O maior conflito entre Israel e Gaza desde 2014

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Unidade de artilharia israelense dispara contra alvos na Faixa de Gaza (Foto: AP).

Unidade de artilharia israelense dispara contra alvos na Faixa de Gaza (Foto: AP).

Semanas de violentos confrontos em Jerusalém Oriental iniciaram os combates mais pesados em vários anos entre Israel e militantes palestinos na Faixa de Gaza. Ambos os lados parecem estar se preparando para uma luta mais prolongada. Neste artigo, alguns dos recentes fatores que desencadearam a escalada.


Protestos do Ramadã, despejos em Jerusalém

Desde o início do mês sagrado muçulmano do Ramadã, em meados de abril, os palestinos enfrentam-se todas as noites com a polícia israelense em Jerusalém Oriental, que coloca barreiras para impedir as reuniões noturnas no portão de Damasco, na Cidade Velha.

Os palestinos veem as barreiras como uma restrição à sua liberdade de reunião, enquanto a polícia diz que estava lá para manter a ordem. As tensões também estão altas devido a um processo judicial de longa data mediante o qual várias famílias palestinas podem ser despejadas de suas casas para dar lugar a colonos israelenses que, apoiados pela decisão de um tribunal israelense, querem se mudar.

A violência rapidamente se espalhou para o complexo da Cidade Velha que abriga a mesquita de Al-Aqsa, o terceiro santuário mais sagrado do Islã e o local mais sensível no conflito israelense-palestino. Centenas de palestinos ficaram feridos em confrontos com a polícia no complexo e nos arredores da Cidade Velha nos últimos dias.

“Linha Vermelha”

Os governantes islâmicos de Gaza, o Hamas e outros grupos no enclave advertiram repetidamente a Israel que os combates em Jerusalém eram uma “linha vermelha” e prometeram disparar foguetes se a polícia israelense não parasse com seus ataques na área do complexo de Al-Aqsa.

Enquanto Israel comemorava a captura de Jerusalém Oriental na guerra de 1967 com uma passeata na segunda-feira, o Hamas e o grupo Jihad Islâmica dispararam barragens de foguetes contra Jerusalém e seus subúrbios. O líder do Hamas, Ismail Haniyeh, afirmou que Israel “acendeu o fogo em Jerusalém e Al-Aqsa e agora as chamas se estenderam a Gaza, portanto, é o responsável pelas consequências”.


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Em poucas horas, aeronaves de combate israelenses começaram a bombardear alvos em Gaza, com os militares israelenses dizendo que vítimas civis “não podem ser descartadas” no densamente povoado território costeiro. Desde então, os combates aumentaram dramaticamente com o Hamas e outros grupos disparando centenas de foguetes contra Tel Aviv, e as Forças de Defesa de Israel realizando centenas de ataques aéreos em Gaza.

A violência também estourou em cidades mistas de judeus e árabes em Israel, com membros da minoria árabe de 21% que vivem no país irritados com os despejos em Jerusalém e a violência em Gaza.

Interesses do Hamas, política israelense

As trocas aéreas mais intensas entre Israel e o Hamas desde a guerra de Gaza em 2014 – a Operação Protective Edge (Margem Protetora) –, geraram preocupação internacional de que a situação poderia sair de controle. Mas o Hamas também pareceu ver essa escalada como uma boa oportunidade de marginalizar o presidente palestino Mahmoud Abbas e se apresentar como o guardião dos palestinos em Jerusalém.

Desde a guerra de 2014, o Hamas acumulou cerca de 7.000 foguetes, 300 mísseis antitanque e 100 antiaéreos, e a Jihad Islâmica acumulou 6.000 foguetes, disse um comandante militar israelense em uma entrevista coletiva em fevereiro. Os grupos não confirmaram nem negaram as estimativas israelenses.

Alguns comentaristas de Israel disseram que o Hamas também pode considerar este momento como oportuno por Israel estar em uma tensão política, já que os oponentes do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu tentam formar um governo que o destituirá após uma eleição inconclusiva de 23 de março.

Outros comentaristas disseram que Netanyahu parecia distraído em meio a acusações de corrupção, que ele nega, o que teria permitido que as tensões aumentassem em Jerusalém e se propagassem para Gaza. Durante anos, Gaza teve acesso limitado ao mundo exterior devido a um bloqueio liderado por Israel e apoiado pelo Egito, em que ambos os países citavam preocupações de segurança em relação ao Hamas.

Jerusalém no centro do conflito

Política, história e religião colocam Jerusalém no centro do conflito israelense-palestino mais amplo. No coração da Cidade Velha de Jerusalém está a colina conhecida pelos judeus em todo o mundo como Monte do Templo – o local mais sagrado do Judaísmo – e pelos muçulmanos como O Nobre Santuário. Era o lar dos templos judeus da antiguidade. Dois lugares sagrados muçulmanos agora estão lá, o Domo da Rocha e a Mesquita de Al-Aqsa.

Os cristãos também reverenciam a cidade como o lugar onde acreditam que Jesus pregou, morreu e ressuscitou. Israel vê toda a Jerusalém como sua capital eterna e indivisível, enquanto os palestinos querem a seção oriental como a capital de um futuro estado. A anexação de Jerusalém Oriental por Israel não é reconhecida internacionalmente.

Adaptado do original publicado no SCMP.

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2 comentários

  1. Considera-se a possibilidade do conhecimento prévio das autoridades civis e militares judáicas sobre a concentração de tantos foguetes na faixa de Gaza, promovida esta pelo Hamas e Jihad islâmica. Pode-se talvez concluir que por trás desta escalada de violência há interesses politicos tanto de palestinos como de israelenses. Será mais um exemplo de guerra híbrida que se apresenta pela violência?

  2. Geralmente são vários os motivos para que se desencadeie tantos acontecimentos bélico. Há informações de provocações e ataques de judeus ortodóxicos a árabes habitantes de cidades mistas, onde convivem ambos os povos, com certo grau de crueldade, após diversas atitudes políticas de Bibi Netaniahu mal colocadas, no afã de conseguir apoio para continuar governando. Na verdade, parece mais um conflito no qual se somam dificuldades políticas também no Hammas, querendo derrotar o Abbas. Portanto, os foguetes são apenas parte da história, e outras conjunturas favoreceram a insurgência de árabes entre israelenses. Há muito mais atrás disto tudo e que nos pode servir de lição, principalmente no que tange à desagregação política interna em Israel.

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