Por Reis Friede*
Os submarinos são armas extraordinárias, uma vez que se traduzem em embarcações com um elevadíssimo nível de furtividade, causando sempre uma natural apreensão (mesmo em tempos de paz) nos adversários potenciais e efetivos.
O simples fato de se desconfiar da eventual presença de submarinos numa determinada área marítima pode ser motivo dissuasivo suficiente, per si, para manter relativamente neutralizadas até mesmo grandes (e importantes) frotas navais.
Os Estados Unidos possuem, na contabilização de 2017, a maior frota de submarinos nucleares do mundo, totalizando 68 unidades; dentre as quais 33 pertencem à classe Los Angeles, de ataque rápido (29 SSGN Los Angeles, sendo 22 atualizados, três em processo de modernização e quatro SSN Los Angeles dispondo de mísseis Tomahawk LACM), que são embarcações desenhadas para caçar e afundar belonaves e submarinos inimigos e que, por serem armadas, prioritariamente, com torpedos e mísseis anti-navio, – ainda que também possam, eventualmente, transportar e disparar mísseis de cruzeiro Tomahawk, contra alvos em terra –, constituem-se em formidáveis plataformas submergíveis. Além dessas, há ainda três unidades pertencentes à excepcional (e ultramoderna) classe Seawolf (SSN), também do tipo de ataque rápido, que começaram a ser construídos entre os anos 80 e os anos 90 para substituir, com grande grau de superioridade tecnológica, a classe Los Angeles, mas que acabaram, durante a fase de desenvolvimento e construção, mostrando-se serem dispendiosos demais, tanto para o desdobramento em quantidades suficientes para a completa substituição, como também para a própria operação, em um largo espectro temporal.
Por fim, há, também, mais 14 submarinos da classe Virgínia (SSGN), do tipo de ataque rápido (10 da série FLIGHT I/II e quatro da série FLIGHT III), embarcações bem mais modernas do que a classe Los Angeles, porém menos sofisticadas e de menor custo de aquisição e de operação em relação à classe Seawolf. A previsão é que, ao longo dos próximos anos, a classe Virgínia substitua totalmente os submarinos Los Angeles para missão de ataque rápido com o correspondente processo se completando por volta de 2040, incluindo, nesta toada, a aposentadoria dos três submarinos da classe Seawolf.
Dentre os denominados “Bomers” (SSBN’s), destacam-se 14 submarinos da classe Ohio, os mais poderosos submarinos de mísseis balísticos do mundo, cada um capaz de lançar o impressionante número de 24 mísseis SLBM’s Trident II, cada um dos quais com capacidade de transportar até 12 ogivas nucleares independentes e manobráveis (MARV’s), o que significa que apenas esses 14 submarinos são capazes de devastar 4.032 alvos diferentes com explosivos termonucleares de até 500KT de potência. Adicionalmente, ainda existem quatro unidades que são variações da classe Ohio, transformadas, – em função de acordo de limitação de armas estratégicas –, em submarinos para o lançamento de mísseis de cruzeiro Tomahawk, com cada embarcação podendo lançar até 154 mísseis em rápida sequência.
Como até bem pouco tempo não havia nenhum projeto para a efetiva (e necessária) substituição dos 14 submarinos da classe Ohio e dos quatro de sua variação para lançamento de mísseis de cruzeiro, surgiu a novíssima classe Columbia de submarinos de mísseis balísticos. Esse novo submarino terá dimensões semelhantes aos da classe Ohio, com 170 metros de comprimento, mas terá um deslocamento ainda maior de quase 21 mil toneladas, bem superior, portanto, as 18 mil deslocados pelos atuais submarinos da classe Ohio. Os seus sensores serão baseados nos que equipam os modernos submarinos Virgínia (incluindo periscópios com vídeo de alta resolução em lugar dos tradicionais), numa versão ainda mais atualizada, e serão providos com propulsão nuclear do tipo pumper jet. Ao contrário da classe Ohio, que pode lançar 24 mísseis SLBM’s, a classe Columbia, entretanto, somente poderá lançar 16 SLBM’s, levando em consideração estudos que concluem ser esse o número o ideal para esse tipo de plataforma de mísseis balísticos.
Vale mencionar que, apesar de estar previsto que os submarinos de ataque rápido da classe Virgínia sejam produzidos até o final da década de 30, a Marinha norte-americana já está iniciando o projeto do seu sucessor, conhecido, neste momento, pelo nome SS-MX, que será um submarino capaz de submergir a mais de 600 metros, bem mais do que o limite operacional de 250 metros da classe Virgínia, além de vir também muito melhor preparado para as missões de ataque rápido, uma vez que virá equipado com pelo menos oito tubos de torpedos (o mesmo número que equipa os submarinos da classe Seawolf), bem mais do que os quatro tubos de torpedos das classes Virgínia e Los Angeles. Serão também muito velozes, com a previsão de que irão superar a velocidade máxima do Seawolf, atualmente um dos submarinos mais rápidos do mundo (capaz de atingir 35 nós quando submergido, o que equivale a aproximadamente 65 quilômetros por hora, o que é bem mais do que a velocidade máxima dos grandes navios de superfície) e muito superiores a quarta geração de submarinos russos, como o projeto aperfeiçoado Yasen-M que encontra-se em fase inicial de desenvolvimento e que deverá substituir, no futuro, os SSN Akula (Tubarão), os mais modernos submergíveis russos em operação.
O desenvolvimento e a construção dos novos submarinos da classe Columbia e do SS-MX custará, sem qualquer sombra de dúvida, muito dinheiro aos contribuintes estadunidenses, com a previsão de que ambos os projetos não sairão por menos de 30 bilhões de dólares por ano, ao longo dos próximos 30 anos, o que significa que nas próximas três décadas o programa de desenvolvimento e produção dessas duas novas classes poderá custar algo em torno de 900 bilhões de dólares (ou seja, os Estados Unidos gastarão, por ano, com essas duas classes de submarinos, mais do que o Brasil reserva, em termos orçamentários, para todo o seu setor da defesa). A grande justificativa de tamanho investimento deriva das novas ameaças representadas pelo rápido, extraordinário e surpreendente desenvolvimento naval da China e, em parte, da Rússia e, igualmente, do provável cenário de inauguração de uma nova guerra fria.
*Reis Friede é Desembargador Federal, Presidente do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (biênio 2019/21), Professor Emérito da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME) e Professor Honoris Causa da Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica (ECEMAR). | |
Site: https://reisfriede.wordpress.com/ | E-mail: reisfriede@hotmail.com |
RECOMENDADOS PELO VELHO GENERAL
Stealth Boat: Fighting the Cold War in a Fast Attack Submarine A missão dos submarinos de ataque da Marinha dos EUA na Guerra Fria foi um segredo bem guardado por muitos anos, mas este retrospecto do período e o papel desempenhado por esses submarinos em ganhar a guerra dá aos leitores uma visão da vida num deles, o USS Sturgeon (SSN637).
|
|
Submarines: WWI to the present Guia ilustrado das principais classes de submarinos desde o início da 1ª Guerra até os dias atuais. Inclui o U-1 alemão e o F-class britânico da 1ª Guerra, os U-boats Tipo VII e a classe Gato americana da 2ª Guerra, e os recentes submarinos de mísseis, como o HMS Astute, o USS Virginia, a classe russa Borei, a classe Shang chinesa e o INS Arihant.
|
|
The US Navy’s Fast Attack Submarines, Vol.1: Los Angeles Class 688 A história dos submarinos classe Los Angeles desde o projeto e construção até as operações atuais.
|
Excelente artigo, mostra o uso do submarino e a preocupação dos estados unidos face as ameaças, revelando assim o submarino uma importante peça de xadrez no tabuleiro dos estados unidos .
Exatamente Rafael, grato pelo comentário!
Todo esse investimento americano em submarinos de todas as classes, e tendo em vista a ameaça que vem se tornando os barcos civis de pesca chineses, que chegam a invadir águas territoriais de outros países, será que o investimento brasileiro em submarinos não está um pouco tímido, mesmo que a nova classe Riachuelo seja uma excelente embarcação?
Olá Bruno. O investimento em nossas Forças Armadas no geral é tímido, mas isso infelizmente apenas reflete a realidade do país. Em minha opinião, nossas FA hoje tiram leite de pedra, conseguindo o que conseguem com um orçamento limitado e constantemente contingenciado. Daí a importância da aprovação da reforma da previdência. Não significa que imediatamente irá se refletir nos investimentos em Defesa, visto que o país tem muitas e muitas necessidades. Mas é um primeiro passo fundamental. Outro ponto importante seria conscientizar nossos representantes no Congresso sobre a importância de investimentos nesse setor. Muito ibrigado pelo comentário e por acompanhar o Blog!
Defesa é vista como uma forma de lucro no USA, bem diferente do que aqui que é visto como gasto.
Defesa movimenta a economia. Temos muito a caminhar ainda! Grato pelo comentário.
Ótimo artigo parabéns!!!
Reis Friede é um articulista e tanto! Obrigado!
O Kazan, classe Yasen-M está na fase de ajustes, lançado no final do ano passado, a previsão é para 2020. Enfim, mostra como é complexo, pois após o lançamento, ainda passará por longos testes de mar, retorna, faz-se os ajustes necessários, para só depois estar realmente comissionado.
Essa nova classe SS-MX possui também um projeto concorrente, pelo menos em versão, que é a 5ª geração sendo desenvolvida pelo Bureau de Design Rubin.
Diz-se que não há projeto mais complexo que um submarino nuclear. Grato por comentar!
Estou lendo este artigo ao final de 2019. Excelente!! Parabéns pelo ótimo trabalho!!! Viva muito e prospere!!
Muito obrigado Carlos! Tenha um excelente Natal com seus familiares!