardeios alemães. Foi um dos motivos para a resistência de Verdun.

Batalhas

A ofensiva alemã estava planejada para começar em 14 de fevereiro de 1916, mas, devido às condições climáticas desfavoráveis de chuva e neve, foi adiada por mais de uma semana. Essa demora proporcionou aos franceses o tempo necessário para enviar duas divisões de reserva a Verdun e, o mais importante, resultou na perda do fator surpresa, que era fundamental no plano de Falkenhayn. A ofensiva começou em 21 de fevereiro com um intenso bombardeio de artilharia pesada, o que fez a primeira linha francesa ser facilmente superada pelo avanço alemão.

Nem todos os objetivos iniciais foram alcançados, mas a maioria sim. Os ataques iniciais alemães foram precedidos por um esmagador fogo de artilharia, seguido pelo uso das Stosstruppen (tropas de assalto) – unidades menores especializadas em manobras de infiltração e flanqueamento em posições inimigas com pontos defensivos vulneráveis. Essa era uma inovação para a época, e essas tropas utilizavam profusas quantidades de granadas de mão, além de lança-chamas, em seus ataques. Uma vez consolidado o avanço inicial, o restante das tropas regulares aproveitava a brecha para ampliar a progressão. Dessa maneira, avançaram oito quilômetros até 28 de fevereiro.

Na segunda fase, encontraram uma resistência obstinada e com mais tropas do que esperavam, o que demonstra grandes falhas de reconhecimento e inteligência militar por parte dos alemães, que não previram a chegada de reforços inimigos. No dia 27, o Forte Douaumont, defendido por uma guarnição mínima, caiu. A partir de então, em 28 de fevereiro, o general Philippe Pétain assumiu o comando do Exército francês, proibindo qualquer retirada na frente de batalha e enviando todas as tropas e reservas disponíveis para Verdun pela única estrada restante: a “Voie Sacrée” (Estrada Sagrada), por onde passavam todos os reforços e suprimentos.

Ele estabeleceu um sistema de rotação, através do qual 70% do Exército francês passou pelo menos uma vez por Verdun. Em contrapartida, no lado alemão, a rotação atingiu apenas 25% do total. Este seria um fator importante a favor dos franceses, o que aumentaria o desgaste das tropas alemãs ao longo da batalha. Essa linha logística dos franceses funcionaria durante toda a batalha, apesar do bombardeio alemão. Já do lado alemão, a logística funcionaria de forma cada vez pior.

A situação da frente de batalha chegou a um impasse, e os avanços alemães eram muito limitados, o que gerou um grande nervosismo dentro das lideranças políticas e militares na Alemanha. Apesar dos resultados, insistiram em avançar a qualquer custo, fazendo crer que o Exército francês estava próximo do colapso, o que não correspondia à realidade. Os meses se passaram e, em junho, a situação era a mesma. Outro fracasso dos alemães foi que a artilharia francesa ocupava os dois lados do Rio Meuse, e o plano de Falkenhayn incluía a ofensiva apenas pelo lado leste, e não pelo oeste do Meuse, onde estavam concentradas as baterias de artilharia pesada francesas, que, por sua vez, bombardeavam as tropas alemãs, causando tremendas baixas. A artilharia pesada alemã nunca conseguiu realizar um fogo indireto de contrabateria eficaz capaz de anular a artilharia francesa do lado oeste do Meuse. Isso se mostraria fatal.


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Os piores combates ocorreram nas Colinas 304 e Le Mort Homme (o Homem Morto), que finalmente caíram em poder dos alemães em junho. O máximo avanço alemão em julho chegou a quatro quilômetros de distância de Verdun, mas as perdas eram enormes e dois fatos levaram à interrupção da ofensiva alemã: um deles foi a ofensiva britânica na frente do Rio Somme, em 1º de julho, para aliviar a pressão alemã sobre Verdun; e o outro, e não menos importante, foi o início da Ofensiva Brusilov em 4 de junho na frente oriental, principalmente contra as defesas austro-húngaras na Galícia (atual oeste da Ucrânia). Estas entraram em colapso, forçando os alemães a enviar oito divisões (aproximadamente 90.000 soldados) para a frente oriental para ajudar seus aliados. Dessa maneira, indiretamente, os russos conseguiram ajudar os franceses a frear a ofensiva alemã, sendo este último fato menosprezado no Ocidente por razões óbvias, o que mereceria um artigo à parte.

Diante dessa situação, em 26 de setembro, Falkenhayn foi substituído pelo marechal Paul Von Hindenburg, que em agosto já havia ordenado o fim da ofensiva na frente de batalha. Em setembro, os alemães passaram à defensiva, e os franceses contra-atacaram com ofensivas limitadas, mas bem-sucedidas, recuperando as posições perdidas na segunda linha. Em outubro, recuperaram Douaumont. Do lado francês, o general Robert Nivelle assumiu o comando e lançou as ofensivas de 19 de novembro e 9 de dezembro, onde recuperaram a maioria das posições perdidas da primeira linha. Desta vez, os avanços da infantaria foram precedidos por uma barreira de fogo de artilharia que protegeu o ataque da infantaria, permitindo assim uma menor quantidade de baixas até a chegada às linhas inimigas.

Resultado

Verdun foi a batalha mais prolongada da Primeira Guerra Mundial, durou de 21 de fevereiro a 9 de dezembro de 1916. Os alemães empregaram um total de 40 divisões e sofreram aproximadamente 335.000 baixas, enquanto os franceses utilizaram 70 divisões e tiveram cerca de 377.000 baixas. O principal objetivo alemão de conseguir a rendição da França não foi alcançado, e as Potências Centrais tiveram que continuar combatendo nas frentes ocidental e oriental com menos recursos e reservas. Foi um ponto de inflexão para a Alemanha e o início do fim do Império Alemão.

Consequências

Para a Alemanha, foi muito mais que um desastre militar (Falkenhayn foi removido do comando), mas também político interno no Império Alemão. A partir de 1917, o Kaiser perdeu credibilidade e poder político, tendo que fazer concessões ao Alto Comando Alemão, especialmente aos marechais Hindenburg e Ludendorff, que, de fato, assumiram o poder político e estabeleceram um plano de economia de guerra total, instaurando uma quase ditadura de facto. Isso levou grande parte do povo alemão a enfrentar severas privações: ampliação das horas de trabalho pelo esforço de guerra, redução de salários ao mínimo e racionamento maciço, o que gerou grande descontentamento ao longo de 1917, criando as bases para a queda do Império Alemão em novembro de 1918.

Para o lado francês, embora Verdun tenha sido uma vitória, foi amarga pela enorme quantidade de baixas e perdas materiais. O resultado imediato foi que reforçou o orgulho nacional francês, sendo Pétain considerado o “salvador de Verdun”, o que lhe conferiu grande prestígio político no final da guerra e nas décadas posteriores. Esse seria o início do caminho para o futuro armistício de junho de 1940, no qual Pétain seria uma parte fundamental.

Outra consequência foi que o sistema defensivo de Verdun seria considerado um “sucesso”, razão pela qual, em 1929, iniciou-se a construção da tristemente célebre “Linha Maginot”, com resultados desastrosos para a França na Segunda Guerra Mundial, amplamente conhecidos e divulgados. Ou seja, a longo prazo, as consequências de Verdun para a França foram catastróficas. A França nunca mais foi a mesma e, no fundo, nunca se recuperou totalmente, apesar de ter vencido a Primeira Guerra Mundial. Vale lembrar que, em junho de 1916, batalhões se amotinaram e se recusaram a ir para a frente de batalha. Em 1917, isso se agravaria, pois divisões inteiras já se recusavam a sair das trincheiras por razões óbvias. E foi precisamente nesse ano, no mês de abril, que os Estados Unidos declararam guerra às Potências Centrais e entraram ao lado da Entente.

Conclusões

Erros Alemães

O comando alemão cometeu erros gravíssimos, entre eles:

Falta de Objetivos Claros no Plano Inicial: Falkenhayn havia planejado ofensivas limitadas na frente de Verdun, visando tomar as alturas do Meuse (o que nunca foi totalmente alcançado) e forçar os franceses a realizar contra-ataques sucessivos, provocando grandes baixas e fazendo o Exército francês “sangrar até a morte”, sem nunca explicar como esse objetivo seria alcançado na prática, além de exercer uma “pressão avassaladora” sobre as forças francesas. Ou seja, as ordens eram muito ambíguas e imprecisas.

Falhas na Inteligência Militar: Os alemães nunca compreenderam a logística inimiga, nem a capacidade francesa de enviar reforços, tampouco o sistema de rotação “Noria” e seu funcionamento na prática. Ao todo, 75% do Exército francês passou pelo menos uma vez pela frente de Verdun, enquanto no lado alemão, apenas 25% das forças foram revezadas. A Entente possuía reservas operacionais, e as Potências Centrais não. Isso significava que o desgaste era maior para o lado alemão do que para o francês. Esses erros de inteligência militar resultaram na superestimação de suas próprias forças pelo Alto Comando Alemão e, por sua vez, na subestimação das forças inimigas, principalmente quanto à sua capacidade de resistência e reorganização, o que se mostraria fatal na prática, com os resultados conhecidos.

Erros no Reconhecimento das Forças Inimigas: Apesar de possuírem mais aviões de reconhecimento que os franceses, os alemães nunca souberam a quantidade exata de tropas francesas no sistema defensivo de Verdun, nem suas reservas, baseando-se sempre em estimativas irreais, o que os levou a tomar decisões desastradas, como insistir em ofensivas suicidas.


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Erros de Avaliação da Frente: Ao se basear em relatórios de inteligência e estimativas irreais, o Alto Comando Alemão nunca teve a exata noção da situação das forças na frente. Partiam da hipótese de que as forças francesas estavam à beira da exaustão e do colapso, e que a vitória final seria alcançada com mais uma ofensiva, o que motivou o Exército alemão a perder suas últimas reservas em vão.

Erros na Tomada de Decisões: Na primeira semana da ofensiva alemã, já haviam sofrido cerca de 25.000 baixas, assim como o lado francês. Nesse momento, Falkenhayn poderia ter reavaliado a ofensiva, percebendo que ela não tinha sustentabilidade e que o Exército alemão não conseguiria repor essas perdas de maneira contínua. Apesar disso, ele insistiu na ofensiva, com as consequências conhecidas.

Desentendimento Entre Falkenhayn e o Kronprinz Guilherme (príncipe herdeiro alemão): O Kronprinz Guilherme, filho mais velho do Kaiser Guilherme II e herdeiro do trono imperial alemão, tinha o comando nominal do 5º Exército Alemão na frente de Verdun, enquanto Falkenhayn era o Chefe do Estado-Maior. Isso gerou um conflito de competências entre eles, e esses desentendimentos levaram o Exército alemão a cair na própria armadilha que havia preparado para os franceses: enviar todas as suas tropas de reserva para a frente e lançá-las em ofensivas inúteis. Um dos piores erros de Falkenhayn foi não atacar também as posições da artilharia pesada francesa do lado oeste do Meuse, o que deixava a infantaria alemã exposta ao fogo inimigo assim que saísse das trincheiras. O Kronprinz, que comandava tropas de elite, pensava diferente de Falkenhayn e defendia a ideia de que o lado oeste deveria ser atacado. Quando isso finalmente ocorreu, em junho, já era tarde, pois os franceses haviam reforçado suas defesas. Além disso, o Kronprinz carecia totalmente da mínima experiência militar, sendo uma figura meramente decorativa, mas que, apesar disso, por razões óbvias, acabou contribuindo, juntamente com Falkenhayn, para o desastre final da Alemanha.

Não Consultar os Aliados Austro-Húngaros Antes da Ofensiva: Como mencionado anteriormente, nas Potências Centrais, em vez de planos conjuntos, cada nação agia por conta própria. Falkenhayn lançou sua ofensiva no oeste sem levar em conta a situação caótica austro-húngara na frente oriental, onde estavam sem reservas para conter uma eventual ofensiva russa, que finalmente ocorreu e forçou Falkenhayn a interromper sua ofensiva para enviar oito divisões alemãs para o leste.

Erros Franceses

O comando francês cometeu erros graves também:

Desconsiderar os Relatórios de Inteligência: Relatórios apontavam uma ofensiva alemã para fevereiro de 1916, pois tamanho acúmulo de artilharia pesada, logística e munições não poderia passar despercebida por muito tempo. Apesar disso, a informação foi descartada pelo general Joffre, que acreditava ser uma manobra de distração, quando na verdade seria o ataque principal.

Expor as Tropas de Infantaria ao Fogo da Artilharia Pesada Alemã: Uma vez que o inimigo tomava uma trincheira ou parte dela, os generais franceses ordenavam um contra-ataque imediato, sem levar em conta a situação (ou seja, o terreno, as posições das forças inimigas), sem o fator surpresa e sem manobras, limitando-se a comandar assaltos diretos e frontais apenas com cargas de baionetas, desperdiçando inutilmente suas próprias tropas. Este terrível erro também era cometido pelos generais alemães.

Falta de Flexibilidade Operacional: A defesa em profundidade de Verdun, através de três linhas de fortificações, era estática, e as tropas se limitavam a defender uma posição a qualquer custo, sem se importar com as imensas perdas, tal como os alemães.

Desentendimento Entre os Comandos Militares das Fortalezas de Verdun e do Exército Francês: Por muito tempo, os comandantes das fortalezas de Verdun não permitiam a entrada de inspetores militares sem uma autorização expressa do Alto Comando em Paris. Embora fosse uma questão de segurança, a excessiva burocracia dificultou a avaliação do real estado das fortalezas e a tomada de decisões. Haviam proibido a entrada de tropas do 2º Exército Francês, responsável pela defesa de Verdun, tal era a falta de coordenação entre as forças francesas nos momentos prévios e nos primeiros meses da batalha. A partir de julho, essa situação foi revista pelo Alto Comando, e as tropas do 2º Exército puderam entrar nas fortalezas, facilitando as manobras tanto defensivas quanto de contra-ataque.

Erros em Comum em Ambos os Lados

São fundamentalmente dois, e muito importantes:

Falta de Comandos Competentes: Em nenhum dos lados da batalha existiam comandos militares que compreendessem as mudanças nas frentes de combate decorrentes dos avanços tecnológicos em metralhadoras, artilharia e gases tóxicos, ignorando as novas situações e insistindo em táticas e estratégias ultrapassadas que não conseguiram romper a guerra de trincheiras. Tanto Joffre, Pétain, Nivelle e Falkenhayn, quanto o Kronprinz, não conseguiram entender o que estava acontecendo na frente de batalha.

Falta de Armas Combinadas: Em ambos os lados, houve uma falta de coordenação entre a infantaria, artilharia e a aviação de reconhecimento, o que ocasionou imprecisões de todo tipo: inteligência, reconhecimento, planejamento de operações e, pior ainda, na sua execução e avaliação de situações. Somente em agosto de 1918, os Aliados lançariam a ofensiva de Amiens, onde tropas francesas, britânicas e americanas combinariam avanços de infantaria, tanques, aviação e apoio de artilharia, provocando um colapso nas defesas alemãs.

Referências

Livros

CAWTHORNE, Nigel. Os 100 Maiores Líderes Militares da História.

LIDDELL HART, B. H. Strategy: The Classic Book on Military Strategy.

Documentários

Canal The Great War (YouTube). A série “The Great War” abrange a Primeira Guerra Mundial, de suas causas e origens até suas violentas consequências.

Canal Victor Aguilar Chang (YouTube). Batalla: Verdún 1916. Péssimos Comandantes.

Canal The Great War (YouTube). The Death Of The Austro-Hungarian Army 1916 (Brusilov Offensive Documentary).

Artigos

Wikipedia. Battle of Verdun. https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Verdun.

Wikipedia. Brusilov Offensive. https://en.wikipedia.org/wiki/Brusilov_offensive.

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1 comentário

  1. Excelente artigo, Daniel é fantástico. Parabéns… “Felicitaciones por ese excelente texto”.

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