Os “porta-drones” iranianos

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Imagens do “porta-drones” em desenvolvimento no Irã vem circulando nas mídias sociais do país (The Maritime Executive).

Imagens do “porta-drones” em desenvolvimento no Irã vem circulando nas mídias sociais do país (The Maritime Executive).

O Irã está convertendo um antigo porta-contêineres em “porta-drones” em uma doca seca perto da entrada do Golfo Pérsico, conforme imagens circulando nas redes sociais.


O Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã (IRGC, Islamic Revolutionary Guard Corp) possui uma divisão naval conhecida por operar uma frota de pequenas lanchas rápidas armadas que frequentemente assediam os navios da Marinha dos EUA no Golfo Pérsico. Pois de acordo com informações recentes, o IRGC poderia em breve começar a operar uma classe muito maior de navio, um “porta-drones”: um navio ex-porta-contêiner de bandeira iraniana está sendo convertido em uma embarcação capaz de transportar helicópteros e veículos aéreos não tripulados (“drones”).

Em matéria publicada em 30 de dezembro de 2022 pelo H I Sutton, site especializado em defesa, indicam que o Irã está convertendo um navio porta-contêineres em uma espécie de “porta-drones”. O trabalho está sendo realizado em uma doca no Iran Shipbuilding & Offshore Industries Complex Co (ISOICO) em Bandar Abbas, perto do Estreito de Ormuz, na entrada do Golfo Pérsico.

Com base nas imagens, o H I Sutton aponta que o processo de conversão adicionou um grande convés de voo a bombordo, mas não está claro se uma saliência similar será adicionada também a estibordo. De acordo com o site, “o fato de a superestrutura abranger o convés original significa que um layout tradicional de porta-aviões é impossível. Os ângulos no deck de voo adicionado também não são tradicionais. Possivelmente, isso sugere um convoo que vai de bombordo a estibordo à frente da superestrutura”.


Os ângulos do convés podem sugerir uma pista de bombordo a estibordo (H I Sutton).

O site informou que dois navios devem ser transformados: o Shahid Mahdavi e o Shahid Bagheri. Com base em fontes abertas, acredita-se que o primeiro seja o Shahid Mahdavi. No entanto, fontes de mídia social iranianas também relataram que seria o Shahid Bagheri. Os dois navios provavelmente são similares ou mesmo quase idênticos, e o primeiro talvez seja lançado ainda no início deste ano.

De acordo com uma reportagem anterior da The Maritime Executive, o Shahid Mahdavi está em doca seca pelo menos desde maio de 2022. Segundo este veículo, o navio é idêntico ao porta-contêineres Sarvin, uma embarcação de 22 anos de idade. Já o H I Sutton sugere que o navio seria originalmente o Perarin, um porta-contêineres construído em 2000 comprimento total de mais de 240 metros, 32 metros de boca e cerca de 8 metros de calado. A operadora dos navios está sob sanções dos EUA, o que impede o uso das embarcações na maioria das rotas comerciais. Assim, esse pode ter sido um dos motivadores para a conversão em navios de guerra para a IRGC.

A Marinha iraniana já opera o Makran, anteriormente um navio tanque petroquímico transformado em navio de guerra em 2021. Embora suas capacidades exatas não sejam claras, acredita-se que ele pode navegar por quase três anos sem reabastecimento. Com 228 metros de comprimento e deslocando cerca de 121.000 toneladas, o Makran pode servir como “nave-mãe” para operações especiais, com capacidade para lançar lanchas e entregar ou recuperar comandos e mergulhadores de combate. Pode embarcar até sete helicópteros e possui plataformas para lançamento de veículos aéreos não tripulados. O espaço no convés é grande o suficiente para acomodar diversos sistemas de armas.

No ano passado o Makran e a fragata Sahand foram destacados para o Oceano Atlântico por quatro meses e viajaram ao Mar Báltico para representar Teerã em um evento da Marinha russa. Atualmente o Makran parece estar transitando pelo Pacífico, conforme um recente avistamento relatado pela Marinha francesa.

Assim, a recente divulgação sugere que a IRGC decidiu construir seus próprios navios-base, em complemento – ou com independência – às capacidades da Marinha iraniana.

Estratégias “importadas”

A conversão de navios em porta-aviões não é exatamente uma novidade. O primeiro porta-aviões da Marinha dos EUA, o Langley, era um navio de transporte de carvão. O Japão está convertendo seus destroieres porta-helicópteros Izumo e Kaga em navios capazes de transportar caças F-35B (embora neste caso há rumores de que esses navios já teriam sido projetados visando facilitar essa conversão).

Como meio de emprego, o uso de navios de origem civil tampouco é novo. As forças especiais dos EUA são conhecidas por usar navios-base em suas ações encobertas, supostamente usando um desses navios de base “civil” no Pacífico, com o Ocean Trader, uma embarcação comercial com recursos para operações especiais (anteriormente conhecida como Cragside), que foi desligada dos sistemas de identificação automática (AIS) desde 2017.

De acordo com o H I Sutton, a IRGC mantém outro navio-base em segredo, o cargueiro Behshad, que opera no Mar Vermelho. Um navio-base anterior da IRGC, o Saviz, foi atingido em 2021 em um ataque amplamente atribuído a Israel.


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Navios aumentarão a capacidade dos drones iranianos

Porta-drones darão à IRGC uma capacidade de longo alcance, aproveitando a ampla variedade de drones de combate aéreo desenvolvidos pelo Irã. Behnam Ben Taleblu, analista especializado em Irã, disse ao USNI News que as fotos do “porta-drones” em desenvolvimento estão de acordo com o uso expresso pelo Irã para o navio na mídia local. “A mídia iraniana falou sobre isso sendo usado para armazenar drones para aumentar as capacidades de ataque de longo alcance do país. O mundo deveria prestar atenção em como o Irã planeja usar navios mercantes e petroleiros para aumentar suas capacidades de ataque de longo alcance”, disse ele.

O Irã vem assumindo um papel de protagonismo no uso de drones no Oriente Médio. As forças armadas iranianas são conhecidas por operar mais drones armados do que nações com o dobro de seu orçamento de defesa, e isso mesmo estando sob pesadas sanções ocidentais. O país projeta, constrói e opera diversos modelos de UAVs, desde sistemas leves de curto alcance até veículos aéreos não tripulados pesados de ataque ou para inteligência, vigilância e reconhecimento (ISR). Os drones Shahed-136 se tornaram particularmente famosos pelos estragos causados na Ucrânia nas mãos das forças armadas da Rússia, que teria comprado um número grande, mas desconhecido, desse modelo.

Além disso, o Irã também teria empregado os Shahed-136 para atacar o Pacific Zircon, um petroleiro pertencente a um bilionário israelense operado pela Eastern Pacific Shipping of Singapore. O ataque, ocorrido na costa de Omã em novembro do ano passado, danificou o navio, mas não fez vítimas. De acordo com autoridades ocidentais e israelenses, teria sido realizado a partir de uma base da IRGC na cidade de Chabahar, no sudeste do Irã.

Combinada com navios “porta-drones”, a capacidade dos UAVs iranianos pode aumentar em escala, permitindo que a IRGC opere em qualquer ponto do planeta. Como a guerra em andamento na Ucrânia demonstrou, o Irã poderia encher os céus das nações adversárias com enxames de UAVs, sobrecarregando sistemas de defesa aérea.

Também permitiria, por exemplo, lançar enxames de drones contra navios da Marinha dos EUA no Golfo Pérsico ou mesmo outras regiões. Enquanto um único drone pode não ser capaz de afundar um porta-aviões, a ogiva de um Shahed-136 pode destruir sensores, danificar armas e aeronaves embarcadas e matar tripulantes. Operando em enxames, esses danos podem ser significativamente maiores. Nesse sentido, o Irã talvez precise lidar com um dilema que marinhas maiores enfrentam há tempos: ao concentrar esse poder de combate em um único navio, é preciso protegê-lo. Talvez o Irã acabe tendo que desenvolver defesas adequadas para seus porta-drones.

Os novos navios do Irã parecem confirmar a tendência do uso de drones em “porta-aviões” menores e baratos. A Turquia vai operar drones armados em seu novo navio capitânia, o Anadolu. É uma tendência que a Marinha americana, habituada com caças de dezenas de milhões de dólares e porta-aviões de vários bilhões de dólares, provavelmente vai ignorar – mas marinhas menores não.

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