Reflexos da Operação Condor no contexto da Ucrânia, Oriente Médio e América Latina

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Imagem gerada por inteligência artificial.

Por Carlos A. Klomfahs*

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As táticas da Operação Condor ressurgem no século XXI? Seus reflexos estão na vigilância, coerção e desestabilização que continuaram a ser usadas pela CIA e pela USAID em diversas partes do mundo.


Introdução

Este artigo enfatiza a continuidade histórica das operações da CIA e da USAID na desestabilização de governos e na promoção de golpes de Estado ao redor do mundo. Analisa-se como as práticas do passado são replicadas ou adaptadas nos contextos contemporâneos da Ucrânia, Oriente Médio e América Latina.

O atual choque de gerações exige dos analistas de geopolítica e assuntos militares uma compreensão imparcial da luta dos povos contra o imperialismo e das tensões inerentes à relação capital-trabalho. A desconsideração dos impactos sociais, econômicos e psicológicos sobre as classes menos favorecidas perpetua atos de terrorismo de Estado, corrupção e intervenção na soberania de outras nações.

Contexto

Este artigo busca refletir sobre a política externa norte-americana pós-1945, que, sob o argumento da ameaça comunista, construiu alianças em diversos continentes contra opositores políticos. O objetivo era promover assassinatos seletivos, desestabilização de governos e desvio de ONGs para financiar e controlar o fluxo de drogas e armas entre países produtores na América Latina e consumidores na Europa e Ásia.

Para tanto, analisaremos as implicações do governo americano, do Departamento de Estado e da CIA na Operação Condor, bem como sua relação com a ONG internacional USAID, atualmente envolvida em escândalos e crimes nos Estados Unidos, incluindo a operacionalização de laboratórios biológicos na Ucrânia.

As ações americanas em relação à USAID, sua política externa agressiva e contraditória, e a reunião de emergência de líderes da União Europeia, marcada para 17 de fevereiro de 2025 na França, parecem confirmar a tese de que o modus operandi de operações encobertas ou não permanece ativo, embora repetindo erros graves.

Breve história da CIA e suas operações clandestinas

O precursor da Agência foi o Escritório de Operações Especiais (OSS), responsável por espionagem e atividades clandestinas. Em 1940, o Secretário da Marinha, William Knox, determinou o envio de uma missão à Inglaterra, liderada pelo advogado William Donovan (Coronel da Reserva), para coletar informações sobre a “quinta coluna alemã” na Europa. O resultado foi a formulação da doutrina de guerra de guerrilhas.

A Agência foi formalmente criada na administração Harry S. Truman, em 18 de setembro de 1947, pelo National Security Act do mesmo ano, com o objetivo de coordenar toda a atividade de inteligência a partir do solo americano. Buscava-se preencher a lacuna entre os fracassos diplomáticos e as alternativas de guerra.

A Agência Central de Inteligência (CIA) é uma organização complexa e altamente estruturada, projetada para coletar e analisar informações de inteligência estrangeira, conduzir operações clandestinas e apoiar a segurança nacional dos Estados Unidos. Abaixo, detalha-se sua organização, divisões, métodos de recrutamento e operações em países hostis.

Organização e Divisões da CIA

A CIA é dividida em vários diretórios e escritórios, cada um com funções específicas. Sua estrutura é projetada para garantir eficiência e sigilo. As principais divisões incluem:

Diretório de Operações (DO): Responsável por operações clandestinas, coleta de inteligência humana (HUMINT) e recrutamento de fontes estrangeiras. Agentes do DO operam sob cobertura, muitas vezes disfarçados como diplomatas, empresários ou civis.

Diretório de Análise (DI): Analisa informações coletadas por outras divisões e agências de inteligência, produzindo relatórios e briefings para o presidente e outros líderes do governo.

Diretório de Ciência e Tecnologia (DS&T): Desenvolve tecnologias avançadas para coleta de inteligência, como satélites, drones e ferramentas de cibersegurança. Também trabalha com análise de imagens e sinais (SIGINT).

Diretório de Apoio à Missão (MS): Fornece suporte logístico, técnico e administrativo para as operações da CIA, incluindo segurança física, transporte e comunicações seguras.

Escritório do Diretor da CIA (ODIR): Supervisiona todas as operações e define as prioridades estratégicas da agência. O diretor da CIA é nomeado pelo presidente e confirmado pelo Senado.

Rede de Espionagem: identificação, recrutamento e cooptação

A CIA constrói sua rede de espionagem por meio de um processo meticuloso, que envolve várias etapas:

Identificação: A CIA identifica indivíduos com acesso a informações valiosas, como funcionários de governos estrangeiros, militares, cientistas ou empresários. A seleção é baseada no potencial de acesso a informações sensíveis e na vulnerabilidade do alvo (financeira, ideológica, pessoal, etc.).

Avaliação: O alvo é avaliado para determinar suas motivações e possíveis pontos de pressão. A CIA usa técnicas de análise de perfil para entender as fraquezas e desejos do indivíduo.

Recrutamento: O recrutamento pode ser direto ou indireto. Em alguns casos, a CIA se aproxima do alvo sob falsos pretextos, como uma oferta de emprego, explorar uma situação de insatisfação no governo ou injustiça pessoal, dívida alta, doença familiar grave ou uma amizade casual. Técnicas comuns incluem chantagem (uso de informações comprometedoras, incluindo casos de adultério, alcoolismo, drogadição, pedofilia, prostituição, homossexualismo etc.) ou oferta de recompensas (dinheiro, asilo político, proteção).

Cooptação: Uma vez recrutado, o agente é treinado para coletar e transmitir informações de forma segura. A CIA estabelece métodos de comunicação clandestina, como encontros secretos, mensagens codificadas ou uso de tecnologia criptografada.

Operações em países hostis

Operar em países hostis é uma das tarefas mais perigosas e complexas da CIA. Essas operações exigem planejamento detalhado e sigilo absoluto. Abaixo, algumas das principais etapas:

Preparação: A CIA realiza uma análise detalhada do país-alvo, incluindo sua cultura, política, infraestrutura de segurança e possíveis aliados locais. Agentes são enviados sob cobertura, muitas vezes como diplomatas ou funcionários de empresas privadas.

Infiltração: Os agentes estabelecem redes de contatos locais, incluindo cidadãos comuns, funcionários do governo ou membros da oposição. A CIA pode usar agentes duplos (indivíduos que trabalham para ambos os lados) para obter informações.

Coleta de Inteligência: A coleta pode ser feita por meio de observação direta, interceptação de comunicações ou recrutamento de fontes humanas. Em países hostis, a CIA frequentemente usa tecnologia avançada, como drones ou satélites, para minimizar o risco de exposição.

Exfiltração: Após a conclusão da missão, os agentes e suas fontes podem precisar ser retirados do país de forma segura. A CIA usa rotas clandestinas, documentos falsos e parcerias com aliados para garantir a segurança de seus agentes.

Teoricamente, a CIA é a única agência de inteligência independente na estrutura do executivo estadunidense [1], composta por oficiais civis, e é a principal responsável pela condução da inteligência externa e, de certa forma, da política externa dos Estados Unidos.

Em resumo, a Agência é organizada em cinco diretórios principais:

Diretório de Suporte: cuida das tarefas administrativas cotidianas da agência, bem como recursos humanos, financeiros e apoio logístico às operações;

Diretório de Operações: divisão responsável pelo gerenciamento do serviço clandestino nacional, incluindo atividades de coleta de fontes humanas com espiões (chamados de “case officers”), e operações encobertas;

Diretório de Análise;

Diretório de Ciência e Tecnologia: fornece apoio de natureza técnica às demais divisões;

Diretório de Inovação Digital: responsável pela gestão de tecnologia de informação e pela gestão das disciplinas de coleta técnica da agência (SIGINT e IMINT).

E mais 11 Centros de Missão:

• Centro Missionário da África;

• Centro Missionário da China;

• Centro de Missão de Contrainteligência;

• Centro Missionário Antiterrorismo;

• Centro Missionário da Ásia Oriental e Pacífico;

• Centro Missionário Europa e Eurásia;

• Centro Missionário do Oriente Próximo;

• Centro Missionário da Ásia Central e do Sul;

• Centro de Missão Transnacional e Tecnológica;

• Centro de Missão de Armas e Contraproliferação;

• Centro Missionário do Hemisfério Ocidental;

Uma estrutura de supervisão das ações da Diretoria da CIA composta por:

• Recursos Humanos;

• Assuntos do Congresso;

• Conselheiro Geral;

• Assuntos Militares;

• Relações Públicas;

• Gestão de talentos;

• Segurança interna;

Há ainda um Conselho de Revisão de Publicação de trabalhos de funcionários e contratados, para evitar a divulgação pública de informações classificadas.

Recrutamento interno para a agência

O sistema de recrutamento interno segue alguns passos:

• Avaliação dos candidatos com base em suas habilidades, qualificações e adequação para várias funções dentro da agência;

• Os candidatos são informados sobre as expectativas da agência e adaptam suas qualificações de acordo;

• Uma vez preparados, os candidatos enviam documentos, incluindo um currículo bem elaborado e uma carta de apresentação destacando habilidades e experiências relevantes;

• Os candidatos selecionados passam por avaliações e testes, incluindo teste de aptidão e uma rodada de entrevistas. As avaliações visam medir o pensamento crítico, as habilidades de resolução de problemas, o julgamento ético e a adequação pessoal às demandas do trabalho da CIA;

• Após concluir com sucesso as avaliações, os candidatos passam por uma investigação completa de antecedentes para garantir integridade e confiabilidade. Esta etapa é um exame aprofundado do histórico pessoal, profissional e financeiro do candidato, conduzido para determinar sua elegibilidade para autorização de segurança;

• A aptidão física e as avaliações médicas também são etapas essenciais no processo de recrutamento. A agência busca candidatos que possam atender às demandas físicas associadas a certas posições e que sejam clinicamente aptos para cumprir suas funções;

• Por fim, os candidatos enfrentam o processo final de revisão e seleção conduzido pelo conselho de seleção da CIA.

Missão institucional da agência

No site oficial da CIA, há um destaque para sua principal missão: ser a primeira linha de defesa da Nação, uma resposta à falha de contrainteligência no ataque a Pearl Harbor e a afirmação de possuir um braço do Estado profundo nos territórios inimigos, amigos e hostis.

O significado do selo da CIA apresenta vários simbolismos: uma águia para alerta, um escudo para defesa e uma rosa dos ventos para coleta de inteligência global.

O site informa que a CIA é uma agência do governo dos EUA que fornece inteligência objetiva sobre países estrangeiros e questões globais ao presidente, ao Conselho de Segurança Nacional e outros formuladores de políticas para ajudá-los a tomar decisões de segurança nacional [2].

Para impedir ameaças antes que elas aconteçam e promover os objetivos de segurança nacional dos EUA, segundo o site oficial, a CIA:

• Coleta inteligência estrangeira;

• Produz análises objetivas; e

• Realiza ações secretas, conforme orientação do presidente.


LIVRO RECOMENDADO:

Operation Condor: The history of the notorious intelligence operations supported by the United States to combat communists across South America

• Charles River (Autor)
• Edição Inglês
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Tipos de coletas

Todas as fontes de coleta de inteligência não substituem o “homem no terreno” e a espionagem, que é a coleta de forma ilegal e antiética, sendo a principal preferência da agência.

As operações propriamente ditas

Antes de abordar, insta destacar que as Operações são organizadas via Estações em cada país com supervisores regionais. Cada estação é composta por um Chefe de Estação, agentes de campo, rede de informantes, colaboradores (imagine que em uma operação é necessário ter infraestrutura em cada país com suporte de equipamentos de vigilância, armamentos etc., geralmente achados entre os equipamentos de uso geral em todos os países), infiltrados etc.

A importância de cada Estação está ligada aos aspectos geopolíticos e militares, sendo as Estações mais importantes: Rússia, China, Irã, Índia, Paquistão, Arábia Saudita, Turquia, Israel, Japão, Alemanha, Inglaterra, França, Brasil, Argentina, Chile, Venezuela, Bolívia, etc.

As Operações de inteligência e espionagem caracterizam-se pelo elevado grau de sigilo, alto risco e custo expressivo, tudo suportado pelo alto valor de orçamento da agência, coordenação e planejamento, controle e objetivo.

O grande sucesso das Operações da CIA envolve, dentre outros fatores e condicionantes:

• Orçamento secreto e sem ingerência do congresso;

• Capacidade lobista;

• Capacidade operacional, gestão de riscos;

• Capacidade de operar, por exemplo, por meio da USAID como intermediadora de pagamentos ou recrutamento;

• Apoio logístico de empresas multinacionais e conglomerados de gestão de ativos como a Black Rock, Vanguard Group, Fidelity Investments;

• Apoio de empresas com presença mundial de transporte como Rent a Car;

• Rede de hotelaria que pode funcionar como local de reunião, entrega de documentos, imóvel de apoio ou base avançada;

• Alimentação e bebidas como Coca-Cola e McDonald’s;

• Manutenção de infraestrutura de redes;

• Manutenção de vários produtos e serviços elétrico-eletrônicos;

• Limpeza e segurança privada;

• Logística como FedEx;

• Serviços bancários, auditoria, consultoria e financeiros;

• Serviços de internet como Starlink e contas gratuitas do Gmail, jogos online, videogames e equipamentos residenciais com IA;

• Aplicativos de transporte e geolocalização como WAZE e UBER;

• Celulares e PCs da Apple, toda tecnologia embutida serve à espionagem como câmera de alta resolução e backdoors;

• Redes sociais para traçar os hobbies e hábitos dos alvos.

Tudo isso é usado tanto para o apoio à Operação como um todo, quanto para análise de imagens, para definir o padrão de comportamento do alvo, conhecido como Cartão de Baseball nas operações para identificar, vigiar e neutralizar alvos de interesse, sendo a neutralização por Drones ou por agentes em campo, as coordenadas e os dados de geolocalização são essenciais.

O sucesso da CIA reside atualmente no uso de vários softwares de IA para centralizar e organizar o imenso fluxo e quantidade de dados, em que em um clique os dados de um alvo aparecem na tela do tablet institucional dos agentes.

Vamos detalhar mais a fundo alguns aspectos das Operações.

Etapas das operações encobertas ou clandestinas

Tudo começa com o recebimento da missão quando a operação não é permanente (vinculada aos Objetivos Nacionais Permanentes), geralmente ligada a requisições emergenciais que podem ou não incluir assassinatos, sendo, dentro do espectro operacional, a missão mais extrema, e a mais simples a recolha de dados ou vigilância e monitoramento.

Vejamos agora a operação clandestina da CIA, depois de analisada a missão e estabelecidas as Linhas de Ações, vejamos os aspectos operacionais.

A priori, as operações clandestinas da agência são atividades secretas conduzidas para influenciar governos, organizações ou indivíduos sem revelar o envolvimento dos Estados Unidos. Essas operações são complexas, envolvendo planejamento detalhado, recursos significativos e uma cadeia de comando bem definida. Abaixo, as etapas de como uma operação clandestina da CIA pode ser conduzida.

É importante notar que muitos detalhes específicos permanecem classificados, e este é um resumo baseado em informações públicas e relatos históricos.

Etapa 1. Recebimento da Missão

Origem da Diretiva: A operação clandestina geralmente começa com uma diretiva do presidente dos EUA ou do Conselho de Segurança Nacional (NSC). Essa diretiva pode ser formalizada em um documento chamado Presidential Finding, que autoriza a operação e define seus objetivos.

Justificativa: A operação é justificada com base em interesses nacionais, como conter uma ameaça à segurança, influenciar um governo estrangeiro ou combater o terrorismo.

Etapa 2. Planejamento e Análise

Definição de Objetivos: A CIA identifica os objetivos específicos da operação, como derrubar um governo, infiltrar uma organização, coletar inteligência ou desestabilizar um regime.

Análise de Risco: Analistas avaliam os riscos envolvidos, incluindo exposição política, custos financeiros e possíveis repercussões internacionais.

Seleção de Métodos: A CIA decide quais métodos serão usados, como:

• Propaganda: Disseminação de informações falsas ou manipuladas.

• Apoio a Grupos Locais: Financiamento e treinamento de insurgentes ou grupos de oposição.

• Operações Psicológicas (PSYOP): Campanhas para influenciar a opinião pública.

• Ações Diretas: Sabotagem, assassinatos seletivos ou operações paramilitares.

Etapa 3. Aprovação e Autorização

Revisão Interna: O plano é revisado por órgãos internos da CIA, como o Diretório de Operações (anteriormente conhecido como Diretório de Planos).

Aprovação do NSC: O Conselho de Segurança Nacional revisa e aprova a operação, garantindo que ela esteja alinhada com a política externa dos EUA.

Assinatura do Presidente: O presidente assina o Presidential Finding, autorizando formalmente a operação.

Etapa 4. Montagem da Equipe

Seleção de Agentes: A CIA seleciona agentes com habilidades específicas para a missão, como fluência em idiomas, conhecimento cultural ou experiência em operações paramilitares.

Recrutamento de Ativos Locais: A equipe pode recrutar informantes ou colaboradores locais (chamados de “ativos”) para fornecer inteligência ou executar tarefas no terreno.

Cobertura e Identidades Falsas: Os agentes recebem identidades falsas e coberturas plausíveis para evitar detecção.

Etapa 5. Preparação Operacional

Treinamento: Os agentes e ativos locais são treinados em técnicas específicas, como comunicação secreta, uso de armas ou métodos de infiltração.

Logística: A CIA organiza o transporte, equipamentos e financiamento necessários para a operação. Isso pode incluir armas, dinheiro, documentos falsos e tecnologia de comunicação criptografada.

Estabelecimento de Redes de Apoio: A CIA pode criar redes de apoio, como casas seguras, rotas de fuga e contatos locais.

Etapa 6. Execução da Operação

Infiltração: Os agentes entram no país ou região alvo, muitas vezes disfarçados como diplomatas, jornalistas ou empresários.

Coleta de Inteligência: Se a operação envolve espionagem, os agentes coletam informações por meio de vigilância, interceptação de comunicações ou contato com informantes.

Ações Clandestinas: Dependendo da missão, os agentes podem:

• Realizar sabotagens (como destruir infraestrutura crítica).

• Disseminar propaganda ou desinformação.

• Treinar e armar grupos locais para ações paramilitares.

• Executar operações de assassinato seletivo (embora isso seja raro e altamente controverso).

Comunicação Segura: Os agentes mantêm contato com a sede da CIA por meio de canais seguros, como mensagens criptografadas ou encontros discretos.

Etapa 7. Gerenciamento de Crises

Contingências: Se algo der errado (como a exposição de um agente), a CIA tem planos de contingência para evacuação ou negação plausível.

Negações Plausíveis: A CIA toma medidas para garantir que, se a operação for exposta, o envolvimento dos EUA possa ser negado de forma crível.

Etapa 8. Conclusão e Avaliação

Extração: Após a conclusão da missão, os agentes são extraídos do local, muitas vezes usando rotas secretas ou documentos falsos.

Relatórios: A equipe envia relatórios detalhados à sede da CIA, descrevendo os resultados da operação e quaisquer lições aprendidas.

Avaliação de Impacto: Analistas avaliam se os objetivos foram alcançados e se a operação teve consequências não intencionais.

Etapa 9. Proteção de Segredos

Classificação de Documentos: Todos os detalhes da operação são classificados como sigilosos para proteger os agentes e evitar repercussões diplomáticas.

Proteção de Fontes: Informantes e ativos locais podem receber asilo ou proteção para evitar retaliações.

Exemplos históricos

Golpe no Irã (1953): A CIA ajudou a derrubar o primeiro-ministro Mohammad Mossadegh e reinstalou o Xá Reza Pahlevi.

Invasão da Baía dos Porcos (1961): Uma tentativa fracassada de derrubar Fidel Castro em Cuba.

Operação Condor (décadas de 1970-1980): A CIA apoiou regimes militares na América Latina para combater a influência comunista.

Considerações éticas e legais, e a continuidade histórica

As operações clandestinas da CIA são frequentemente criticadas por violar o direito internacional e os direitos humanos. Como não há um órgão internacional independente para julgar potências nucleares, seus feitos ficam à margem da lei.

Este passo a passo é uma visão geral e simplificada, já que as operações clandestinas variam amplamente em escopo e complexidade. Muitos detalhes permanecem secretos, e a CIA opera sob um véu de sigilo para proteger suas atividades e agentes.

Os métodos para a coleta de inteligência, dentre outros, são: recrutamento estratégico de pessoas no estrangeiro para nos fornecerem informações; traduzir jornais estrangeiros, artigos de revistas, programas de rádio e programas de TV; estudar imagens tiradas por satélites; e decifrar códigos e mensagens secretas enviadas por outros países.

Outro aspecto preocupante eticamente e legalmente do ponto de vista do direito internacional foi a relação da CIA com a Alemanha Nazista. Segundo documentário do Canal do Youtube Documentales ES E.H.F [3], o diretor da CIA Allen Dulles ainda em 1943 iniciou negociações secretas com Nazistas, contatando o general Reinhard Gehlen [4], ex-oficial de inteligência da Wehrmacht, responsável pela criação de uma rede anti soviética na Europa em 1945 com mais de 4000 mil agentes sob o disfarce de Organização de Desenvolvimento Industrial da Alemanha do Sul.

Sublinhe-se também a relação entre um advogado de Wall Street com a Standard Oil, uma das Companhias que negociou com os Nazistas durante a 2ª Guerra.

Aos interessados, podem pesquisar na internet o tema: Nazi War Crimes Disclosure Act de 1988 do Congresso via processo no âmbito do Freedom Organization Act (FOIA), que liberou quase 18 mil páginas de documentos, entre eles o que comprovam o envolvimento da CIA com nazistas no pós-guerra, especialmente Gehlen que entabulou um acordo com a contrainteligência do Exército Americano para entrega de documentos arquivados de valores inestimáveis de inteligência do Leste Europeu e iniciou suas atividades de espionagem atrás das linhas russas, infiltrando a CIA no entorno estratégico soviético para fermentar revoluções.

Para realizar suas operações no exterior, em razão do grande volume de dinheiro necessário para cooptar pessoas, instituições, governos e militares, a CIA opera com repasses oficiais, abertos e classificados, no controle do fluxo de drogas e armas, lavagem de dinheiro, aplicações financeiras como criptomoedas, comprometendo a ética e a legalidade.

Como, outrossim, a base de Operação da CIA consiste em estruturar uma rede de espionagem no país alvo com recrutamento de pessoas com acesso e desejo voluntário que eram procuradas ou procuravam as embaixadas, a cooptação, quando envolvia suborno ou ameaças a funcionários de alto escalão, por crimes descobertos, fotos ou informações constrangedoras e aliciamento por meio do uso de solicitações de palestras em prestigiosas universidades americanas e/ou facilitação de vistos de intercâmbio e estudos de filhos de autoridades políticas, autoridades policiais e militares de alto escalão, como exemplo a promoção de cursos na SWAT/FBI ou em West Point para membros do Exército, outros cursos para a Marinha e outros Força Aérea, também magistrados, desembargadores e ministros de Corte Superiores e à funcionários da burocracia e conglomerados bancários e do mercado de valores mobiliários.

Tudo auxiliado como já referido, por uma extensa rede de empresas como Redes de Fast Food, Big Techs, empresas de consultoria e auditoria, ONGs legitimamente importantes, essa estrutura deveria fornecer comodidade, tecnologia, preço dezenas de benefícios para garantir a dependência do país e dos consumidores a seus produtos.

Imagine a importância de um McDonald’s, Coca Cola, IPhone, Microsoft, Google, Redes Sociais, aplicativos de geolocalização para uma Operação Clandestina, seja para área operacional ou para sua logística. Já imaginou que autoridade policial pararia um caminhão da Coca Cola ou do McDonald’s? O que poderia ter dentro, pessoas, armas, drogas, munições?

Documentários americanos inclusive destacam bem as várias ações ao longo de sua história [5], bem como seu orçamento secreto e fora de escrutínio do congresso é essencial para o êxito institucional e operacional [6].

O próprio jornal Washington Post publicou [7] há 34 anos que a CIA organizou um Exército secreto em 1950 na Europa Ocidental e em diversos países da OTAN, uma verdadeira força paramilitar criada para resistir à ocupação soviética, denominada Operação Gládio.

Ainda em 1950 temos o sucesso das operações da CIA na Coréia do Sul, seja na vigilância das tropas chinesas, seja na Batalha de Inchon onde as forças da ONU recapturaram Seul, revertida novamente pela contra ofensiva chinesa.

No ano de 1953 sob a diretoria da CIA pelo advogado Allen Dulles (1953-1961), com forte ligações com o setor corporativo e financeiro americano é que se moldaram o caráter interventor, transformando a agência em um braço executivo das ambições hegemônicas dos EUA, embora sob sua gestão sucessos ocorreram como nos golpes de Estado no Irã e na Guatemala e o cópia do discurso de Khruschev em 1956, teve a infelicidade de ver uma aeronave U-2 cair na União Soviética.

Em 1953 temos o envolvimento da CIA sob a administração Dwight Eisenhower no golpe de Estado que derrubou o primeiro-ministro iraniano Mohammad Mossadegh, após a nacionalização da Anglo-Iranian Oil Company em 1951, em apoio a Grã-Bretanha.

A Operação Timber Sycamore

A análise de documentos desclassificados destaca o papel criminoso que a CIA patrocinou na Guerra Civil na Síria ainda está para ser revelada, sua história, todavia, não começou agora.

É o que afirma em artigo assinado por Martin Berger [8] que visava derrubar os oficiais eleitos da Síria por meio do treinamento contínuo e do apoio fornecido a todos os tipos de militantes radicais.

Segundo o autor, sob o acordo, os sauditas contribuem com armas e grandes somas de dinheiro, e a CIA assume a liderança no treinamento dos rebeldes em rifles de assalto AK-47 e mísseis destruidores de tanques. Além disso, Turquia, Jordânia e Catar estão todos envolvidos neste projeto criminoso, embora as quantias exatas de dinheiro que os estados acima mencionados entregaram à CIA sempre permanecerão em segredo. Ainda assim, o New York Times afirma que a Arábia Saudita tem sido o principal patrocinador durante todo esse tempo, alocando bilhões de dólares em uma tentativa de derrubar o governo de Bashar al-Assad.

A recente derrubada do governo Sírio, especialmente a família Assad teve início em 1996 [9] com apoio à Israel pelos EUA e Inglaterra via CIA e MI-6 e depois com a eclosão dos protestos da Primavera Árabe, em 2011, quando a CIA e o Mossad identificaram uma oportunidade para enfraquecer Assad e redesenhar o mapa político da região em favor de seus interesses. A partir desse ponto, os Estados Unidos e “Israel” intensificaram suas atividades na Síria, buscando fortalecer grupos rebeldes e desestabilizar o regime.

O controle do território Sírio data do império Otomano e abrangia região que representa hoje a atual Síria, Jordânia, Líbano, Israel, Palestina e Iraque, uma área geograficamente também conhecida como Levante, ao fim da 1ª Guerra Mundial, ingleses e franceses já negociavam para um possível desmembramento do Império.

As negociações levaram ao Acordo de Sykes-Picot em 1916, em que a Grã-Bretanha ficaria com o Iraque e Palestina, enquanto a França teria o Líbano e a Síria além do interesse econômico (petróleo e grãos) e de ter ingressado na Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2001, serve a interesses militares, pela proximidade com o Irã e Rússia para alcance da Força Aérea e base militar para realização de ataques de mísseis, seja para a OTAN ou para Israel, o corredor do Cinturão Econômico da Rota da Seda [10] advindo do Memorando de Entendimento Síria-China, assinado em 13 de janeiro de 2022, o fluxo de armas do Hezbollah e do Hamas.


Acordo Sykes-Picot (Radio Free Europe/Radio Liberty).

Desde o início do conflito, a CIA implementou programas secretos para armar e treinar combatentes rebeldes contrários ao governo de Assad. Em 2013, foi lançada a operação Timber Sycamore, que envolveu o envio de armas e recursos financeiros a grupos armados [11].

Para se aprofundar o tema, destaque-se o vídeo do comandante Robinson Farinazzo [12] sobre as Operações Secretas do professor Paulo Fernando na Segunda Guerra de 15 de fevereiro de 2025, merecem estudo complementar, sobre a engenhosidade americana e inglesa para buscar ações surpresas contra a Alemanha.

Gestão de ações secretas na presidência Truman

A preocupação do governo Truman com a “guerra psicológica” soviética levou o novo Conselho de Segurança Nacional a autorizar, no NSC 4–A de dezembro de 1947, o lançamento de operações de ação secreta em tempos de paz. O NSC 4–A tornou o Diretor de Inteligência Central responsável pela guerra psicológica, estabelecendo ao mesmo tempo o princípio de que a ação secreta era uma função exclusivamente do Poder Executivo. A Agência Central de Inteligência (CIA) certamente foi uma escolha natural, mas recebeu essa função, pelo menos em parte, porque a Agência controlava fundos não garantidos, pelos quais as operações poderiam ser financiadas com risco mínimo de exposição em Washington ou gerando a negação plausível.

O NSC 10/2 instruiu a CIA a conduzir operações “secretas” em vez de meramente “psicológicas”, definindo-as como todas as atividades “que são conduzidas ou patrocinadas por este Governo contra estados ou grupos estrangeiros hostis ou em apoio a estados ou grupos estrangeiros amigos, mas que são tão planejadas e executadas que qualquer responsabilidade do Governo dos EUA por elas não é evidente para pessoas não autorizadas e que, se não forem cobertas, o Governo dos EUA pode plausivelmente se isentar de qualquer responsabilidade por elas”.

O tipo de atividades clandestinas enumeradas sob a nova diretiva incluía: propaganda; guerra econômica; ação direta preventiva, incluindo sabotagem, demolição e medidas de evacuação; subversão contra estados hostis, incluindo assistência a movimentos de resistência clandestinos, guerrilhas e grupos de libertação de refugiados, e apoio a elementos anticomunistas indígenas em países ameaçados do mundo livre. Tais operações não devem incluir conflito armado por forças militares reconhecidas, espionagem, contraespionagem e cobertura e engano para operações militares.

Ressalte-se que o presidente Nixon em 1970 instruiu o DCI a promover um golpe de estado contra o presidente chileno Salvador Allende sem a coordenação ou aprovação do Comitê [13].

Legado sombrio: as táticas da Operação Condor ressurgem nas políticas modernas

O legado sombrio da Operação Condor, a campanha de repressão política e terror de Estado orquestrada por regimes apoiados pelos EUA na América Latina durante a Guerra Fria, encontra ecos assustadores na geopolítica contemporânea. Hoje, os Estados Unidos empregam estratégias semelhantes de desestabilização, coerção e formação de alianças para combater adversários percebidos, especialmente em suas ações em relação à Ucrânia, China e Rússia.

Na Ucrânia, os EUA apoiaram mudanças de regime e fortaleceram facções nacionalistas para conter a influência russa, lembrando o apoio dado a regimes autoritários durante a Operação Condor. Os protestos do Euromaidan em 2014, que levaram à queda de um governo pró-Rússia, foram fortemente influenciados pelo apoio ocidental, espelhando as intervenções secretas do passado.

Da mesma forma, os EUA cercaram a China e a Rússia por meio de sanções econômicas, alianças militares como a OTAN e a expansão de parcerias no Indo-Pacífico. Essas táticas ecoam as estratégias de isolamento e pressão usadas contra movimentos de esquerda na América Latina. O objetivo permanece o mesmo: enfraquecer e conter rivais ideológicos.

No entanto, a versão moderna dessas estratégias é mais sofisticada, aproveitando tecnologia, guerra de informação e ferramentas econômicas. Ainda assim, o princípio subjacente persiste, manter a hegemonia por quaisquer meios necessários. A sombra da Operação Condor permanece grande, um lembrete de como táticas históricas são reaproveitadas para servir às lutas de poder contemporâneas.

Ecos de repressão: a influência da Operação Condor nas estratégias de segurança contemporâneas

O fantasma da Operação Condor, uma colaboração sinistra entre ditaduras da Guerra Fria para eliminar dissidências, ainda assombra os corredores do poder moderno. Suas táticas brutais, vigilância, sequestro, tortura e assassinato, foram outrora ferramentas de repressão na América Latina, mas seus ecos agora ressoam nas estratégias de segurança atuais.

Em uma era onde as lutas pelo poder global migraram dos campos ideológicos para a guerra cibernética e a coerção econômica, os métodos da Operação Condor foram reformulados para o século XXI. Governos e agências de inteligência, especialmente aqueles alinhados aos interesses dos EUA, empregam táticas semelhantes sob o pretexto de segurança nacional. De programas de vigilância em massa a assassinatos seletivos de adversários políticos por meio de drones, o manual de operações permanece perturbadoramente familiar.

As campanhas lideradas pelos EUA no Oriente Médio, por exemplo, espelham as operações secretas do passado, onde mudanças de regime e a supressão da oposição eram justificadas como necessárias para a estabilidade. Da mesma forma, o uso de forças proxies e sanções econômicas para desestabilizar nações como Venezuela ou Irã relembra as alianças formadas durante a Operação Condor para esmagar movimentos de esquerda.

Até mesmo na era digital, os princípios da repressão persistem. Campanhas de desinformação, ciberataques e a weaponização de dados são extensões modernas da guerra psicológica outrora travada pelos operadores da Condor. Os alvos podem ter mudado, mas o objetivo permanece o mesmo: silenciar dissidências e manter o controle.

Enquanto navegamos por esse novo cenário, a sombra da Operação Condor serve como um alerta sombrio de que as ferramentas da repressão nunca são verdadeiramente abandonadas — apenas adaptadas. A questão é: até onde estamos dispostos a ir em nome da segurança antes que a história se repita?

Sombras do passado: a persistência das práticas da Operação Condor no mundo atual

A Operação Condor, uma rede clandestina de repressão política que assolou a América Latina nas décadas de 1970 e 1980, deixou um legado de terror e violência que ainda hoje projeta suas sombras sobre o mundo. Sob o pretexto de combater a “ameaça comunista”, regimes autoritários, com o apoio dos Estados Unidos, coordenaram perseguições, torturas, desaparecimentos e assassinatos de opositores políticos. No entanto, longe de ser um capítulo encerrado da história, as práticas da Operação Condor ressurgem, adaptadas aos novos tempos, nas estratégias de segurança e controle do mundo contemporâneo.

No cenário global atual, a lógica da repressão sistemática e da supressão de dissidências persiste, embora com roupagens modernas. A vigilância em massa, facilitada pela tecnologia, substituiu os informantes de outrora. Drones e ataques cibernéticos assumiram o lugar dos esquadrões da morte. E as sanções econômicas, usadas para asfixiar nações inteiras, tornaram-se uma forma sofisticada de coerção política.

Um exemplo claro dessa continuidade pode ser visto nas intervenções militares e políticas dos Estados Unidos e seus aliados em regiões como o Oriente Médio e a Ásia Central. A justificativa de “promover a democracia” ou “combater o terrorismo” muitas vezes esconde uma agenda de controle geopolítico, reminiscente da retórica usada para justificar as atrocidades da Operação Condor. Da mesma forma, a perseguição a jornalistas, ativistas e líderes políticos que desafiam o status quo ecoa os métodos brutais empregados contra os dissidentes do passado.

Na América Latina, onde a Operação Condor deixou feridas profundas, ainda há relatos de abusos de poder, violência estatal e criminalização de movimentos sociais. A militarização da segurança pública e a crescente influência de agências de inteligência estrangeiras sugerem que as lições do passado não foram plenamente aprendidas.

Enquanto isso, em nível global, a ascensão de governos autoritários e a erosão das liberdades civis em nome da “segurança nacional” mostram que as práticas da Operação Condor não estão confinadas ao século XX. Elas foram atualizadas, integradas a um sistema de controle mais complexo e difuso, mas não menos perigoso.

As sombras do passado nos lembram que a luta por justiça, memória e verdade é mais urgente do que nunca. A Operação Condor não foi um evento isolado, mas um modelo de repressão que, se não confrontado, continuará a se repetir. Cabe a nós desvendarmos essas sombras e garantir que o passado não se torne o futuro.

A relação entre a USAID (United States Agency for International Development) e a Operação Condor

Em tese de doutoramento sobre Agência Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID), Marinho informa que a Agência é subordinada ao Departamento de Estado dos EUA e teve papel preponderante na área civil e militar do Brasil entre 1964 e 1972 no âmbito da Polícia Federal, comportando-se como um braço da CIA, fornecendo estrutura física, material e intelectual como primeira linha de defesa contra o comunismo, contenção e repressão contra atividades tidas como “subversivas”.

David Marinho explica mais em sua tese de doutoramento para a UFPE [14] sobre a USAID no Memorando Confidencial nº 627, de 23 de janeiro de 1961 da preocupação com a renúncia de Jânio Quadros e a ascensão de João Goulart, disponível no site da The JFK Library and Museum, cuja medida de contenção da elite foi a implementação do sistema parlamentarista de governo, ou seja, sob o verniz da legalidade rebaixa-se os opositores à condição de Primeiro-Ministro.


FIGURA 1: Memorando Confidencial 627 de 23 de janeiro de 1961 (John F. Kennedy Presidential Library and Museum).

O autor conclui sua tese afirmando:

• O Brasil é reconhecido nos relatórios, memorandos e telegramas como um dos países americanos com maior potencial geopolítico e como rota de desenvolvimento econômico, político, e social do hemisfério. Daí a necessidade de controlar um estado periférico da envergadura do Brasil – ideal ao capitalismo central –, que fosse capaz de servir de modelo a uma política educacional produtivista no cenário latino-americano e conseguisse difundir os possíveis resultados e supostos benefícios dessa intervenção.

• Que alguns aspectos imanentes aos relatórios merecem destaque no curso das considerações conclusivas. Preliminarmente, é fato que o departamento de Estado dos EUA vinha interferindo sistematicamente nas questões políticas, econômicas e sociais do Brasil. A USAID, na condição de órgão subordinado, pertencente à administração direta, deveria adotar as diretrizes definidas pelo Departamento e responder obrigatoriamente a essa linha hierárquica.


FIGURA 2: Relatório secreto da CIA sobre Tendências Políticas, Militares e Econômicas do Brasil.

Com efeito, a relação entre a USAID (United States Agency for International Development) e a Operação Condor é um tema complexo e controverso, que revela como instituições aparentemente dedicadas ao desenvolvimento e à assistência humanitária podem estar envolvidas em agendas políticas e estratégicas mais obscuras. Durante a Guerra Fria, a USAID, criada em 1961 pelo governo dos Estados Unidos, foi frequentemente utilizada como uma ferramenta de soft power para promover os interesses americanos no exterior, especialmente em regiões consideradas vulneráveis à influência comunista, como a América Latina.

A USAID e o Contexto da Guerra Fria

A USAID foi oficialmente criada para fornecer ajuda econômica e assistência técnica a países em desenvolvimento, com o objetivo declarado de combater a pobreza e promover a democracia. No entanto, durante a Guerra Fria, sua atuação muitas vezes se entrelaçou com os esforços de inteligência e segurança dos EUA, especialmente em países onde movimentos de esquerda ganhavam força. Na América Latina, a USAID trabalhou em conjunto com outras agências, como a CIA, para apoiar governos e grupos alinhados aos interesses americanos, enquanto minava regimes ou movimentos considerados socialistas ou comunistas.

A conexão com a Operação Condor

A Operação Condor, uma rede clandestina de repressão política coordenada por ditaduras militares na América Latina (como Argentina, Brasil, Chile, Paraguai, Uruguai e Bolívia) durante as décadas de 1970 e 1980, tinha como objetivo eliminar opositores políticos, especialmente esquerdistas, em uma campanha transnacional de terror de Estado. Os Estados Unidos, por meio de suas agências, incluindo a CIA e, indiretamente, a USAID, desempenharam um papel significativo no apoio a essas ditaduras, fornecendo recursos, treinamento e inteligência.

Embora a USAID não estivesse diretamente envolvida nas operações de repressão e assassinato da Operação Condor, sua atuação em países latino-americanos durante esse período frequentemente serviu para fortalecer regimes autoritários que participavam da rede. Por exemplo:

• Apoio a Regimes Autoritários: A USAID forneceu assistência econômica e técnica a governos como o do Chile sob Augusto Pinochet e da Argentina durante a ditadura militar, ajudando a legitimar esses regimes internacionalmente.

• Projetos de Controle Social: Em alguns casos, os programas da USAID foram usados para monitorar e controlar populações, especialmente em áreas rurais onde movimentos guerrilheiros ou esquerdistas eram ativos.

• Integração com a CIA: Houve sobreposição entre as atividades da USAID e as operações de inteligência dos EUA. Em alguns países, funcionários da USAID atuaram como “capa” para agentes da CIA, que colaboravam com as forças de segurança locais na repressão a dissidentes.

A dualidade da USAID

A USAID é uma instituição com múltiplas faces. Por um lado, ela desenvolveu projetos legítimos de ajuda humanitária, combate à pobreza e promoção da educação. Por outro, sua atuação durante a Guerra Fria, especialmente na América Latina, mostra como ela foi instrumentalizada como parte de uma estratégia maior de contenção do comunismo, muitas vezes à custa de violações dos direitos humanos.

O legado controverso

A conexão entre a USAID e a Operação Condor é um lembrete de como instituições de ajuda internacional podem ser cooptadas para fins políticos e estratégicos. Enquanto a USAID continua a desempenhar um papel importante em crises humanitárias ao redor do mundo, seu histórico na América Latina durante a Guerra Fria levanta questões éticas sobre o uso de ajuda externa como ferramenta de controle geopolítico.

Em resumo, a relação entre a USAID e a Operação Condor não é direta, mas sim parte de um contexto mais amplo em que a assistência internacional foi utilizada para apoiar regimes repressivos e promover os interesses dos EUA durante a Guerra Fria. Essa história serve como um alerta sobre os riscos de instrumentalizar a ajuda humanitária para fins políticos, um debate que permanece relevante até os dias atuais.

A Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) está envolvida no desenvolvimento de armas biológicas na Ucrânia.

Isto foi afirmado recentemente pela representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova [15].

São suas as palavras: “Com a chegada de Trump ficou claro que essa organização havia feito muitas coisas desagradáveis. Por exemplo, ela está envolvida no financiamento da importação de migrantes para a Federação Russa. Elon Musk também acusou anteriormente a USAID de financiar o desenvolvimento de armas biológicas, incluindo os patógenos da covid-19. A propósito, ela também patrocinou o Maidan de Kiev e os recentes protestos na Geórgia. Interrompeu as eleições na Romênia. Durante sua existência, realizou dezenas de golpes de estado e fez muitas outras coisas”.

Como os fatos ainda estão sendo integralmente apurados, alguns juízos de valor podem a posteriori serem alterados, pro bem ou para o mal.

Considerações finais

O presente artigo explorou a continuidade histórica das Operações de inteligência e espionagem da CIA, desde as Operações Gládio, Timber Sycamore e Condor e sua imbricação com a ONG internacional USAID, objeto de escândalos e crimes de financiamento de Golpes de Estado, assassinatos seletivos, terrorismo de Estado, revoluções coloridas etc., revelados na auditoria governamental da atual administração de Donald Trump, traz consigo a solene advertência: o histórico de envolvimento da CIA como representante máximo do “Estado Profundo” dos EUA em todo o mundo requer mais uma vez a necessidade de soluções nacionais para vulnerabilidades estratégicas nas áreas tecnológicas e financeiras, dentre as outras citadas, para a necessária promoção da soberania nacional e independência econômica do país.

O artigo descortinou a continuidade histórica das Operações da CIA de desestabilização e golpes de Estado com parceria da USAID por todo o mundo e como práticas do passado estão sendo replicadas ou adaptadas no contexto contemporâneo da Ucrânia, Oriente Médio e América Latina.

Ressaltamos que o presente choque de gerações exige dos analistas sobre geopolítica e assuntos militares expor de forma o mais imparcial possível a realidade da luta do povo oprimido contra o imperialismo, a relação capital-trabalho, que, desconsiderando os impactos sociais, econômicos e psicológicos contra as classes menos favorecidas, não promove a distribuição equitativa da riqueza nacional enquanto justiça distributiva e corretiva e Objetivos Nacionais Permanentes, reduzindo as desigualdades sociais, ao revés, promove atos de terrorismo de Estado, corrupção e intervenção na soberania de outros países.


*Carlos A. Klomfahs é advogado, especialista em Direito Internacional dos Conflitos Armados, egresso curso de geopolítica da ECEME e estratégia marítima da Escola de Guerra Naval. É mestrando na Escola Superior de Guerra.


Notas

[1] Veja mais em ENTRE O SABER E O SEGREDO: uma leitura realista da tolerância da espionagem internacional na era do medo. Humberto Alves de Vasconcelos Lima. UFMG. 2017.

[2] https://www.cia.gov/about/.

[3] https://www.youtube.com/watch?v=Vx21qLSGERw&t=186s.

[4] Veja mais em: https://warfarehistorynetwork.com/article/cold-war-spies-general-reinhard-gehlen/.

[5] Vale a pena assistir o canal no YouTube Eyes Wide Open:  https://www.youtube.com/watch?v=G7PIZYi6k6A.

[6] https://centredelas.org/actualitat/el-gasto-militar-de-estados-unidos/?lang=es.

[7] https://www.washingtonpost.com/archive/politics/1990/11/14/cia-organized-secret-army-in-western-europe/e0305101-97b9-4494-bc18-d89f42497d85/.

[8] https://www.mintpressnews.com/operation-timber-sycamore-washingtons-secret-war-syria/222692/.

[9] Veja mais em Operação Timber Sycamore: A Destruição da Síria, do professor Pitillo:  https://www.youtube.com/watch?v=gy529etDjao.

[10] https://pcdob.org.br/noticias/siria-incorpora-se-a-iniciativa-chinesa-de-comercio-rota-da-seda/.

[11] https://causaoperaria.org.br/2024/como-a-cia-e-o-mossad-derrubaram-o-governo-de-assad-na-siria/.

[12] https://www.youtube.com/watch?v=SWBqOZ8qx8Q.

[13] https://history.state.gov/historicaldocuments/frus1969-76ve09p1/notes.

[14] Veja mais em https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/56631/1/TESE%20David%20Glasiel%20de%20Azevedo%20Marinho.pdf.

[15] https://www.pravda.ru/world/2178817-usaid-chto-eto-takoe/.

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