Exercício Naval Maritime Interaction 2025: Análise da Parceria Russo-Chinesa

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Imagem meramente ilustrativa, gerada por inteligência artificial.

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O exercício naval “Maritime Interaction 2025” entre Rússia e China sinaliza uma parceria estratégica crescente, desafiando a ordem unipolar e moldando a segurança global, apesar de limitações inerentes.


O exercício naval conjunto “Maritime Interaction 2025” entre a Rússia e a China, realizado de 1º a 5 de agosto de 2025 no Mar do Japão, não é apenas uma demonstração de capacidades militares, mas um evento carregado de significado geopolítico. Ele sublinha a crescente coordenação entre as duas potências, buscando projetar uma imagem de resistência a uma ordem global unipolar e desafiar a influência ocidental, especialmente dos Estados Unidos, na região Ásia-Pacífico.

Contexto

O “Maritime Interaction 2025” acontece em um cenário de intensificação da rivalidade entre grandes potências, onde a assertividade da China no Indo-Pacífico e a postura da Rússia em relação ao Ocidente têm levado a um realinhamento de forças. A escolha do Mar do Japão para sediar o exercício, área de sensibilidade estratégica, evidencia a intenção de Moscou e Pequim de projetar poder e influência em uma região crucial. O objetivo declarado da manobra é reforçar a proteção de rotas marítimas estratégicas e aprimorar a capacidade de resposta a ameaças de segurança, ao mesmo tempo em que fortalece a confiança mútua e a cooperação pragmática entre suas forças navais.

Antecedentes

Este exercício é parte de uma série contínua de manobras navais bilaterais iniciadas em 2012, mas as edições mais recentes ganharam um peso estratégico considerável, especialmente após a invasão russa da Ucrânia em 2022, com a China fornecendo apoio econômico e político crucial a Moscou.

A cooperação militar entre China e Rússia tem se aprofundado significativamente. Em março de 2025, as marinhas de China, Rússia e Irã já haviam realizado o exercício “Security Belt-2025” próximo ao porto iraniano de Chabahar, visando fortalecer a confiança mútua e a cooperação pragmática entre suas forças navais. Em junho de 2025, o presidente russo Vladimir Putin anunciou publicamente planos para futuros exercícios militares conjuntos com a China, evidenciando o aprofundamento dos laços militares entre os dois países. Além disso, em julho de 2025, a Rússia demonstrou sua capacidade naval e prontidão operacional ao iniciar o exercício naval “Tempestade de Julho”, envolvendo mais de 150 embarcações e 15 mil militares nos oceanos Pacífico e Ártico.

A coordenação e o comando do “Maritime Interaction 2025” foram baseados em Vladivostok, no Extremo Oriente russo. Navios notáveis que participaram incluíram o destroier russo da classe Udaloy Admiral Tributs e o destroier chinês Tipo 052D Shaoxing, além do Urumqi, da corveta Rezky e navios de resgate como o Xihu e o Igor Belousov. Submarinos diesel-elétricos e unidades de aviação marítima de ambos os países também estiveram envolvidos. As missões abrangeram guerra antissubmarino (ASW, Anti-Submarine Warfare), exercícios de defesa aérea, missões de busca e salvamento marítimo e exercícios de artilharia com fogo real.

Implicações

As implicações do “Maritime Interaction 2025” são diversas e de grande alcance:

1. Sinalização Geopolítica: O exercício é uma clara demonstração da intenção de Moscou e Pequim de exibir compatibilidade operacional e uma resolução mútua em resistir às estratégias de contenção lideradas pelos EUA na região da Ásia-Pacífico. Serve como um fórum para alinhar estruturas de comando, aprimorar operações navais e aumentar a conscientização pública sobre estratégias convergentes, desafiando a influência ocidental na região. A emissora estatal chinesa transmitiu imagens do início dos exercícios, que ocorrem em um momento de tensão com os Estados Unidos, após a ordem de Donald Trump para o deslocamento de dois submarinos nucleares, dois dias antes do início dos exercícios navais conjuntos. A Rússia, por sua vez, acusou os EUA de ignorarem seus alertas e de implantarem mísseis de médio e curto alcance na Europa e na região Ásia-Pacífico, o que levou à ruptura de um acordo de moratória unilateral.


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2. Rivalidade na Ásia-Pacífico: A região continua sendo uma área crucial de rivalidade estratégica. Enquanto os EUA fortalecem sua estrutura de segurança através de alianças e desdobramentos avançados para equilibrar a assertividade marítima da China, o alinhamento crescente de Moscou com Pequim na área é visto como um desafio. A intensificação da cooperação militar sino-russa foi reforçada durante o encontro entre os presidentes Xi Jinping e Vladimir Putin em maio, onde concordaram em expandir o escopo e a frequência dos exercícios militares conjuntos. Essa parceria é vista com preocupação por outros países da região; em julho de 2025, o Ministério da Defesa do Japão expressou a crescente cooperação militar entre China e Rússia como uma séria ameaça à segurança regional.

3. Limitações Estruturais da Parceria: Apesar da cooperação visível, persistem restrições estruturais que limitam a profundidade prática da parceria militar. A Rússia foca seu poder naval no Ártico e na Europa, deixando sua Frota do Pacífico como uma força secundária. As ambições navais da China, em contraste, visam o controle do mar e capacidades de águas azuis no Pacífico Ocidental e outras áreas. Além disso, uma desconfiança histórica enraizada permanece não resolvida, juntamente com preocupações estratégicas de Moscou sobre o Extremo Oriente russo adjacente à China. A ausência de uma estrutura de aliança formal e as percepções de ameaça que são semelhantes, mas não idênticas, também limitam a profundidade da cooperação.

4. Reações Regionais e Globais: Os Estados Unidos e seus aliados regionais, como Japão e Austrália, podem interpretar o “Maritime Interaction 2025” como um ato simbólico de convergência estratégica. Isso pode levar a uma coordenação naval mais frequente em teatros marítimos sensíveis, especialmente ao redor do Japão e de Taiwan. Há também o risco de reforçar as percepções de ameaça na Ásia-Pacífico, impulsionando um maior alinhamento de defesa regional com os EUA. Fricções podem surgir se exercícios futuros expandirem seu escopo ou proximidade com fronteiras marítimas disputadas, ou aumentarem as atividades de coleta de inteligência.

5. Aprimoramento Operacional: Embora marginal, o aprendizado operacional do exercício pode aprimorar a proficiência naval russa em ASW e defesa aérea, áreas onde a experiência da PLAN está crescendo.

Conclusão

O exercício “Maritime Interaction 2025” simboliza a consolidação da parceria estratégica entre Rússia e China, refletindo uma resposta coordenada às pressões ocidentais e uma tentativa de remodelar a ordem global em direção a uma multipolaridade que favoreça seus interesses. Embora a operação ajude a melhorar a imagem de ambos os países e reforce a ideia de resistência multipolar a uma ordem global unipolar liderada pelos EUA, ela ainda é limitada por prioridades divergentes e capacidades desiguais.

A China tem afirmado sua disposição de ampliar a cooperação militar com a Rússia em uma “nova era” de parceria, buscando aprofundar a confiança estratégica mútua e melhorar a comunicação. Exercícios em tempo de paz como este testarão a credibilidade dessa cooperação ao longo do tempo. No entanto, a verdadeira prova virá durante crises reais envolvendo Taiwan, a Península Coreana ou o Ártico. A ausência de alianças estabelecidas e o histórico de suspeitas mútuas, poderia indicar que uma ação militar unificada é improvável de ocorrer em tais eventos; no entanto, a intensificação desses exercícios mostra a crescente capacidade e coordenação entre Pequim e Moscou, moldando a paisagem de segurança global e regional.

Referências

Russian and Chinese navies carry out artillery and anti-submarine drills in Sea of Japan. Reuters, 3 de agosto de 2025. Disponível em: https://www.reuters.com/world/china/russian-chinese-navies-carry-out-artillery-anti-submarine-drills-sea-japan-2025-08-03.

China and Russia to hold joint naval exercise near Japan next month. AP, 30 de julho de 2025. Disponível em: https://apnews.com/article/china-russia-military-joint-sea-naval-exercise-69a9debd6eb6596b0dc0cb419568881a.

Putin says Russia will hold military exercises with China in 2025. Reuters, 18 de junho de 2025. Disponível em: https://www.reuters.com/business/media-telecom/putin-says-russia-will-hold-military-exercises-with-china-2025-2025-06-18.

Irã, China e Rússia iniciam exercícios navais conjuntos. Deutsche Welle, 10 de março de 2025. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/irã-china-e-rússia-iniciam-exercícios-navais-conjuntos/a-71879549.

Rússia dá início a exercício naval com 150 embarcações e 15 mil militares. Notícias ao Minuto, 23 de julho de 2025. Disponível em: https://www.noticiasaominuto.com/mundo/2826477/russia-da-inicio-a-exercicio-naval-com-150-embarcacoes-e-15-mil-militares.

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