Por Albert Caballé Marimón* |
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Na sequencia dos episódios envolvendo a infecção da tripulação do porta-aviões USS Theodore Roosevelt por COVID-19 e a demissão de seu comandante, o capitão Crozier pelo vazamento de e-mail com informações sensíveis, o secretário interino da Marinha americana, Thomas Modly, pede demissão.
O secretário interino da marinha americana, Thomas Modly, renunciou ontem, terça-feira, poucas horas depois de ter se desculpado publicamente por ofensas feitas ao capitão Brett Crozier, removido do comando do porta-aviões USS Theodore Roosevelt. Modly demitiu o capitão Crozier na semana passada, após o vazamento de um e-mail no qual Crozier expunha a situação do navio sob a crise do COVID-19.
Após a demissão do comandante, Modly visitou o navio, ancorado no porto de Guam, e discursou para a tripulação criticando Crozier. Ele pediu para pararem de reclamar: “É a missão do navio que importa. Vocês todos sabem disso, mas, a meu ver, seu capitão perdeu isso de vista e comprometeu informações críticas sobre seu status intencionalmente para chamar mais atenção à sua situação”. Durante o discurso, Modly afirmou que o ex-comandante era “ingênuo ou estúpido demais” para comandar um porta-aviões.
Na segunda-feira, por insistência de Mark Esper, Secretário da Defesa, Modly emitiu um pedido de desculpas público, mas houve forte pressão da bancada democrata no Congresso por sua demissão.
“Quero me desculpar por qualquer confusão que essa escolha de palavras possa ter causado”, escreveu Modly a respeito de seu discurso a bordo do Roosevelt. “Também quero me desculpar diretamente com o capitão Crozier, sua família e toda a tripulação do Theodore Roosevelt por qualquer aflição que minhas observações possam ter causado”.
Na segunda-feira, Trump disse que poderia se envolver, concordando que as críticas de Modly a Crozier foram uma “declaração grosseira”. Ele afirmou que Crozier cometeu um erro ao enviar um memorando a várias pessoas, expondo suas preocupações sobre a tripulação e o vírus, mas disse que Crozier teve uma boa carreira antes deste incidente, acrescentando: “Não quero destruir alguém por ter tido um dia ruim”.
Em seu pedido de desculpas, Modly reformulou suas observações anteriores de que Crozier era “ingênuo ou estúpido”, e disse que acredita que ele é inteligente e apaixonado: “Acredito, justamente porque ele não é ingênuo e estúpido, que ele enviou seu e-mail alarmante com a intenção de colocá-lo em domínio público, em um esforço para chamar a atenção do público para a situação em seu navio”.
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A seguir, publicamos a íntegra, em tradução livre, das respectivas cartas. A carta de demissão de Modly:
7 de abril de 2020
De: Secretário Interino da Marinha
Para: Secretário de Defesa
Prezado Sr. Secretário,
Foi uma honra em minha vida servir como Subsecretário da Marinha e, nos últimos cinco meses, Secretário Interino da Marinha. Sou grato pela confiança que o senhor e o presidente Trump depositaram em mim para cumprir essas pesadas obrigações em nome de nossos marinheiros, fuzileiros navais e do povo americano.
Mais do que tudo, devo a todos os membros da equipe da Marinha e do Corpo de Fuzileiros Navais uma vida de gratidão pela oportunidade de servir por eles e com eles mais uma vez. Eles são a razão pela qual eu permanecerei para sempre inspirado pela chamada do dever. São eles que elevam nossa nação, curam nossas divisões e tornam este país o maior da história do mundo.
Por isso, com o coração pesado, apresento minha demissão, com efeito imediato. Os homens e mulheres do Departamento da Marinha merecem uma continuidade de liderança civil condizente com a nossa grande República e a força naval decisiva que assegura nosso modo de vida. Serei eternamente grato pela oportunidade e pela bênção de fazer parte dela.
Por favor, transmita minha gratidão ao Presidente Trump por me indicar e por me dar esta incrível oportunidade que eu apreciarei pelo resto da minha vida.
Muito respeitosamente,
Thomas B. Modly
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A resposta de Mike Esper, Secretário de Defesa:
SECRETÁRIO DE DEFESA
7 de abril de 2020
Hoje de manhã, aceitei a demissão do secretário Modly. Ele renunciou por sua própria vontade, colocando a Marinha e os Marinheiros acima de si para que o USS Theodore Roosevelt e a Marinha, como instituição, possam seguir adiante. Seu cuidado com os marinheiros era genuíno. O secretário Modly serviu à nação por muitos anos, como militar e como civil. Tenho o mais profundo respeito por quem serve ao nosso país e que coloca o bem maior acima de tudo. O secretário Modly fez isso hoje, e desejo-lhe tudo de bom.
Eu informei o Presidente Trump após minha conversa com o Secretário Modly. Com a aprovação do presidente, nomeio o atual subsecretário do Exército, Jim McPherson, como secretário interino da Marinha. Jim é um almirante aposentado com uma distinta carreira naval de 26 anos, servindo em terra, no mar e no exterior durante seu tempo de serviço. Conheço bem Jim McPherson. Ele é um líder inteligente, capaz e profissional que restaurará a confiança e a estabilidade da Marinha nestes tempos difíceis. Jim atuará como Secretário interino da Marinha até que um Secretário permanente da Marinha seja confirmado.
Também me encontrei com o chefe de operações navais, almirante Gilday, hoje. Estavam comigo o Vice-secretário de Defesa Norquist, o Secretário McPherson e o Presidente do Estado Maior Conjunto General Milley. Orientei o secretário McPherson e o almirante Gilday sobre o caminho a seguir. Como muitos de vocês sabem, o Chefe de Operações Navais lançou uma investigação na semana passada sobre o USS Theodore Roosevelt, que está em andamento. Qualquer outra ação em relação ao ex-comandante, capitão Crozier, esperará até que a investigação seja concluída.
ASSISTA AO VÍDEO DO CANAL ARTE DA GUERRA: PORTA AVIÕES Theodore Roosevelt: COVID-19 derruba Secretário da Marinha dos EUA.
Finalmente, em minha conversa com o secretário McPherson e o almirante Gilday, enfatizei minhas três prioridades enquanto o USS Theodore Roosevelt, a Marinha e o Departamento de Defesa enfrentam os desafios de nossos dias: primeiro, proteger nosso pessoal, o que significa colocar a saúde, a segurança e o bem-estar da tripulação do USS Theodore Roosevelt em primeiro lugar; Segundo, manter a prontidão de combate das forças armadas dos EUA, o que significa levar o Roosevelt de volta ao mar em patrulha o mais rápido possível; e Terceiro, apoiar totalmente toda a resposta do governo/do país ao coronavírus para proteger o povo americano. A Marinha vem fazendo um ótimo trabalho há meses, como parte desse esforço conjunto bem-sucedido – uma forte campanha de mais de 50.000 militares em apoio aos esforços federais, estaduais e locais para interromper o coronavírus. O Departamento tem participado desse esforço desde o início e continua liderando o caminho.
Agora devemos colocar as necessidades da Marinha, incluindo a tripulação do Teddy Roosevelt, em primeiro lugar, e todos devemos avançar juntos.
*Albert Caballé Marimón possui formação superior em marketing, é fotógrafo profissional e editor do blog Velho General. Já atuou na cobertura de eventos como a Feira LAAD, o Exercício CRUZEX e Operação Acolhida, e proferiu palestras na Academia da Força Aérea. É colaborador da revista Tecnologia & Defesa e do Canal Arte da Guerra, onde, entre outras atividades, mantém uma resenha semanal de filmes e documentários militares. Pode ser contatado através do e-mail caballe@gmail.com.
Parabéns, é o mínimo. Belo trabalho, bem detalhado dos fatos. Gosto muito destes artigos. Aos poucos, vai-se “descobrindo”, descortinando cada passo que foi dado neste episódio tão importante, com reflexos e reflexões que cabem a todos os cidadãos.
Meu incentivo como leitor é que estão absolutamente certos no rumo e foco dado aos artigos postados.
Parabéns.
Muito obrigado, José. É sempre bom receber feedbacks construtivos. Agradeço por nos acompanhar, forte abraço!