Se a Rússia planeja invadir a Ucrânia, é simples entender que Moscou negue. Mais difícil é entender a histeria criada por Washington.
Desde novembro do ano passado, os Estados Unidos vêm alertando a União Europeia e os aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) que a Rússia está acumulando forças perto da fronteira com a Ucrânia, o que seria o prenúncio para uma operação militar – a invasão da Ucrânia estaria próxima. A Rússia afirma que os desdobramentos militares em seu território são assunto interno, e nega quaisquer intenções agressivas.
Tensões semelhantes ocorreram em meados do ano passado, quando os EUA e a OTAN acusaram a Rússia de reunir cerca de 100.000 soldados, tanques e aviões de combate perto da fronteira com a Ucrânia. Naquela ocasião, a crise diminuiu depois que o presidente americano, Joe Biden, conversou com seu homólogo russo, Vladimir Putin, e acertaram uma cúpula que acabou ocorrendo em junho.
Nos últimos dias, os EUA vêm aumentando o nível de alerta, afirmando que a invasão é iminente. No início de fevereiro, o chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA, o general Mark Milley, disse que Kiev pode cair em apenas três dias, se a Rússia invadir. Moscou, segue insistindo que não tem intenção de invadir.
Se a invasão fosse real, Moscou, obviamente, teria todos os motivos para negá-la – isso é fácil de entender. No entanto, é mais difícil compreender o que está por trás dos constantes alertas de Washington.
Digamos que a inteligência dos EUA realmente tem informações confiáveis de que a Rússia vai invadir nos próximos dias, e tornar isso público seria uma tentativa de dissuadir Moscou: não parece fazer muito sentido. Washington já deixou claro que responderia a uma invasão com sanções econômicas, não com força militar, portanto, isso não parece ser um dissuasor muito eficiente.
Talvez fosse diferente se os americanos respondessem militarmente. Nesse caso, ao tornar pública a iminência de um ataque, os EUA assumiriam que a Rússia tem consciência que iniciar uma guerra tem resultados imprevisíveis, e se acreditasse que os EUA responderiam com força a um ataque, talvez Moscou reconsiderasse.
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Sabendo que o momento da invasão é conhecido, os russos teriam que assumir que Washington também saberiam quais são as forças empregadas e os movimentos planejados. Nesse caso, os EUA teriam deixado claro que conhecem os planos de Moscou e que estão prontos para contra-atacar. No entanto, se os EUA pretendessem deter um ataque russo, provavelmente Moscou teria indicações dos preparativos americanos.
Como os EUA nunca ameaçaram responder militarmente, mas apenas com “sanções pesadas”, o que fica claro é que, se eles realmente sabem de alguma coisa, tudo o que estão fazendo é soar trombetas. Provavelmente não é a melhor forma de agir: se você é a maior potência do planeta e tem conhecimento antecipado de um ataque contra um suposto aliado, não fazer nada além de criar histeria a respeito provavelmente não faz muito pela sua credibilidade.
Outra hipótese seria os EUA estarem planejando um contra-ataque em segredo. Nesse caso, anunciar que têm inteligência sobre os planos de Moscou seria a atitude menos inteligente de todas. Provavelmente Moscou cancelaria o ataque, fecharia o vazamento e criaria outros planos.
A Rússia cancelaria um ataque simplesmente por não saber quais são as intenções dos EUA? Sabendo-se que a inteligência russa geralmente é muito boa, isso não parece muito plausível.
O que há de concreto hoje é que os EUA dizem que a Rússia vai atacar a qualquer momento, e a Rússia nega. Obviamente um dos dois está mentindo. Qualquer que seja a verdade, até aqui os EUA estão apenas criando histeria sem tomar medidas concretas. De que forma isso vai melhorar a confiança entre seus aliados, é algo que ainda não está claro.
Ótimo artigo! De fato, o que vemos dos EUA é uma histeria sem fundamento buscando forçar a Rússia a um movimento precipitado…
Por outro lado Putin deixou claro que qualquer tentativa da Ucrânia de retomar a Crimeia arrastará a Otan para um conflito com a Rússia…
Torçamos para que o bom senso prevaleça nesse embate!
Que o bom senso prevaleça, Petter! Grato por comentar!
Eu não tenho duvidas de que o grande articulador por tras de tudo isso que esta acontecendo são os EUA e UK, por interesses economicos e politicos. Outra coisa que importante salientar é que essas ofensivas e narrativas caso desencadeie em uma guerra real, esta não ocorrerá em solo dos EUA! Quando um representante dos EUA diz que se a invasão Russa a Ucrania ocorrer, Moscou terá que prover muitos sacos de obitos para os seus soldados, porque os seus não se envolverão diretamente e sim o de seus proxis! Ganham com a guerra e reconstrução pos guerra (se ficar somente na região).