O presidente russo, Vladimir Putin, reagiu às recentes descrições dele feitas pelo presidente dos EUA, Joe Biden, em uma entrevista exclusiva ao canal de TV norte-americano NBC, transmitida na segunda-feira, dias antes de uma cúpula entre os dois líderes em Genebra.
Putin comentou sobre uma série de questões durante a entrevista, incluindo as relações russo-americanas, o caso Navalny, o pouso do vôo da Ryanair na Bielorrússia, a situação na Ucrânia e o tratamento que a China dispensa à minoria uigur.
No início da entrevista, Putin foi questionado sobre os comentários de Biden, que anteriormente o chamou de “um autocrata” e respondeu positivamente a uma pergunta se ele acreditava que Putin era “um assassino”.
Putin disse que sofreu muitos ataques durante sua presidência e que tais coisas não o confundem nem o impedem de seguir na direção certa “para proteger os interesses do Estado russo”.
“É um comportamento machista que faz parte da cultura política dos Estados Unidos, onde é considerado normal. Aliás, não aqui. Não é considerado normal aqui. Se essa retórica for acompanhada de uma sugestão de se encontrar e discutir questões bilaterais e questões de política internacional, vejo isso como um desejo de trabalhar em conjunto. Se esse desejo for sério, estamos preparados para apoiá-lo”, disse.
Quanto à história que Biden freqüentemente conta sobre seu último encontro face a face com Putin, no qual ele lhe disse que “ele não tem alma”, o presidente russo disse que não se lembrava do episódio.
Putin também negou categoricamente que tenha algo a ver com o suposto envenenamento do político de oposição Alexey Navalny, que Biden também pretende discutir com ele. Putin ressaltou que Navalny não deve receber nenhum tipo de tratamento especial na prisão e que todos devem estar em igualdade de condições.
Putin acrescentou que não ficou surpreso com o fato de Biden ter pedido que ele se reunisse com ele sem quaisquer pré-condições, porque é compreensível “quais problemas os americanos querem discutir”.
“Nós sabemos o que constitui as prioridades do lado dos EUA. E este é, de modo geral, um processo que precisa ser avançado no nível profissional, nos moldes do Ministério das Relações Exteriores e do Ministério da Defesa do lado russo, o Pentágono e o Departamento de Estado da do lado dos EUA. Estamos preparados para este trabalho”, afirmou.
Ele acrescentou que havia sinais de que o lado norte-americano gostaria de ver essas negociações no nível de especialistas. “Veremos se as condições para isso serão criadas após a cúpula. Claro, não estamos dizendo não. Estamos prontos para fazer esse trabalho”, disse ele.
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Questionado sobre a reunião de Biden com o Grupo dos Sete (G7) e a OTAN antes da reunião com ele em 16 de junho, Putin disse não ver “nada de incomum nisso”.
“Na verdade, é um sinal de respeito aos aliados dos EUA antes de uma cúpula entre os presidentes dos EUA e da Rússia. Provavelmente está sendo apresentado como um desejo de saber sua opinião sobre os principais temas da agenda atual, incluindo aquelas questões que o presidente Biden e eu discutiremos”, disse ele.
No geral, Putin espera “uma abordagem profissional” de Biden e que os dois líderes possam encontrar alguns pontos de contato.
Incidente com o voo da Ryanair em Minsk
Voltando ao incidente no mês passado envolvendo o pouso do vôo da Ryanair na Bielorrússia, Putin disse que soube disso pela mídia. Ele confirmou que falou sobre o incidente com o presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, que lhe disse que o avião pousou por causa de informações sobre um dispositivo explosivo a bordo.
Putin perguntou por que o piloto-chefe do avião não foi questionado sobre o que aconteceu, já que suas evidências poderiam esclarecer a situação.
“Pergunte ao comandante da aeronave. Você perguntou a ele se foi forçado a pousar? Porque eu não ouvi ou vi uma entrevista com o comandante da aeronave que pousou em Minsk. Por que não perguntar a ele? Por que não perguntar se ele foi forçado a pousar? Por que você não pergunta a ele? Na verdade, é até estranho. Todos acusam Lukashenko, mas o piloto não foi questionado”, disse Putin.
Putin então lembrou uma situação semelhante em que o avião do presidente da Bolívia foi forçado a pousar em Viena, na Áustria, por ordem do governo dos Estados Unidos.
“Um avião presidencial foi forçado a pousar. O presidente foi tirado da aeronave. Eles revistaram o avião, e você nem se lembra disso. Você acha que foi normal, isso foi bom, mas o que Lukashenko fez foi ruim? Na Bolívia, eles viram como uma humilhação ao país. Mas todos ficaram calados para não agravar a situação. Ninguém está se lembrando disso. Então, e Lukashenko? Se foi ele [que ordenou o pouso do avião], você lhe deu um exemplo a seguir”, disse Putin.
Quanto à situação na Ucrânia, incluindo a presença de tropas russas perto da fronteira com a Ucrânia, Putin disse que estavam envolvidos em exercícios militares mantidos estritamente em território russo.
“Agora, em nossas fronteiras ao sul, há um jogo de guerra, Defender Europe, [com] 40.000 tropas e 15.000 unidades de equipamento militar. Parte foi transportada de avião do continente americano diretamente para nossas fronteiras. Será que transportamos alguma de nossas tecnologias militares para as fronteiras dos EUA? Não, não fizemos isso”, disse ele.
Putin observou que Washington “trouxe milhares de tropas, milhares de unidades de equipamento militar” para perto das fronteiras da Rússia, enquanto a Rússia apenas realiza exercícios militares dentro de seu território, e ainda assim acusa Moscou de “agir agressivamente”.
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A China e os uigures em Xinjiang
Questionado sobre o tratamento dado pela China à minoria uigur em Xinjiang, Putin disse que vê essas questões como uma tentativa de destruir o relacionamento entre a Rússia e a China.
“Podemos ver tentativas de destruir o relacionamento entre a Rússia e a China. Podemos ver que essas tentativas são feitas em termos de políticas práticas. E suas perguntas também têm a ver com isso.”
“Estou confiante de que a liderança chinesa, estando ciente da totalidade dessas questões, incluindo a parte de sua população que são uigures, encontrará a solução necessária para garantir que a situação permaneça estável e beneficie todo o forte povo chinês, incluindo sua parte uigur”, disse ele.
Ajuda humanitária à Síria por meio do governo central
A Rússia insiste que a ajuda humanitária deve ser dada “assim como deveria ser feita em todo o mundo”, “conforme previsto nas disposições do Direito Internacional Humanitário” – por meio do governo central, disse Putin.
Isso, junto com os ataques vindos de algumas passagens de fronteira na Síria, são os motivos pelos quais a Rússia pretende fechá-los para comboios humanitários, disse ele.
“Se houver motivos para acreditar que o governo central da Síria vai saquear alguma coisa, bem, chame os observadores da Cruz Vermelha Internacional e do Crescente Vermelho para supervisionar tudo.”
“Não acho que alguém no governo sírio esteja interessado em roubar alguma parte dessa ajuda humanitária. Isso só precisa ser feito por meio do governo central. E, nesse sentido, apoiamos o presidente [Bashar al-] Assad porque um comportamento diferente disso estaria minando a soberania da República Árabe Síria. E isso é tudo”, afirmou ele.
Putin acrescentou que na zona de Idlib, as tropas turcas “controlam efetivamente” a fronteira entre a Turquia e a Síria, e “comboios cruzam a fronteira sem quaisquer restrições em seu número em ambas as direções”.
Traduzido e adaptado do original publicado pela Anadolu.
Muito obrigado pelo artigo, Albert.
Podemos ver como Geopolítica não é para amadores. Tive a oportunidade de ler o livro as Entrevistas de Putin de Oliver Stone (por indicação do Canal Arte da Guerra e do Blog Velho General) que me possibilitaram entender um pouco mais este “jogo de xadrez”.
Eu é que agradeço por nos acompanhar! Forte abraço!
Esse é um outro lado da moeda, onde um presidente forte e nacionalista não se rende as demandas do globalismo. Excelente matéria, tenho esperança de um dia o povo brasileiro tenha um pouco desse espírito guerreiro de defesa ao seu território.