Batalha de Wizna, as “Termópilas Polonesas”: entre o mito e o fato (Parte 3-final)

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Imagem: Vaclav1288/DevianArt.

Na terceira e última parte do artigo, a retirada dos sobreviventes e a conclusão da história desta batalha, épica para os poloneses, um resumo do triste saldo final e as principais perdas de ambos os lados, além de uma análise de aspectos históricos e visões de historiadores que se contrapõem.


Leia a Parte 1 e a Parte 2.

Baixas e a marcha dos sobreviventes

O fato de serem alvejados pelos poloneses quando ultrapassavam as defesas que acreditavam vencidas, fez com que os alemães se certificassem da pusilanimidade dos poloneses. Fato é que, ao fim dos combates, os homens que caíram nas mãos dos guerreiros de Guderian sofreram. O capitão Szmidt, comandante da 8ª Companhia, revela: “Cada soldado que saía dos abrigos, após a rendição, bem como os feridos, foram muito mal tratados; na minha vez, levei um tiro de pistola na têmpora, fui chutado e severamente espancado por soldados – suboficiais – alemães. Uma vez fora do bunker, desmaiei, mas meus soldados me apoiaram; novamente fui chutado várias vezes no ventre e na cabeça; mais tarde, recebi curativos de um médico alemão, mas perdi completamente a consciência”.

Como Szmidt, vários prisioneiros sofreram maus tratos ou foram meramente fuzilados. O historiador polonês Robert Leszek Moczulski afirma que dos 720 soldados de Wizna, apenas 70 sobreviveram. Alguns se retiraram com sucesso e chegaram às linhas polonesas. Raginis se matou e Brykalski foi morto em combate. Szmidt, gravemente ferido, foi para o cativeiro (86 dos seus homens sobreviveram). O tenente Witold Kiewlicz sobreviveu, alcançando a retaguarda polonesa com um pelotão de pioneiros e 150 outros soldados, dois canhões e vários soldados da posição de Giełczyn. Ferido, ele se retirou para Białystok e depois para Wilno (hoje Vilnius, Lituânia). Voltou aos combates depois de recuperado, e em 1941, juntou-se a União da Luta Armada (Związek Walki Zbrojnej, ZWZ), a mais antiga unidade de resistência polonesa anti-alemã e antissoviética, formada em 13 de novembro de 1939, que mais tarde se tornaria o AK – Armia Krajowa, o Exército Nacional Subterrâneo Polonês. Em algum momento, entre setembro e outubro de 1944, ele foi preso em Bogusza pelas tropas do Comissariado do Povo para Assuntos Internos (Narodnyy Komissariat Vnutrennikh Del, NKVD), e encarcerado em Wilno. Na primavera de 1945, foi deportado para o campo do NKVD em Ryazan, sudeste da então URSS. Libertado em novembro de 1947, ele retornou à Polônia e se estabeleceu em Białystok. Está sepultado no cemitério paroquial da cidade.

Os restos da unidade do major Nowicki cruzaram o rio Bug e se juntaram ao SGO Polesie, do general Kleeberg. Sua tropa foi encarregada da defesa de Annopol, sul de Kock, no final de setembro. Dos 130 soldados que comandava, Nowicki perdeu 97, incluindo, entre os quatro comandantes de pelotão, o tenente Z. Wilanda (*NI) que esteve em Wizna. Aprisionado em 11 de novembro de 1939, em Varsóvia, ele passou toda a guerra em campos de prisioneiros, primeiro no Oflag IX, em Molsdorf, e depois no Oflag IIC, em Woldenberg. Retornou à Polônia em 1946, onde tentou publicar um livro de memórias, Em luta com o 135º (Z fight, 135 pp). Tentou publicá-lo em alguma editora ou gráfica do nordeste da Polônia, provavelmente em Białystok, na década de 1960. Morreu nessa cidade em 19 de março de 1964.

Sete anos depois, em Varsóvia, morria seu comandante nos combates de Wizna, o tenente-coronel Tabaczyński. Depois que seu regimento foi dissolvido em 6 de outubro de 1939, Tabaczyński foi para Varsóvia, onde passou a integrar as tropas da ZWZ, assumindo, em agosto de 1940, o comando da inspetoria da organização em Płońsk-Ciechanów. Sob os codinomes Grabowski, Mazur e Kurp, foi transferido para Lwów (atual Lviv, Ucrânia), em março de 1943, também como inspetor na cidade, além de comandante adjunto do distrito. Em agosto, os alemães o prenderam e ele passou os próximos anos nos terríveis campos da morte nazistas tais como Auschwitz, Buchenwald, Gross-Rosen, Mittelbau-Dora e Bergen-Belsen. Sobretudo a partir de Gross-Rosen, passou a comandar as organizações dos prisioneiros, tentando estimular fugas, contrabando de comida para o interior dos campos e principalmente disseminação de informações, para os Aliados, sobre as condições infernais daquelas instalações. Que lhe cobraram um preço terrível. Ao ser libertado pelos canadenses em 15 de abril de 1945, seu estado de saúde era crítico e ele ficou hospitalizado em Celle, Hannover, depois em Londres, e depois no Hospital Polonês, em Penley, na Grã-Bretanha. Tabaczyński retornou à sua terra em 18 de novembro de 1965. Praticamente inválido, foi morar em Otwock. Morreu em Varsóvia em 8 de julho de 1971 e foi enterrado no cemitério militar Powązki.

As perdas alemãs também não são bem conhecidas. Em seus diários, Guderian anotou que 900 soldados alemães foram mortos em ação, mas esses números provavelmente estão errados. Um comunicado oficial da Wehrmacht mencionou “várias dezenas de mortos”, mas pelo menos várias centenas de corpos de soldados alemães mortos foram exumados de um cemitério de guerra local, anos depois. Alguns autores chegam a relatar 1.400 baixas entre mortos, feridos e desaparecidos. Dez tanques e outros blindados foram destruídos assim como um avião. A história oficial da 10ª Panzer dá conta de que nas batalhas de 8 de setembro, nove soldados foram mortos e 26 feridos. O 1º Batalhão, do 86º Regimento de Infantaria, do coronel Hans Ehrenberg (1888-1947), que foi a principal unidade envolvida na captura dos bunkers, relatou em 9 de setembro, às 17h00, a perda de 40 homens. Há alguma estatística sobre as perdas do 8º Regimento Panzer (Elster), mas os combates travados em Zumba, Wysokie-Mazowieckie e Andrzejewo dificultam a diferenciação das baixas.

Mas sejam quais forem os números, o fato é que um exultante Guderian[1] assistiu à parada da vitória, um desfile conjunto da Wehrmacht com o Exército Vermelho, em Brześć, a 22 de setembro. Em menos de 30 dias, ele percorreu todo o norte da Polônia e confirmou sua teoria sobre o emprego de tropas blindadas, emassadas e rápidas. A asserção de Kenneth Macksey sobre o general alemão é conclusiva: “Em luta feroz em terreno difícil, conseguiria, por pura força de personalidade e energia, vencer não só um inimigo valente, mas os descrentes do seu próprio lado, que eram cautelosos demais para o seu gosto”. Militar demais para se preocupar com política (embora acreditasse que “os princípios fundamentais [do nazismo] eram bons” ) não se sentiu suficientemente constrangido para dividir o cenário do desfile com o general Semyon Moiseevich Krivoshein (1899-1978), comandante da 29ª Brigada Ligeira de Tanques, “… com algum conhecimento de francês e com o qual pude manter conversação”.

A lua de mel durou até junho de 1941, quando Guderian liderou um grupamento Panzer muito maior que o seu modesto 19º Corpo. Alinhando cinco divisões Panzer, três de infantaria e uma de cavalaria, ele por pouco não “visitou Krivoshein em Bykhaw, onde o general comandava o 25º Corpo Mecanizado. Quando Krivoshein retornou a Brześć, em 1944, à frente do 1º Corpo Mecanizado de Krasnograd, Guderian via a guerra de longe, afastado do campo de batalha desde o Natal de 1941. O alemão não assistiu, portanto, os abrigos da seção Wizna serem destruídos pelos compatriotas em retirada em 1944, e nem Krivoshein presenciou, mais tarde, a tétrica ordem nos novos senhores soviéticos de exumar o corpo carbonizado – intencionalmente queimado pelos alemães em 1939 – de Raginis, e movê-lo, bem como o do tenente Brykalski, da sepultura rudimentar ao lado do abrigo em Góra Strękowa para outro lugar, a fim de que os poloneses não cultuassem seus heróis. Só muito tempo depois é que uma singela placa foi colocada nas ruínas com os dizeres: “Transeunte, diga à Pátria que lutamos até o fim, cumprindo nosso dever.”

A Associação “Wizna 1939” (Stowarzyszenie “Wizna 1939”), dedicada a preservar a memória da batalha e dos homens que nela lutaram, realizou a exumação dos restos mortais de Raginis, entre 2 e 22 de agosto de 2011. Além de constatar que os corpos haviam sido movidos, sem que se saiba ao certo para onde, a descoberta de fragmentos de ossos (rótula, crânio), submetidos a testes de DNA, confirmaram que os despojos pertenciam ao capitão Raginis. Foram encontrados também vários itens pessoais pertencentes ao comandante de Wizna, tais como uma medalha, uma caneta-tinteiro, uma carteira e seis estilhaços da granada que o capitão detonou junto ao corpo. O funeral solene foi organizado pela Associação “Wizna 1939” e ocorreu em Góra Strękowa, em 10 de setembro de 2011, no 72º aniversário da morte de Raginis e Brykalski.

No plano de guerra alemão, Wizna era o elo mais fraco da linha norte da defesa polonesa. Construída as pressas, tiveram seu valor como os dois dias de ferrenhos combates demonstraram. As vantagens incluíam, por exemplo, a boa visibilidade o que dava a guarnição uma visão bastante aceitável do primeiro plano, facilitando as posições de tiro localizados nas laterais dos abrigos. A cooperação com a artilharia era razoável. Além disso, os bunkers foram montados de tal maneira que, em tese, um abrigo protegeria o vizinho. Isso foi verdade até o momento em que Guderian, percebendo que os poloneses não dispunham de armas anticarro, passou a aproximar os tanques, que protegiam sua infantaria, responsável por cercar e dominar os abrigos.

Em princípio, exatamente por causa das armas antitanque, atacar os bunkers de frente não era recomendável, o que fez a Lötzen e a 10ª Panzer tentarem manobras de flanco. Os obstáculos constituídos por valas, cercas, arames, minas também ofereceram apoio defensivo importante. Entretanto, os abrigos foram criados a partir de uma doutrina operacional de defesa que dava à infantaria, mesmo a infantaria apoiada por alguns carros, o papel preponderante no ataque. Os poloneses (e depois, os franceses, ingleses, gregos, iugoslavos e russos) não estavam preparados para o “soco dinâmico” (Stosskraft), concebido por Guderian, uma antecipação não refinada, em princípio, do que viria a ser o shock and awe, 60 anos depois.


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“Os poloneses abandonaram a luta”

Concebidos sob um princípio justificado pela época, os abrigos de Wizna ainda assim apresentavam deficiências bastante significativas. No aspecto construtivo, a falta de ventilação foi uma delas. O fogo produzido pelos combates se espalhava facilmente devido ao clima e ao terreno seco, e a fumaça densa fazia com que os homens precisassem se retirar das fortificações para poder ver melhor no que estavam atirando, o que já contradizia a existência das fortificações, erguidas para protegê-los. No auge do canhoneio, muitos defensores sufocaram e desmaiaram.

A ideia de que os abrigos se protegeriam mutuamente foi por terra diante da realidade de que o número de fortificações construídas era pouco para o tamanho do campo de batalha a ser coberto. Então, quando a defesa antitanque feneceu, foi relativamente fácil para Guderian destruí-las uma a uma. Isso decorreu do fato de a posição não ter sido concluída a tempo e não ter sido devidamente camuflada. A maior instalação era o abrigo de comando da seção, localizado em Góra Strękowa, o GG-126, no qual nenhuma cúpula blindada foi instalada e as seteiras para tal foram preenchidas com mistura de concreto.

O bunker de Raginis era o único em que havia rádio com o qual ele se comunicava com Osowiec. A comunicação entre os abrigos era feita, quando feita, por meio de estafetas. A seção tinha uma falta crônica de lançadores de granadas, metralhadoras pesadas e armas antitanque. E embora Raginis estivesse subordinado ao tenente-coronel Tabaczyński, comandante do 135º Regimento, em Osowiec, localizada 36 km ao norte, ele sabia que não podia contar com reforços.

A defesa da seção Wizna entrou para o imaginário do povo polonês. Mesmo quando a Polônia caiu sob o domínio soviético, que fez de tudo para que os nomes dos heróis poloneses se perdessem na bruma, avultando apenas os daqueles que colaboraram com a sovietização do país (e não foram poucos), Wizna não foi esquecida, ainda que sua luta inglória tenha sido pouco valorizada. Entretanto, exatamente pelo fato de Wizna não ter sido relegada a um segundo ou terceiro planos – como foi feito com os judeus poloneses na revolta do Gueto de Varsóvia, em 1943, dos soldados do AK na revolta de Varsóvia, em 1944, e de toda a campanha dos poloneses de Londres durante toda a guerra – paira no ar a dúvida de se Wizna não foi um dos instrumentos de propaganda elencados pelos soviéticos com o conluio de comunistas poloneses.

A ideia de que uma tropa ínfima, sem meios adequados, foi capaz de se opor a uma força avassaladoramente superior, conduzida por um já afamado general de tanques, evoca a imagem de um pequenino Davi contra um gigantesco Golias. Ou das Termópilas. E foi sob essa moldura que a defesa de Wizna passou para a história da Polônia, suscitando acesas discussões até hoje. Um exemplo é o Dr. Tomasz Wesołowski, historiador da Universidade de Białystok. que causou verdadeiro furor quando deu uma entrevista a Monika Żmijewska, do Białystok Gazeta Wyborcza, em setembro de 2009, aniversário de 70 anos, da batalha, onde desconstrói a maioria da narrativa heroica da história, inclusive propondo que os soldados de Raginis simplesmente abandonaram suas posições diante do ataque alemão.

“Afirmo, com toda a responsabilidade, que a maioria dos soldados poloneses abandonou suas posições; e isso pode acontecer por vários motivos; o oficial morre, o soldado não sabe o que fazer a seguir. E é isso. Já na noite de 8 de setembro, na vizinha Osowiec, foi estabelecido um tribunal de campo para julgar os desertores de Wizna. Os combates principais nem haviam se iniciado e grupos de soldados em pânico sem armas chegavam a Osowiec”. Wesołowski contesta ainda o número de soldados, de ambos os lados, em combate em Wizna e o número de mortos entre os poloneses.

Nesse quesito, ele não está sozinho. É óbvio que Guderian não lançou todo o peso do 19º Corpo sobre Wizna, que deveria ser conquistada quase que de passagem. Ele enviou frações de tropas que foram aos poucos ganhando volume já que a maior parte do Corpo estava esperando em um enorme engarrafamento (que Wesołowski chegou a classificar como um dos maiores da guerra) às margens do Narew, tentando arranjar meios de atravessá-lo. Sztama: “Portanto, os defensores não lutaram com 42 mil soldados alemães, porque estes não estavam fisicamente lá”. Para Wesołowski, o número de alemães em combate efetivo em Wizna, no auge da luta – 9 de setembro – era de cerca de 3 mil a 4 mil homens. “Se as estimativas de Wesołowski fossem adotadas, a vantagem alemã seria de cinco soldados por polonês”, afirma Sztama. Isso, evidente, se o número de 720 defensores do setor fosse confirmado, o que, para alguns historiadores, além de Wesołowski, não foi. Moczulski diz que o número varia entre 350 e 720 poloneses  e, se o número dos soldados de Raginis for metade do que a história divulga, fica a questão sobre o número de sobreviventes tanto entre alemães como entre poloneses.

“A versão oficial diz que a Alemanha sofreu enormes perdas, que nossos soldados, apesar de uma disparidade tão grande de forças, destruíram grandes tropas. Só que parece que ninguém sabe dizer onde estão esses alemães [mortos]. Se tantos deles morreram, deveria haver sepulturas em algum lugar. O problema é que apenas nove sepulturas alemãs foram encontradas” , diz Wesołowski. Ele garante que passou vários anos rebuscando arquivos alemães para chegar a essa conclusão e assegura que, entre os poloneses, não mais de uma dúzia foram mortos e perto de 90 capturados.

Admitindo os 720 defensores, o próprio Wesołowski questiona: “O que aconteceu com o restante? Vamos admitir que alguns soldados não participaram dos combates – os sapadores, por exemplo – cerca de 70; assim ainda existem mais 400 mortos. Onde estão?”. Se, como conta a história oficial, somente 70 soldados sobreviveram, é de constatar que 650 foram mortos ou feito prisioneiros. Wesołowski não fala desses últimos, mas lança a mesma questão em relação aos mortos alemães. “Se eles morreram, onde estão [enterrados]? Nenhum dos habitantes locais que chegaram ao campo de batalha, após as lutas, encontraram centenas de cadáveres ou túmulos frescos?”.

Quem oferece a resposta é Dariusz Szymanowski, autor do livro Não apenas as Termópilas polonesas: Wizna em 1939-1945 (Nie tylko polskie Termopile: Wizna w latach 1939-1945), fundador e presidente da Associação “Wizna 1939”. Em uma entrevista concedida a Piotr Włoczyk, da revista Do Rzeczy, de 7 de setembro de 2018, ele responde que hoje já é consenso que havia muito menos de 720 homens em Wizna. “O campo de batalha de Wizna é, simplificando, uma área de quase 90 km²; então as vítimas ficaram muito dispersas”. Ele afirma que, conversando com moradores da área, ficou sabendo que depois dos combates, ninguém ia até os setores de luta por medo de minas.

Wesołowski provoca Szymanowski e vários outros autores e cultuadores de Wizna quando assevera que a seção não passou de um contratempo para os alemães. Ele lembra que a 10ª Panzer recebeu de Guderian a ordem de capturar Łomża até meia-noite de 7 de setembro. Segundo ele, o comandante do 19º ordenou a Stumpff: “Ou você captura Łomża ou procura outra rota”. Deste modo, Wizna tornou-se uma alternativa para que as unidades de Guderian continuassem céleres rumo a Brześć. O problema é que Stumpff se deparou com estradas muito ruins e somente no dia 8 é que suas formações começaram a chegar a Wizna. Na tarde daquele dia iniciaram ações ofensivas. Primeiro chegou um batalhão de infantaria, apoiado por um esquadrão de artilharia, com vários soldados. Só então o equilíbrio do poder foi alcançado. E em 8 de setembro, havia tantos alemães quanto poloneses. Na tarde daquele dia, os alemães tentaram atividades ofensivas. “Eles colocaram a posição polonesa em chamas com artilharia e aí ocorreu a primeira brecha: a guarnição da posição mais a frente no Narew [Włochówka?] não conseguiu manter-se moral e mentalmente equilibrada e abandonou suas posições”.


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Só que Guderian, em seu Panzer Líder, não faz menção a uma ordem dessas a Stumpff. No dia 6, ele fala do seu novo posto de comando, o castelo do Conde Dohna-Finkelstein, onde Napoleão se hospedou antes da campanha da Rússia (péssimo presságio), da caçada ao um cervo de 12 pontas no dia 7, da reunião com Bock onde preservou o 19º Corpo “independente” no dia 8 e do ímpeto que deu ao ataque da 10ª Panzer no dia 9. É de se perguntar por que um general enérgico como era Guderian não teria registrado uma ordem como a apontada por Wesołowski, já que fator tempo era determinante e, na verdade, a síntese de sua concepção de guerra.

O historiador observa que os alemães, após chegarem à Wizna no dia 8, não atacaram em peso imediatamente. E não o fizeram não porque não podiam ou porque encontraram forte resistência, mas apenas porque não quiseram. Eles preferiram esperar o dia seguinte, quando a ponte de pontões estivesse em condições de receber tráfego pesado. “Do ponto de vista operacional, Wizna, para os alemães, não foi um episódio significativo; houve até períodos de inatividade, com pouca intensidade de luta; é surpreendente que, entre as fotografias tiradas pelos alemães durante a batalha, haja muitos soldados em repouso, pescando e até tomando banho no Narew”. Essa última atividade, banho no Narew, o tenente-coronel Tabaczyński soube que ocorria por meio dos moradores, quando de sua incursão a Giełczyn, no dia 11.

Se houve tempo para que os alemães se banhassem no rio, é possível que Wizna não fosse assim tão crucial para os planos alemães e aí o questionamento que fica é se Raginis e seus homens morreram à toa. Nem a morte heroica de Raginis, se recusando a abandonar sua posição e preferindo a morte à capitulação, escapa ao crivo crítico de Wesołowski.

E para alguns o historiador foi longe demais ao colocar em dúvida a morte do capitão. Para ele, existem várias versões da morte de Raginis. A oficial, de que ele se matou com um granada, uma outra, em que ele teria atirado contra si mesmo, uma terceira, de que morreu em virtude dos ferimentos recebidos, e até uma quarta que diz que o tiro que o matou foi acidental, disparado por algum integrante da guarnição do bunker. Acidental? “E assim chegamos à versão repetida por alguns veteranos e versões locais, de que ele [Raginis] foi morto por seus próprios soldados, supostamente porque não queria desistir. Obviamente, isso não é evidência para o historiador, mas os outros relatos não são evidências conclusivas”.

Termópilas polonesas?

No final da guerra, uma Polônia destruída, dessangrada, psíquica e moralmente violentada, ainda tentava juntar o que restara de sua dignidade, ao mesmo tempo em que dava combate ao aliado de outrora dos nazistas, Stalin. Muitos dos sobreviventes dos combates de seis anos (importante lembrar que a Polônia foi a única nação a lutar contra os alemães do primeiro ao último dia da guerra), abandonaram as forças armadas, mergulharam no ostracismo para preservar suas vidas e memórias e não as entregaram aos futuros historiadores através de depoimentos ou registros.

Os que restaram dos combates em Wizna seguiram o mesmo curso ao final da guerra. Wesołowski afirma que mais de 100 estavam “disponíveis” para falar sobre o episódio, mas parece que ninguém os ouviu. Para o historiador de Białystok isso ocorreu porque a narrativa histórica precisava ser mantida a partir da visão comunista da então República Popular da Polônia. “Entre o final da década de 1960 e o início da década de 1980, cerca de uma dúzia de pessoas admitiu ter lutado em Wizna. Vários relatos foram escritos em Londres, mas os pesquisadores posteriores não os alcançaram. No entanto, ninguém realmente prestou muita atenção a isso. Minha queixa mais séria sobre a era comunista é que no momento em que ainda havia pessoas que podiam ser encontradas, isso não foi feito. Essas pessoas não eram necessárias. Por quê?”.

Ele compara o percurso do tenente Kiewlicz, que lutou em Giełczyn, e que o historiador admite que foi ouvido, com o capitão Szmidt, da 8ª Companhia. Este último, que não era oficial de linha, apenas instrutor da escola, trancou-se no abrigo e capitulou apenas quando os tanques o atingiram. Wesołowski diz que ele queria cometer suicídio, mas acabou desistindo. “No final – para os propagandistas do povo – ele não era digno de ser considerado um herói, por uma simples razão: depois de ser libertado da prisão, passou a viver em Londres”.

Já Kiewlicz, um soldado especialmente treinado para lutar em fortificações, segundo Wesołowski, abandonou seu abrigo antes que os alemães se aproximassem algumas centenas de metros. Durante a retirada, ele encontrou a unidade do tenente Teofil Szopa (*†-NI). “O profissional Kiewlicz não queria mais lutar; Szopa, professor, reservista, decidiu ficar. E foi morto”. O historiador não fala da trajetória de Kiewlicz depois de Wizna, quando continuou combatendo até o fim da guerra, e nem que foi preso pelo NKVD ao final desta por ter sido soldado do AK, um fato que pode não o qualificar como um herói de Wizna, mas seguramente não o torna uma figura bem quista na Polônia soviética.

Quanto a Szopa: “E ninguém se lembra do tenente Szopa hoje; ele sequer viu um túmulo decente”. Szymanowski diz que não foi encontrada sepultura de Szopa simplesmente porque ele não morreu em Wizna. Embora Tabaczyński, em seu relatório escrito depois da guerra, tenha grafado que Szopa, comandante de pelotão, morreu na região, Szymanowski assegura que o tenente sobreviveu à guerra em circunstâncias dramáticas e morreu muito velho. “Conversei com seus filhos”, ressalta. Szymanowski responde ainda às outras alegações de Wesołowski.

Os restos mortais de Raginis foram encontrados, comprovados por exames de DNA, com a confirmação, inclusive, por fragmentos de granada encontrados, que ele morreu como relatado, e que não há evidência alguma de que em Osowiec uma espécie de corte marcial tenha sido criada para julgar desertores de Wizna. Para ele, todo o episódio configura uma das passagens mais marcantes da Guerra Defensiva Polonesa, de 1939, e que embora procure ver com um certo distanciamento crítico, há sim certa similitude com as Termópilas gregas, como explica em seu livro. Essa “semelhança”, que joga sombras e luzes sobre o evento de Wizna, é que parece mover Wesołowski em sua cruzada contra o que ele chama de mistificação.


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O termo aplicado à defesa heroica de Wizna foi criado em 1959, 20 anos após os eventos, pela propaganda comunista. Primeiro pelo Estandarte Juvenil (Sztandar Młodych), diário nacional para jovens, que começou a ser publicado em 1º de maio de 1950, e que se tornou ao longo do tempo o órgão oficial de imprensa da juventude socialista polonesa em suas diversas configurações, e que no seu primeiro número publicou os “empolgantes” discursos de Bolesław Bierut, primeiro presidente da R. P. Polônia, marechal Konstanty Rokossowski, do Exército Soviético, imposto ministro da Defesa de Varsóvia por Moscou, e Stalin.

Ao longo do tempo, a memória coletiva foi fixando o fato como tal. Wesołowski nota que a história da batalha de Wizna foi tratada, ao longo dos anos, não por historiadores, mas por propagandistas. Ele lembra que o único historiador que tratou do tema depois da guerra, foi o coronel Adam Tymoteusz Sawczyński (1892-1975), comandante de artilharia da 41ª Divisão, de Piekarski, que deveria ter entrado em ação em Różan, a 6 de setembro, ao lado da 33ª Divisão, de Kalina-Zieleniewski, mas não o fez. “E Sawczyński escreveu da perspectiva de Londres, depois da guerra, sem ter a oportunidade de vir ao país”. Em 1976, Wizna se consolidou como as “Termópilas polonesas” graças ao fundador e primeiro diretor do Museu Militar de Białystok, o coronel Kosztyła. “Mas quando Kosztyła tratou do assunto de Wizna, ele o fez da maneira como foi ensinado: como um comissário político no Exército Popular da Polônia”.

O termo “Termópilas polonesas” é corrente na historiografia militar do país, antes mesmo de Wizna. Parece que a maioria dos historiadores concordam que a comparação com os 300 de Esparta tem mais a ver com a batalha de Zadwórze, travada durante a Guerra Russo-Polonesa (1919-1921) do que exatamente com Wizna[2].

Szymanowski, cujos pais são de Wizna e que, segundo ele, cresceu ouvindo sobre o heroísmo do capitão Raginis, admite que não se tem as respostas exatas para todas as perguntas sobre a defesa de Wizna. “Faltam documentos, dados específicos; nesse caso, não é tão fácil recriar o que aconteceu durante aqueles quatro dias; a área deste confronto era muito grande e não há testemunhas desses eventos.” E complementa com o que parece ser uma clara resposta a Wesołowski: “No entanto, isso não significa que toda a batalha possa ser reduzida ao absurdo de os alemães tiveram uma inesperada parada mais longa perto de Wizna, porque tinham uma ponte flutuante muito curta, e os poloneses escaparam assim que a luta real começou”.

Por sua vez, Wesołowski garante que tudo o que afirma pode ser confirmado no livro que está escrevendo sobre o tema e que, ele assegura, não tratará apenas do que aconteceu, mas também trará uma análise da memória da batalha de Wizna, ao longo das décadas da República Popular da Polônia e daqueles 20 anos da Polônia independente, baseada em pesquisa de arquivos históricos alemães e poloneses. “Os autores da versão oficial nunca analisavam os arquivos alemães; na Polônia, havia uma crença equivocada e completamente injustificada de que se os alemães escreveram alguma coisa, isso deveria ser mentira; este é um erro metodológico básico que pressupõe que a propaganda alemã e os documentos militares alemães são a mesma coisa; e não são”.

Ele enfatiza que o livro é uma análise fria, detalhada em 600 páginas ilustradas com mais de cem fotografias de arquivo. “Apresentarei os mitos e verdades sobre o que aconteceu em setembro de 1939; e a verdade é que Wizna, depois da guerra, se tornou um incrível mito de propaganda que cresceu por 70 anos e continua a crescer”.

A memória de Wizna

Em sua entrevista a Włoczyk, em setembro de 2018, Szymanowski dispara: “Esta vergonhosa – não tenho medo de usar essa palavra – entrevista [de Wesołowski] foi publicada no Gazeta Wyborcza Białystok para o 70º aniversário da batalha de Wizna; ficou claro naquela conversa que, a qualquer momento, um livro grosso – de até 600 páginas – seria publicado, o que exporia todos os mitos e lendas sobre a defesa de Wizna; nove anos se passaram desde então, e esta publicação ‘pioneira’ ainda não foi publicada. Então eu pergunto: por que esse livro ‘pronto para impressão’ ainda não saiu?”.

Em setembro de 2014, a Gazeta Wyborcza Białystok anunciou que Wesołowski estava terminando seu livro. Dois anos depois, a Universidade de Białystok informou que o livro de Wesołowski estava para sair. “A partir do surgimento da entrevista [de Wesołowski] em 2009, diversos textos foram publicados confirmando ‘fatos novos’ sobre as lutas do episódio Wizna; eles não contribuíram com nada de concreto para pesquisas futuras, mas antes elogiaram as ‘revelações’ publicadas anteriormente; curiosamente, a maioria foi escrita por pessoas associadas a Białystok, ou mais precisamente à Universidade de Białystok; é tudo triste, porque embora eu pessoalmente tenha passado muitas horas na pesquisa de campo da seção Wizna, nunca vi esses homens verificando suas teorias ousadas”, espicaça Marcin Sochoń, vice-presidente da Associação “Wizna 1939”, em artigo no portal histórico Historykon.pl.

Szymanowski sentencia: “O fato é que o historiador ainda não apresentou evidências para apoiar suas teses, embora tenha anunciado uma sensação. Portanto, pode-se dizer com segurança que o livro do Dr. Wesołowski é um mito e me parece que esta publicação mítica, se sair, ficará mais magra”. Em janeiro de 2021, o livro ainda não estava nas livrarias polonesas.

Raginis permanece incólume na memória dos poloneses. Ele, que já tinha a Cruz de Mérito de Prata (Krzyż Zasługi), concedida em 1937, foi condecorado postumamente, em 1947, com a Cruz de Prata da Ordem Virtuti Militari (Order Wojenny Virtuti Militari), e em 1970 com a Cruz de Ouro da mesma ordem (Krzyżem Złotym). Em setembro de 1989, o governo colocou em circulação um selo no valor de 5 złotys, apresentando um retrato de Raginis e da defesa de Wizna. Lech Kaczyński, presidente da Polônia, em 2009, concedeu a Raginis a Grã-Cruz da Ordem da Polonia Restituta (Order Odrodzenia Polski, Polonia Restituta (PR)), a segunda maior comenda civil do Estado, e em 2012, o Ministro da Defesa Nacional, Tomasz Siemoniak, consignou a nomeação póstuma de Raginis para o posto de major, e de Brykalski para o de capitão.


Homenagem: Fragmento de um dos dois bunkers de combate em Góra Strękowa foi colocado no túmulo de soldados que lutavam sob o comando do capitão Władysław Raginis (Fonte: Grzegorz Kossakowski).

Homenagem: Fragmento de um dos dois bunkers de combate em Góra Strękowa foi colocado no túmulo de soldados que lutavam sob o comando do capitão Władysław Raginis (Fonte: Grzegorz Kossakowski).

Vários documentários, livros e peças musicais foram produzidas em homenagem a Raginis e Wizna. A banda de dança polonesa Forteca compôs Defensores de Wizna (Obrońcy pod Wizny) e a de metal sueca, Sabaton, lançou a canção 40:1 (40 para 1 – “Czterdzieści do jednego”), cujo vídeo foi dirigido por Jacek Raginis, neto da irmã do capitão. Antes de seu show, realizado na Polônia, em 23 de outubro de 2008, os integrantes da Sabaton visitaram Wizna e prestaram homenagem aos soldados do capitão Raginis. Em 2020, o 18º Regimento de Logística, de Łomża, subordinado à 18ª Divisão Mecanizada, assumiu o major Władysław Raginis como patrono da unidade, assim como vários grupos de escotismo. Cerca de 22 ruas de 18 cidades e quatro vilas na Polônia, levam seu nome, entre elas as localizadas em Białystok, Działdowo, Kiekrz, Kielce, Łomża, Lublin, Opole, Rzeszów, Szczecin, Tarnów, Varsóvia (distrito de Bemowo) e Zambrów.

Independente da glorificação, para alguns, exagerada, dos feitos do capitão Raginis e de seus homens, fica muito claro que o episódio Wizna não é um ponto fora da curva na história das forças polonesas na II Guerra Mundial. Mesmo na campanha de setembro, os poloneses, apesar de toda a miopia que por vezes grassava no alto comando, se bateram com patriotismo e continuaram a fazê-lo mesmo depois que seu país estava curvado, prostrado diante da Alemanha nazista.

Em Wizna, embora as unidades fossem quase inteiramente compostas por recrutas mobilizados em agosto de 1939, em vez de soldados profissionais – exigidos em outras frentes –, seu moral era muito alto (exceto, talvez, a unidade do capitão Szmidt, antes do início do conflito). Após a guerra, Guderian teve problemas para explicar por que seu Corpo foi retido por uma força tão pequena. Parece que não foi somente uma questão logística ou o engarrafamento de veículos às margens do Narew.


LIVRO RECOMENDADO

German Soldier vs. Polish Soldier: Poland 1939

  • David R. Higgins (Autor) e Steve Noon (Ilustrador)
  • Em inglês
  • Kindle ou Capa comum

O coronel Przemysław Kupidura, em artigo publicado, com outro autor, na Revista Técnica e Logística Militar (Wojskowy Przegląd Techniczny i Logistyczny), em 1999, afirma que Guderian observou que Wizna era “bem defendida por uma escola de oficiais local”. Se era fato que as defesas polonesas em Wizna eram fracas, também era fato que os alemães estavam experimentando suas teorias pela primeira vez em campo e isso, é claro, dava margem a erros.

Mas enquanto os alemães puderam aprender com seus equívocos, a mesma chance não foi dada aos poloneses. Ainda mais porque o comandante-em-chefe e o alto-comando poloneses não tinham o mesmo nível de profissionalismo do Estado Maior Alemão, como demonstram as ordens dadas, revogadas, confirmas e negadas, numa sequência de ensandecer os homens em campo. Krajewski: “Mesmo antes do 19º Corpo alemão surgir no campo de batalha, por ordem do marechal Śmigły-Rydz, a região, que estava perfeitamente defensiva, foi despida de tropas, revelando a ala direita de unidades concentradas na área de Varsóvia”.

Mas a dedicação dos defensores de Wizna fez sentido. Quando Guderian foi obstado na região – e aqui importa pouco se o fez porque quis ou se obrigado pelos defensores – as forças ao redor de Varsóvia tiveram pelo menos dois dias para compor sua defesa, além de permitir a muitas unidades, soldados, oficiais e funcionários poloneses a retirada de forma mais ou menos ordenada para a Romênia. “No entanto, o quanto poderiam os soldados do Capitão Raginis, se tivessem sido bem armados, supridos de munição e fortificações que não eram apenas substitutos para bunkers? Mas essa questão em particular dizia respeito a todo o Exército Polonês da época”.

Notas

[1] Quanto a afirmação de sobreviventes de Wizna de que Guderian ameaçou fuzilar prisioneiros caso Raginis não se rendesse, não há nada conclusivo. Ele se rendeu aos americanos em 10 de maio de 1945 e não foi acusado de crimes de guerra, apesar dos protestos da Polônia e sua suserana, a URSS (David G. Williamson, 2009; Poland Betrayed: The Nazi-Soviet Invasions of 1939. Stackpole Military History. Mechanicsburg, PA: Stackpole Books. p. 180).

[2] Zadwórze é uma pequena vila localizada a 33 km do centro da cidade de Lwów (Lviv). Em 17 de agosto de 1920, o capitão Bolesław Zajączkowski (1891), liderando um batalhão de aproximadamente 500 voluntários, incluindo jovens e estudantes que passaram a história como “aguiazinhas de Lwów” (Orlęta lwowskie), chegou à aldeia de Kutkorz, ao longo da ferrovia Lwów-Tarnopol, quando foram alvejados por russos acantonados na aldeia vizinha de Zadwórze. Zajączkowski ordenou um ataque e tomou estação ferroviária da aldeia ao preço de 200 mortos. Quase que de imediato, tropas da 6ª Divisão de Cavalaria (general Iosif Rodionovich Apanasenko, 1890-1943), do 1º Exército de Cavalaria, comandado pelo inábil oficial e futuro apaniguado de Stalin, general Semyon Mikhailovich Budyonny (1883-1973), iniciaram um contra-ataque. Ao anoitecer, a munição dos poloneses estava quase esgotada, mas a unidade polonesa conseguiu repelir seis cargas de cavalaria consecutivas. Zajączkowski decidiu se retirar para Lwów, mas foi impedido pela aviação soviética. Ele então ordenou que seus homens organizassem um último bolsão de resistência e depois que a munição esgotou de vez e os combates descambaram para luta com facas, baionetas, sabres e corpo a corpo, a resistência polonesa foi quebrada. Dos 330 soldados poloneses que tomaram a estação ferroviária no início daquele dia, 318 estavam mortos. Várias dezenas de poloneses feridos foram capturados pelo Exército Vermelho e assassinados. Zajączkowski cometeu suicídio. Apenas 12 soldados sobreviveram. As 11 horas de luta permitiram o fortalecimento das defesas de Lwów e impediram que Budionnyi apoiasse as forças russas que lutavam em Varsóvia (https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Zadworze).

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