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Antes da Red Wings (da esquerda para a direita): Matthew Axelson, Daniel R. Healy, James Suh, Marcus Luttrell, Eric S. Patton, Michael P. Murphy. Com exceção de Luttrell, todos foram mortos em 28 de junho de 2005 por forças do Talibã (Foto: US Navy).

Antes da Red Wings (da esquerda para a direita): Matthew Axelson, Daniel R. Healy, James Suh, Marcus Luttrell, Eric S. Patton, Michael P. Murphy. Com exceção de Luttrell, todos foram mortos em 28 de junho de 2005 por forças do Talibã (Foto: US Navy).

A Operação Red Wings foi uma missão de contra-insurgência combatendo o Talibã realizada em 2005 no Afeganistão. O único sobrevivente, Marcus Luttrell, escreveu um livro de memórias que posteriormente originou o filme Lone Survivor (traduzido para o português como O Grande Herói, disponível no serviço de streaming Amazon Prime Video).


Após a invasão do Afeganistão em 2001, na Operação Enduring Freedom (Liberdade Duradoura), uma das regiões mais rebeldes era a província de Kunar, na fronteira com o Paquistão. As atividades insurgentes vinham de diversos grupos conhecidos pela sigla ACM (Anti-Coalition Militias, Milícias Anti-coalizão), e tinham em comum a resistência à unificação do país e subsequente presença de um governo nacional na província, já que isso representava uma ameaça a seus interesses em atividades que iam desde o apoio à Al-Qaeda ou ao Talibã até contrabando de madeira.

Com o objetivo de realizar eleições na província, as operações militares na área concentraram-se principalmente em missões de contra-insurgência (COIN) visando eliminar as atividades das ACM.

A Operação Red Wings, entre o final de junho e meados de julho de 2005, foi realizada no distrito de Pech, na encosta da montanha Sawtalo Sar, 32 km a oeste de Asadabad, capital da província de Kunar, e tinha por objetivo eliminar a atividade da milícia conhecida como “Tigres da Montanha”, alinhada ao Talibã e liderada por Ahmad Shah, líder local com aspirações fundamentalistas. Shah teria sido responsável ​​por onze incidentes contra unidades americanas, da coalizão e do governo do Afeganistão.

Através de informações de inteligência obtidas por vários meios, incluindo imagens feitas por drones, descobriu-se que o grupo de Shah era composto por entre cinquenta e cem guerreiros e que sua base de operações ficava próxima à vila de Chichal, no alto da montanha Sawtalo Sar, no vale do Korangal. Foram identificadas estruturas ​​que serviriam tanto para alojamento do grupo e para a fabricação de IED (Improvised Explosive Device, Dispositivos Explosivos Improvisados), como para vigilância da área abaixo, visando os ataques. Soube-se também que Shah estaria na área no final de junho.

A operação foi planejada pelo comando do 2º Batalhão do 3º Regimento de Marines e empregava uma força conjunta dos Marines, dos SEALs e do 160º Regimento de Aviação de Operações Especiais do Exército. A operação foi planejada com cinco fases:

  • Fase 1 Modelagem: uma equipe de reconhecimento dos SEALs seria inserida na região das estruturas suspeitas, para observar e identificar Shah e seus homens e direcionar a equipe da Fase 2;
  • Fase 2 Ação Sobre o Objetivo: uma equipe dos SEALs inserida na área e seguida de perto por equipes dos Marines com o objetivo de capturar ou matar Shah e seus homens;
  • Fase 3 Cordão Externo: os Marines, juntamente com homens do Exército Nacional Afegão, varreriam a região em busca de outros insurgentes suspeitos;
  • Fase 4 Segurança e Estabilização: os Marines, o Exército Nacional Afegão e a Marinha dos EUA proporcionariam cuidados médicos à população local e determinariam as necessidades locais, como melhorias em estradas, poços e escolas;
  • Fase 5 Exfiltração: dependendo da atividade inimiga, os Marines permaneceriam na área por até um mês e depois sairiam.

Na Fase 1, a equipe de reconhecimento dos SEALs era composta pelo tenente Michael Murphy como líder, pelos sargentos (Petty Officer Second Class) Daniel Dietz e Matthew Axelson e pelo especialista médico (Navy Hospital Corpsman Second Class) Marcus Luttrell. A missão foi comprometida quando eles foram surpreendidos por pastores de cabras que presumivelmente relataram sua presença e localização aos homens de Shah.

Luttrell estava observando a área com binóculos quando o primeiro pastor apareceu do nada, pulando de um tronco acima dele. Em seguida outros dois surgiram, acompanhados por cerca de cem cabras. Eles afirmaram que não eram talibãs. Como estavam desarmados, pelas regras de engajamento os SEALs não deveriam prejudicá-los.

Isso causou um impasse: se matassem os pastores, seriam ouvidos, atrairiam a atenção dos aldeões e dos homens de Shah, e depois teriam que enfrentar a mídia, possíveis acusações de assassinato e talvez prisão; se os deixassem ir, arriscariam que denunciassem sua presença a Shah. Tentaram comunicar-se com a base por rádio, mas a comunicação caiu. Por fim, decidiram liberar os pastores.

Foi uma decisão fatídica.

Em de algumas horas foram cercados por dezenas de combatentes do Talibã fortemente armados, iniciando um tiroteio que durou várias horas, com o agravante dos atacantes estarem em posição mais alta.

Encurralados, os SEALs precisavam recuar, o que significava arremessar-se montanha abaixo. Luttrell contou que caiu de cabeça enquanto despencava e tentava segurar-se em arbustos.


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Lone Survivor: The eyewitness account of Operation Redwing and the lost heroes of SEAL Team 10

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Seus suprimentos, capacete e equipamento foram arrancados na queda. Os demais seguiram o mesmo caminho, colidindo com pedras. Luttrell quebrou as costelas. Murphy levou um tiro no estômago; Dietz, na mão. O tiroteio continuou, e Dietz levou outro tiro no pescoço. Um RPG esmagou uma árvore ao lado de Luttrell, jogando-o de um penhasco. Ele caiu semiconsciente e quebrou o nariz. O tiroteio seguia. Luttrell conta que Dietz foi baleado novamente e que o arrastou tentando protegê-lo, mas ele acabou morrendo em seus braços.

Murphy e Axelson foram baleados no peito, depois Axelson foi atingido mais uma vez na cabeça. Murphy conseguiu sinal com um telefone via satélite e falou com a Força de Reação Rápida em Asadabad. Quando desligou, duas balas atingiram seu torso. Luttrell diz que viu quatro homens do Talibã dispararem várias vezes em Murphy.

Luttrell correu para Axelson, que tinha se arrastado sob uma rocha. Uma granada terminou de matá-lo e lançou Luttrell para longe. Ele caiu de cabeça para baixo num buraco. Sua perna esquerda estava ensopada de sangue, cheia de estilhaços.

Os combatentes do Talibã, agora sem saber qual era sua localização, continuaram atirando por algum tempo até que desistiram.

O Chinook

Em resposta ao pedido de Murphy, um helicóptero MH-47 Chinook com dezesseis homens (oito SEALs e oito Night Stalkers do Exército) a bordo foi enviado como parte da missão para extrair os quatro SEALs em apuros. O Chinook foi escoltado por helicópteros de ataque.

Os helicópteros de ataque estavam pesados e reduziam a velocidade de avanço da formação, por isso o MH-47 seguiu à frente deles. Os homens a bordo sabiam os riscos que corriam ao entrar numa área inimiga durante o dia sem escolta; mas cientes que uma equipe estava cercada com elementos gravemente feridos, optaram por seguir diretamente para a área, na esperança de conseguiriam aterrissar mesmo em terreno perigoso.

Quando o helicóptero se aproximou, um dos homens de Shah disparou um RPG que entrou pela rampa aberta do Chinook matando todos os dezesseis homens a bordo.

Luttrell salvo

Com a garganta cheia de terra e a língua seca, Luttrell andou e rastejou como pôde por várias horas até que encontrou uma cachoeira onde conseguiu matar a sede. E deparou-se novamente com um grupo de afegãos de frente para ele.

Ele pegou seu fuzil e chegou a liberar a trava de segurança, mas então baixou a arma. Eles não eram talibãs, mostraram que estavam desarmados, deram-lhe água e cuidaram de seus ferimentos.

Eram de uma tribo pashtun e, ao decidir levá-lo, devido a seu código de honra lokhay warkawal – uma tradição que diz que se deve proteger alguém em necessidade, independentemente de quem seja –, agora lutariam até a morte para defendê-lo. Eles o levaram até a sua aldeia, o abrigaram, alimentaram e protegeram.


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Ele ficou lá por três dias. Shah e seus homens foram à vila várias vezes exigindo que ele fosse entregue, mas os moradores se recusaram. Um dos aldeões levou um bilhete de Luttrell a um posto avançado das forças dos EUA que então puderam lançar uma operação de resgate e o removeram em 2 de julho.

Conclusão

A ação resultou no maior número de mortos dos EUA em um único dia desde o início da Operação Enduring Freedom, e foi a maior perda de vidas de forças especiais navais americanas desde a Segunda Guerra Mundial.

A operação de busca e resgate, que acabou conhecida como Red Wings II, concentrou uma grande quantidade de recursos; com isso, Ahmad Shah e seus homens deixaram a região e se reagruparam no Paquistão. Com o passar do tempo as tropas foram deixando a região e ele retornou à área. Posteriormente Shah foi ferido na subsequente Operação Whalers algumas semanas depois. Em abril de 2008, ele acabou morto num tiroteio com a polícia paquistanesa em Khyber-Pakhtunkhwa.

Acolhido pelas pessoas que ele fora matar, Luttrell ficou confuso; até então ele não tinha respeito pelo povo afegão. Muhammad Gulab, o homem que o salvou e abrigou, foi ameaçado e teve muitos problemas com os talibãs. Com o passar dos anos Luttrell e Gulab se visitaram nos EUA e no Afeganistão. Em uma entrevista, Luttrell disse que, até ser resgatado, não tinha se dado conta dos sacrifícios que aquelas pessoas fizeram, e acrescentou que “muita gente acha que estamos em guerra com o Afeganistão, mas não. Estamos em guerra contra o Talibã, e o bom povo afegão está preso no meio disso”.

Em seu livro, Lone Survivor, Luttrell afirmou que o tenente Murphy chegou a considerar e depois pôs em votação a execução dos pastores que surpreenderam a equipe de reconhecimento; esta afirmação causou controvérsia e muitos a consideram uma peça de ficção. Dan Murphy, o pai do tenente Murphy, posteriormente afirmou que seu filho nunca executaria civis desarmados e muito menos colocaria tal decisão em votação.

Anos depois, Luttrell criou a “Fundação Lone Survivor” para ajudar os veteranos de guerra e suas famílias a lidar com os ferimentos invisíveis do combate.

Em homenagem póstuma, Dietz e Axelson receberam a Navy Cross e Murphy a Medalha de Honra. Luttrell também recebeu a Navy Cross em cerimônia na Casa Branca. Em homenagem ao tenente Murphy, o destroier classe Arleigh Burke (DDG-112) recebeu seu nome. O USS Michael Murphy foi batizado em 7 de maio de 2011, aniversário de nascimento do tenente, por sua mãe, Maureen Murphy.


Assista ao vídeo-resenha “O Grande Herói” no canal Velho General no YouTube.


Assista ao vídeo “Análise: Operação Asas Vermelhas no Afeganistão”, do Canal ARTE DA GUERRA, com a minha resenha do filme e uma análise da operação pelo comandante Robinson Farinazzo.

Referências

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4 comentários

  1. Sério que eles republicaram “O Último Sobrevivente” como “O Grande Herói”? Uma parte de mim morreu por dentro.

  2. Assisti esse filme. Eu fui Militar, e em uma missão dessas, com as características peculiares que a qualificam, todos naquela área são combatentes, armados ou não. Podem ser espiões, Soldados convencionais,mas inimigos se ameaçarem a vida dos Soldados no caso Seal’s, comprometem a missão, desta forma, eu executaria os pastores sem problemas de consciência. Legalidade é outra coisa. Quem cria essas regras são oficiais que ficam no ar condicionado. O Soldado Operacional sempre estará na decisão, ou cadeia ou morte. Sempre foi assim.

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