Rússia e a “nova” Síria: Novos aliados energéticos?

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Imagem gerada por inteligência artificial.

Por Olivier d’Auzon*

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Em um contexto marcado por tensões geopolíticas e sanções econômicas, a Rússia busca adaptar suas estratégias comerciais para contornar as restrições impostas pelos EUA.


Uma iniciativa recente envolve o transporte de petróleo do Ártico para a Síria, um parceiro estratégico que, apesar de suas próprias dificuldades econômicas e energéticas, e especialmente da queda do antigo regime apoiado por Moscou, está se tornando um pivô no comércio de energia da região.

Essa reorientação das exportações russas marca uma virada nas relações comerciais entre os dois países e ilustra a nova dinâmica do mercado global de energia.

Contexto das sanções dos EUA: petróleo do Ártico sob pressão

As sanções dos EUA impostas em janeiro de 2025 têm como alvo direto a Gazprom Neft, uma importante empresa da indústria petrolífera russa, bem como navios envolvidos no transporte de petróleo bruto. Essas medidas forçaram a Rússia a encontrar novos destinos para seu petróleo do Ártico, cuja produção e exportação eram anteriormente direcionadas aos mercados ocidentais. Como resultado, a Síria, já assolada por problemas energéticos internos, encontra-se em uma posição em que pode se tornar um receptáculo para esse petróleo.

Dois petroleiros, Aquatica e Sakina, foram identificados transportando juntos 200.000 toneladas de petróleo bruto russo para a Síria, marcando a primeira entrega de petróleo do Ártico para aquele país. O Aquatica, que chegou ao porto de Baniyas em 21 de março, deveria descarregar sua carga, mas as últimas informações indicam que isso ainda não ocorreu. O segundo petroleiro, Sakina, deve chegar ao seu destino em 25 de março, aumentando o volume de petróleo russo importado para o porto sírio.

A crise energética síria: necessidade urgente de fornecimentos alternativos

A Síria, que historicamente dependia do petróleo iraniano para abastecer suas refinarias, enfrenta uma escassez de fornecimento há vários anos devido à interrupção das entregas do Irã. O país é, portanto, forçado a buscar outras fontes de energia, e a Rússia surge como uma alternativa estratégica. A maior unidade de refino da Síria, a refinaria de Baniyas, encerrou as operações em dezembro de 2024, principalmente devido a essa interrupção no fornecimento.

O petróleo russo torna-se, portanto, crucial para manter as atividades industriais sírias. Com volumes substanciais de importações, a Síria espera não apenas aliviar sua escassez imediata, mas também estabilizar uma economia energética em declínio, enfraquecida por anos de guerra e sanções.


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Desvio de fluxos de energia: uma resposta às sanções

As sanções dos EUA, ao limitar as exportações russas para a Europa e os Estados Unidos, levaram a Rússia a diversificar suas rotas comerciais, principalmente para países sob sanções ou aqueles que buscam contornar as restrições ocidentais. Nesse sentido, a Síria, embora atingida pelo isolamento econômico, continua sendo, apesar da mudança de regime, um parceiro estratégico para a Rússia, tanto para manter seu mercado de energia quanto para compensar a perda de receita vinculada às sanções.

Os embarques de petróleo russo para a Síria fazem parte de um padrão cada vez mais evidente no mercado global, onde países sancionados, como Síria e Rússia, estão formando alianças para escapar do isolamento econômico imposto pelas potências ocidentais. Esse fenômeno mostra que os mercados globais de energia estão se tornando cada vez mais fragmentados, com fluxos que ficam fora dos canais comerciais tradicionais.

Um novo capítulo para o comércio de energia

O recente comércio de petróleo entre a Rússia e a Síria marca um passo significativo na redefinição das relações comerciais globais no setor de energia. Embora essa cooperação traga uma lufada de ar fresco à Síria, ela também ilustra a resiliência e o pragmatismo da Rússia diante das sanções econômicas. A questão agora é se essas novas alianças estratégicas podem durar e se elas influenciarão a reorientação mais ampla dos mercados globais de petróleo, à medida em que mais e mais países tentam escapar das pressões econômicas ocidentais.


Publicado no Le Diplomate Media.

*Olivier d’Auzon é consultor jurídico da ONU e conselheiro de Segurança Marítima e especialista jurídico em transporte da União Europeia e Banco Mundial. É pós-graduado em Estudos de Energia Marítima na Lloyd’s World Maritime Academy, mestre em Direito Privado, Contratual e Empresarial pela Université Panthéon Assas (Paris II) e possui doutorado em Transporte e Distribuição Internacional e Transporte Aéreo e Marítimo pela Université Panthéon Sorbonne (Paris I).

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