Quais São os Interesses da Guerra sem Fim?

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Imagem meramente ilustrativa, gerada por inteligência artificial.

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A Europa, impulsionada por alegadas provocações russas, eleva o alarme e as tensões com Moscou, justificando um plano de rearmamento bilionário que beneficia a indústria bélica, apesar das dúvidas sobre a gravidade dos incidentes.


O alarmismo e a intransigência da Europa prometem prolongar (e talvez exacerbar) o conflito com Moscou e correm o risco de contribuir para reacender o conflito com Teerã”, disse o analista italiano Roberto Iannuzzi há alguns dias.

Há mais de três semanas, a imprensa europeia e americana tem sido inundada com artigos denunciando “provocações russas imprudentes” contra a Polônia e a Estônia, cujo espaço aéreo teria sido intencionalmente violado por drones e aeronaves de Moscou.

A esses relatos, somam-se supostos episódios de “guerra híbrida” que afetaram outros países europeus, também pelas mãos da Rússia. Como apontamos na semana passada em nosso artigo A Terceira Guerra Mundial está chegando?, as tensões entre a OTAN e a Rússia estão aumentando.

Analistas como Ben Hodges, ex-comandante do Exército dos EUA na Europa e conselheiro da OTAN, afirmam que esses drones e voos russos são ações deliberadas para testar as defesas da OTAN. Neste caso, o presidente russo, Vladimir Putin, “ficaria muito satisfeito com o resultado”, concluiu o Financial Times, aludindo a uma suposta fragilidade da OTAN.

Referindo-se ao incidente em seu país, o primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, chamou-o de “o mais próximo de um conflito aberto [com Moscou] que tivemos desde a Segunda Guerra Mundial”.

Por sua vez, a Alta Representante da União Europeia para a Política Externa e ex-primeira-ministra da Estônia, Kaja Kallas, chamou-o de “provocação extremamente perigosa” que “aumenta ainda mais as tensões na região” em relação à suposta violação russa do espaço aéreo estoniano.

A cereja do bolo veio do presidente americano, Donald Trump, quando, especificamente “pressionado” por jornalistas à margem da Assembleia Geral da ONU, respondeu que sim, a OTAN deve abater qualquer aeronave russa que viole o espaço aéreo da OTAN.

Pouco depois, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, redobrou seus esforços, declarando que “devemos defender cada centímetro quadrado do território da OTAN” e que “a opção de abater um caça [russo] que viola nosso espaço aéreo está em pauta”.

Plano de Rearmamento

No entanto, após uma análise mais aprofundada, os incidentes em questão não parecem de forma alguma dignos de tal retórica alarmista. Mas os defensores da guerra devem rufar os tambores e fazer barulho para manter viva a possibilidade de guerra na Europa.

Agora, ao criar esse cenário, alimentado por todos os meios de comunicação (modernos e não tão modernos), nasce um plano de rearmamento em larga escala e financeiramente custoso. Com esses argumentos, vemos os preparativos da UE para a guerra com a Rússia.


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Os Argumentos

Vejamos algumas das justificativas apresentadas para o “rearmamento”.

Quatro projetos estratégicos redefinem a segurança do continente até 2030, de acordo com o roteiro apresentado pela Comissão Europeia aos Estados-Membros. O Roteiro 2030 busca fortalecer a segurança (para fins de dissuasão, por assim dizer) por meio da construção do chamado “muro antidrone” e do reforço da vigilância no flanco leste, devido à intensificação da agressão russa na Ucrânia e ao crescente número de violações do espaço aéreo dos países da UE.

Bruxelas instou a Europa a se equipar rapidamente com capacidades industriais e militares capazes de responder aos desafios de uma guerra iminente, combinando inovação tecnológica, produção rápida e proteção de infraestrutura crítica. Além do muro antidrone e do sistema de vigilância, um escudo antiaéreo e um escudo espacial estão planejados para impedir a iminente invasão russa, nas palavras do secretário-geral da OTAN, Mark Rutte, e todos os seus seguidores. Si vis bellum para bellum, parecem estar dizendo os proponentes da guerra sem fim.

Parece que o destino industrial do velho continente está selado: si vis bellum para bellum, poderíamos parafrasear. Enquanto a tração atlântica sofre uma desaceleração frenética, a Europa, despojada de sua identidade e entregue aos donos do mundo, não tem escolha a não ser reconverter setores manufatureiros inteiros – deteriorados por políticas imprudentes e irresponsáveis, principalmente as fantasias ideológicas impostas pela agenda ‘verde’ — para garantir a continuidade da produção de armas.” É o que nos diz o jornalista M. Blondet. A guerra na Ucrânia, vítima sacrificial de um plano para combater um mundo multipolar, um plano contra a Rússia, a China e a Europa — pode parecer contraditório, mas não é — não deve e não pode acabar, apesar das repetidas garantias do sempre mutável ocupante da Casa Branca.

Enquanto isso, enquanto a narrativa unilateral do Ocidente abastado constantemente emite sinais de alerta sobre uma guerra que já começou, fontes jornalísticas independentes e confiáveis ​​relatam que o “incidente” com drones na Dinamarca não foi coincidência. Imediatamente depois, aeronaves de reconhecimento da OTAN foram avistadas sobrevoando o Mar Báltico e perto da região de Kaliningrado. Uma aeronave de patrulha P-8A Poseidon, uma aeronave de reconhecimento CL-600 Artemis II, dois aviões-tanque KC-135RS Stratotanker (EUA) e uma aeronave de guerra eletrônica Gulfstream E-550A (Itália) sobrevoaram a fronteira russa.

Assim, sob o pretexto de supostas provocações com drones no espaço aéreo polonês, bem como na Dinamarca e na Noruega, a OTAN começou a concentrar tropas nas fronteiras russas na chamada missão “Sentinela Oriental”. A mídia noticiou a transferência de um contingente adicional para a Romênia e o envio de aeronaves de combate para a Polônia. A missão “Sentinela Oriental” é uma operação da OTAN para reforçar a defesa aérea do flanco leste da Aliança em resposta às violações do espaço aéreo polonês por drones russos, aumentando a vigilância e o compartilhamento de informações para proteger todos os membros. Por exemplo, a Espanha ofereceu inicialmente três caças Eurofighter, um radar e uma aeronave A400 para a missão, embora a OTAN ainda não tenha determinado a contribuição final de cada membro.

Interesses da Guerra sem Fim

Como analistas, não podemos deixar de conectar esta guerra, seus fatos e circunstâncias, aos interesses que operam nos bastidores. Não podemos deixar de observar os colossais conflitos de interesse entre as indústrias bélicas e os políticos que financiam o extermínio diário de civis na Palestina e soldados na Ucrânia.

Já publicamos diversas opiniões e considerações sobre este tema, mas, como diziam os romanos, repetita iuvant (que significa literalmente “coisas repetidas ajudam” ou “repetição faz bem”. É usado para expressar a ideia de que repetir algo ajuda a ser aprendido, lembrado ou compreendido).

Um exemplo: De acordo com o último relatório semanal do site financeiro Simply Wall Street, publicado em 27 de setembro, o preço das ações da empresa alemã Rheinmetall (RHM) atingiu a máxima recorde de 308,5% nas projeções anuais do mercado de ações alemão. Para quem não está familiarizado com a lógica do mercado de ações, lembramos que, para uma startup brilhante, um aumento anual de 30% no valor já é fenomenal; para uma empresa estabelecida, é astronômico.

Quem controla a RHM? A Rheinmetall é controlada por fundos de investimento americanos administrados por ativistas do poder financeiro internacional. Outro fato: há muito tempo, ela inaugurou instalações de produção de armas na Ucrânia. E temos mais… de acordo com especialistas do setor, ela será a primeira beneficiária do plano “ReArm Europe” de € 800 bilhões lançado pela Comissão Europeia sob a presidência de Ursula von der Leyen (coincidentemente, ex-ministra da Defesa alemã).


Publicado no La Prensa.

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1 comentário

  1. O que observamos quanto a OTAN trata-se de ação ou reação?

    Esta é uma questão fundamental; desde o desmanche da URSS o espaço central europeu recuperou sua expressão política sob critérios das respectivas nacionalidades uma vez que, sob o controle ditatorial, a nomenklatura subserviente a Moscou havia amarrado cada nação ao projeto soviético.

    A ameaça russa é muito mais crível para todos os que sofreram sob as ditaduras estabelecidas no leste europeu desde o final da II GM, sendo natural que busquem alianças que possam contrabalançar o desafio.

    Os EUA sofrem com deterioração econômica relativa, apresentando problemas com o balanço de pagamentos e explosiva dívida, limitando sua posição.

    Que os países europeus pertencentes a OTAN sejam instados a maior participação na sua própria defesa não deveria causar espanto, pelo contrário.

    Até mesmo porque, indiscutivelmente, a Rússia é a agressora, o país responsável pelo início da guerra. E prevenir-se contra quem o ameaça é, antes de tudo, medida prudencial.

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