Primeiro ataque em solo russo desde a 2ª Guerra Mundial? Análise militar indica uma provável “false flag”

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Helicóptero Mi-24 da aviação do Exército ucraniano, do tipo que teria sido empregado no ataque às instalações russas em Belgorod (Tommy Pfeiffer/MilitaryAviationInUa/Twitter).

Helicóptero Mi-24 da aviação do Exército ucraniano, do tipo que teria sido empregado no ataque às instalações russas em Belgorod (Tommy Pfeiffer/MilitaryAviationInUa/Twitter).

Considerando as características do ataque e a presteza da comunicação oficial russa, a possibilidade de que se trate de uma “False Flag” não é desprezível.


Vamos iniciar esta análise tratando dos dados conhecidos e confirmados para depois apresentar um raciocínio cartesiano militar.

No dia 1 de abril de 2022, pouco antes das 06h00 da manhã, dois helicópteros Mi-24 (cuja versão de exportação é chamada de Mi-35) circularam no espaço aéreo russo e realizaram disparos com foguetes S-8 contra depósitos de combustível a uma distância aproximada de 600 metros. Pouco tempo depois, o governador da província de Belgorod, na Rússia, acusou a Ucrânia de realizar o que poderia ser o primeiro ataque em solo russo desde a 2ª Guerra Mundial. Os depósitos de combustível estão a cerca de 40 km da fronteira com a Ucrânia e ao norte da cidade ucraniana de Kharkiv, onde têm ocorrido combates intensos há semanas.

Essa aeronave é um helicóptero de ataque com blindagem reforçada e motor potente, o que lhe conferiu a alcunha de “tanque voador”. Sua autonomia de voo é de até 450 km. Considerado um helicóptero de grandes dimensões, possui também capacidade para transportar até oito combatentes. Esse tipo de aeronave está em operação desde a década de 1970 e já foi usado por mais de cinquenta países em todos os continentes, exceto na Antártica.


O ataque foi realizado contra instalações na cidade de Belgorod, na Rússia, próxima da fronteira com a Ucrânia.

Partindo dessas informações, vamos fazer algumas considerações sobre esse suposto ataque em que a Ucrânia nega envolvimento. O planejamento de uma operação dessa natureza envolve vários aspectos que aprendi no Estágio de Operações Aeromóveis, ministrado no Centro de Instrução de Aviação do Exército Brasileiro.

  • Se a autonomia da aeronave é de 450 km, podemos considerar que a distância máxima de deslocamento seria de 200 km, e 50 km de autonomia ficariam como reserva para ter flexibilidade caso ocorra algum imprevisto e a rota precise de ser alterada;
  • A Rússia e a Ucrânia são dotadas desta mesma aeronave em atividade, como herança da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas;
  • O helicóptero é considerado um meio nobre e caro, devendo ser empregado em missões envolvendo alvos compensadores, que justifiquem o risco de ser abatido ou danificado;
  • A região da faixa de fronteira entre os dois países ao norte de Kharkiv está sob controlo russo, o que significaria um grande risco para o sobrevoo dos helicópteros, uma vez que os sistemas de radares e defesa antiaérea dos russos são sofisticados e eficientes;
  • No planejamento de um deslocamento dessa natureza, é muito importante ter informações sobre a localização dos radares. O terreno possui dobras que consistem em zonas de sombra para os radares que os pilotos procuram usar para encobrir o deslocamento dos helicópteros, e buscam voar rente ao chão ou à copa das árvores. Esse tipo de deslocamento é mais comum de ser realizado durante o dia. À noite, é necessário que a tripulação utilize óculos de visão noturna, o que prejudica muito a percepção de profundidade e leva os pilotos a reduzir a velocidade e voar mais afastados das dobras do terreno, aumentando a exposição ao sistema de radares;
  • Os sistemas de radar são normalmente integrados com as defesas antiaéreas, que engajam automaticamente os alvos considerados hostis após identificados;
  • Considera-se que dois helicópteros operando juntos formam uma seção, a menor fração de emprego;
  • Os foguetes S-8 usados não têm grande precisão, obrigando os helicópteros a se aproximar dos alvos até uma distância muito reduzida;
  • Os depósitos de combustível atingidos não representam nenhuma vantagem relevante para as forças ucranianas e nem alteram quase nada na manobra russa, além de não ter havido nenhuma vítima. Tampouco se sabe se os depósitos de combustível estavam cheios ou apenas parcialmente completos;
  • O depósito de combustível é um alvo altamente inflamável caso seja atingido por outros tipos de armamento muito mais baratos, e que que podem ser disparados por um pequeno grupo desde o solo, a partir de distâncias muito maiores (5 km) sem serem identificados. A Ucrânia dispõe dessas armas;
  • Não há informações sobre a trajetória das aeronaves até chegarem às proximidades dos depósitos atingidos, podendo ter decolado tanto da Ucrânia quanto da Rússia. Causou muita estranheza que esse tipo de deslocamento não tivesse sido rastreado pelos sistemas de defesa da Rússia;
  • Nos dias que antecederam o ataque, a Rússia estava sendo pressionada a reduzir a intensidade de suas ações, em rodadas de negociação.

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  • Alexander Mladenov (Autor) e Ian Palmer (Ilustrador)
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Considerando as observações acima e a presteza da comunicação oficial russa em divulgar estas explosões, pode-se inferir que existe uma possibilidade significativa das duas aeronaves empregadas serem russas e terem decolado em segurança de dentro do território russo e regressado sem grandes riscos, consistindo no que popularmente se chama de False Flag.


Artigo publicado na CNN Portugal.

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