Táticas suicidas terroristas: Suicidas-Bomba

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Por Paulo Augusto Aguilar*


Atentado a bomba contra veículo suicida do ISIS em al-Bab, na Síria, filmado por drone em vídeo enviado por canais de propaganda em 2017 (Foto: The Independent).

Ataques terroristas suicidas com uso de IED têm se tornado uma tática frequente. A atomização e fragmentação do terrorismo, seja devido à autorradicalização ou pelo retorno de combatentes estrangeiros aos países de origem, fomentam a atual onda de terrorismo jihadista doméstico. Nesse cenário, o presente artigo traz um breve histórico do conceito e modus operandi das táticas suicidas terroristas, a fim de possibilitar ao Estado preparar-se com novos desenhos de força de planejamento, respostas e recuperação em segurança pública mais eficientes e resilientes.


Os ataques suicidas múltiplos e coordenados do Sri Lanka, ocorridos em 21 de abril de 2019, protagonizados pelo grupo doméstico National Thowheet Jama’ath (NTJ), fornecem uma análise de quão preocupante é a resiliência do grupo terrorista Estado Islâmico (EI ou Daesh) frente à perda de territórios no Iraque e na Síria, uma vez que apresenta uma próspera campanha de mídia, mesmo diante de tantas derrotas, e demonstra disposição em ajustar a agenda terrorista de seus alvos e de seus ataques.

Vale notar que o Sri Lanka não faz parte da coalizão ofensiva contra o EI, não se encaixando no perfil de alvo desejado, conforme de costume alegado pelo grupo terrorista em seus ataques. Assim sendo, verifica-se a flexibilização da agenda de alvos, considerando que os ataques foram feitos contra igrejas e hotéis nos quais os cidadãos das cruzadas da coalizão estavam presentes (Rita Katz, 2019).

Tem-se por force design o desenho de força, a modelagem do uso dos ativos tangíveis e intangíveis do Estado, outorgados para que os órgãos encarregados da Defesa do Estado e da Segurança Pública cumpram as suas atribuições constitucionais, de forma que se deve dar especial atenção a novos modelos de desenhos de força para responder a riscos emergentes, seja com Organizações Terroristas Fundamentalistas Ultrarradicais (OTUR) ou com Organizações Criminosas Ultraviolentas (OCUV).

No caso desta pesquisa, o foco está nos riscos das táticas suicidas protagonizadas com o uso de dispositivos explosivos individuais suicidas.

Definindo táticas suicidas terroristas

Quando se discute o fenômeno das táticas suicidas terroristas, é comum realizar uma simplificação excessiva das Táticas, das Técnicas e dos Procedimentos utilizados (TTP), reduzindo-se o modus operandi suicida apenas ao estereótipo do “homem-bomba”.

Esse reducionismo das táticas suicidas é também observado por Winter (2017) e Crenshaw (2007), que ressaltam que essa tática geralmente é tratada como se fosse um único método de violência unificado, existindo, na verdade, uma variedade de modos de táticas suicidas terroristas, e em consequência disso, diferentes modelos de força de resposta.

Ao se utilizar a expressão “táticas suicidas” ou “operações de martírio”, incluem-se: os ataques suicidas, cujo sucesso, necessariamente, depende da morte do agente; as missões suicidas, nas quais os perpetradores podem ou não morrer pelas suas próprias mãos; assim como diferentes tipos de dispositivos explosivos improvisados (IED[1]) utilizados para a entrega da carga explosiva, como, por exemplo, os veiculares ou os pessoais (homens-bomba).

Desenvolvimento das táticas suicidas terroristas no tempo

De modo geral, os relatos mais distantes do uso de táticas suicidas datam dos anos 37 a.C. e 70 d.C., com as seitas judaicas nacionalistas dos zelotes e dos sicários, que realizavam missões suicidas contra a presença do Império Romano na região da Palestina.

Para Ferraz (2017), os primeiros relatos de terroristas suicidas com uso de explosivos datam do final da Idade Média e do início da Idade Moderna, quando o Império Turco-Otomano empregava os seus soldados suicidas, conhecidos como bashi-bazouks.

Um conceito mais contemporâneo remete ao mais importante movimento terrorista russo do século XIX, protagonizado pela organização Narodnaya Volya (Vontade do Povo), que possuía como objetivos assassinar o Imperador Alexandre II.

O grupo fez uma série de tentativas de ataque entre os anos de 1879 e 1881, todas sem sucesso. Em um destes ataques, realizado em 1881, um dos membros da Narodnaya Volya, Ignaty Grinevitsky Alexander, conseguiu enfim matar o imperador: ele se aproximou de Alexandre II e atirou uma pequena bomba no chão, fazendo com que o explosivo detonasse. A ação custou a vida de Grinevitsky, que se tornou o primeiro homem-bomba oficial da História (FERRAZ, 2017, sem paginação).

Após a Segunda Guerra Mundial, o uso das táticas suicidas teve início no Líbano por grupos xiitas que apoiavam a Revolução Iraniana. Na sequência dos tempos, ocorreu a adesão de grupos com agendas seculares e políticas, mas, indiscutivelmente, foi a partir de 2010 que esse tipo de operação ganhou status de estratégia militar, alçada por grupos terroristas jihadistas ultrarradicais sunitas no Iraque, conforme assevera Magee (2018).

De acordo com as lições de Sheehan (2000) expostas durante a Segunda Conferência Internacional, promovida pelo Centro Internacional de Investigação sobre o Terrorismo (ICCT), em Herzliya, Israel, grupos como a Frente Popular para a Libertação da Palestina (PFLP), a Frente Democrática para a Libertação da Palestina (DFLP), a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Abu Nidal, dentre outros, que possuíam viés secular, nacionalista, esquerdista e antissionista, raramente pretendiam morrer e certamente não planejavam se tornar mártires em seus ataques.

Ocorre que esse cenário mudou no início da década de 1980, após a Revolução Iraniana, fazendo emergir grupos terroristas com motivações mistas, mas predominantemente religiosas, por vezes sectárias ou seculares, que passaram a introduzir táticas, técnicas e procedimentos violentos sem precedentes em seus ataques, notadamente as operações de martírio.

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A partir de 1982, ocorreu o surgimento e a ascensão do Hezbollah e de outros grupos militantes jihadistas, quando se iniciaram práticas de recrutamento de homens e de mulheres com doutrinação religiosa fundamentalista ultrarradical, a fim de prepará-los para o martírio, marcando-se, então, o início de um novo e letal terrorismo por meio das táticas suicidas.

Assim como outras religiões monoteístas, cabe observar que o Islã proíbe o suicídio, mas o Líder Supremo do Irã, conhecido no Ocidente como Aiatolá Khomeini, acreditando que o martírio era uma questão vital e central para a Revolução Iraniana, forneceu as justificativas necessárias para o uso do método:

Khomeini forneceu as justificativas religiosas/ideológicas racionais para o uso da violência a fim de promover os objetivos do Islã, e colocou a Jihad e o “auto sacrifício” na vanguarda de sua filosofia. Esse fato deu aos xiitas uma reputação mundial de uma religião fanática que exige o martírio de seus fiéis em nome de seus objetivos. Uma das inovações proeminentes da teoria de Khomeini foi a permissão para sacrificar a vida de um indivíduo pela realização dos objetivos da sociedade islâmica, em contraste com a regra islâmica aceita que proíbe o suicídio. Cair na batalha durante a Jihad, incluindo o martírio no campo de batalha, é um mandamento sublime que autoriza o mártir partir para os portões do Jardim do Éden (SHAY, 2017, p. 52, tradução nossa).

Em pesquisa realizada no Banco de Dados Global sobre Terrorismo (GTD, Global Terrorism Database), da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos da América (EUA), o primeiro de muitos ataques suicidas, pós-Segunda Guerra Mundial, foi registrado em 15 de dezembro de 1981, quando um carro-bomba explodiu contra a Embaixada do Iraque em Beirute, em uma ação protagonizada por iraquianos xiitas, apoiados pelo partido Al-Da’wah, causando 66 mortes e deixando mais de 100 feridos. Entretanto, segundo o GTD, o primeiro registro do uso de dispositivos explosivos individuais (cintos-bomba) ocorreu em 17 de outubro de 1985, em Beirute, no Líbano, em uma missão suicida contra a estação da rádio cristã A Voz da Esperança, de propriedade norte-americana, ocasião em que quatro terroristas pertencentes ao Partido Comunista Libanês acionaram os seus cintos-bomba vitimando cinco pessoas, incluindo três dos perpetradores (TIMES, 1985).

Consoante destaca Shay (2017), a estratégia e as táticas do martírio mostraram-se poderosas ferramentas de guerra assimétrica do mais fraco contra o mais forte, capazes de obter impressionantes efeitos psicológicos contra Israel e países ocidentais, alvos centrais desses ataques, alavancando mudanças políticas e militares.

É importante acrescentar que o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), em várias passagens, mas valendo aqui citar a Resolução nº 2.170, de 15 de agosto de 2014, reafirma que as ações de terrorismo, incluindo as ações do EI, não podem e não devem ser associadas a nenhuma religião, nacionalidade ou civilização (UNITED NATIONS, 2014a).

Portanto, deve ser despendida muita atenção ao se fazer referência ao grupo terrorista Estado Islâmico, pois ele não é um representante legítimo do Islã nem um Estado com reconhecimento internacional.

Nesse sentido, não é correto creditar que apenas o terrorismo religioso tenha se utilizado das táticas suicidas, conforme explica Crenshaw (2007). Organizações terroristas com outros objetivos ideológicos, mistos, também fizeram uso dessa tática ao longo da história. Entretanto, acadêmicos e estudiosos veem a disposição em se matar pela causa como a principal característica que diferencia o terrorismo jihadista ultrarradical de outras formas de terrorismo (DONGEN, 2017).

Justamente por isso as táticas suicidas são consideradas, há muito tempo, estereótipos do terrorismo jihadista ultrarradical, sendo o modus operandi mais perigoso e sofisticado do terrorismo moderno.

Táticas suicidas terroristas em números

O fenômeno do terrorismo suicida tem aumentado exponencialmente ao longo das últimas três décadas, como mostra o GRÁFICO 1. Desde então, táticas suicidas também se expandiram em alcance geográfico, espalhando-se pelo mundo para países como Arábia Saudita, Marrocos, Tunísia, Chechênia, Quênia, Indonésia, Turquia, Paquistão, Índia, Afeganistão, Egito, Jordânia, Bangladesh, Israel e Grã-Bretanha, atingindo níveis extraordinários na Guerra do Iraque.

GRÁFICO 1: Operações de martírio no mundo por década – 1970-2017 (Fonte: GTD, 2019).

Foram escolhidos seis grupos que utilizaram táticas suicidas em suas operações, segundo a base de dados do GTD, todos de amplo conhecimento e exposição na mídia, os quais foram divididos em duas categorias, quais sejam: Hezbollah, Tigres de Liberação do Tamil Eelam (LTTE) e Hamas, na primeira categoria, e Al-Qaeda, Estado Islâmico (EI), Taliban e Boko Haram, na segunda. Em ambas as categorias, foi analisado o período compreendido entre 1980 e 2017.

Na primeira categoria, encontram-se os pioneiros no uso das táticas suicidas, o Hezbollah, o LTTE e o Hamas, totalizando, em 35 anos, 193 operações de martírio. No GRÁFICO 2, é possível verificar a discrepância dos números entre a primeira e a segunda categoria, que comporta o EI, a Al-Qaeda, o Taliban e o Boko Haram, grupos esses considerados terroristas pelo Brasil, país que segue as resoluções da ONU, os quais, juntos, somam, no mesmo período, 2.851 operações suicidas.

É possível, ainda, verificar que a ascensão das operações se iniciou a partir de 2004, perdurando relativamente constante até 2011, quando, então, cresceu exponencialmente.

GRÁFICO 2: Operações de martírio no mundo, separadas por categorias – 1980-2017 (Fonte: GTD, 2019).

Já no GRÁFICO 3, o Hezbollah aparece com preponderância na década de 1980, iniciando as suas ações suicidas mais precisamente em 1983, com cinco ataques suicidas veiculares. A fim de contextualizar, cabe esclarecer que o período é marcado pela Revolução Iraniana e pela ocupação no Sul do Líbano por tropas israelenses, americanas, francesas etc. Justamente por isso, a década de 1980 é caracterizada por ataques suicidas contra alvos militares e governamentais.

Por sua vez, o Hamas possui dois períodos de interesse: o primeiro marcado pelo fracasso dos acordos de paz de Oslo e pela ascensão do grupo, compreendido entre 1994 e 1999, e o segundo, muito acentuado em quantidades de ataques suicidas, correspondente à segunda Intifada, de 2000 a 2005. Observa-se que, a partir da década de 1990, ocorreu a mudança do perfil de alvos militares para alvos civis indiscriminadamente (FERRAZ, 2017).

Por seu turno, os Tigres de Liberação do Tamil Eelam são um grupo de ideologia étnico-separatista-tamil, que se destaca em muitos aspectos, dentre eles, em números de operações suicidas, tendo constituído um esquadrão especificamente responsável por essas ações, denominado Tigres Negros. Suas operações suicidas representaram aproximadamente 1/3 de todas as ações terroristas suicidas no mundo entre 1980 e 2003, segundo dados do GTD (2019), considerando-se aquelas com ao menos suspeita de autoria.

Seus períodos no GRÁFICO 3 mostram um sobe e desce em números de operações de martírio, contextualizado por acordos e desacordos de paz com o governo do Sri Lanka e com insurgências rivais em seus 26 anos de guerra civil. Em maio de 2009, o grupo admitiu ter sido derrotado pelo governo do Sri Lanka, iniciando-se um período de paz.

GRÁFICO 3: Operações de martírio no mundo, separadas por grupos – 1980-2017 (Fonte: GTD, 2019).

Ainda no GRÁFICO 3, cabe especial destaque para o EI, com 1.353 operações de martírio, e, na sequência, para o Taliban, com 717, o Boko Haram, com 443 e a Al-Qaeda, com 347.

Outro marco de importância para se compreender a necessidade de novos desenhos de força em segurança pública devido à mutação do fenômeno terrorista foram os ataques múltiplos de 11 de março de 2003, ocorridos no sistema de transporte de massa de Madri, na Espanha. Apesar de os ataques não terem ocorrido na modalidade suicida, são considerados um marco da atual “onda do terrorismo jihadista doméstico”, uma vez que contaram com a participação de espanhóis interessados em atacarem o próprio país (DONGEN, 2017).

É interessante mencionar que nenhum outro grupo terrorista soube utilizar com tamanha habilidade e sucesso a autorradicalização on-line como o EI, tanto que estimulou, e ainda estimula, milhares de indivíduos a deixarem os seus países de origem para lutarem em movimentos insurgentes no exterior, como, por exemplo, no Iraque e na Síria.

Conforme a Resolução nº 2.178 da ONU, de 24 de setembro de 2014, esses indivíduos são conceituados como Combatentes Terroristas Estrangeiros (FTF – Foreign Terrorist Fighters), tendo se engajado em movimentos jihadistas no exterior, não possuindo a qualidade de residentes ou de nacionais, sendo que, ao retornarem para os seus países, fato que se intensificou no último ano, com o declínio do Califado proposto pelo EI, tornaram-se potenciais terroristas domésticos. Por outro lado, aqueles que não conseguiram deixar o país e se engajaram em movimentos jihadistas estrangeiros, são estimulados e se sentem na obrigação de contribuírem com ataques domésticos, por meio de células caseiras ou de atacantes solitários (UNITED NATIONS, 2014b).

Braniff (2016), ao comentar sobre o aumento da vigilância dos países sobre os terroristas após o 11 de setembro de 2001, cita a saída encontrada pelo jihadista Abu Musab al-Suri, considerado um dos principais doutrinadores da Jihad moderna: “Se não podemos trazer combatentes para os nossos campos de treinamento, nós temos que pegar nossos campos e levá-los até eles”. Ou seja, trata-se de cooptação por meio cibernético, com o uso das redes sociais Facebook, Twitter, Telegram, WhtasApp, Dark Web, etc.

Nesse sentido, o Secretário de Segurança Interna dos EUA, Jeh Johnson, explica: “o que é um desafio, entretanto, são os ataques estilo lobo solitário, os atores autorradicalizados. As organizações terroristas têm a capacidade de chegar ao nosso território pela Internet, pelo recrutamento e pela inspiração de ataques” (WALLACE, 2016, tradução nossa).

Justamente nesse ponto o terrorismo jihadista tocou o Brasil, onde se encontram perfis de três Combatentes Terroristas Estrangeiros (SOUFAN, 2015), células domésticas e atacantes solitários. Tanto é assim que a Polícia Federal, em cooperação com outros países, como EUA e Espanha, realizou as Operações Hashtag, Átila e Mendaz, resultando na condenação de alguns deles em segundo grau por promoção de organização e recrutamento terrorista (COUTINHO; HAIDAR, 2015; CARVALHO, 2018).

Diante de todo esse cenário, tem-se a problemática desta pesquisa, pois objetiva-se estudar o modus operandi de ataques suicidas em que foram utilizados dispositivos explosivos pessoais. Sabe-se, há muito, que os terroristas exibem comportamento copycat ou imitador (REED, 2016). Isso se afigura como vantagem e obrigação, a fim de possibilitar que o Estado se prepare com novos desenhos de forças de segurança pública mais eficientes e resilientes, englobando planejamento, resposta e recuperação de comunidades atingidas.

Nesse diapasão, são válidos os ensinamentos milenares de Sun Tzu (2002), em A Arte da Guerra:

Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece, mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas.

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Ataques suicidas terroristas

Ganor (2000, p. 6, tradução nossa), fundador e diretor executivo do Centro Internacional de Investigação sobre o Terrorismo (ICCT, International Centre for Counter-Terrorism), conceitua ataque suicida da seguinte maneira:

Um ataque suicida é um método operacional em que o próprio ato de ataque é dependente da morte do agente. Esta é uma situação única em que o terrorista é plenamente consciente de que, se ele não se matar, o ataque planejado não será realizado. Ele não pode cumprir a sua missão e ficar vivo ao mesmo tempo. É importante definir corretamente um ataque suicida uma vez que existem diferentes tipos de ataques que podem ser erroneamente considerados como pertencentes a esta categoria especial.

Precisas, nesse contexto, são as explicações de Abufarha (2009, p. 9, tradução nossa) a respeito do termo Istishhadi, surgido na segunda Intifada por meio do Hamas, que não se confunde com Shahids, termo contemporâneo à primeira Intifada:

Enquanto a noção de shahid (mártir) implica vitimização, a istishhadi (mártir) é uma noção ativa que enfatiza o heroísmo no ato do sacrifício. E como o istishhadi é ativo, o novo termo também faz com que a imagem do istishhadi contenha mais vida do que o shahid. O ato de istishhod (morrer em martírio) se desenvolveu não apenas como estratégia militar e política para grupos e indivíduos, mas também como um ato cultural carregado de significados. São principalmente os significados que dão ao conceito seu peso político e militar. Na segunda intifada, um novo discurso de istishhadiyeen (os mártires) foi articulado de maneira a suavizar a intencionalidade do martírio como um ato de heroísmo. O istishhadi agora carrega novos significados e qualidades acima do shahid. A imagem de istishhadi é o ícone da resistência palestina, substituindo o ícone do shahid da primeira intifada e a noção de fida’i, que foi o ícone da resistência nas décadas de 1960 e 1970. Essas diferenças lexicais e a ascensão do discurso da istishhadiyeen na resistência criaram um novo espaço cultural para os istishhadi na Palestina, que ocupa o mais alto e mais nobre terreno, acima do shahid.

Tipos de dispositivos explosivos suicidas

De forma pragmática, a Associação Internacional dos Chefes de Polícia (IACP, International Association of Chiefs of Police) (2005) divide os dispositivos suicidas em individuais (pessoais) e veiculares. Nesta pesquisa, serão analisados apenas os dispositivos pessoais.

Dispositivo Explosivo Improvisado Suicida (SBIED[2])

Pode-se conceituar SBIED como um IED vestido ou carregado por uma pessoa com propósito suicida, como um colete, um cinto, uma mochila etc., utilizando-se do corpo como meio de ocultação e/ou de entrega do dispositivo explosivo. É também chamado de Dispositivo Explosivo Improvisado Transportado por Pessoa (PBIED[3]).

Vantagens operacionais do SBIED

  • Devoção na missão. Um homem-bomba é considerado um istishhadi, um mártir que se engaja na Jihad, e, após a conclusão da missão, trará honra para a sua família e para a sua organização. Para Ganor (2000, p. 22), “a verdade da causa é estabelecida pela vontade do indivíduo de sacrificar tudo em seu favor. O mártir, autoconscientemente, cria um modelo de emulação e inspiração futura. Ele espera impressionar o público e ser lembrado”. O Istishhadi é um fenômeno multifacetado, em que interpretações e justificativas religiosas se catalisam com causas sociais, em uma sociedade que exalta o sacrifício. Segundo Crenshaw (2007, p. 153):

O sacrifício pela causa é pessoalmente redentor e uma marca de honra, um modo de se tornar um herói e parte de uma elite exaltada, tanto quanto um modo de buscar a morte. Envolve uma aspiração de viver após a morte e dar significado duradouro a uma vida insignificante ou decepcionante. Em alguns casos, a escolha de se tornar um mártir é seguida por elaborados rituais que reforçam o compromisso e impedem o retrocesso.

  • Precisão na entrega do explosivo. As smart bombs, ou bombas inteligentes, são o mais sofisticado dos métodos terroristas, pois, com elas, é possível controlar o tempo e o local em que a carga será detonada (autoacionamento), possibilitando alterar de forma inopinada o alvo principal, caso esteja dificultoso acessá-lo, passando-se a buscar alvos de oportunidade com maior valor ou mesmo em outra localidade.
  • Dissimulação e aparência inocente. Os SBIED são facilmente ocultáveis no corpo ou possuem aparência inocente, favorecendo o efeito surpresa. Logo, afiguram-se como um verdadeiro desafio para aqueles que possuem o dever de identificá-los no meio de multidões.
  • Mínima janela de vulnerabilidade. A dissimulação e a capacidade de autodetonação dos SBIED funcionam como circunstâncias catalisadoras do efeito surpresa, de forma que oferecem mínima janela de vulnerabilidade no sentido de poderem ser descobertos. Diferentemente do que ocorre com um pacote-bomba depositado em determinado lugar, que fica exposto ao público, podendo ser descoberto rapidamente. Mesmo quando o SBIED é descoberto, a autodetonação permite que o dispositivo seja acionado pelo suicida imediatamente, devendo-se ter em mente que o seu comportamento difere do criminoso comum, uma vez que o terrorista tentará ativamente se envolver e se aproximar da força policial ou da multidão, a fim de aumentar as suas vítimas. Antes de tudo, o SBIED é um homicida em curso.
  • Versatilidade. Os dispositivos suicidas individuais possuem vantagens sobre os veiculares, uma vez que requerem menor logística em sua construção e podem atingir alvos que carros-bomba são impedidos de acessar, como o interior de shoppings, comércios, aeronaves etc. Normalmente, são utilizados para atingir um número indeterminado de pessoas, mas, devido à sua versatilidade de se embrenharem e se esgueirarem no meio de multidões, podem chegar muito próximos dos alvos, funcionando perfeitamente para assassinatos seletivos, especialmente de dignitários. Importantes exemplos de assassinatos seletivos de dignitários a serem considerados e estudados são a tentativa de assassinato contra Benazir Buttho, ex-primeira-ministra paquistanesa, em que foi utilizado um duplo ataque coordenado com SBIED, em 18 de outubro de 2007, e o seu assassinato realizado por um suicida-bomba, em 27 de dezembro de 2017. Outro exemplo foi a morte de Ahmad Shah Massoud, líder militar e opositor político ao Taliban, realizada por meio de dois suicidas-bomba, que fingiram ser jornalistas e ocultaram o dispositivo dentro da câmera que usavam para a filmagem, em 9 de setembro de 2001 (MORAIS, 2016).
  • Plano de fuga não é necessário. Uma das etapas mais complicadas de um ataque consiste em elaborar o plano de fuga e executá-lo após a ação, mas ataques suicidas não o exigem, porque requerem tão somente que a carga seja entregue e detonada sobre o alvo.
  • Ninguém será interrogado. Em regra, ninguém será capturado com vida em um ataque suicida, de forma que a segurança operacional do grupo é preservada. Vale mencionar, como exceções, o uso de cápsulas de veneno por agentes do grupo Tigres Tamil ou o acionamento de back-up externo para o caso de o terrorista ser capturado, incapacitado ou mesmo mudar de ideia (TSWG, 2003).
  • Duplo efeito psicológico. O terrorismo é uma estratégia assimétrica, visto que, caso o grupo terrorista confrontasse diretamente com o Estado, certamente seria derrotado. Por isso, o terrorismo busca atingir o Estado por meios indiretos, no caso, degradando a relação de confiança entre o Estado e a sua população. Justamente por isso os ataques buscam atingir multidões e locais de alta frequência, abalando a relação de confiança das pessoas, que acreditam que o Estado deve ser capaz de protegê-las. Em consequência, o público se sente vulnerável e impotente contra a ameaça. Em locais com ataques frequentes, a proximidade com outras pessoas torna-se motivo de incômodo e de preocupação, e esse medo, com o tempo, transforma-se em um fator de desenvolvimento de transtornos de ansiedade. Além disso, a cena de pós-explosão em um ataque suicida é um cenário extremamente traumático, com corpos despedaçados. Tanto é assim que as autoridades do Sri Lanka, em suas estimativas iniciais sobre o número de vítimas, superestimaram a quantidade em 100 mortos, tamanha a quantidade de pedaços de corpos mutilados. Os corpos de suicidas com cintos-bomba são partidos ao meio; os que utilizam coletes apresentam tipicamente a cabeça separada do corpo (IACP, 2005). Assim sendo, ataques com suicidas-bomba aterrorizam duas vezes, pelos efeitos da explosão em si e pela sensação de impotência do Estado em poder evitá-los.
  • Entrada de patogênicos. De eficácia duvidosa, existem relatos do uso de fragmentos ósseos, unhas, sangue e até veneno de rato (anticoagulante) misturados nas metralhas (parafusos, rolimãs e pedaços metálicos), a fim de transmitirem HIV e/ou hepatite e aumentarem o sangramento nas vítimas.

Desvantagens do SBIED

É importante observar que os dispositivos suicidas individuais também possuem desvantagens, como a quantidade de carga limitada a aproximadamente 30 quilos, peso que uma pessoa consegue transportar e a pouca capacidade de mobilidade para percorrer grandes distâncias com velocidade, uma vez que são transportados a pé.

Improvável, mas certamente representando potencial ameaça, até porque o seu uso já ocorreu, são as Body Cavity Bombs (Bombas de Cavidade Corporal), isto é, bombas colocadas em cavidades do corpo, como o estômago, o reto ou a vagina.

Em 27 de agosto de 2009, Abdullah al-Asiri, componente da Al-Qaeda, tentou assassinar o príncipe Muhammad bin Nayef, chefe de contraterrorismo na Arábia Saudita. Calculou-se o peso líquido explosivo em 100 gramas de PETN ocultado em seu reto, segundo relatórios do Serviço Europeu de Polícia (Europol), acionado externamente por radiofrequência. O príncipe Nayef sofreu apenas ferimentos leves (JAMES, 2017).

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Anos depois, em 2012, o Taliban tentou assassinar Asadullah Khalid, então chefe da Agência de Inteligência do Afeganistão, utilizando-se do mesmo método. Khalid foi ferido, mas sobreviveu ao ataque (JAMES, 2017).

Bunker e Flaherty (2013) explicam que o MI5, serviço britânico de informações de segurança interna e contraespionagem, em operações de inteligência, encontrou evidências de que a Al-Qaeda buscava implantar cirurgicamente dispositivos explosivos nos seios e nas nádegas de homens-bomba suicidas.

O fracasso dos ataques com bombas de cavidade corporal acontece porque o corpo absorve grande parte da explosão:

O que é certo, no entanto, é que o corpo humano, assim como a água e a terra, absorverá parcialmente a força de uma explosão dentro dele. Uma explosão onidirecional (como uma esfera em expansão) verá grande parte de sua energia absorvida à medida que o corpo humano se rompe em torno dela. Ainda assim, a explosão tentará viajar pelo caminho de menor resistência – no caso de dispositivo colocado no cólon inferior, por exemplo, a maior parte da força da explosão será direcionada para baixo (FLAHERTY; BUNKER, 2013, sem paginação).

Trata-se de um método que explora vulnerabilidades, uma vez que os scanners corporais e os detectores de metais, em regra, não são potentes o suficiente para penetrarem no corpo e detectarem os dispositivos. Ademais, os que existem levantam discussões a respeito da viabilidade de serem utilizados como medida rotineira anterior ao embarque, o que impactaria em demora.

Em verdade, o maior risco parece estar na possibilidade de a bomba ser transportada até o interior do avião no ânus e, posteriormente, ser retirada no banheiro e detonada fora do corpo do terrorista. A explosão a grandes altitudes pode romper facilmente parte da estrutura da aeronave.

Formas de emprego

Apenas para se ter uma ideia do ciclo de um ataque suicida com dispositivos individuais, será desenvolvida uma sequência que reflete o modo de operação de grupos terroristas palestinos, conforme o Grupo de Trabalho de Suporte Técnico (TSWG, Technical Support Working Group, 2003). Mas certamente o planejamento e a execução de ciclos terroristas variam muito segundo as suas agendas, a depender de cada grupo.

De maneira geral, o que se quer demonstrar é que os suicidas-bomba são um fenômeno organizado, requerendo pelo menos quatro equipes: (1) uma que realiza o recrutamento e a formação, (2) outra que planeja a missão e conduz a vigilância e o reconhecimento no alvo, (3) uma que fabrica o IED e (4) uma que entrega o dispositivo para o homem-bomba e o leva até próximo do alvo desejado.

As três primeiras sequências (recrutamento, IED e alvo) podem ocorrer de forma simultânea, vindo, na sequência, a quarta etapa, a operação. Enfatiza-se que a sequência varia de grupo para grupo, servindo apenas para ilustrar a dimensão de alguns problemas enfrentados para se levar a cabo um ataque suicida, sendo algo que requer certa organização coletiva.

Segue uma breve descrição das etapas:

  • Recrutamento do Istishhadi. Potenciais indivíduos são identificados pela rede terrorista, e, então, o Istishhadi é retirado de sua família por alguns dias para treinamento intensivo, que inclui preparação espiritual, física e, finalmente, a preparação operacional. São realizadas longas sessões de treinos, no intuito de se determinar qual o nível de seu compromisso religioso, atitude e capacidade de manter a calma sob pressão. Terminada a fase de treinamento, o homem-bomba é então entregue a uma equipe de ataque, que pode ou não incluir um tutor.
  • O SBIED. Existem alguns modelos de dispositivos SBIEDs palestinos e iraquianos que, em regra, são de simples construção, sem tecnologia. Contudo, é importante lembrar que a criatividade encontra limite apenas na mente do terrorista.

Normalmente, são acionados por um sistema elétrico, existindo um mecanismo de segurança, entretanto alguns não possuem esse mecanismo, sendo garantida a segurança pela simples separação da bateria (fonte de alimentação). Apesar de não frequentes, são relatados casos de dispositivos iniciados por acionamento pirotécnico ou por choque decorrente do uso de espoleta ogival de tempo retirada de granadas.

Quando escondidos no corpo, é comum o acionador ser localizado ou acessado pelos bolsos. O detonador, em regra, é acionado por pressão (ação positiva do agente); no entanto, podem ser encontrados detonadores acionados por descompressão (ação negativa do agente), ou seja, o agente segue em direção ao alvo com o detonador pressionado, e, quando no local desejado, basta retirar a pressão, fechando-se o circuito e acionando-se a carga. Nos casos de detonadores acionados por descompressão, caso o terrorista seja neutralizado, provavelmente a carga será acionada.

Comumente, os dispositivos são iniciados pelo suicida, mas podem ser acionados por agentes externos, por meio de controle remoto – Dispositivo Explosivo Improvisado Controlado por Rádio (RCIED[4]) –, funcionando como acionamento back-up, caso o suicida seja incapacitado ou mude de ideia.

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Hezbollah: A short history

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Após a confecção do IED, ele deve deixar o local de fabricação e rumar para um esconderijo temporário, próximo ao alvo a ser atacado. Pouco tempo antes do ataque, o dispositivo será recolhido pela equipe de apoio e utilizado pelo homem-bomba.

  • Encontrando o alvo. O alvo será escolhido pela equipe de suporte do ataque segundo a agenda do grupo terrorista, momento em que a equipe deve realizar o seu reconhecimento, assim como efetuar testes de segurança.
  • A operação. O terrorista suicida será conduzido pela equipe de apoio para próximo do local do alvo, sendo que, provavelmente, o SBIED será vestido pelo terrorista no carro durante o trajeto. Por vezes, a equipe de apoio será composta por mulheres, que vão incentivar o terrorista na empreitada. Claras instruções serão dadas ao atacante, mas é comum a equipe de apoio manter contato com o homem-bomba por meio do telefone móvel, havendo relatos de homens-bomba que se perderam e que precisaram de ajuda. Em regra, o suicida deixa o veículo a cerca de 300 metros do alvo e é acompanhado pela equipe de apoio. Justamente por isso a análise de vídeos de forma imediata na investigação pós-ação é uma medida importante, a fim de se identificar a equipe de apoio (TSWG, 2003).

Vale notar que ataques suicidas múltiplos são comuns, a exemplo dos ocorridos no Sri Lanka, existindo coordenação entre os terroristas, que podem realizá-los de duas formas, basicamente: distanciam-se uns 30 metros e iniciam os seus dispositivos simultaneamente, ou ocorre um primeiro acionamento, sendo que o segundo terrorista aguarda certo tempo até que cheguem os respondedores e os voluntários dispostos a ajudar, quando, então, o dispositivo secundário é acionado, a fim de colapsar a estrutura das equipes de resposta. Realizar a explosão em um local para direcionar as pessoas para outro e iniciar a segunda carga contra a multidão que foge da primeira também é possível.

Por fim, cabe ressaltar que um relatório do TSWG (2003) traz um interessante incidente ocorrido na Chechênia, no qual uma detonação do primeiro suicida-bomba atingiu o segundo terrorista suicida, matando-o, sendo encontrado o segundo dispositivo na varredura dos destroços.

Conclusão

Ao que tudo indica, a Al-Qaeda e o Estado Islâmico continuarão a fazer uso de táticas suicidas terroristas com Istishhadi, como os ataques suicidas múltiplos e coordenados havidos no Sri Lanka, em 21 de abril de 2019, os quais foram protagonizados pelo grupo doméstico NTJ, cujos integrantes autorradicalizados, ou foreign fighters, contaram, em algum grau que ainda não está claro, com a participação do EI, que reivindicou os ataques.

Células caseiras, lobos solitários e foreign fighters têm se tornado uma preocupação no Brasil. Não se pode falar apenas em fragmentação de grupos terroristas, mas sim em sua atomização, na medida em que os autorradicalizados on-line e os foreign fighters não necessitam pedir autorização aos líderes das organizações a fim de protagonizarem os seus atentados, afigurando-se como verdadeiros atacantes solitários, com autonomia para planejar e executar seus atos, trazendo relevância ao terrorismo doméstico, sem rosto, que vive entre nós, mas com mentoria internacional.

O Brasil não está livre de ataques terroristas, até porque segue as decisões da ONU, que consideram como grupos terroristas o Estado Islâmico, a Al-Qaeda e o Taliban. Somam-se a isso a criação do Escritório Brasileiro de Representação Comercial e a possível mudança da Embaixada Brasileira para Jerusalém, além do inusitado vídeo de Abu Bakr al-Baghdadi, líder do EI e autoproclamado Califa, que ficou cinco anos sem aparecer nem dar notícias. Baghdadi foi finalmente neutralizado por operadores especiais norte-americanos em 26 de outubro de 2019 em Barisha, região de Idlib, na Síria. Após isso, aguarda-se uma nova metamorfose dessas organizações fundamentalistas ultrarradicais. Todos esses fatos são indicadores potenciais de estímulo para o movimento jihadista doméstico.

Entender essas ameaças emergentes e as suas tendências são circunstâncias importantíssimas no que diz respeito à maneira como as forças de segurança devem se preparar para responder a esses tipos de ataques terroristas.


*Paulo Augusto Aguilar é major da PMESP. Possui, dentre outros, os cursos: Mestrado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública – PMESP; Ações Táticas Especiais – GATE/SP; Análise do Terrorismo na Agência Brasileira de Inteligência – ABIN; Combating Domestic and Transnational Terrorism – Office of Antiterrorism Assistance – DoS/US. Atualmente no Comando de Policiamento de Choque, foi Comandante de Força Patrulha e Força Tática no 18° BPM/M, Comandante de Pelotão de Operações Especiais no COE, Comandante de Pelotão de Controle de Distúrbios Civis no 3° BPChq, Comandante de Equipe Tática e Subcomandante do GATE. Atuou como adido do Comando de Policiamento de Choque no Centro de Coordenação de Defesa de Área de São Paulo do Exército Brasileiro na COPA de 2014 e nos Jogos Olímpicos de 2016 como expert Anti-DEI (Dispositivo Explosivo Improvisado). Membro do Conselho Editorial da Revista Brasileira de Operações Antibombas. É especialista em Gerenciamento de Incidentes/Crises, Resgate de Reféns e Desativação de Bombas.

Notas

[1] Improvised Explosive Device

[2] Suicide Bomber Improvised Explosive Device

[3] Person Borne Improvised Explosive Device

[4] Radio Controlled Improvised Explosive Devices

Referências

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5 comentários

  1. Sou o Coronel R/1 Cruz Junior, Assessor de Doutrina da Academia Militar das Agulhas Negras; desejo parabenizar o autor do artigo pela sua excelência! Artigo rico em informações úteis e inéditas. Eu só tenho duas observações a fazer: a primeira diz respeito à data do assassinato do líder afegão Ahmad Shah Massoud; no texto está escrito que ele foi morto em 9 de DEZEMBRO de 2001 e na realidade ele foi morto dois dias antes dos atentados do 11 de setembro, em 9 de SETEMBRO de 2001, um domingo… A segunda observação tem relação com o destino do líder do Daesh, o terrorista Abu Bakr al-Baghdadi; creio que quando o autor publicou o artigo o líder do Daesh ainda não havia sido neutralizado por operadores especiais norte-americanos, isso se deu em 26 de outubro de 2019, na cidade de Barisha, na região de Idlib, na Síria.

    1. Cel Cruz Junior, agradeço pelas suas observações sempre pertinentes. Com relação à primeira, faremos o devido acerto no texto; com relação à segunda, realmente o artigo foi escrito antes da neutralização de al-Baghdadi; se qualquer forma, vou repassar ao autor para uma possível atualização. Muito obrigado por nos acompanhar e pelas observações sempre valiosas. Forte abraço!

  2. Exatamente Coronel ! na primeira troquei setembro por dezembro. Na segunda observação, Abu Bakr ainda não havia sido capturado. obrigado!

  3. Excelente artigo!
    Muito obrigado pelo nível do detalhamento e das informações contidas.
    Abraços!

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