Ucrânia: um passo em direção à escalada?

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O presidente russo, Vladimir Putin (Gavriil Grigorov/Gabinete de Imprensa e Informação Presidencial Russo).

O presidente russo, Vladimir Putin (Gavriil Grigorov/Gabinete de Imprensa e Informação Presidencial Russo).

O ataque russo com o míssil Oreshnik em território da Ucrânia foi uma mensagem estratégica da Rússia aos países ocidentais.


Em plena preparação para a mudança de governo nos Estados Unidos, frente às promessas de Trump de acabar com a guerra na Ucrânia “dentro de 24 horas”, Joe Biden autorizou o uso de mísseis, segundo o New York Times e outros meios de comunicação. Desta forma, a Ucrânia terá a capacidade de atingir objetivos mais profundos dentro do território russo. Uma decisão controversa e incomum para um presidente cessante e que, segundo o NYT, teria causado “divisões” entre os próprios conselheiros da Casa Branca.

Os receios de escalada são mais do que fundados, basta lembrar o que disse o presidente russo Vladimir Putin sobre esta eventualidade: “Se esta decisão for adotada, significará nada menos do que a participação direta dos países da OTAN, dos Estados Unidos e dos países europeus na guerra na Ucrânia. Esta participação direta irá obviamente alterar significativamente a própria natureza deste conflito.

Como isso afeta o campo

Como essa mudança afeta militarmente o campo de batalha? Será que o avanço da Rússia no leste da Ucrânia irá parar agora?

A permissão dos americanos poderá “significar uma mudança de paradigma com consequências de longo alcance” para os próximos meses, dizem alguns analistas ocidentais. Mas é muito importante considerar que os possíveis efeitos no curso da guerra dependem do alcance e da capacidade dos sistemas de armas utilizados.

Relatos da mídia norte-americana indicam que Biden inicialmente deu permissão para o sistema ATACMS na versão de curto alcance com alcance de 165 km. “Isto indica uma operação na área de Kursk, entre outras coisas contra concentrações de tropas russas, e significaria que os EUA pretendem permitir que a Ucrânia retenha os territórios russos ocupados durante o maior tempo possível”, dizem fontes ocidentais. O objetivo final, e a esperança do Ocidente, desta autorização arriscada é que, dizem: “Isto melhoraria a potencial posição negocial da Ucrânia e não levaria necessariamente a uma escalada, algo que os Estados Unidos sempre evitaram até agora.

De acordo com nossa análise, esta opinião é questionável.

Um passo para a escalada?

Os ATACMS (Army Tactical Missile System) são mísseis guiados de longo alcance com alcance máximo de 300 km (este não seria o caso com esta autorização). Projetados pela Lockheed Martin, os ATACMS são lançados a partir de sistemas de artilharia móvel, como o M270 Multiple Launch Rocket System (MLRS) e o M142 High Mobility Artillery Launcher System (HIMARS). Serão inicialmente utilizados contra tropas russas e norte-coreanas na região de Kursk, segundo fontes citadas pelo New York Times.

Em outras análises lemos que embora os mesmos responsáveis ​​citados admitam que “não esperam que esta medida altere radicalmente o curso da guerra”, não está excluído que Biden possa permitir a utilização de mísseis dos EUA para lançar ataques não só na região de Kursk, mas também em outros locais. Radosław Sikorski, ministro dos Negócios Estrangeiros da Polônia, exulta nas redes sociais: “A entrada de soldados norte-coreanos no conflito e o bombardeio maciço de mísseis russos receberam uma resposta do residente Biden em uma linguagem que Putin compreende: a eliminação das restrições ao uso de armas ocidentais pela Ucrânia. A vítima de um ataque tem o direito de se defender. A força dissuade, a fraqueza provoca.” Biden não está sozinho: segundo o Daily Mail, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, declarou-se a favor de dar luz verde ao uso de mísseis Storm Shadow, assim como é a favor de aprovar o uso de mísseis de longo alcance. O mesmo que, como noticiou o Le Figaro, também fez o presidente francês, Emmanuel Macron.

O “ok” dos empreiteiros

Antes de dar lugar a Trump, a administração Biden está fazendo tudo o que pode para apoiar Kiev. Além da aprovação de dispositivos de longo alcance, nos últimos dias os Estados Unidos deram luz verde à utilização de empreiteiros militares americanos na Ucrânia. Segundo a CNN, a administração dos EUA levantou a proibição, permitindo ao Departamento de Defesa contratar particulares para manter veículos em território ucraniano. Um funcionário do Pentágono disse que os empreiteiros ficarão longe das linhas de frente e trabalharão exclusivamente no reparo de equipamentos americanos para permitir o rápido retorno à batalha.

Entretanto, o secretário de Estado, Antony Blinken, em uma reunião com o secretário-geral da OTAN, Mark Rutte, em Bruxelas, prometeu maior apoio à Ucrânia antes do final do mandato de Biden. Um compromisso que a administração cessante aparentemente decidiu respeitar, custe o que custar. Quem realmente se beneficia com a guerra na Ucrânia?


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• Rodolfo Laterza e Ricardo Cabral (Autores)
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A J.P. Morgan e a BlackRock, juntamente com a empresa de consultoria McKinsey & Company, estão trabalhando com o governo ucraniano para estabelecer um fundo de reconstrução. O objetivo deste fundo é atrair investimentos significativos para reconstruir o país, o que poderá custar entre 400 bilhões e um trilhão de dólares, segundo estimativas. Este fundo, conhecido como Fundo de Desenvolvimento da Ucrânia, utilizará uma abordagem de “financiamento misto” para mobilizar capital público e privado, centrando-se em setores prioritários como infraestruturas, clima e agricultura.

A recente parceria entre J.P. Morgan, BlackRock e McKinsey para reconstruir a Ucrânia realça a amarga ironia da atual situação geopolítica. Em um acordo que visa angariar centenas de bilhões de dólares para a reconstrução da Ucrânia devastada pela guerra, estes gigantes financeiros americanos posicionam-se agora como os salvadores econômicos de um país cuja destruição foi, em parte, facilitada por políticas e ações do setor financeiro, um mercado que eles próprios dominaram e moldaram.

Os Estados Unidos, através das suas políticas e intervenções externas, têm uma longa história de fomento da instabilidade em várias regiões do mundo. No caso da Ucrânia, a situação não é diferente. Desde o início da crise ucraniana, os interesses americanos eram claros: enfraquecer a Rússia e expandir a esfera de influência ocidental. A ironia torna-se ainda mais evidente quando consideramos que muitas das mesmas instituições financeiras agora chamadas a reconstruir a Ucrânia são as que se beneficiaram imensamente do conflito armado e da desestabilização dos mercados globais.

Como bem sabemos nestes pampas, o J.P. Morgan e a BlackRock são entidades profundamente enraizadas no sistema financeiro global, e ambos têm um histórico de financiamento de indústrias militares e de governos que perpetuam conflitos. A J.P. Morgan, por exemplo, tem uma longa história de envolvimento no financiamento de guerras e de regimes autoritários em todo o mundo. A BlackRock, por sua vez, como maior gestora de ativos do mundo, tem participações em praticamente todas as grandes empresas de defesa, que se beneficiam diretamente da produção de armas utilizadas em conflitos como o da Ucrânia.

Esta dicotomia é alarmante: as mesmas instituições que financiaram a destruição são agora celebradas como líderes da reconstrução.

Biden está minando o trabalho de Trump?

Hoje em dia lemos coisas assim nos meios de comunicação ocidentais: “O presidente Trump recebeu um mandato claro para acabar com a guerra na Ucrânia. Então, o que Biden está fazendo nos seus últimos dois meses de mandato? A situação está piorando enormemente. O seu objetivo é dar a Trump a pior situação possível?” pergunta David Sacks, ex-diretor do PayPal, fã de Donald Trump e muito próximo de Elon Musk. É isso ou trata-se simplesmente de uma tentativa desajeitada de salvar as aparências, quando especialistas e análises concordam que o destino de Kiev no conflito já foi decidido?

E qual será a reação da Rússia à autorização de Joe Biden para lançar armas de longo alcance? “Esta decisão dos EUA contrasta com a repetida ameaça de Putin de considerar a utilização de sistemas de armas ocidentais tão extensos em território russo como uma participação direta dos estados da OTAN no conflito e de se reservar o direito de tomar contramedidas”, analisa o coronel Reisner. O argumento que o chefe do Kremlin tem repetidamente apresentado publicamente é que a Ucrânia não tem capacidade técnica para programar objetivos e rotas e que uma operação deste tipo só pode ser possível graças a um país membro da OTAN. Repetimos: estas medidas são um passo para a escalada?

Nota no final deste artigo: Na anunciada escalada do conflito entre a Ucrânia e a Rússia, com os ataques com mísseis ocidentais contra a Rússia em 19 de novembro de 2024 a crise entre a Ucrânia e a Rússia atingiu um novo nível de tensão. As forças ucranianas confirmaram o uso de mísseis ATACMS fabricados nos EUA para atacar alvos militares localizados na região russa de Bryansk. Segundo fontes oficiais em Kiev, a operação teve como alvo infraestruturas estratégicas e causou danos militares significativos. Em resposta à ação, o presidente russo, Vladimir Putin, aprovou uma atualização da doutrina nuclear do país, introduzindo a possibilidade de utilização de armas nucleares em caso de ataques com mísseis convencionais por parte de potências nucleares.

As autoridades russas também acusaram os Estados Unidos de fornecerem o apoio necessário à utilização de mísseis avançados pela Ucrânia, interpretando-o como uma provocação direta. E a Rússia respondeu rapidamente: De acordo com The Economist: “O lançamento do Oreshnik significa que as ameaças nucleares do Kremlin estão aumentando.” O teste de combate do míssil balístico de médio alcance Oreshnik no território da Ucrânia foi a “mensagem estratégica” da Rússia para convencer os países ocidentais a absterem-se de intensificar sua participação no conflito ucraniano. A publicação observa que o “público-alvo” ao qual o discurso do presidente russo Putin se dirige foi a administração do presidente eleito dos EUA, Trump, que está “apenas formando sua abordagem ao conflito”. Moscou adverte, portanto, que poderá muito bem aumentar os riscos em resposta aos esforços militares de Kiev e do Ocidente. O próprio uso do Oreshnik tornou-se “parte de uma nova era de operações militares com mísseis”.


Publicado no La Prensa.

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