Isfahan abriga uma base aérea e instalações associadas ao programa nuclear iraniano; por enquanto, o ataque foi confirmado apenas pelos EUA; um alto funcionário de Teerã teria dito que o Irã não tem planos de retaliação imediata.
Israel atacou o Irã na manhã de sexta-feira, horário local, aparentemente visando locais no oeste do país. Segundo a Aljazeera, o Irã disparou baterias de defesa aérea contra três drones sobre Isfahan. Explosões foram ouvidas na cidade, fazendo com que os voos comerciais se desviassem das suas rotas. Houve relatos de explosões também na Síria e no Iraque.
Funcionários dos Estados Unidos, sob condição de anonimato, disseram às redes americanas ABC, CBS e NPR, que Israel lançou um ataque “contra um local no Irã”; no entanto as Forças de Defesa de Israel (FDI) não comentaram até o momento.
A Aljazeera informou que os EUA disseram aos ministros das Relações Exteriores do G-7 que receberam informações de “última hora” de Israel sobre um ataque ao Irã, disse Antonio Tajani, ministro das Relações Exteriores da Itália. Ele disse a repórteres em Capri que os EUA forneceram as informações em uma sessão matinal alterada no último minuto para abordar o ataque. “Mas não houve compartilhamento do ataque por parte dos EUA. Foi uma mera informação.”
O ataque israelense seria uma retaliação ao ataque do Irã no fim de semana passado, quando Teerã lançou mais de 300 drones e mísseis contra Israel, por sua vez em retaliação ao ataque de 1º de abril ao consulado iraniano na Síria, amplamente atribuído a Israel.
A agência de notícias Fars do Irã informou por volta das 05h30, horário local, que explosões foram ouvidas em Qahjaverestão, a nordeste de Isfahan. Um alto oficial militar iraniano em Isfahan disse à agência IRNA que as explosões foram causadas pelas defesas aéreas disparando contra um objeto suspeito a leste de Isfahan. A agência de notícias iraniana Mehr informou que os voos sobre Teerã, Shiraz e Isfahan foram suspensos. Poucas horas depois, a autoridade de aviação civil do Irã anunciou a retirada das restrições em alguns aeroportos do país, retomando as operações nos aeroportos Imam Khomeini e Mehrabad, em Teerã, e no aeroporto de Isfahan.
O Al-Monitor informou que funcionários do governo iraniano não mencionaram o suposto ataque israelense em seus comentários públicos. Em discurso na sexta-feira em uma reunião na província de Semnan, a leste de Teerã, o presidente iraniano, Ebrahim Raisi, defendeu o ataque de 13 de abril a Israel, dizendo que trouxe “unidade” à nação iraniana. No entanto, ele não mencionou as explosões em Isfahan, de acordo com uma reportagem da IRNA. Da mesma forma, em uma publicação nas redes sociais na sexta-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Hossein Amirabdollahian, disse ter alertado Israel contra “qualquer nova aventura” durante reuniões em que participou nas Nações Unidas na quinta-feira, mas não mencionou os ataques relatados na sexta-feira.
Isfahan abriga uma importante base aérea iraniana, bem como instalações associadas ao programa nuclear iraniano. Está localizada a cerca de 340 km ao sul de Teerã. A agência de notícias Tasnim, afiliada ao IRGC, informou que as instalações nucleares em Isfahan são seguras. Isso foi confirmado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) da ONU. “A AIEA pode confirmar que não há danos nas instalações nucleares do Irã”, disse a AIEA no X na sexta-feira, acrescentando que está monitorando a situação. A agência apelou à “contenção extrema de todos” e acrescentou que “As instalações nucleares nunca devem ser alvo de conflitos militares”.
Segundo o Al-Monitor, à medida em que cresce o medo de um conflito total na região, um alto funcionário iraniano teria dito que não há planos de retaliação imediata ao ataque de sexta-feira em Isfahan, não chegando sequer a culpar Israel. “A origem estrangeira do incidente não foi confirmada”, teria dito uma autoridade iraniana à Reuters sob condição de anonimato. “Não recebemos nenhum ataque externo e a discussão tende mais para infiltração do que para ataque.”
No entanto, o general Kioumars Heydari, comandante-chefe das forças terrestres do Exército iraniano, diz que o Irã permanece vigilante para enfrentar quaisquer outras potenciais ameaças aéreas. De acordo com a Aljazeera, citando a agência iraniana IRNA, ele afirmou que “Se objetos voadores suspeitos aparecerem no céu do país, serão alvo de nossa poderosa defesa aérea”. “Mesmo que os objetos da noite passada fossem suspeitos, as defesas do nosso país reagiram de forma inteligente.” Heydari também disse que os ataques do Irã a Israel em 13 de abril “mostraram que a república islâmica tem a vantagem na região e pode estabelecer a segurança sem a interferência de qualquer potência estrangeira”.
Reações
O Al-Monitor divulgou as reações das lideranças de diversos países.
O Omã condenou o ataque israelense a Isfahan e os repetidos ataques militares de Israel na região. “O Omã renova seu apelo à comunidade internacional para a necessidade de resolver as causas das tensões e conflitos [na região] através da diplomacia e de soluções políticas”, diz uma declaração do Ministério dos Negócios Estrangeiros publicada no X.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Turquia alertou em um comunicado que as tensões “desencadeadas pelo ataque israelense à Embaixada do Irã em Damasco, que era contra o direito internacional, pode se transformar em um conflito permanente”. “Apelamos a todas as partes para que evitem medidas que possam levar a um conflito maior”, diz o comunicado.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Egito emitiu uma declaração expressando “profundas preocupações” sobre a contínua escalada iraniano-israelense e alertou para o perigoso impacto na segurança da região. Exortou ambas as partes a “exercerem os níveis máximos de autocontenção e cumprirem integralmente as regras do direito internacional” e salientou a disponibilidade do Egito para continuar seus contatos com todas as partes interessadas e influentes para conter a escalada em curso.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, apelou a todas as partes envolvidas para que exercessem contenção e evitassem uma nova escalada na região. “Temos que fazer todo o possível para que todas as partes evitem a escalada naquela região”, disse von der Leyen a jornalistas durante uma visita à Finlândia. “É absolutamente necessário que a região permaneça estável e que todas as partes se abstenham de novas ações.”
A China expressou sua rejeição a quaisquer ações que possam levar a uma nova escalada na região. “A China se opõe a todas as ações que possam aumentar as tensões e continuará a desempenhar um papel construtivo para acalmar a situação”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês em um comunicado, segundo a France Presse. A embaixada da China em Teerã teria apelado aos seus cidadãos no Irã para que tomassem as precauções necessárias à luz dos riscos de segurança no país, de acordo com a televisão Al-Hadath.
Com informações do Al-Monitor e da Aljazeera.