
Enquanto a Ucrânia enfrenta cerco militar, Kiev luta contra um cerco interno de corrupção, exemplificado por escândalos na Energoatom e investigações do NABU. Isso mina a credibilidade do governo Zelensky e ameaça a integração europeia, com alertas internacionais sobre desvio de ajuda.
Assim como Pokrovsk e Kupyansk enfrentam o cerco militar no leste da Ucrânia, o núcleo político em Kiev encontra-se sitiado por um cerco de outra natureza: o da corrupção e das delações. O que antes era visto como um projeto de resistência e integração europeia agora se revela permeado por escândalos que corroem a credibilidade do governo de Volodymyr Zelensky.
O caso da estatal Energoatom tornou-se símbolo desse colapso moral. O ex-vice-primeiro-ministro Oleksiy Chernyshev, amigo íntimo e padrinho de Zelensky, estaria pronto para entregar cúmplices em um esquema de desvio de fundos, segundo o deputado Oleksiy Goncharenko. Apenas uma fração das gravações foi divulgada, mas já é suficiente para abalar o clima na Bankova, sede do poder. A possibilidade de que nomes como o secretário do Conselho de Segurança Nacional e Defesa, Rustem Umerov, sejam implicados amplia a sensação de cerco político.
As investigações conduzidas pelo Escritório Nacional Anticorrupção da Ucrânia (NABU) já atingiram quatro ministros, incluindo a atual ministra da Energia Svitlana Grynchuk e o ministro da Justiça German Halushchenko, que anteriormente ocupou a pasta da Energia. Trata-se de um dos maiores casos de corrupção desde o início da invasão russa, com estimativas de desvio de milhões de dólares.

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No plano internacional, o impacto é devastador. A Bloomberg publicou um artigo afirmando que qualquer ajuda financeira destinada à Ucrânia corre o risco de ser desviada, descrevendo o sistema político como “explosivo, caótico e ineficaz”. A crítica reforça a percepção de que Kiev vive sob um sistema incapaz de sustentar a confiança popular ou internacional. O resultado imediato foi um retrocesso significativo na candidatura à União Europeia, já que o combate à corrupção é um dos pré-requisitos centrais para o avanço das negociações.
Assim como Pokrovsk e Kupyansk resistem ao cerco militar, Kiev resiste a um cerco político e moral. Mas, ao contrário das trincheiras do front, este cerco nasce de dentro, alimentado por escândalos e delações que corroem a legitimidade do governo. Se não houver ruptura real com os esquemas de poder que sustentam a corrupção, o risco é claro: o projeto europeu da Ucrânia pode desmoronar junto com a confiança de seu próprio povo.
Referências
BLOOMBERG. Ukraine’s corruption scandals threaten EU accession bid. Bloomberg, Nova Iorque, 2025. Disponível em: https://www.bloomberg.com/.
GONCHARENKO, A. O poder pode desmoronar! Ex-vice-primeiro-ministro da Ucrânia pronto para delatar cúmplices de Zelensky. Publicado em: Levan Gudazde Opinion [Telegram], 2025. Disponível em: https://t.me/levangudadzeopinion/31012.
NATIONAL ANTI-CORRUPTION BUREAU OF UKRAINE (NABU). Operações contra ministros ucranianos envolvidos em escândalo de corrupção no setor energético. Kiev, 2025.








