Doutrina Begin: A Política Israelense que Levou à Guerra com o Irã

Imagem meramente ilustrativa, gerada por inteligência artificial.

Por Albert Junyent Cebrián*

Imagem meramente ilustrativa, gerada por inteligência artificial.

A Doutrina Begin, evidenciada em ataques ao Iraque, Síria e Irã, é uma política não oficial de Israel que visa impedir programas nucleares de países vizinhos tidos como hostis.


Apesar das evidências generalizadas de que Israel possui armas nucleares, um dos motores de sua política regional tem sido a Doutrina Begin, focada em impedir o desenvolvimento de programas nucleares por países vizinhos que considera hostis. Embora o exemplo mais recente seja o ataque ao Irã, a história nos oferece mais dois exemplos — no Iraque e na Síria — do que constitui uma política estatal israelense não oficial.

Israel e a Operação Ópera no Iraque

Tudo começou em junho de 1981. Por meio de um acordo bilateral com a França, o governo recente de Saddam Hussein havia obtido um reator nuclear, chamado Osirak. Localizado no centro de pesquisa nuclear de Al Tuwaitha, a poucos quilômetros a sudeste de Bagdá, cientistas iraquianos e franceses trabalharam juntos na instalação. A Itália também forneceu alguma cooperação técnica, embora em menor grau.

Como era de se esperar dessa ampla e pública colaboração europeia — por meio de atores dificilmente suspeitos de buscar o fornecimento de armas nucleares ao Iraque — o programa nuclear iraquiano e as operações do reator Osirak tinham fins pacíficos e estavam oficialmente sob a supervisão da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Bagdá também havia assinado o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) em 1968 — e o ratificou em 1969.

A aprovação ocidental do desenvolvimento nuclear do Iraque foi mais uma preocupação do que um alívio para Israel, que não podia se dar ao luxo de uma cooperação tão estreita entre a Europa e uma potência regional rival como o Iraque em um assunto tão delicado. Tel Aviv instou Washington a suspender a venda do reator francês Osirak, mas sem sucesso.

A diplomacia francesa tranquilizou sua contraparte americana, assegurando-lhe, como revelaria um telegrama secreto publicado anos depois, que medidas preventivas haviam sido tomadas, das quais os iraquianos não foram informados, para impossibilitar a obtenção de armas nucleares com o material enviado.

As informações — oficiais e não oficiais — afirmando o propósito pacífico da infraestrutura nuclear do Iraque foram insuficientes para impedir o ataque israelense. Em 7 de junho de 1981, utilizando caças F-15 e F-16 de fabricação americana, a Força Aérea Israelense (IAF, Israeli Air Force) atacou a instalação nuclear de Al Tuwaitha, matando 10 cientistas iraquianos e um técnico francês. Israel procurou minimizar as baixas ocidentais realizando o ataque em um domingo, ignorando que, por estarem em um país islâmico, os franceses também tinham seu dia de folga semanal na sexta-feira.

A Operação Ópera, de alto grau de dificuldade operacional, marcou o nascimento da Doutrina Begin, nomeada em homenagem ao primeiro-ministro israelense Menachem Begin, sob cuja administração o ataque foi realizado, e que contribuiu decisivamente para sua reeleição algumas semanas depois. O contexto em que a Doutrina Begin foi expressa pela primeira vez — que, embora nunca tenha sido formalmente codificada no arcabouço político e jurídico do Estado israelense, tem sido uma constante em sua política externa — é particularmente revelador de sua natureza.

O programa nuclear do Iraque, ainda subdesenvolvido e oficialmente para fins pacíficos, estava sob estreita supervisão de atores ocidentais. A mensagem transmitida por Tel Aviv foi inequívoca: não faria distinção entre propósitos pacíficos e militares, e qualquer tentativa de desenvolvimento nuclear na região, independentemente de seu propósito declarado, seria recebida com uma resposta preventiva enérgica.

A narrativa oficial israelense da época, assim como muitos outros aspectos da Operação Ópera — a forma como contribuiu para o cerco ao primeiro-ministro em exercício, o uso de operações aéreas de longo alcance e assim por diante — levará o leitor de volta às recentes hostilidades entre Israel e o Irã. O Estado hebreu se justificou alegando que, apesar de sua aparência, o reator de Osirak foi projetado para desenvolver uma bomba nuclear que estava a apenas alguns meses de entrar em sua fase ativa.

O que certamente não tem paralelo com o ataque atual são as reações internacionais à Operação Ópera. Tanto a França — que, como lembramos, havia perdido um técnico nuclear nacional no ataque — quanto os Estados Unidos condenaram oficialmente a ação. As autoridades americanas chegaram a suspender brevemente o envio de caças F-16 para Israel.

A indignação internacional também foi expressa em uma declaração da AIEA e na Resolução 487 (1981) do Conselho de Segurança da ONU, adotada por unanimidade, que condenou veementemente o ataque e apelou a Israel para que “se abstenha de cometer tais atos no futuro ou de ameaçar cometê-los”.

A eficácia da operação foi taticamente ótima, mas estrategicamente duvidosa. O reator de Osirak certamente ficou completamente inoperante, mas a vontade do governo iraquiano de desenvolver seu programa nuclear permaneceu intacta. Nos anos seguintes, o regime baathista tentou desenvolver infraestrutura nuclear, desta vez em segredo e incluindo planos para o desenvolvimento de bombas nucleares.

Se esses planos não prosperaram, foi devido às circunstâncias políticas e históricas do Estado iraquiano, primeiro envolvido na guerra contra o Irã (1980-1988) e, posteriormente, nas duas Guerras do Golfo, que acabariam por levar à sua queda.

Operação Orchard na Síria

Quase 30 anos se passariam antes da segunda grande manifestação da doutrina Begin. A Operação Orchard (“Pomar”) — também conhecida como Outside the Box (“Fora da Caixa”) — ocorreu em 6 de setembro de 2007, na Síria de Bashar al-Assad, antes do início da guerra civil. Neste caso, o reator nuclear atacado chamava-se Al-Kibar e estava localizado em uma instalação nuclear próxima ao rio Eufrates, na região de Deir Ezzor, no nordeste da Síria. Oito aeronaves F-15 e F-16, operadas pela IAF, selaram seu destino.

O contexto do ataque foi substancialmente diferente. O governo sírio, provavelmente influenciado pelo destino do reator nuclear iraquiano de Osirak, optou por desenvolver seu programa nuclear em segredo. A estreita colaboração da Coreia do Norte na construção e possível comissionamento do reator, revelada por relatórios de inteligência dos EUA em 2008, contribuiu para a decisão de manter em segredo o avanço dessas capacidades nucleares.

A aplicação da doutrina Begin também variou. Ehud Olmert, então primeiro-ministro israelense, que havia anteriormente instado, sem sucesso, o presidente dos EUA, George W. Bush, a atacar a instalação, optou por não assumir a responsabilidade pelo ataque. Israel havia acabado de emergir, não particularmente vitorioso, da Segunda Guerra do Líbano, uma incursão na terra do cedro à qual o Hezbollah havia resistido e até mesmo emergido fortalecido, melhorando sua imagem no mundo árabe.

Tel Aviv, portanto, não precisava de outra frente de guerra. O que precisava urgentemente, especialmente após o trauma de 2003, quando o coronel líbio Muammar Kadafi revelou que estava secretamente desenvolvendo um programa de armas nucleares, era abordar a proliferação nuclear em seu país vizinho.


LIVRO RECOMENDADO:

Enforcing the Begin Doctrine: How Israel Stopped Iraq and Syria from Getting the Bomb

• David Rodman (Autor)
• Capa comum
• Edição Inglês


Com razão, o governo israelense calculou que, se não assumisse a responsabilidade, a Síria, por se tratar de um programa nuclear secreto, também não se manifestaria. E assim o fez, e em parte porque não demonstrou fraqueza militar — mais uma vez, as defesas aéreas não eram um problema para a Força Aérea de Israel — Damasco não protestou. A questão não foi levada ao Conselho de Segurança, nem houve retaliação; foi simplesmente construída sobre o local do ataque, e a República Árabe Síria sempre negou qualquer colaboração com a Coreia do Norte em questões nucleares.

Esse silêncio mortal não impediu que o ataque fosse interpretado, mesmo então, como um alerta ao Irã. Essa interpretação se intensificou anos depois, quando Israel reconheceu formalmente sua responsabilidade em 2018, motivado pelo objetivo de pressionar seus aliados a adotarem uma postura mais dura nas negociações nucleares com Teerã.

O governo israelense não hesitou em usar o medo como ferramenta de dissuasão, lembrando que a região de Deir Ezzor — onde estava localizado o reator bombardeado de Al-Kibar — posteriormente caiu nas mãos do Estado Islâmico.

Aplicação da Doutrina Begin ao Caso Iraniano

Nos últimos anos, tem havido muita especulação sobre a possível aplicação da Doutrina Begin ao programa nuclear iraniano. O caso persa apresenta uma situação paradigmática para Israel, por ser o mais perigoso — ou seja, o mais avançado — sob sua perspectiva e, ao mesmo tempo, o mais difícil de atacar.

Parte dessa dificuldade decorre do isolamento. O ataque aéreo israelense ao Irã em junho de 2025 foi a segunda maior operação das Forças de Defesa de Israel (IDF, Israeli Defense Forces), depois apenas da Operação Perna de Pau, que atingiu a sede da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), estabelecida na Tunísia em 1985.

Este fator geográfico apresenta um componente adicional, que consiste na necessidade de sobrevoar o espaço aéreo de terceiros países. No entanto, demonstrou-se que, no atual contexto político-militar regional, esta circunstância não representa grandes problemas para a Força Aérea israelense.

Outra parte das dificuldades advém do conhecimento acumulado pelo regime iraniano após mais de quatro décadas de aplicação da doutrina Begin. As lições aprendidas com as Operações Opera e Orchard levaram as autoridades iranianas a tomarem medidas como a expansão da sua infraestrutura nuclear por todo o seu território — ou seja, não colocar todos os ovos na mesma cesta — para impedir e mitigar os danos de um ataque israelense. Isso forçou as IDF a atacar diferentes infraestruturas simultaneamente.

Além disso, o terreno acidentado do Irã foi explorado, construindo instalações nucleares a vários metros de profundidade para evitar potenciais danos de ataques aéreos israelenses. Um exemplo disso é a instalação nuclear de Fordow, que, construída dezenas de metros abaixo do solo, conseguiu resistir ao primeiro ataque israelense.

Mesmo com a entrada em cena dos Estados Unidos e o envio de bombardeiros B-2 equipados com bombas GBU-57destruidoras de bunkers, persistem sérias dúvidas sobre se esses recursos foram suficientes para alcançar uma vitória tática — ou seja, infligir danos significativos e duradouros a uma infraestrutura especificamente projetada para sobreviver a tais ofensivas.

Embora tenhamos revisado as maiores operações da doutrina Begin, também deve ser observado que nem tudo pode ser resumido em três grandes ofensivas aéreas. Desde os anos anteriores à Operação Opera — quando vários cientistas nucleares iraquianos foram misteriosamente assassinados —, houve diversas operações de inteligência israelenses, mais ou menos confirmadas em cada caso específico, que buscaram torpedear os programas nucleares de terceiros países.

O programa nuclear do Irã, justamente pela dificuldade — finalmente superada — de realizar um ataque aéreo, tem sido vítima recorrente desse tipo de operação. Por exemplo, em 2010, uma sofisticada arma cibernética chamada Stuxnet foi detectada na instalação nuclear de Natanz.

O vírus, considerado na época um salto qualitativo na guerra cibernética, tinha um objetivo claro: sabotar a usina nuclear. E conseguiu. Assumiu o controle de 983 centrífugas e as reprogramou para se autodestruir. Segundo relatos posteriores, dado o nível de sofisticação e os recursos técnicos e financeiros empregados, o ataque só poderia ter sido obra de um Estado. Ou dois: várias fontes concordam que foi uma operação conjunta entre Israel e os Estados Unidos.

Além do âmbito cibernético, as operações também tiveram como alvo a integridade física de cientistas nucleares iranianos. Um exemplo de destaque — entre vários disponíveis — foi o caso de Mohsen Fakhrizadeh, figura-chave do programa nuclear iraniano, que foi emboscado e morto em 2020.

Além disso, ao longo dos anos, diversas explosões suspeitas foram relatadas na rede de infraestrutura nuclear do Irã. Esse foi o caso recentemente, em 2023, quando drones quadricópteros, atribuídos não oficialmente a Israel, atacaram um complexo militar perto de Isfahan.

Assim, e tendo em mente que a chamada Guerra dos Doze Dias representou um enorme salto qualitativo, a doutrina Begin tem sido aplicada ao Irã há muitos anos. No entanto, se há algo claro sobre essa doutrina, como reconhecido pelo próprio Instituto Nacional de Estudos de Segurança de Tel Aviv, e como é particularmente evidente no caso do Iraque, é que as operações que a compõem têm apenas a capacidade de atrasar o processo.

A destruição deliberada de capacidades nucleares pode, por um lado, atrasar o avanço técnico do regime atacado; mas, por outro, fortalecer sua determinação em continuar o desenvolvimento nuclear no futuro. Frequentemente, esses tipos de ataques não apenas endurecem a vontade do Estado afetado de obter armas nucleares, como também aumentam o sigilo em torno de seus programas.

Essa tem sido precisamente a tendência observada no Irã, como evidenciado por sua recente decisão de suspender a cooperação com a AIEA. Israel, plenamente ciente desse padrão, parece compreender que a aplicação mais eficaz e definitiva da doutrina Begin não envolve apenas a destruição da infraestrutura, mas também a queda do ator político capaz de promover de forma sustentável um programa nuclear. No contexto atual, esse ator é a República Islâmica do Irã.


Publicado em Descifrando la Guerra.

*Albert Junyent Cebrián é articulista do site Descifrando la Guerra.

Compartilhe:

Facebook
Twitter
Pinterest
LinkedIn

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Veja também