Afoito, quase desesperado, o soldado de artilharia Seweryn Biegański pedala furiosamente pela estrada que atravessa a floresta, rumando na direção de Góra Strękowa, 36 km ao sul. Ele saiu do Forte Osowiec[1], cidadela que se manteve inexpugnável por seis meses e meio durante a I Guerra e que não foi tomada pelos alemães nem mesmo com o uso de armas químicas. Tem pressa e precisa ter mesmo. É manhã de 10 de setembro de 1939, décimo dia da invasão alemã à Polônia, e Biegański tem nos lábios uma mensagem urgente do capitão Tadeusz Naróg, ajudante do comando do 135º Regimento de Infantaria, dirigida ao capitão Władysław Raginis, comandante do setor Wizna, então lotado no bunker “GG-126”, na colina mais alta de Góra Strękowa.
Por questões técnicas, a versão em PDF deste artigo será publicada na terceira e última parte.
Raginis, já sem a maior parte dos seus homens, ainda resiste ao assédio dos alemães depois de três dias de furiosos combates. Mal chega à ponte do rio Narew, Biegański é saudado pelas metralhadoras de um caça Bf-109 alemão, que descarrega parte de sua munição, já que a totalidade da mesma foi despejada, junto com petardos da artilharia de campo, no bunker de Raginis. Ele abandona a bicicleta e vence a distância até o bunker onde transmite as ordens de Naróg: “Defender as posições confiadas a todo custo; nada de retirada sem ordem em contrário”. Biegański observa o estado dos defensores. Estão exaustos. Muitos feridos, sem assistência médica, alguns cegos, atordoados pelos sons contínuos dos projéteis caindo sobre a seção, sufocados pela fumaça e poeira. A munição está praticamente esgotada. Em síntese, prosseguir a luta sob tais condições equivalia simplesmente a morrer lutando. E era exatamente isso que o jovem capitão polonês de 31 anos tencionava fazer.
“Os duros defensores poloneses não desistiam da luta e nossa unidade foi novamente engajada com fogo de metralhadora. (…) Uma forte detonação derrubou a porta e a entrada foi imediatamente coberta com fogo de submetralhadoras. (…) Os poloneses ainda assim permaneciam lutando, muito embora praticamente todas as suas armas tivessem sido destruídas. Somente quando um dos engenheiros lançou algumas granadas na casamata é que a resistência foi finalmente quebrada. Encontramos nove mortos no abrigo”.
Sturmbannführer (major) Mäser, 19º Corpo de Exército Alemão.
“Cada soldado que saía dos abrigos, após a rendição, bem como os feridos, foram muito mal tratados; na minha vez levei um tiro de pistola na têmpora, fui chutado e severamente espancado por soldados – suboficiais – alemães. Uma vez fora do bunker, desmaiei, mas meus soldados me apoiaram; novamente fui chutado várias vezes no ventre e na cabeça; mais tarde, recebi curativos de um médico alemão, mas perdi completamente a consciência”.
Capitão Wacław Szmidt, 8ª Cia., 135º Regimento de Infantaria, Exército Polonês.
“A dedicação dos defensores de Wizna fazia sentido. Quando o 19º Corpo foi obstado na região, sem poder avançar rapidamente como desejava para o sul e o leste, as forças ao redor de Varsóvia tiveram pelo menos dois dias para compor sua defesa; além disso, esses dois dias inestimáveis permitiram a muitas unidades, soldados, oficiais e funcionários poloneses a retirada de forma mais ou menos ordenada para a Romênia”.
Andrzej Krajewski, jornalista do Polska Times.
Faltou muito pouco para que a Alemanha perdesse um dos seus mais importantes generais logo no início da guerra. Ele mesmo – Heinz Wilhelm Guderian (1888-1954) – descreve os eventos que quase o alijaram dos combates, em seu livro Panzer Líder: “No dia 1º de setembro, todo o [19º] Corpo deslocou-se para a fronteira. Um espesso nevoeiro cobria toda a área de operações, o que impedia a obtenção de qualquer apoio da força aérea. Acompanhei a 3ª Brigada Panzer (general Horst Stumpff, 1887-1958), na primeira vaga, até a região ao norte de Zempelburg [atual Sępólno Krajeńskie], onde se apresentaram as primeiras resistências. Infelizmente, a artilharia pesada da 3ª Divisão Panzer (general Leo Geyr von Schweppenburg, 1886-1974), recebeu ordem de abrir fogo apesar do nevoeiro, embora houvesse sido determinado que não o fizesse. Um primeiro tiro caiu 50 metros à frente do meu carro-comando e um segundo 50 metros atrás. Calculei que o próximo seria diretamente onde me achava e ordenei ao motorista que mudasse de direção e se afastasse lateralmente. O inusitado estrondo dos tiros, porém, fê-lo tão nervoso que ele atirou [o veículo] a toda a velocidade dentro da valeta da estrada. O eixo dianteiro do meia-lagarta encurvou-se de tal modo que o mecanismo da direção se inutilizou totalmente. Assim estava terminado o meu movimento”.
Só faltou acrescentar, “naquele dia”. Porque os movimentos de Guderian se estenderam até dezembro de 1941, quando foi dispensado por Hitler diante do fracasso às portas de Moscou. Até isso acontecer, Guderian só colecionou vitórias, as primeiras alcançadas na Polônia em setembro de 1939.
Seu 19º Corpo de Exército, composto por duas divisões motorizadas (a 2ª, de Paul Bader, 1883-1971[2] e a 20ª, de Mauritz von Wiktorin, 1883-1956), e uma Panzer (a 3ª, de Geyr von Schweppenburg), integrava o 4º Exército, do general Günther Adolf Ferdinand Hans von Kluge (1882-1944). Subordinado ao Grupo de Exércitos Norte, responsável pela região do Corredor de Danzig no noroeste da Polônia, o 19º Corpo tinha por objetivo atacar em direção ao rio Vístula, o maior curso d’água da Polônia, envolver e liquidar o maior número possível de tropas polonesas, antes que essas conseguissem recuar para a margem leste do rio, algo que, aliás, constituía o cerne de todo o Fall Weiss, o plano de operações alemão contra os poloneses.
Deste modo, duas grandes massas de tropas – o Grupo de Exércitos Norte, sob o comando do general Moritz Albrecht Franz Friedrich Fedor von Bock (1880-1945), e o Grupo de Exércitos Sul, comandado pelo general Karl Rudolf Gerd von Rundstedt (1875-1953), irromperam pela fronteira da então jovem Segunda República Polonesa, a 1º de setembro de 1939, alinhando 66 divisões, seis brigadas, nove mil canhões, 2.750 tanques, 2.315 aviões, mais três divisões eslovacas, totalizando dois milhões de homens.
Em apoio, quatro frotas da Luftwaffe (Luftflotte), mais unidades navais. Guardando as fronteiras ocidentais estava o Grupo de Exércitos “C”, do general Wilhelm Josef Franz Ritter von Leeb (1876-1956) com seu 1º (general Job Wilhelm Georg Erdmann Erwin von Witzleben, 1881-1944), 5º (general Curt Liebmann, 1881-1960) e 7º (general Friedrich Karl Albert Dollmann, 1882-1944) exércitos, totalizando 50 divisões mal armadas e com treinamento incompleto, apenas 23 delas realmente da ativa.
Se o general Maurice Gustave Gamelin (1872-1958), comandante-em-chefe do Exército Francês tivesse mobilizado apenas parte das suas 40 divisões acantonadas na fronteira do Vosges (incluindo uma blindada e três mecanizadas, é bem provável que teria complicado bastante a vida dos alemães na Polônia. Mas o máximo que conseguiu foi proceder patrulhas de exploração – destacadas de algumas das 15 divisões que estavam realmente em prontidão (alguns historiadores falam em somente nove) – que penetraram apenas sete quilômetros Alemanha adentro, tomando algumas cidades (Saarloui, Saarbrücken e Zweibrücken e alguns vilarejos que logo foram desocupados), com a perda de dois mil homens e quatro tanques.
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Ao contrário do grandiloquente comunicado de Gamelin sobre as “renhidas oposições alemãs”, emitido em 10 de setembro, não houve “resistência vigorosa” por parte dos germânicos. O historiador William Shirer, afirma: “Depois das escaramuças, quase sem derramamento de sangue, [os alemães] retiraram-se para a linha Siegfried. E os reforços de “grandes e novas formações [alemãs, alardeadas por Gamelin] eram nove divisões de reserva, incapazes, naquele momento, de travar batalhas sérias. Nenhuma divisão e nenhum tanque ou avião dos alemães foi desviado da Polônia para reforçar a frente oeste”. Ao preço de 196 mortos, 356 feridos, 114 desaparecidos e 11 aeronaves destruídas, os alemães puderam se dedicar à liquidação do estado polonês sem o desconforto de ter de empreender uma luta de verdade na fronteira francesa.
Com a pantomima dos Aliados a oeste, a Polônia se viu sozinha. Apesar da aliança de defesa estabelecida com o Exército Francês e com o governo britânico em 1939, logo ficou claro para Varsóvia que nem Paris e nem Londres agiriam de modo a aliviar o peso do Exército Alemão sobre seu território. Deste modo, entre um milhão e 1,5 milhão de homens, distribuídos por 39 divisões e 16 brigadas, armados com 4.300 canhões, 210 tanques, 670 tanquetes (veículos leves, blindados) e 800 aviões foram desdobrados de acordo com o “Plano Operacional Oeste” (Plan Operacyjny Zachód).
Durante um bom tempo, militares e políticos poloneses travaram um tenso diálogo sobre como melhor defender o país dos alemães. Os militares entendiam que, em vez de tentar a defesa de toda a linha de fronteiras, o mais viável seria estabelecer linhas defensivas mais para o interior do país, apoiadas nos rios que serviriam como posições naturais de defesa. Os políticos, entretanto, achavam que se a Polônia cedesse imediatamente parte do seu território, notadamente a Cidade Livre de Danzig, o Corredor Polonês e a Silésia, os alemães poderiam simplesmente pressionar pelo fim dos combates consolidando seus ganhos. Considerações estratégicas também falavam a favor da defesa na fronteira. As regiões ocidentais eram densamente povoadas e possuíam grandes centros industriais, cruciais para a produção militar contínua de equipamentos e suprimentos para o exército. Os poloneses não sabiam que o destino que os alemães reservavam a eles incluía a extinção de qualquer sentido de nação polonesa, o que, por si só, inviabilizava qualquer ideia de cessação de hostilidades por parte dos alemães tão logo eles conquistassem territórios poloneses.
O Zachód, criado e lapidado entre junho e agosto de 1938 e revisto em março do ano seguinte, partia do princípio de que o ataque do inimigo se daria em operações simultâneas de flanco, que seguiriam em várias direções, as principais Varsóvia, Łódź, Cracóvia, Kutno e Modlin. “A ideia norteadora da defesa polonesa era infligir perdas importantes à Alemanha e defender certas áreas necessárias para a continuidade da guerra”, afirma Paweł Sztama, historiador, doutor pela Universidade Maria Curie-Skłodowska, de Lublin, e membro do Instituto da Memória Nacional (Instytut Pamięci Narodowej, IPN). “Portanto, pelo menos nos estágios iniciais da guerra, estavam previstas ações defensivas”.
Tal defesa seria tarefa dos nove exércitos de campo – Karpaty (Cárpatos), Kraków (Cracóvia), Lublin, Łódź, Modlin, Pomorze (Pomerânia), Poznań, Prusy (Prússia) e Warszawa (Varsóvia) –, nomeados de acordo com a região sob sua responsabilidade ou cidade-sede que abrigava seus QG’s, suplementados pelo chamado Grupo Independente Operacional (Samodzielna Grupa Operacyjna, SGO), uma variação polonesa do corpo de exército, mais flexível e com grande capacidade de absorver e integrar elementos de unidades desbaratadas em batalha e ainda assim manter sua coesão.
Havia também seu similar de Ulanos, o Grupo de Cavalaria Operacional (Grupa Operacyjna Kawalerii, GOK). Dessas formações, a Polônia alinhava três SGO’s (Narew, Polesie e Wyszków) e quatro GOK (Abraham, Anders, 1º e 2º grupos). Os números poloneses por si só não eram vistosos e, comparados ao ciclone que atravessava suas fronteiras, principalmente no tocante à qualidade, eles empalideciam.
Defender Wizna… com o que?
Cada “exército” polonês dispunha de algo entre duas a cinco divisões de infantaria, uma ou duas brigadas de cavalaria, de três a cinco esquadrões de artilharia, entre duas e quatro companhias de tanques, entre dois e cinco esquadrões aéreos, mais outros serviços, totalizando entre 60 mil a 100 mil homens cada. Com a dotação máxima de soldados por unidade no Exército Alemão de 1939, cada divisão abrigava 17.700 homens. E só no 4º Exército, de Kluge, havia nove, somando 159.300 soldados e oficiais.
Assim, se para Cartier, as forças de Hitler formavam um “exército nascido ontem”, o Exército Polonês nascera quase no momento da irrupção dos combates. Cinco dos nove “exércitos” – Kraków, Łódź, Modlin, Pomorze e Poznań – haviam sido criados a 23 de março; o Karpaty, a 11 de julho, em virtude da tomada da Tchecoslováquia pelos nazistas e da formação do Estado-fantoche da Eslováquia. O Prusy, em agosto, como reserva estratégica. O Lublin foi formado no quarto dia da guerra, tendo como núcleo a 2ª Brigada Blindada Motorizada de Varsóvia, do general Stefan Paweł Rowecki, codinome “Grot” (1895-1944)[3], engrossado por unidades dispersas e sem comando concentradas ao redor das cidades de Lublin, Sandomierz e regiões ao norte do rio Vístula. Mas talvez o que espelhe melhor o despreparo dos poloneses para o tipo de guerra que Hitler havia inaugurado, foi o fato de que somente a 8 de setembro, mais de uma semana depois do início do conflito, é que o alto-comando mandou criar um “exército”, o Varsóvia, para defender a capital. Era corrente entre as mentes do oficialato polonês que a capital estaria protegida dos primeiros combates terrestres (os aéreos começaram logo no dia 1º) uma vez que distava 435 km da fronteira alemã, o que daria tempo suficiente para que o avanço alemão fosse retardado pelas unidades à oeste da capital e defendida eficazmente quando o inimigo chegasse aos seus portões.
A questão era: ser defendida com o que? Obviamente com o material humano remanescente dos duros combates travados até então. Tropas dispersas, desarticuladas, mas com alguma capacidade de combate e ainda suficientemente armadas foram emassadas para tentar salvar a capital, numa demonstração da ingenuidade dos poloneses, certos de que conseguiriam frear o avanço dos alemães ao longo de suas fronteiras, algo que a maioria dos estados-maiores ocidentais, aliás, também acreditavam ser possível.
Estimativas menos otimistas davam conta de que o Exército Polonês conseguiria suportar a pressão alemã por pelo menos seis meses, mas uma semana após o início dos combates, Guderian já estava nos arredores de Wizna, a 390 km de seu ponto de partida em Gross Born (atual Borne Sulinowo), na Pomerânia Ocidental, a menos de 100 km da fronteira soviética. Na área de Wizna, o criador das Panzerwaffe se deparou com uma série de fortificações que o irritaram mais do que atrasaram, mas que, de qualquer modo, lhe custariam o cumprimento do seu apertado cronograma de avanço, caso ele se demorasse demais por lá.
A defesa do setor estava a cargo do Exército Modlin, comandado pelo general Emil Krukowicz-Przedrzymirski – ou Emil Karol Przedrzymirski de Krukowicz (1886-1957) –, cuja missão consistia em defender os acessos setentrionais à capital, as fronteiras da Prússia Oriental, próximo a Mława e, depois de fazer os alemães sangrarem, retirar-se em direção ao rio Narew. Com duas divisões e meia de infantaria (28 batalhões), duas brigadas de cavalaria (37 esquadrões), Krukowicz estava armado com 180 peças de artilharia, 12 canhões antiaéreos, o trem blindado (pociąg pancerny. PP n.13) e 28 aeronaves.
Como apoio, mas não sob seu comando, Krukowicz contava ainda os SGO’s Narew e Wyszków. Caso o inimigo lançasse seu principal ataque na direção de Modlin, o Wyszków, como reserva estratégica do comando, deveria contra-atacar a partir de sua linha no Narew. Se os alemães tivessem o rio como alvo, o SGO deveria empreender a defesa do mesmo. O comando inicial foi confiado ao general Stanislaw Eugene Skwarczyński (1888-1981). Mas seu estado de saúde, sobretudo suas faculdades mentais, estavam em franca deterioração, de tal modo que ele não pôde assumir a liderança, que passou a ser exercida pelo general Wincenty Kowalski (1892-1984).
A principal unidade de batalha do SGO era a famosa 1ª Divisão de Infantaria das Legiões Polonesas, as quase míticas formações de uma Polônia que não existia nos mapas em 1914, e que foram a gênese de todo Exército Polonês até os dias atuais. Criada em fevereiro de 1919, a divisão estava entre as mais experientes e bem equipadas e seu prestígio vinha tanto dos combates travados nas guerras contra ucranianos e russos, como por ter sido comandada pelo marechal Edward Śmigły-Rydz (1886-1941), comandante-chefe do Exército Polonês em 1939. Naquele ano, seu comandante era o próprio Kowalski, que acumulava, portanto, um duplo comando. As outras duas divisões eram da reserva: a 41ª, do general Wacław Piekarski (1893-1979)[4], e a 35ª, do coronel Jarosław Adam Bolesław Szafran (1895-1940)[5]. O PP nº 55 “Bartosz Głowacki” e elementos do 2º Regimento de Artilharia Pesada complementavam as forças do SGO.
Posicionado no flanco esquerdo de Krukowicz, o SGO Narew tinha a missão de defender Łomża e Białystok, assim como todo o nordeste do dispositivo de defesa polonês, com suas posições próximas à fronteira lituana, procurando evitar que os alemães cruzassem o Narew e o Biebrza. O comando estava a cargo do general Czesław Młot-Fijałkowski (1892-1944) que contava com a 18ª Divisão de Infantaria, comandada pelo coronel Stefan Kossecki (1889-1940)[6], a 33ª Divisão (reserva), do coronel Tadeusz Kalina-Zieleniewski (1887-1971), e as brigadas de Cavalaria Podlaska (general Ludwik Kmicic-Skrzyński, 1893-1972) e Suwalska (general Zygmunt Podhorski, 1891-1960). O 3º Regimento de Infantaria do Corpo de Proteção de Fronteiras (3 Pułk Piechoty KOP – Korpusu Ochrony Pogranicza), liderado pelo coronel Zdzisław Aleksander Zajączkowski (1894-1974), complementava as formações de terra.
O componente aéreo era fornecido pela 151ª Esquadrilha de Caça, do tenente Józef Brzeziński (1909-1942), pelo 51º Esquadrão de Reconhecimento, pela 13ª Esquadrilha de Observação (capitão Lucjan Fijuth, 1902-1989) e pelo 9º Pelotão de Ligação. Juntas, as forças de Krukowicz, Kowalski e Młot-Fijałkowski deveriam garantir toda a área norte e nordeste do país, o que significava receber todo o peso do ataque do grupo de exércitos de Rundstedt. O grupo de Młot-Fijałkowski deveria, mais especificamente, defender uma ampla área de até 200 km de frente, por pelo menos 70 de profundidade, com suas bases assentadas nos rios Narew, Biebrza e no canal Augustów, ou seja, bem no eixo da linha de ataque de Guderian.
Seção Wizna, dispositivo de defesa
O problema é que as tropas destacadas para atuar num setor tão grande eram poucas, o que tornaria seu desdobramento esparso, resultando em, ao tentar defender tudo, não conseguir segurar nada. Młot-Fijałkowski sabia disso. Comandante de várias divisões de infantaria no período entre guerras, Młot (martelo) – apelido que ganhou em 1914 quando comandou companhia, pelotão e batalhão do 5º Regimento das Legiões Polonesas – decidiu cobrir as direções principais que, julgava, fariam os alemães. A Kossecki, ordenou que defendesse a linha Ostrołęka-Nowogród-Łomża.
Em princípio, ele manteria concentrada a Podlaska (Kmicic-Skrzyński) no intuito, talvez, de explorar alguma brecha ou oportunidade, enquanto ao sul da 18ª (Kossecki), ele posicionou a 33ª (Kalina-Zieleniewski). Na direção leste-nordeste os caminhos que levavam Białystok, a maior cidade da região com 107 mil habitantes, eram cobertos pela seção de defesa “Wizna”, localizada na confluência dos rios Narew e Biebrza, e pelo Forte “Osowiec”. Grodna, na seção “Augustów”, seria defendida pela Brigada de Cavalaria Suwalska (Podhorski).
Sztama: “Portanto, a ala esquerda da SGO Narew permaneceu em contato frouxo com o Exército ‘Modlin’, enquanto a ala direita alcançava a fronteira da Lituânia”. Deste sistema de defesa, a seção Wizna – em homenagem à cidade localizada na margem oeste do Narew – era a porta que Guderian teria de arrombar a fim de marchar rapidamente para o sul e sudeste, chegando a Brześć (atual Brest, Bielorrússia), fechando o cerco à capital. A seção era responsável pela manutenção de um trecho de nove quilômetros, na margem leste do Narew e do Biebrza e se estendia da vila de Kołodzieje à de Maliszewo-Perkusy-Łynki.
A seção de defesa consistia em cerca de 16 bunkers, alguns abrigos, valas de tiro, postes e barreiras antitanque e emaranhados de arame farpado. As obras de fortificação começaram em abril de 1939, mês em que Hitler chamou seus generais para apresentar o Fall Weiss. Varsóvia, entretanto, não quis perceber os sinais alarmantes que se avizinhavam. Assim, apesar do árduo trabalho, com dinheiro e tempo escassos, as obras de Wizna não foram completadas a fim de dispor de todos os elementos necessários.
Com efeito, os bunkers, de oito toneladas cada um, foram erguidos no alto das colinas que davam vista para o vale pantanoso do rio Narew. A primeira linha de defesa consistia em dois bunkers leves, um em Włochówka e o outro em Grądy-Woniecko, ambas ao sul do braço leste-oeste do Narew. A segunda e principal linha estava dividida em duas subseções por um dique construído em terreno lodoso, por onde trafegava quem pretendesse chegar a Białystok. A subseção norte, denominada “Giełczyn”, dispunha de três bunkers e enfeixava a defesa que ia de Kołodzieje até Giełczyn. A subseção sul, “Góra Strękowa”, com outros três bunkers, defendia o setor entre esta cidade e Maliszewo-Perkusy-Łynki.
“Esses bunkers eram estruturas de concreto armado com paredes de 1,5 m de espessura, com cobertura de aço de 20 cm e altura de 1,2 m. Cada bunker possuía uma cúpula móvel blindada, acessada por um poço interno”, acentua Sztama. A linha principal de defesa foi complementada com oito pequenos abrigos, dotados de metralhadoras, protegidos principalmente por sacos de areia. “Quatro foram construídos de Kołodzieje, e os demais na linha Maliszewo-Perkusy-Łynki e Kurpiki; no dique, não muito longe da vila de Sulin-Strumiłowo, também foram construídos dois abrigos leves de combate – ‘filhotes de urso’ –, cuja tarefa era fechar com metralhadoras pesadas a estrada que levava a Białystok”. Havia ainda planos de explodir as barragens do Biebrza e do Narew, no intuito de inundar a área, mas o verão de 1939 foi uma das estações mais secas da história da Polônia e o nível da água estava muito baixo. Da forma como foram dispostos, os bunkers poderiam suportar pesado bombardeio e rechaçar qualquer assalto que viesse dos pântanos ou pela ponte do Narew. Em tese.
Embora o sistema fosse bem pensado, Wizna sofria de várias deficiências que deveriam ter sido corrigidas antes da tempestade. Uma delas tinha relação com a guarnição dos abrigos. Wizna era a sede da 3ª Companhia do Batalhão de Metralhadoras Pesadas do Forte Osowiec e uma bateria de artilharia posicional. Em 1º de setembro, a seção foi reforçada com o 3º Batalhão (major Jakub Fober *†-NI) do 71º Regimento de Infantaria (tenente-coronel Adam Soroka Zbijewski, *†-NI). Mas, no dia seguinte, o batalhão foi retirado da seção e substituído pela 8ª Companhia de Fuzileiros do 135º Regimento de Infantaria, do tenente-coronel Tadeusz Tabaczyński (1896-1971).
Quando os combates começaram, a seção contava então com a 8ª Companhia, um pelotão de batedores montados (ambos de 135º), uma sub-companhia de artilharia de infantaria, um pelotão de engenheiros de combate (ambos de 71º), a 136ª Companhia de Sapadores (da reserva), a bateria de artilharia posicional, a 3ª Companhia do batalhão da Osowiec e um pelotão de metralhadoras pesadas wz .30 (ckm: ciężki karabin maszynowy wz. 30”).
As armas alocadas para o setor, outra falha que não foi corrigida, consistia em seis canhões de 76 mm, de 1902, 24 metralhadoras pesadas, 18 submetralhadoras e dois rifles antitanque, com apenas 20 tiros. Para enfrentar unidades blindadas como as que seriam despejadas sobre Wizna, era essencial que os defensores dispusessem de mais armas anticarro ou artilharia suficiente. Mas isso também não ocorreu. Assim, o plano de batalha de Wizna desdobrou:
- Um pelotão de infantaria e três equipes de ckm para a posição de Sulin-Strumiłowo, sob o comando do tenente Jan Zawadzki (*†-NI);
- Um pelotão e uma equipe de infantaria com seis submetralhadoras, comandados pelo tenente Witold Kiewlicz (1909-1977), para Giełczyn;
- Três equipes de metralhadoras, uma de infantaria e um pelotão de engenheiros do 71º Regimento, em Włochówka, tendo à testa o tenente Lucjan Kamiński (*†-NI);
- Seções da 8ª Companhia e equipes de metralhadoras, sob o comando do capitão Wacław Szmidt (1908-†NI), em Maliszewo-Perkusy-Łynki;
- Uma equipe de ckm, em Grądy Woniecko, comandada pelo tenente N.N.[7] Przybylski (*†-NI);
- Todas as demais tropas, sob o comando do capitão Władysław Raginis (1908-1939), em Kurpiki e Góra Strękowa (GG-126), sede do dispositivo de Wizna.
Além de sua missão principal, as tropas estacionadas em Wizna teriam de proceder patrulhas de reconhecimento até Jedwabne, a noroeste, na margem ocidental do Narew, e de Kołodzieje até Grądy Woniecko, ao sul, na margem oriental.
A 2 de setembro, tão logo recebeu ordens para se retirar de Wizna com seu 3º Batalhão, o major Fober passou o comando da seção para o capitão Raginis. Aos 31 anos, Raginis tinha pela frente o maior desafio de sua carreira desde que se formara na Escola de Oficiais de Infantaria de Komorów, em 1927. Nascido em Daugavpils (hoje Letônia), ele provinha de uma família de proprietários de terras com tradições patrióticas.
Depois de Komorów, ele continuou seus estudos na Escola de Infantaria de Oficiais, onde formou-se em 1930 como segundo-tenente. Mais tarde, serviu no 76º Regimento de Infantaria “Ludwik Narbutt”, em Grodno, como comandante de pelotão. Em 1934, por suas habilidades de comando acima da média e talento tático, foi promovido ao posto de tenente, e passou a atuar como professor-instrutor na mesma escola em que se formou.
Nos vários anos de trabalho didático, Raginis foi reconhecido como um professor ponderado, de ótima didática, tendo sido muito elogiado por seus superiores. Um ano antes da guerra, foi promovido ao posto de capitão por antiguidade e, como vários dos seus colegas, percebia que sua competência técnica na sala de aula logo seria colocada à prova em campo. Quando 1939 chegou, as coisas se precipitaram. Em agosto, Raginis foi destacado como comandante de pelotão da 4ª Companhia de Metralhadoras Pesadas, sob o comando do major Zygmunt Reliszko (*†-NI), unidade do Batalhão Sarny, do KOP (Corpo de Proteção de Fronteiras), acantonada na cidade do mesmo nome, a noroeste de Lublin.
Pelo KOP passaram vários oficiais que se tornaram quase lendas no Exército Polonês, entre eles os generais Rowecki e August Emil Fieldorf (1895-1953), este, como aquele, assassinado pelos soviéticos. Tratava-se de uma formação de elite, especialmente treinada e preparada para lutar em condições excepcionais, a partir dos fortes que ocupavam, sem previsão de receber auxílio imediato. Seus soldados, escolhidos a dedo, deviam se mostrar poloneses natos, patriotas, não podiam ser simpatizantes comunistas, ter família na URSS e nem ter sido punidos por crimes contra o Estado. Isso foi ditado pelas características dos combates nas fortificações, que exigiam alto moral das guarnições.
O Batalhão Sarny era uma das principais unidades do KOP e seu comandante, à época, era o tenente-coronel Nikodem Sulik (1893-1954), futuro general comandante da 5ª Divisão de Infantaria Kresowa, de destacada atuação na campanha da Itália, notadamente em Monte Cassino (1944). Subordinado a Sulik, Raginis passou a comandar a 3ª Companhia do Batalhão de Metralhadoras Pesadas, do Regimento KOP “Sarny”, quando foi transferido para o Forte Osowiec. Era 27 de agosto. Seis dias depois, o tenente-coronel Tabaczyński, comandante do Forte Osowiec, lhe ordenava assumir o comando dos 700 soldados e 20 oficiais de Wizna. Não havia reservas.
Ordens de Batalha
Pouca ação terrestre, ataques aéreos
Entre os soldados, estavam os do capitão Szmidt. De modo geral, os quatro oficiais e 222 soldados de sua 8ª Companhia estavam, segundo o próprio comandante, em bom estado físico. “O moral, entretanto, estava muito baixo”, apontou o capitão em seu relatório de campanha, escrito em novembro de 1945. A maioria dos fuzileiros era idosa, destinada ao serviço nos fortes, que não haviam passado pelo treinamento que os soldados do KOP experimentaram. Eram bielorrussos ou originários das áreas comunistas de Białystok, Grodno e Wołkowysk, com especial simpatia pela Polônia e seu exército, mas ainda assim não uma tropa que pudesse ser chamada de aguerrida. No dia 2 de setembro, dois bielorrussos desertaram.
Até um dia antes da invasão alemã, a companhia estava construindo ou tentando melhorar as fortificações no rio Biebrza. Na madrugada de 31 de agosto, Szmidt recebeu ordens do major Stanisław Knapik (*†-NI), comandante do 3º Batalhão do 135º Regimento (Tabaczyński), ao qual sua companhia estava subordinada, de que deveria deslocar sua unidade para a área de Strękowa Góra, reforçando a seção Wizna. Szmidt chegou ao seu destino às 02h00 da madrugada do dia 1º.
Pouco mais de duas horas e meia mais tarde, as primeiras unidades alemãs atravessavam a fronteira e infletiam rápidas pelo interior da Polônia. Esporeando seus tanques ao norte, Guderian tinha a oportunidade de pôr em prática suas teses, avançando rapidamente e submetendo seus homens a um ritmo de ataque até então nunca visto. Se para um exército mais bem preparado já seria muito difícil lidar com aquela guerra fluída, dinâmica, que não ocupava posições estáticas, levadas pelos veículos de Guderian à Polônia, para um exército como o polonês, ainda preso às táticas de batalha da I Guerra, isso seria quase impossível. Se serve de consolo, franceses e britânicos também engoliram o mesmo veneno.
No dia 2 de setembro, já empossado como comandante do setor, Raginis instalou seu posto de comando no bunker GG-126, perto de Góra Strękowa, localizado em uma colina no centro exato das linhas polonesas. Um retângulo com bordas arredondadas, o bunker era composto por oito câmaras, destinadas a tarefas variadas, como paiol, posições de armas, serviços administrativos.
Até então, as notícias que chegavam até Wizna era a de que pequenas unidades da infantaria alemã haviam cruzado a fronteira da Polônia, confiscado o gado e queimado fazendas. Mas a guerra de aniquilação orquestrada por Hitler já cobrava seus tributos e estes eram muito maiores e mais caros do que bovinos e sítios. A 340 km a sudoeste de Wizna, os alemães estabeleciam o padrão do que seria o bombardeio de terror que, anos mais tarde, provariam com muito mais violência e amargor. “O golpe aéreo inicial vibrou sobre os civis de Wieluń (sudoeste de Lódz) às 04h40, na forma de 29 Junkers Ju 87B Stuka do Esquadrão de Bombardeiros de Mergulho 76 (Sturzkampfgeschwader), sob o comando do capitão Walter Sigel (1906-1944).
Decolando do aeródromo de Nieder-Ellguth, em Strzelce, os alemães descarregaram 29 bombas de 500 kg e 112 bombas de 50 kg sobre a cidade. Um dos primeiros lugares atingidos foi o hospital, que provavelmente tinha marcas da Cruz Vermelha, matando 32 pessoas e, depois que o hospital começou a arder, os alemães atacaram os pacientes que tentavam escapar do fogo. Os próprios pilotos relataram ‘céu azul’ durante o ataque e a completa ausência de oposição”.
Por seu turno, o inquieto comandante do SGO Narew, Młot-Fijałkowski, decidiu que não ia aguardar sentado até o fogo lamber os traseiros dos seus homens. Tentando levar a guerra ao inimigo, ele ordenou uma incursão ao território alemão. Para tanto, emitiu ordens à 33ª Divisão (Kalina-Zieleniewski) para que essa conduzisse a razia. Kalina-Zieleniewski repassou a ordem a Tabaczyński que a fez chegar ao major Stanisław Nowicki (1896-1964), soldado originário do KOP, comandante do 1º Batalhão.
Na noite de 2 de setembro, as subunidades do batalhão partiram em marcha acelerada pela floresta de Ruda, para Prostki, através de Grajewo e Bogusza. Após a saída de Grajewo, a 3ª Companhia, do tenente Władysław Sadowski (*†-NI), tomou o lado leste da estrada, contornando Bogusza e Piostek. Em seguida, um pelotão, sob o comando do tenente N.N. Pakła (*†-NI), foi destacado, com a tarefa de atacar a estação ferroviária. As forças restantes marcharam ao longo da estrada Grajewo-Prostki para assaltar o posto avançado inimigo numa fazenda em Bogusza. O ataque se daria à meia-noite de 2 para 3 de setembro.
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Os alemães foram pegos totalmente de surpresa. Não era de esperar que os poloneses se atrevessem a atacar os invasores em seu território quando o próprio solo polonês estava sendo violado. “Prostki foi atacada e capturada após uma curta luta”, afirma o coronel dr. Zygmunt Kosztyła (1929-1987), em artigo publicado no Anuário Białystok, 1966. “Assim que o combate cessou, Tabaczyński chegou ao local, ordenou completa e imediata retirada para a floresta de Ruda”. Como resultado da operação, mais de 20 soldados alemães foram mortos e feridos (inclusive um comandante de companhia), vários veículos e motos destruídos, bem como o equipamento da estação ferroviária, dos correios, da alfândega e do edifício-sede da Guarda de Fronteira (“Grenzschutz“). As perdas polonesas totalizaram apenas dois feridos e três desaparecidos. Esta foi uma das quatro operações ao longo da fronteira, entre os dias 2 e 4, levadas a termo por Młot-Fijałkowski[8] que se converteu no único general polonês a levar combate ao território alemão, algo que só voltaria a ocorrer em janeiro de 1945, quando as tropas do 1º Exército Polonês, do general Stanisław Gilyarovich Popławski (1902-1973), atacaram a fortaleza da Pomerânia.
Até o mais aceso dos combates, as tropas das três grandes unidades ao norte-nordeste de Varsóvia – Modlin, Narew e Wyszków – viram pouca ação terrestre, mas logo foram apresentadas ao bombardeio aéreo. Caças alemães, em operações de apoio, atacaram as posições polonesas no dia 3. A aviação polonesa, pressionada em vários outros setores, praticamente inexistia no setor Osowiec-Wizna. Com rifles e metralhadoras apontados para o alto, os soldados do 3º Batalhão (Knapik), conseguiram derrubar um avião alemão. Szmidt afirma que, no mesmo dia, patrulhas exploratórias em terra, prenderam alguns sabotadores, sem especificar se alemães ou poloneses. “Ações como essa contribuíram para um clima muito favorável entre os soldados”, admitiu, embora o cenário mais comum, que seria visto pelos próximos seis longos que se iniciavam, eram ondas e mais ondas de refugiados se deslocando para lugares mais seguros.
O desenvolvimento de quaisquer movimentos por unidades do tamanho de regimentos para cima, já começava a ficar dificultado por conta disso. Foi o que sentiu a Brigada de Cavalaria Podlaska (Kmicic-Skrzyński). Após vários ataques ao seu flanco, o comando, receoso de que a unidade pudesse ser envolvida, emitiu ordens para seu recuo em direção a Mały Płock e, de lá, ordenou ainda que atravessasse o rio Narew. Kmicic-Skrzyński procedeu à operação na noite de 4 para 5 de setembro. Szmidt: “Em meio a esse caos, testemunhei a disposição de luta e do patriotismo de nossos soldados quando fui abordado por uma delegação de seis civis que, em nome de 380 soldados de Kurpiowska [cidade a 22 km de Wizna], muitos deles suboficiais, pediram armas e tentaram se alistar na unidade; infelizmente, não pude atender ao pleito”.
A retirada da Podlaska do seu setor significava que a guerra estava chegando por terra à Wizna. Depois de tomar o Corredor Polonês, o Corpo Rápido de Guderian fez um amplo movimento em arco pelo interior da Prússia Oriental, à retaguarda do 3º Exército, do general Georg Carl Wilhelm Friedrich von Küchler (1881-1968), agindo quase como uma unidade autônoma já que os outros dois corpos do 4º Exército, de Kluge – o 2º, do general Adolf Strauss (1879-1973) e o 3º, do general Curt Haase (1881-1943), marchavam a direita de Küchler, enquanto Guderian, depois de cruzar a fronteira a alguns quilômetros ao sul Johannisburg (atual Pisz), se colocou à esquerda do 3º Exército. Na noite do dia 4, Guderian já anunciava sua presença, fazendo cair granadas de artilharia – disparadas da altura de Jedwabne, 11 km a noroeste de Wizna – próximo às posições de Raginis, interrompendo os trabalhos de fortalecimento das fortificações aos quais as tropas estavam entregues.
No dia seguinte, as forças do SGO Narew entravam em combate contra o 3º Exército Alemão próximo a Różan, sudoeste de Wizna. Inicialmente, Młot-Fijałkowski conseguiu segurar o ímpeto do assalto alemão, mas não demorou muito, foi rapidamente envolvido por Guderian. Este ordenou seguidos contra-ataques, suplantando os poloneses do Exército Modlin (Krukowicz) e rumando na direção do Narew a fim de alcançar a própria Różan e Pułtusk. O objetivo era cortar o acesso de eventuais tropas residuais polonesas que tentassem fechar na direção da capital, vindas do norte.
Continua na segunda parte.
Notas
[1] O forte foi construído entre 1882 e 1887, modernizado em 1892 e novamente no início do século XX. Os alemães o ocuparam em 13 de setembro de 1939, mas entregaram-no aos aliados soviéticos em 26 do mesmo mês, cumprindo o protocolo secreto do Pacto Molotov-Ribbentrop; foi reocupado pelos alemães em 27 de junho de 1941 e tomado em sua maior parte pelo Exército Vermelho em 14 de agosto de 1944, e inteiramente em janeiro de 1945 (https://pl.wikipedia.org/wiki/Twierdza_Osowiec).
[2] Alguns autores creditam a participação da 10ª Divisão Panzer, do General Ferdinand Schaal (1889-1962), junto às forças de Guderian, no lugar da 2ª Motorizada. Ocorre que ao tempo da invasão à Polônia, essa divisão ainda estava em processo de formação em Praga, recebendo suas sub-unidades das 20ª e 29ª motorizadas e 3ª Ligeira. Mesmo antes de integrada, a divisão figurou nos quadros de combate da Wehrmacht – acrescida do 7º Regimento Panzer, da 4ª Brigada Panzer e unidades das Waffen SS – como elemento de reserva do Grupo de Exército Norte, juntamente com as 73ª (general Dr. Friedrich von Rabenau, 1884-1945), 206ª (general Hugo Höfl, 1878-1957) e 208ª (general Moritz Andreas, 1884-1964) divisões de infantaria. No dia 8 de setembro de 1939, a 10ª Panzer, até então na reserva do 3º Exército, substituiu a 2ª Motorizada (https://en.wikipedia.org/wiki/10th_Panzer_Division_(Wehrmacht); GUDERIAN, Heinz. Panzer Líder. Rio de Janeiro, Brasil: Biblioteca do Exército Editora, 1966, pág. 76).
[3] Rowecki foi o segundo comandante do Armia Krajowa, o Exército Nacional Subterrâneo Polonês; preso pela Gestapo, foi internado no campo de Sachsenhausen e executado por ordem pessoal de Himmler pouco depois do Levante de Varsóvia (Mariano, J. A. Enquanto formos vivos, a Polônia não perecerá: a Polônia nos campos de batalha da II Guerra Mundial, São Paulo, Brasil: T&T, Menno, 2020, pág. 357).
[4] A 41ª DI foi a unidade onde primeiro se distinguiu o capitão Witold Pilecki “Witold” (1901-1948), notável oficial polonês, que se deixou capturar e ser enviado a Auschwitz do qual conseguiu escapar para relatar o morticínio industrial perpetrado pelos nazistas; mais tarde foi capturado e executado pelos soviéticos (Mariano, J. A. Enquanto formos vivos, a Polônia não perecerá: a Polônia nos campos de batalha da II Guerra Mundial, São Paulo, Brasil: T&T, Menno, 2020, pág. 172).
[5] Szafran foi preso pelos soviéticos em 1940; ele estava no acampamento de Starobelsk, de onde partiram vários comboios com patriotas poloneses que foram assassinados em Katyń, pelo NKVD; foi posteriormente promovido a general (https://pl.wikipedia.org/wiki/Jarosław_Szafran).
[6] Kossecki também foi assassinado pelos soviéticos nas mesmas circunstâncias de Szafran; também foi promovido postumamente a general (https://en.wikipedia.org/wiki/Stefan_Kossecki).
[7] N.N. (nieznany): prenome desconhecido.
[8] Młot-Fijałkowski foi feito prisioneiro pelos alemães, passou por vários campos de prisioneiros e morreu no Oflag (Offizier-Lager) VII-A Murnau am Staffelsee, sul da Alemanha, em 17 de abril de 1944 (https://en.wikipedia.org/wiki/Czesław_Młot-Fijałkowski).
Saudações…belíssima matéria , aguado ansioso as demais partes…eu particularmente acho que os Soldados e Oficiais Poloneses foram os mais injustiçados da 2º Guerra….visto o destino de muitos deles após a guerra , irem para campos de concentração do governo Polonês ou exílio, e é claro… KATYN esse antes do fim da guerra, quando os Poloneses já eram aliados da URSS!
aguardemos ….
Muito obrigado, Py3to, fico feliz que gostou da primeira parte. O artigo completo é realmente muito detalhado, creio que você vai gostar. Realmente, a história da Polônia foi bastante sofrida. Grato por comentar e por nos acompanhar, forte abraço!
Excelente matéria, estou impressionado com o nível dos detalhes, não vejo a hora de começar a ler a segunda parte.
Meus Parabéns Sr. Mariano e blog Velho General.
Abraços!
Muito obrigado Paulo! A segunda parte já está no ar, e a terceira será publicada em breve. Vou repassar seu comentário ao autor. Forte abraço!