Forças Armadas brasileiras devem estar preparadas para assegurar a proteção contínua dos distintos biomas do país.
As doutrinas para a organização, preparo e serviço operacional de tropas tendem a evoluir mais rapidamente no decorrer das guerras, devido à premência de proteção contra as ameaças existentes. O desenvolvimento de táticas, estratégias e novos materiais advém das necessidades de adaptações operativas impostas pelos grandes conflitos. A título exemplificativo, do final do século XIX ao término da Grande Guerra, alemães e franceses estiveram entre as maiores potências bélicas mundiais.
Pelo exposto, nos últimos anos da década de 1900, oficiais brasileiros se apropriaram de experiências de guerra baseadas em uma Missão Militar Alemã. Sequencialmente, em 1919, o Brasil contratou uma Missão Militar Francesa, recebendo técnicas de operações, como defensivas, além de equipamentos e armamentos mais modernos. Em ambos os casos, a finalidade foi adotar novos métodos de combate, além de materiais, a partir dos conhecimentos de nações mais experimentadas nas adversidades das guerras contemporâneas.
Posteriormente, na Segunda Guerra Mundial, a partir da formação da Força Expedicionária, o Brasil passou a incorporar a doutrina de combate estadunidense. Esta nação emergiu e persiste na condição de superpotência bélica mundial desde o século XX. No presente, a supracitada influência perdura sobre as Forças Armadas brasileiras, apesar do compartilhamento de tecnologias e das aquisições de meios de emprego militar junto a outros países, como no caso das aeronaves de caça suecas F-39 Gripen.
LIVRO RECOMENDADO:
Exército Brasileiro: Perspectivas interdisciplinares
• Fernando da Silva Rodrigues e Tássio Franchi (Organizadores)
• Em português
• Capa comum
Ademais, o território brasileiro possui dimensões continentais e especificidades que o tornam, sobretudo, um amplo espaço que demanda o desenvolvimento de adestramento para distintas categorias de tropas. Nesse ínterim, doutrinas profissionais próprias e independentes são fundamentais para a garantia da soberania. Entre as áreas existentes no Brasil, é pertinente destacar biomas como a montanha, a selva, o pantanal e a caatinga.
No contexto operacional, o terreno montanhoso exige especial atenção à preparação das vias de acesso para os deslocamentos dos militares entre elevações de variadas alturas. Como exemplo pessoal, tive a oportunidade de integrar uma missão ao Pico da Neblina em 2010. Ele possui cerca de 3.000 m de altitude e está situado na região do país fronteiriça à Venezuela. É relevante ressaltar que o caminho ao cume é extenso, compreendendo da umidade dos socavões amazônicos até a friagem rigorosa do ambiente seco de montanha.
Em contraste, no sertão brasileiro, a caatinga é um espaço bastante peculiar para a profissão militar. Por suas características ela é inóspita e hostil, visto que os meios naturais para a sobrevivência do combatente são de restrita obtenção. Em razão dos baixos índices pluviométricos, das elevadas temperaturas e da aridez do solo, o aproveitamento da fauna e da flora local requer um adestramento militar específico.
Para a defesa e a segurança nacional, observa-se que as questões ambientais atuais tornam evidentes os riscos do país aos praticantes de ilícitos, diante de animais e vegetações silvestres singulares, zonas de desmatamento e garimpos ilegais. Logo, por suas particularidades e semelhanças, tanto na selva ou na caatinga, quanto na montanha ou no pantanal, a biodiversidade e outros recursos naturais potencializam a cobiça exploratória estrangeira. Por fim, para o emprego dos nossos oficiais e praças na defesa e segurança do Brasil, a doutrina de combate apropriada deve variar segundo a ameaça e o ambiente operacional considerado. Nesse sentido, espera-se que as Forças Armadas estejam preparadas para assegurar a proteção contínua dos nossos distintos biomas, independentemente dos equipamentos eventualmente importados ou da doutrina externa adaptada aos interesses nacionais.