Traduzido e adaptado por Albert Caballé Marimón* |
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Seus inimigos avisaram que haveria um ataque total à liberdade de expressão. Então lançaram um.
Por Gerard Baker, no The Wall Street Journal.
Em artigo publicado no The Wall Street Journal em 13 de julho passado, Gerard Baker discorre sobre a onda contra a liberdade de expressão em curso nos EUA. É possível encontrar muitos paralelos com o cenário a que assistimos hoje no Brasil, apenas substituindo os nomes de alguns atores e instituições.
Lembram-se das graves advertências feitas quando Donald Trump foi eleito, sobre como sua presidência iria inaugurar uma onda de ataques sem precedentes à liberdade de expressão?
Ganidos de histeria orquestrada surgiram na mídia do país. Estávamos novamente em 1933. Uma tardia América de Weimar iria sucumbir a um homem autoritário com corte de cabelo peculiar e propensão à retórica intolerante.
Algumas semanas antes das eleições de 2016, o Committee to Protect Journalists (Comitê para a Proteção dos Jornalistas) emitiu um aviso estrondoso: “A presidência de Trump representa uma ameaça à liberdade de imprensa sem precedentes na história moderna”.
“A democracia morre na escuridão”, que como alguns observaram soa como o título de um filme de James Bond, tornou-se o leitmotiv diário da primeira página de um grande jornal, com seus repórteres corajosamente comprometidos em manter acesa a cintilante lâmpada da liberdade em meio à melancolia da tirania.
Quatro anos depois, fica claro que os alarmes eram justificados. Considerem a situação da liberdade de expressão na América do Sr. Trump. Editores de jornais são forçados a demitir-se por causa de textos que publicaram. Acadêmicos são removidos de suas posições por ousarem discordar da ortodoxia dominante. Executivos de empresas são demitidos por opiniões escritas há três décadas que hoje não se encaixam mais no discurso público aceitável.
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Nas salas de aula, nas redações e nas salas de reuniões de todo o país, quase se consegue ouvir o silêncio enquanto as pessoas avaliam intimamente o que vão dizer, sabendo que, se ultrapassarem os limites, serão denunciadas publicamente e muito provavelmente “terminadas”.
A escuridão de fato tomou a democracia.
Mas esperem. Não foi o Sr. Trump quem os silenciou. Vocês podem apontar uma única pessoa na mídia que sofreu concretamente por ter dito algo hostil sobre o presidente nos últimos quatro anos? De fato, não há maneira mais segura de progredir em sua carreira nas indústrias do entretenimento, notícias, esportes, literatura e até em ambientes corporativos do que emitir um comentário banal bem ensaiado nas mídias sociais a respeito o monstro que ocupa a Casa Branca.
Sim, o presidente costuma chegar a extremos quando acusa jornalistas de “inimigos do povo”. Mas temos visto onde está a verdadeira ameaça à liberdade: o clima de intolerância ideológica nas instituições culturais de nossa nação que sufoca qualquer tentativa de questioná-la.
Na semana passada, alguns escritores de viés liberal chamaram a atenção quando finalmente reuniram coragem para se posicionar contra o “cancelamento da cultura”. Eles estavam entre os 150 signatários da “Carta sobre Justiça e Debate Aberto”, publicada pela Harper’s Magazine.
Foi bom receber esses atrasados convertidos à causa da liberdade de expressão, embora, como outros observaram, apenas alguns deles se manifestaram quando a multidão estava tentando “cancelar” pensadores conservadores. Agora que os vigilantes da pureza ideológica vieram busca-los, ou a seus amigos, os liberais moderados redescobriram a virtude inviolável da liberdade de expressão.
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Mas mesmo esse esforço tardio, vacilante e egoísta em defender (um pouco) a liberdade de expressão foi recebido com veemência previsível pelos comissários da nova autoridade.
A deputada Alexandria Ocasio-Cortez, cuja carreira não foi exatamente esmagada pela repressão trumpiana, tuitou: “As probabilidades não são de você ser realmente cancelado, você está apenas sendo desafiado, responsabilizado ou antipatizado”. Diga isso às pessoas que perderam seus empregos apenas nas últimas semanas.
Outros dizem: sempre aceitamos alguns limites no discurso. As novas regras apenas expandem algumas exceções que todos concordam que são necessárias.
Mas ouça atentamente as palavras usadas pela polícia do discurso. Quando os repórteres do New York Times se mobilizaram para demitir um editor, alegaram que o artigo de opinião ofensivo que ele publicou colocava suas vidas “em perigo”.
Não era uma mera diferença de opinião. O discurso ofensivo era supostamente uma ameaça física direta aos ofendidos. Ecoando a linguagem usada na universidade por muitos anos, a ideia é que o discurso ao qual eles se opõem não apenas é imperfeito, mas constitui violência. Essa linguagem é cuidadosamente escolhida para reprimir todas as críticas.
Você não discute com pessoas cuja fala o prejudicaria fisicamente. Você não diz a eles para irem expressar suas opiniões em outro lugar. Você tem que calá-los.
O jargão moderno da esquerda vai muito além da atual e acalorada questão de raça. Se você é a favor da vida, é uma ameaça para a saúde das mulheres. Se você é defensor da redução do tamanho do governo, está negando serviços vitais para as pessoas e, portanto, matando-as.
Lembrem-se, tudo isso está acontecendo enquanto os Republicanos – pelo menos conceitualmente – controlam metade das ramificações políticas do governo federal. Imagine o que acontecerá quando os Democratas assumirem o controle. Eles irão resistir às exigências dos “canceladores” existentes em seus quadros para implantar as novas regras das universidades e das corporações ao seu objetivo lógico, ou seja, ao legislativo e ao executivo? A democracia, a democracia real, onde as pessoas ainda podem encontrar lugar para expressar sua discordância, irá sobreviver à escuridão que então sobrevirá?
*Albert Caballé Marimón possui formação superior em marketing. Depois de atuar vários anos em empresas nacionais e multinacionais, tornou-se fotógrafo profissional e editor do blog Velho General. Já atuou na cobertura de eventos como a Feira LAAD, o Exercício CRUZEX e a Operação Acolhida e proferiu palestras na Academia da Força Aérea. É colaborador da revista Tecnologia & Defesa e do Canal Arte da Guerra. Pode ser contatado através do e-mail caballe@gmail.com.
Um cenário perturbador. Calarem (cancelar) a sua pessoa por divergir do novo “status quo”, por ter uma visão própria dos fatos e acontecimentos, é concluir que a resistência exigirá muitos cadáveres. Se este for o preço, que imolem, que vilipendiem o corpo físico. No entanto, não cancelarão a honra, a coragem, a dignidade. Fiquem com o efêmero. Fiquemos com a eternidades.
Penso que a batalha será muito dura, ainda vai piorar, mas no final sairemos bem. A verdade deve prevalecer. Como sempre, grato pelo comentário. Forte abraço!