A visita de Kissinger à China

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O presidente chinês Xi Jinping recebeu o ex-secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, na Casa de Hóspedes Estatal Diaoyutai em Pequim, China, em 20 de julho de 2023 (China Daily via Reuters).

O presidente chinês Xi Jinping recebeu o ex-secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, na Casa de Hóspedes Estatal Diaoyutai em Pequim, China, em 20 de julho de 2023 (China Daily via Reuters).

O velho estadista ainda é muito respeitado na China, tendo sido recebido pelo presidente Xi Jinping, deferência não concedida a representantes oficiais dos EUA em visitas recentes.


Henry Kissinger está em Pequim em uma “viagem pessoal” para entender melhor o pensamento da liderança chinesa e, espera-se, deverá compartilhar suas impressões com o governo americano quando voltar aos Estados Unidos. Viajando como cidadão comum, e sendo respeitado pelas elites políticas de ambos os países, é provável que as conversas do centenário estadista com os líderes chineses sejam mais francas, o que pode ser difícil em visitas oficiais.

De acordo com uma fonte citada pelo SCMP, Kissinger está viajando como cidadão e não na qualidade de representante do governo americano, e, “naturalmente, ele é convidado a se encontrar com altos funcionários quando visita um país estrangeiro, particularmente a China, e eles invariavelmente oferecem suas opiniões e pedem as dele”.

Matthew Miller, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, disse que Kissinger não representa o governo americano, acrescentando que Pequim informou ao secretário de Estado Antony Blinken sobre os planos de Kissinger quando Blinken esteve na China no mês passado.

A visita de Kissinger coincidiu com a do enviado climático dos EUA, John Kerry, que terminou na quarta-feira. A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, também esteve em Pequim na semana passada. A emissora estatal chinesa CCTV informou na quinta-feira que o presidente chinês, Xi Jinping, recebeu Kissinger na Casa de Hóspedes Estatal de Diaoyutai, em Pequim, em contraste com as visitas de Kerry e Yellen, que não incluíram reuniões com o líder chinês.

A equipe de Kissinger começou a preparar a viagem há meses, e a agenda da visita, que deve se estender até o final da semana, incluiu, além de Xi Jinping, reuniões com o ministro da Defesa, Li Shangfu, e com o Diretor do Gabinete da Comissão Central de Relações Exteriores, Wang Yi.

Xi disse a Kissinger que ele e outros ex-líderes dos EUA fizeram a “escolha correta” ao normalizar as relações EUA-China, que “beneficiou os dois países e mudou o mundo”, referindo-se à atuação de Kissinger como secretário de Estado do ex-presidente Richard Nixon, quando seu desempenho foi fundamental nas relações entre os dois países na década de 1970, abrindo caminho para a normalização das relações diplomáticas EUA-China.

Xi deixou claro que Kissinger ainda é muito estimado na China: “O povo chinês valoriza a amizade e nunca esqueceremos nosso velho amigo e sua contribuição histórica para promover o desenvolvimento das relações EUA-China e aumentar a amizade entre os chineses e os americanos”, disse ele.

Compromisso com relação China-EUA construtiva

O encontro de Kissinger com o ministro da Defesa chinês, general Li Shangfu, ocorreu em um momento em que as relações entre os militares das duas nações estão em seu pior momento, com o próprio Li na lista de sanções de Washington. Li recusou uma reunião formal com seu homólogo americano, Lloyd Austin, em uma cúpula de defesa em Singapura no mês passado. As sanções impostas a Li foram a razão para a recusa da reunião com Austin.

O chefe de defesa chinês foi sancionado pelo governo dos EUA em 2018, depois que a China comprou caças Su-35 e equipamentos da Rosoboronexport, principal exportador de armas da Rússia. A China afirma que os Estados Unidos se recusam a criar as condições necessárias para o diálogo ao não suspender as sanções.

As comunicações de alto nível os militares dos EUA e do PLA foram cortadas em agosto de 2022, depois da visita da ex-presidente da câmara Nancy Pelosi a Taiwan, que Pequim viu como grave violação de sua soberania. “Sempre estivemos comprometidos em construir uma relação China-EUA estável, previsível e construtiva”, disse Li.


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Li disse a Kissinger que a China deseja um relacionamento saudável e estável com os EUA, mas as relações foram prejudicadas pelo lado americano, acrescentando que estão “pairando no ponto mais baixo desde o estabelecimento das relações diplomáticas” em 1979. De acordo com um comunicado na conta oficial de mídia social do Ministério da Defesa, ele atribuiu a deterioração a “algumas pessoas do lado americano que falharam em se mover na mesma direção que nós”.

“A interdependência entre os dois países está sendo negligenciada, a história da cooperação ganha-ganha está sendo mal interpretada e a atmosfera de comunicação amigável está sendo prejudicada”, acrescentou Li. “A China está seguindo um caminho de desenvolvimento pacífico e isso é uma bênção, não um infortúnio para o mundo, e os Estados Unidos devem fazer um julgamento estratégico correto.”

Referindo-se a uma reunião no ano passado entre Xi Jinping e Joe Biden, Li acrescentou: “Esperamos que o lado dos EUA trabalhe conosco para implementar o consenso dos chefes de estado dos dois países e promover conjuntamente o desenvolvimento saudável e estável da relação entre os dois países e os militares de ambos”.

Sabedoria diplomática estilo Kissinger

Durante suas conversas com Kissinger na quarta-feira, o chefe das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, elogiou o “papel insubstituível” do ex-enviado nas relações entre seus países. Washington está precisando de “sabedoria diplomática ao estilo Kissinger”, disse Wang, acrescentando que “a China valoriza amizades estabelecidas com velhos amigos”.

“A China mantém um alto grau de continuidade em sua política em relação aos Estados Unidos e segue fundamentalmente os princípios de respeito mútuo, coexistência pacífica e cooperação ganha-ganha propostos pelo presidente Xi Jinping”, disse Wang. “O desenvolvimento da China tem um forte impulso endógeno e uma lógica histórica inevitável. É impossível tentar transformar a China e é ainda mais impossível cercá-la e contê-la”.

Wang emitiu uma mensagem severa sobre Taiwan, alertando que os EUA devem cumprir estritamente o princípio de Uma China estabelecido no Comunicado de Xangai. Kissinger respondeu que acredita que a promessa de Washington sobre a política de Uma China não seria traída, de acordo com a transcrição.

De acordo com o Ministério das Relações Exteriores da China, Kissinger disse que, embora não ocupe um cargo público, ele se preocupa com os laços EUA-China e apoia os esforços para melhorar as relações. “Por mais difícil que seja, ambos os lados devem se tratar como iguais e manter contato. É inaceitável tentar isolar ou separar um do outro”, disse Kissinger, de acordo com a transcrição do ministério.

Amigo da China

Kissinger disse que está visitando o país “como amigo da China”, segundo o comunicado chinês, acrescentando que as duas nações devem “resolver mal-entendidos, coexistir pacificamente e evitar confrontos”. “A história e a prática provaram continuamente que nem os Estados Unidos e nem a China podem se dar ao luxo de tratar um ao outro como adversário”, disse Kissinger, que completou 100 anos no início deste ano.

Kissinger sugeriu que o PLA e os militares dos EUA fortaleçam a comunicação e “façam o possível para criar resultados positivos para o desenvolvimento das relações entre os dois países e manter a paz e a estabilidade mundiais”.

“Uma guerra entre os dois países não traria nenhum resultado significativo para os povos dos dois países.”


*Com base em notícias publicadas pelo SCMP.

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