Boris Johnson, a Ucrânia e as Malvinas

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O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e o então primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, caminham pelo centro de Kiev, 9 de abril de 2022 (Presidência da Ucrânia/Wikimedia Commons/Domínio Público).

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e o então primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, caminham pelo centro de Kiev, 9 de abril de 2022 (Presidência da Ucrânia/Wikimedia Commons/Domínio Público).

Em 2022 a Ucrânia e a Rússia estavam à beira de um acordo de paz, sabotado por estados da OTAN que esperavam que uma guerra prolongada enfraqueceria a Rússia e, possivelmente, a desestabilizaria.


A guerra na Ucrânia será uma fonte de estudo para os historiadores durante as próximas décadas. Ainda hoje, dois anos e meio depois, estamos começando a ver pesquisas sobre alguns dos grandes momentos que caracterizaram os primeiros dias do conflito, e que esclarecem o confuso emaranhado de notícias que surgiram na época. Analistas militares, por exemplo, já foram capazes de reconstruir algumas das batalhas mais críticas dos primeiros dias de guerra.

Um estudo, publicado na semana passada pelo historiador Sergey Radchenko e pelo cientista político Samuel Charap, concentra -se nas negociações de paz pouco compreendidas, mas fundamentais, que se desenvolveram entre a Rússia e a Ucrânia na primavera de 2022 para pôr um fim ao conflito.

Essas negociações, ocorridas principalmente em Istambul, tornaram-se o foco dos críticos de guerra nos Estados Unidos, que muitas vezes argumentam que o Ocidente, e em particular o então primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, sabotou essas negociações e impediu um cessar-fogo bem sucedido. Vladimir Putin continuaria a formular um argumento semelhante em sua entrevista com Tucker Carlson.

Presença de Johnson

Boris Johnson, aquele personagem que visitou recentemente a Argentina, interveio dramaticamente na guerra da Ucrânia. Além de travar as negociações de paz em 2022, hoje em dia exerce pressão sobre Keir Starmer e Joe Biden para permitir que Kiev use mísseis de longo alcance contra a Rússia.

Na escalada que se aproxima, o presidente russo, Vladimir Putin, ameaçou a OTAN com guerra se permitir o uso de tais armas contra a Rússia. O ex-primeiro-ministro britânico Boris Johnson disse que as restrições devem ser levantadas “o mais rápido possível” horas depois de se encontrar com Volodymyr Zelensky em Kiev.

Em uma aparente zombaria de outros políticos ocidentais, o presidente ucraniano twittou que estava “agradecido” pelo apoio de Johnson e acrescentou: “Os ucranianos sempre se lembram daqueles que os apoiam.

O principal ex-assessor de Boris Johnson, Dominic Cummings, lançou há alguns dias um duro ataque contra o apoio ocidental à Ucrânia.

Em uma entrevista ao periódico I, Cummings, que liderou a campanha do “Vote Leave Brexit” e lutou espetacularmente com Johnson em 2020, declarou que o Ocidente “nunca deveria ter entrado em toda essa situação estúpida” e disse que as sanções contra a Rússia tiveram um maior impacto na política europeia do que em Moscou (uma questão que já mencionamos no artigo da semana passada).

O ex-assessor criticou fortemente o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e o comparou com a Segunda Guerra Mundial. “Esta não é uma repetição de 1940 com Zelensky como o perdedor churchilliano”, disse ele.

Este estado ucraniano mafioso e corrupto basicamente nos enganou a todos e todos acabaremos fodidos como consequência. Eles estão nos fodendo agora, certo?

Ele também argumentou que a guerra apenas fortaleceria o relacionamento entre a Rússia e a China, dizendo que as nações ocidentais “pressionaram (a Rússia) para uma aliança com o maior poder manufatureiro do mundo”.

Cummings há muito critica o apoio da Ucrânia, uma posição que o coloca em desacordo acentuado com seu ex-chefe Johnson, defensor declarado de Zelensky e do esforço de guerra da Ucrânia. Ele disse ao jornal que o Ocidente não havia enviado ao presidente russo, Vladimir Putin, um sinal valioso que o dissuadisse de invadir outro país.

Modus operandi

É cada vez mais difícil negar que a guerra na Ucrânia poderia ter terminado apenas alguns meses após a invasão russa e que os governos dos Estados Unidos e do Reino Unido trabalharam para impedir que isso acontecesse.

Repetidamente mencionamos como Margaret Thatcher “afundou” o cessar-fogo alcançado, a pedido do presidente peruano Fernando Belaúnde Terry em 1982, ordenando o ataque ao cruzador General Belgrano (esse fato é documentado devidamente no livro Malvinas: Cinco dias decisivos, de José Enrique García Enciso e Benito Rotolo.


LIVRO RECOMENDADO:

Malvinas: cinco días decisivos

• Benito I Rotolo e José Enrique García Enciso (Autores)
• Em espanhol
• Capa comum


A análise de diferentes fatos históricos demonstra uma constante no modus operandi da Grã-Bretanha, para satisfazer seus interesses em sangue e fogo.

Portanto, acreditamos que a “sabotagem” dos acordos de paz de 2022, tem a mão britânica e os dedos de Boris Johnson.

A última corroboração foi dada por David Arakhamia, o líder parlamentar do partido de Zelensky “Servidor do Povo”, que chefiou a delegação ucraniana nas conversas de paz com Moscou. Arakhamia disse à jornalista Natalia Moseichuk em uma recente entrevista televisionada que “O objetivo da Rússia era nos pressionar para que aceitássemos a neutralidade”. Ou seja, que a Ucrânia estava comprometida a não ingressar na OTAN e que “eles estavam dispostos a encerrar a guerra se nós aceitássemos a neutralidade”.

Havia várias razões pelas quais as negociações finalmente falharam, disse ele, incluindo a necessidade de mudar a Constituição Ucraniana (que havia sido alterada em fevereiro de 2019 para consagrar as aspirações do país à OTAN) e o fato de Johnson ter ido a Kiev para informar as autoridades ucranianas que o Ocidente não assinaria nenhum acordo com Moscou e, em vez disso, pediu: “simplesmente lutemos”.

Arakhamia também disse que a falta de confiança de Kiev de que a Rússia cumpriria sua parte do acordo significava que o acordo de paz “só poderia ser realizado se houvessem garantias de segurança”, sugerindo, indiretamente, que as negociações poderiam ter frutificado se houvessem recebido apoio e participação dos estados da OTAN.

O fornecimento de garantias de segurança para a Ucrânia pelos governos ocidentais, tem sido há muito tempo parte do debate sobre como garantir a sustentabilidade de um acordo de paz no pós-guerra e, de fato, o próprio Arakhamia revelou na mesma entrevista que “os aliados ocidentais nos aconselharam a não aceitar garantias de segurança efêmeras”.

A entrevista corrobora as declarações relatadas pela primeira vez, em maio de 2022, pela mídia Ukrainska Pravda, amplamente alinhada com o Ocidente, que relatou que Boris Johnson disse ao presidente ucraniano Volodymyr Zelensky que o Ocidente não apoiaria nenhum acordo de paz, independentemente de o que a Ucrânia queria, e que eles preferiam continuar lutando contra o presidente russo Vladimir Putin, já que ele era menos poderoso do que eles pensavam.

À beira da paz

Tudo isso dá mais peso a várias histórias que, nos últimos 21 meses, afirmam que a Ucrânia e a Rússia estavam à beira da paz, mas que foram bloqueadas por alguns estados da OTAN ansiosos por uma guerra prolongada que enfraqueceria a Rússia e, possivelmente, a desestabilizaria.

A ex-funcionária da Segurança Nacional Americana Fiona Hill informou que as duas partes haviam chegado a uma tentativa de acordo de paz no mesmo mês da visita surpresa de Johnson a Kiev, enquanto o ex-chanceler alemão Gerhard Schroeder, ex-primeiro-ministro israelense Naftali Bennett e vários funcionários turcos, todos eles envolvidos em vários momentos nas conversas, disseram que as autoridades da OTAN travaram ou prejudicam as negociações.

Para completar a imagem do recente visitante, devemos enfatizar que, durante sua administração em Downing Street, Johnson insistia – em todas as oportunidades que teve – que as Malvinas pertencem ao Reino Unido, a ponto de ameaçar enviar o Exército inglês para as ilhas.

Lembremos que Johnson não cumpre funções públicas; Ele deixou o Parlamento depois que uma comissão de investigação descobriu que ele, como ministro, traiu deliberadamente os legisladores em relação ao “Partygate” e tentou “intimidar e abusar” dos deputados encarregados da investigação.

E a Guerra da Ucrânia continua a se aproximar dos 1.000 dias. Depois do verão, a lama volta. Durante dias, chove cada vez mais no leste da Ucrânia e, nos próximos dias e semanas, os meteorologistas preveem o início da infame temporada de barro. A guerra longa, irrestrita e de desgaste continua. Enquanto isso, a Grã-Bretanha ainda não pretende reconhecer a soberania da Argentina sobre as Ilhas Malvinas e o Atlântico Sul.

Como argentino, acho muito difícil não fazer paralelos e levantar minhas dúvidas e preocupações. Quem quiser entender, que entenda…


Publicado no La Prensa

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