“Contraofensiva” ucraniana: Invenção midiática para elevar o moral de Kiev

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Artilharia russa em operação na Ucrânia (Ministério da Defesa sa Rússia).

Por Lucas Leiroz*

Artilharia russa em operação na Ucrânia (Ministério da Defesa sa Rússia).

Recente contraofensiva ucraniana anunciada pela imprensa visa justificar a continuidade da assistência militar ao país e elevar do moral de Kiev.


Recentemente, o avanço das tropas ucranianas em territórios ocupados pelas forças russas causou entusiasmo no Ocidente. Os meios de comunicação pró-ucranianos começaram a anunciar que Kiev havia realizado com sucesso uma grande contraofensiva militar, derrotando soldados russos, recuperando território e avançando rapidamente em direção a uma possível “vitória”. No entanto, essa conduta irresponsável por parte da mídia falhou completamente em demonstrar o que realmente estava acontecendo.

Várias operações ucranianas foram apelidadas pela mídia como uma “contraofensiva”. A maioria dessas missões foi absolutamente malsucedida, como foi o caso recentemente em Kherson. No entanto, o recente avanço ucraniano na região de Kharkov foi reconhecido como uma vitória militar de Kiev devido à retirada russa anunciada em 10 de setembro. Grandes áreas foram abandonadas pelas tropas de Moscou, sugerindo que soldados russos estavam fugindo do confronto com o inimigo e entregando suas posições. Fontes oficiais em Kiev chegaram a afirmar que suas forças “reconquistaram” mais de 3.000 quilômetros de território.

Obviamente, a notícia foi divulgada como símbolo da “força” e “resiliência” dos soldados ucranianos. A chamada “resistência ucraniana” foi aplaudida em todo o mundo ocidental. Os canais de mídia reiteradamente reforçaram a “importância” do apoio militar e financeiro a Kiev, mostrando como os “resultados” dos pacotes de ajuda estavam influenciando positivamente a “resistência ucraniana” nessa contraofensiva. O moral de Kiev foi impulsionado. Zelensky e vários oficiais ucranianos começaram a anunciar que o país estava caminhando para a vitória militar. Mas essa euforia foi curta e a realidade da situação foi rapidamente revelada.

Nas primeiras horas de 12 de setembro, as forças russas iniciaram uma série de operações táticas contra alvos estratégicos em solo ucraniano, causando sérios danos às forças de Kiev. As operações se concentraram em objetivos de infraestrutura crítica. Várias cidades do país ficaram sem eletricidade e internet, cortando as principais plataformas de comunicação civil e militar da Ucrânia. Veículos locais de informação e propaganda ficaram offline e a Ucrânia perdeu boa parte de sua capacidade de mídia doméstica. Algumas fontes afirmam que 50% da infraestrutura crítica da Ucrânia foi destruída em apenas cerca de duas horas de ações táticas russas.

Paralelamente, os russos também intensificaram o trabalho de artilharia pesada em vários outros alvos. As mobilizações bem-sucedidas ocorreram em pontos estratégicos e proporcionaram diversos ganhos. Além disso, deve-se mencionar que mesmo durante a retirada das forças russas de Kharkov, houve confrontos em vários lugares, onde foram infligidas baixas aos inimigos. O Ministério da Defesa russo informou que nos últimos dias 4.000 soldados ucranianos envolvidos na “contraofensiva” foram mortos, além de outros 8.000 feridos.


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Obviamente, esses dados são inconsistentes com a narrativa ocidental de que a Ucrânia está revertendo o cenário militar do conflito. E, de fato, é impossível analisar o caso de um ponto de vista realista e acreditar que houve algum tipo de “vitória” ucraniana em vez de um recuo tático russo. A vantagem militar russa conquistada até agora não permitiria que uma perda territorial tão grande acontecesse tão facilmente. Isso leva a acreditar que o que aconteceu foi um recuo estrategicamente desenhado para permitir novas formas de ataque.

Os russos estavam mantendo os números militares em um nível baixo nas regiões evacuadas, enquanto Kiev está atacando com força total, unindo quase todas as suas tropas. Um cenário de confronto direto seria desgastante para ambos os lados e levaria a baixas desnecessárias, além de prejudicar significativamente as forças russas que estariam em desvantagem numérica. Portanto, os russos recuaram e fortificaram uma linha de defesa perto do Donbass, onde foi possível formar uma frente sólida contra o inimigo. A partir dessa posição estratégica, novos ataques começaram a ser planejados e executados.

A infraestrutura ucraniana está sendo neutralizada justamente como uma primeira etapa desta nova ofensiva russa. Destruindo a comunicação inimiga e danificando suas bases logísticas, os russos poderão avançar mais facilmente para a retomada de territórios abandonados. Voltando ao Donbass, os russos poderão recompor seus militares.

Nas últimas horas, a mídia ocidental tentou omitir os sucessos táticos russos contra a infraestrutura ucraniana. O objetivo é tentar prolongar a narrativa pró-Kiev e manter o moral ucraniano alto, enquanto acelera o impulso para novos pacotes de ajuda militar. Mas é improvável que essa narrativa falaciosa dure muito. É improvável que a suposta “contraofensiva” mude o cenário de impopularidade da política de ajuda diante da opinião pública americana e europeia.

Como a Rússia continua no controle do conflito e deve aumentar as incursões nos próximos dias, a tentativa da mídia de justificar a assistência militar a Kiev com invenções infundadas como essa “contraofensiva” só será vista com mais antipatia pelos cidadãos dos países ocidentais em meio à atual onda de protestos contra a OTAN e as sanções.


Publicado no BRICS Information Portal.


*Lucas Leiroz, colunista do BRICS Information Portal, é jornalista, pesquisador em Ciências Sociais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e consultor geopolítico. Pode ser acompanhado no Twitter (@leiroz_lucas) e no Telegram (t.me/lucasleiroz).

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2 comentários

  1. Perfeita a análise, a propaganda do ocidente segue atendendo as grandes corporações, o mercado de ações precisa manter a escalada rumo a novos recordes, uma propaganda negativa significaria perda nos investimentos nas bolsas Nasdaq, DownJones etc…
    A maquina de guerra continua alimentada enquanto os “grandes economistas” do ocidente quebram a cabeça para conter o Brent e as variações de preço do gás na união europeia. Enquanto a Rússia não apostar mais alto, o tabuleiro permanece sem jogadas decisivas, acredito que seja de extremo interesse do ocidente manter esse estilo de guerra, e acreditar numa possível recuada russa, tornando todo discurso de Moscou em apenas “softpower”. Por outro lado Moscou segue com a artilharia implacável e avançando com a infantaria (após alguns recuos), rumo a estruturas vitais da Ucrânia, nos resta esperar para saber se permanece nesse tipo de conflito ou se veremos demonstração de força superior (nuclear).
    Forte abraço a todos.

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