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FIGURA-12

Por Márcio Santiago Higashi Couto*


Foto: Bermix Studio/Unsplash.

As ocorrências de “Atirador Ativo”, ataques em locais de grande concentração de pessoas, são relativamente comuns nos EUA e anteriormente eram vistas como algo distante da realidade brasileira. No entanto, infelizmente, isso tem ocorrido com certa frequência no país. É necessário que os órgãos de segurança pública estejam preparados para lidar com esses casos, ao mesmo tempo em que a população deve saber como agir nessas situações.


Introdução

Os meios de comunicação trazem, praticamente todos os dias, notícias sobre jovens transtornados que atiram em seus colegas de escola, matando e ferindo vários, ou ex-funcionários de escritórios ou empresas que abrem fogo contra seus ex-patrões e ex-colegas de trabalho.

Pessoas que estão andando tranquilamente pelas ruas, ou passeando por pontos turísticos, em qualquer lugar do mundo, repentinamente e sem nenhum aviso, são atacadas e esfaqueadas ou atropeladas por terroristas, sem que saibam o que está acontecendo.

Quem são as vítimas? São pessoas de todas as idades, de todos os gêneros ou orientações sexuais, de todas as cores, de todas as raças ou nacionalidades, de todas as religiões, de qualquer posicionamento político ou nível social, econômico ou intelectual. Qualquer um pode ser uma vítima.

E quais são os motivos para estes atiradores cometerem esses crimes? O que os levou a praticar esses atos? Quais são os objetivos? Podemos identifica-los antes dos ataques acontecerem? Como podemos nos prevenir? Como nos proteger? O que devemos fazer no caso de um ataque de Atirador Ativo?

FIGURA 01: Pedestre atropelado por uma SUV dirigida por terrorista islâmico em atentado na Ponte Westminster, em Londres, próximo ao Parlamento, em 2017 (Foto: The Guardian).

Definições e características de um Atirador Ativo

Segundo o U.S. Department of Homeland Security (Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos), o Atirador Ativo é “alguém que toma a iniciativa de matar ou tentar matar pessoas em um ambiente delimitado e populoso; na maioria dos casos, os atiradores ativos usam armas de fogo sem nenhum padrão ou método definido para seleção das suas vítimas.” (2018).

O FBI (Federal Bureau of Investigation, a polícia federal americana), define Atirador Ativo como “um indivíduo altamente empenhado em matar ou tentar matar pessoas em uma área populosa. As vítimas são escolhidas aleatoriamente. O evento é imprevisível e acontece rapidamente. Conhecimento é o que pode salvar vidas.” (2015).

Embora o termo Atirador Ativo seja o mais empregado, nem sempre este tipo de criminoso utiliza-se de arma de fogo. Em eventos recentes no Reino Unido e na França, os atacantes utilizaram armas brancas, como facas, ou então veículos, como carros e caminhões, para atingir turistas, transeuntes e policiais. Por isso o termo é contestado de acordo com algumas fontes. Preferem chamar de assassino em massa ou assassino ativo. No Brasil, os casos de Atirador Ativo também são chamados de massacre ou chacina.

No entanto, como o termo Atirador Ativo já é amplamente conhecido e divulgado, principalmente fora do Brasil, o empregaremos de forma genérica, caracterizando aquele indivíduo ou indivíduos que, empregando arma de fogo ou outros meios, tenta, ou consegue, matar ou ferir, rapidamente, o maior número de vítimas, escolhidas aleatoriamente, dentro de uma determinada área, fechada ou não, com grande número de pessoas.

A característica principal do Atirador Ativo é que ele quer matar ou tentar matar o maior número de pessoas que conseguir, independentemente de sua motivação. A intenção principal dele não é matar para roubar, não é fazer reféns. Seu propósito é matar muita gente.

Isso não quer dizer que uma ocorrência de Atirador Ativo não possa se tornar uma ocorrência com reféns. Ou vice-versa. Pode ser que o Atirador Ativo faça, ou reúna, reféns, para executá-los em frente às câmeras de televisão, se sua intenção é ganhar visibilidade.

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Ao contrário do que se imagina, nem todo o Atirador Ativo é um suicida. Embora, em vários casos, ele queira ser morto pela polícia (suicide by cop) ou ele se mate ao ser cercado por agentes das forças da lei, em algumas situações ele quer se evadir, empreendendo fuga após atacar e matar ou ferir algumas pessoas, podendo fazer reféns para atingir seu intento.

Quando há, simultaneamente, atiradores ativos atacando em lugares diferentes agindo de forma coordenada, temos um incidente chamado de MAC (Múltiplos Ataques Coordenados).

As motivações e onde o atirador ativo pode atacar

Até por haver muitos casos desse tipo, um dos motivos mais citados é a vingança. O autor, ou autores, pode ser movido por este sentimento. Quer castigar, causar dor e sofrimento a pessoas ou grupos de pessoas. Pode ter intenções suicidas, de ser morto pela polícia ou de se matar após atingir seus objetivos.

Por exemplo, um adolescente vítima de bullying por colegas ou ex-colegas de classe que invade uma escola com armas de fogo, armas brancas e explosivos improvisados e mata ou fere vários estudantes, professores e funcionários, vingando-se dos abusos que sofreu. Ao ser cercado pela polícia, atira contra a própria cabeça.

Ou então, um indivíduo que invade um local de trabalho querendo vingar-se por ter sido demitido ou por ter tido uma decepção amorosa, ou por estar passando por crise financeira, atirando e matando quem encontrar pela frente, além daquela pessoa que lhe causou sofrimento. E querendo ser morto ou dar cabo da própria vida como forma de punição pelos seus atos, ou para dar fim a seus problemas.

O vigilante noturno de uma creche, aparentemente com problemas mentais, após invadir o local e usando gasolina, ateia fogo em várias crianças com idades entre três e sete anos, professoras, funcionárias da creche e a si mesmo, causando sua própria morte, a de dez crianças, duas professoras e uma funcionária.

FIGURA 02: Momento em que um dos atiradores da escola de Suzano está prestes a atirar em estudantes. Imagens da câmera de segurança (Fonte: Portal G1/Globo).

Em outros casos, o que motiva o ataque é atingir pessoas, ou grupos de pessoas, por ódio, intolerância, racismo, homofobia, misoginia, xenofobia ou outras formas de discriminação, ou para defender uma causa, difundir uma mensagem, ou pressionar autoridades a tomarem uma determinada atitude. Podem ser motivos étnicos, políticos, religiosos ou contra determinados padrões de comportamento. Podem ou não estar ligados ao terrorismo, crime organizado ou fundamentalismo religioso ou político.

Temos então um cristão que invade uma mesquita, atirando e matando vários muçulmanos que estavam apenas orando. Ou um fundamentalista islâmico, pertencente a um grupo terrorista, que ataca, com uma faca, turistas em uma rua de Londres, ou atropela com um caminhão pessoas durante uma festa de rua na França, ou em uma feira na Alemanha. Um Atirador Ativo que invade uma boate gay e atira contra os frequentadores com um fuzil automático e uma pistola, dizendo que agia em nome de um grupo terrorista islâmico. Um ataque por um grupo messiânico japonês ao metrô de Tóquio, utilizando gás letal que matou treze pessoas e feriu centenas, para mostrar seu poder e alcançar grande projeção.

Podem ser praticados também por indivíduos que querem publicidade, ser notados ou ficar famosos, incluindo-se aí os chamados “lobos solitários” que agem sozinhos, mas em nome de determinada causa política ou religiosa, sem estar ligados diretamente a um grupo.

Um rapaz, ex-aluno de uma escola pública, invade a escola e atira contra várias crianças e adolescentes, sendo morto por policiais que chegaram ao local. Entre seus motivos, vingar-se do bullying que havia sofrido naquela escola anos antes e como forma de mostrar simpatia a um grupo terrorista islâmico, ao qual ele não era ligado.

Outro tipo de Atirador Ativo que quer publicidade é o chamado copycat, ou imitador, que, para “homenagear” outro Atirador Ativo, imita a forma como foi cometido o ataque, ou procura atingir o mesmo grupo de pessoas.

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Existem atiradores ativos que não precisam de motivação específica para cometer ataques, querendo participar de um “jogo”, ou simplesmente mostrar sua insatisfação com a sociedade.

Um jovem estudante de medicina durante uma sessão de cinema dentro de um shopping, utilizando uma submetralhadora, dispara contra a plateia matando três pessoas e ferindo outras quatro. Um dos motivos alegados foi que “vozes” dentro de sua cabeça o obrigaram a matar pessoas.

Casos de Atiradores Ativos

Resumiremos alguns casos. Não se trata de “estudos de casos”, que mereceriam uma análise mais profunda e detalhada e demandariam um livro apenas para isso.

Além disso, as fontes de consulta são, principalmente, notícias da imprensa e não relatórios oficiais, podendo haver divergências com relação a fatos e números. Abordaremos um caso muito emblemático ocorrido nos Estados Unidos e dois casos brasileiros.

Escola de Columbine

Um dos casos mais marcantes de Atirador Ativo, pelo impacto que causou na mídia e pelas mudanças que provocou nos protocolos de atendimento e no Sistema de Comando de Incidentes, nos EUA, aconteceu em 20 de abril de 1999 na Columbine High School, em Columbine, estado do Colorado.

O ataque foi cometido por dois alunos da escola, Eric Harris, de 18 anos e Dylan Klebold, de 17 anos, como vingança dos demais estudantes, pois alegavam sofrer bullying dos colegas.

Utilizaram diversas armas de fogo, como duas espingardas calibre 12, uma carabina semiautomática Hi-point 995 de 9 mm e uma pistola semiautomática TEC 9 também de 9 mm com carregadores de alta capacidade (30 tiros), além de 99 artefatos explosivos ou incendiários improvisados e uma grande quantidade de munição para as armas.

O ataque durou cerca de 40 minutos e resultou em 13 alunos mortos e outros 23 alunos e um professor feridos. A maioria das vítimas tinha entre 16 e 18 anos de idade. Os atiradores ativos cometeram suicídio quando a polícia chegou ao local.

FIGURA 03: Os dois atiradores da escola em Columbine procuram novas vítimas, tudo registrado pelas câmeras de segurança (Foto: Revista Veja).

A polícia aprendeu muito com este caso. Os protocolos tiveram que ser revistos. Os primeiros policiais que atenderam ao chamado, embora chegassem rapidamente ao local, seguiram o protocolo existente na época que preconizava conter e isolar.

Não entraram no prédio para confrontar os atiradores ativos porque as normas diziam que isso deveria ser feito pelas equipes especializadas. Policiais comuns só deveriam cercar o local e aguardar a chegada da SWAT.

A demora da SWAT em chegar ao local e adentrar ao prédio também foi objeto de análise. Muito se questionou sobre as causas da demora para entrar no prédio. Se os policiais comuns tivessem entrado imediatamente no prédio ou se a SWAT não tivesse demorado tanto para agir, talvez o ataque produzisse menos vítimas.

Outros fatores que foram analisados também foram o comando e o controle de todos os órgãos policiais e de emergência que estavam no local, com falta de coordenação e padronização de comunicação e de procedimentos. Muitos meios deixaram de ser acionados ou foram insuficientes.

Escola em Realengo, Rio de Janeiro

Em 7 de abril de 2011, na Escola Municipal Tasso da Silveira, no bairro de Realengo, na cidade do Rio de Janeiro, estado do Rio de Janeiro, Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, armado com dois revólveres, um calibre 32 e calibre 38, invadiu a escola, de onde era ex-aluno e atirou contra várias pessoas no local, matando 12 alunos entre 13 e 16 anos e ferindo mais 22 pessoas. Com a chegada da polícia, houve uma troca de tiros e Oliveira, após ser baleado na barriga, cometeu suicídio com um tiro na cabeça.

Aparentando ter uma mentalidade psicótica, Oliveira era fascinado por armas e por fundamentalistas islâmicos, e ficava horas pesquisando sobre esses assuntos na internet. Falava muito dos atentados de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, e sobre a Al Qaeda. Segundo um colega, o apelido de Oliveira na escola era justamente esse, Al Qaeda.

FIGURA 04: Wellington Oliveira gravou um vídeo antes do ataque (Foto: Portal UOL/Folha de São Paulo).

Ele deixou crescer a barba, adquiriu hábitos muçulmanos, inclusive, segundo ele, ler o Corão, o livro sagrado muçulmano, várias horas por dia. Afirmou que mantinha contato pela internet e por cartas com integrantes da Al Qaeda e que pediu aconselhamento a eles sobre como realizar ataques terroristas. Entretanto, isso não significa que ele agiu ligado a, ou em nome de, um grupo terrorista islâmico, tratando-se mais de um “lobo solitário”.

O ataque foi até mesmo apoiado por pessoas e grupos que nutrem simpatia por ações desse tipo. Ainda hoje (2020) há pessoas que admiram Oliveira e apoiam os atos que ele praticou.

Um grupo denominado “Célula Terrorista Unidade Realengo Marcelo do Valle” foi mencionado, em um relatório da Polícia Federal brasileira, como responsável por ameaças de ataque aos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) brasileiro. O nome da célula terrorista cita o ataque de Realengo e o nome de Marcelo do Valle, preso em 2018 por incentivar crimes de ódio e atentados contra minorias pela internet e condenado a 41 anos de prisão.

Escola em Suzano, São Paulo

Em 13 de março de 2019, na escola estadual Professor Raul Brasil, na cidade de Suzano, estado de São Paulo, Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, de 25, armados com um revólver calibre 38, uma machadinha, um arco com flechas e uma besta (balestra), atacaram alunos, professores e funcionários, matando oito pessoas e ferindo 11. Quando a polícia chegou à escola, Guilherme, o mais jovem, atirou em Henrique, matando-o e depois cometeu suicídio.

Com relação à motivação da vingança por terem sofrido bullying, para matar e tentar matar tantas pessoas, leva Guilherme e Henrique à uma triste e crescente lista de jovens que, num primeiro momento são vítimas e, por uma série de motivos, por causa dos agressores, da omissão de quem poderia ajudar ou denunciar, da falta de providências de professores e autoridades para reprimirem essas condutas de bullying, tomam a atitude radical de tirarem outras vidas.

Guilherme e Henrique tinham planejado o ataque durante seis meses, no mínimo. Pesquisando na internet sobre crimes do tipo, se espelharam muito no ataque à escola de Columbine, relatado em tópico anterior. Segundo comentários no fórum Dogolachan, eles iriam realizar um feito maior do que Columbine.

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As investigações levaram a um terceiro rapaz de 17 anos, amigo dos dois, que teria participado de todo o planejamento do ataque e da aquisição das armas e iria com Guilherme e Henrique atacar a escola, mas, no último momento, parece ter desistido. O ministério público pediu a sua internação por ter ajudado na preparação do crime.

O ataque foi planejado com uma antecedência de pelo menos seis meses. O revólver calibre 38 e a munição foram comprados ilegalmente. O machado e as facas foram adquiridos sem problemas. O arco e a besta foram adquiridos em um site de compras online, em que basta ter 18 anos para adquirir essas armas, sem burocracia. Eles tentaram comprar ilegalmente outras armas de fogo, inclusive um fuzil, mas não conseguiram dinheiro. O artefato explosivo simulado foi construído conforme instruções da internet.

Henrique alugou um automóvel, um Ônix branco, em uma locadora distante cerca de 2 km da escola, em 21 de fevereiro. A princípio, a necessidade desse carro pode ter sido apenas para levar as armas de uma forma mais discreta, ou até mesmo para ser usado na fuga. Este carro foi alugado até o dia 15 de março e foi escondido em uma garagem nas proximidades.

No dia 13 de março, provavelmente as 09h30, Henrique e Guilherme pegam o carro, colocam as armas em mochilas e vão até o lava-jato Jorginho, bem próximo à escola. A loja pertencia ao tio de Guilherme, Jorge Antonio de Morais, de 56 anos. Lá, possivelmente Guilherme, dispara três tiros contra o tio. Ele depois é socorrido a um hospital próximo, mas morre na cirurgia.

Há duas hipóteses para esse homicídio. Jorge Antonio teria brigado com Guilherme dois anos antes e despediu o rapaz, que trabalhava na loja. Guilherme queria se vingar. Ou, de algum modo, Jorge Antonio acabou descobrindo os planos do ataque e foi morto para que não contasse a ninguém.

As 09h40, Guilherme, provavelmente, posta uma foto no Facebook, usando uma máscara com uma caveira desenhada, cobrindo o rosto e segurando um revólver.

As 09h43, a câmera de segurança de uma casa do outro lado da escola registra o Ônix com os dois rapazes estacionando quase em frente ao portão da mesma. Guilherme, que estava no banco do carona, sai do carro e entra na escola, que estava com o portão aberto. Henrique entra em seguida.

FIGURA 05: Foto postada por Guilherme Monteiro minutos antes do ataque (Fonte: Revista Isto É).

As 09h45, os primeiros tiros são disparados no saguão de entrada, atingindo Marilena Ferreira Milena Umezo, de 59 anos, coordenador pedagógica, que acabou morrendo. Eliana Regina de Oliveira Xavier, de 39 anos, inspetora de alunos, também é atingida e morta. Provavelmente Guilherme fez os tiros e recarregou a arma com um speed loader, um carregador rápido de munição para revólveres.

Como estavam no horário de recreio, os atiradores ativos se dirigiram ao pátio, onde estavam vários estudantes, e atiraram em quatro alunos do ensino médio. Um dos atacantes, possivelmente Henrique, estava com uma machadinha e aplicou vários golpes em vítimas já caídas e outras que corriam e passavam por eles.

Na sequência, os atiradores seguiram em direção a uma sala de aula, onde se ministrava um curso de línguas, atirando e dando golpes de machado em quem viam pela frente.

Várias crianças conseguiram correr e gritar pela rua e isso alertou um vizinho da escola, o Cabo da Polícia Militar do Estado de São Paulo, Eduardo Andrade Santos, de 34 anos, de folga e em trajes civis, que imediatamente entrou armado na escola para averiguar o que estava acontecendo. Com a arma em uma mão e o distintivo na outra, ele gritava para os alunos que era policial e os orientava a sair correndo.

Rapidamente ele encontrou com um dos atiradores ativos e atirou contra ele, mas não acertou. O atirador se escondeu atrás de uma parede.

Uma equipe da Força Tática do 32º Batalhão de Policiamento Metropolitano, comandada pelo Sargento Anderson Luiz Camargo, que já estava em deslocamento para a ocorrência dos tiros disparados no lava-jato, viu as crianças correndo para a rua, parou, equipou-se com um escudo à prova de balas e entrou na escola, encontrando o policial em trajes civis que logo se identificou e contou o que estava acontecendo.

FIGURA 06: Familiares de alunos da escola de Suzano aguardam informações (Foto: PMESP).

Os policiais da Força Tática se deslocaram até onde os atiradores ativos estavam. Quando Guilherme viu os policiais, atirou na cabeça de Henrique e em seguida se matou com um tiro na cabeça. Eram 09h55 e os dois atiradores ativos estavam mortos.

Durante o tempo em que o ataque acontecia, o COPOM (Centro de Operações da Polícia Militar) recebeu 69 ligações relacionadas ao incidente, até mesmo de alunos que ainda estavam escondidos dentro da escola.

O apoio continuou a chegar, várias viaturas e ambulâncias se encaminharam ao local, muitos pais, que estavam próximos à escola, queriam ver seus filhos, sendo que alguns entraram na escola minutos depois do término dos tiros. Houve uma grande dificuldade para cercar e isolar o local e realizar o socorro aos feridos.

Os hospitais da região, por ficarem repentinamente sobrecarregados de feridos por tiros, machadadas, alunos que se feriram na fuga e pessoas em crise nervosa ou passando mal, também tiveram dificuldades para atender a todos.

Equipes da Força Tática fizeram varreduras nas dependências da escola para verificar se havia outros atiradores ativos, mas encontraram apenas uma bolsa que aparentava conter explosivos. A área próxima à bolsa foi isolada.

O GATE, Grupo de Ações Táticas Especiais, da Polícia Militar do Estado de São Paulo, já se dirigia ao local, mas a sede do Gate fica a cerca de 35 minutos de carro do local da ocorrência. O esquadrão de bombas do GATE foi acionado quando foi encontrado o suposto artefato explosivo.

Ao chegar ao local, o esquadrão de bombas do GATE examinou o suposto artefato. Um padrão internacional diz que na dúvida se é real ou não, ou se tenta uma remoção ou o desmantelamento do artefato explosivo com explosão controlada. E o GATE se preparou para tomar estes procedimentos, mas através de raio X, verificaram que se tratava de um artefato falso.

Nesse meio tempo, os policiais perceberam a presença do Ônix branco em frente à escola e, pelas informações recebidas de que havia um carro com aquelas características envolvido no homicídio no lava-jato, foram averiguar. Devido à possibilidade de haver explosivos no interior do veículo, o esquadrão de bombas fez uma busca minuciosa em seu interior, nada encontrando.

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Cerca de 40 minutos depois do término do tiroteio, o governador do estado de São Paulo, João Dória, o Secretário de Segurança Pública, general João Camilo Pires de Campos e o comandante geral da Polícia Militar do Estado de São Paulo, Marcelo Vieira Salles, chegaram ao local da ocorrência para se informar sobre o ocorrido e conceder uma entrevista coletiva, antes da área ser declarada totalmente segura pelo comandante de operação.

Houve certa dificuldade no gerenciamento do incidente em relação ao atendimento aos familiares das vítimas, inclusive psicológico, na coleta, centralização e divulgação das informações aos familiares e à imprensa.

Mesmo quando as informações sobre os mortos, feridos e os atiradores foram transmitidas, por autoridades, em uma coletiva de imprensa, alguns dados estavam incorretos e incompletos.

Os primeiros policiais chegaram rapidamente ao local e entraram na escola. Entretanto não havia um protocolo específico para localizar e neutralizar os atiradores, tendo sido mais uma ação espontânea do que padronizada.

Os recursos no local não tiveram a coordenação e controle e nem a rapidez necessários em incidentes desse tipo. Para os padrões brasileiros, a superação dessas dificuldades foi bem rápida, cerca de 30 minutos. Mas com os devidos ajustes, e com um Sistema de Gerenciamento de Incidentes e Crises e um Centro de Controle de Incidentes, esse tempo pode diminuir muito.

Como se preparar para um caso de Atirador Ativo

Medidas preventivas

Não há possibilidade de evitar, com certeza, o acontecimento de um ataque de Atirador Ativo. A imprevisibilidade de onde, quando, como e porque pode ocorrer um caso de Atirador Ativo, faz com que apenas consigamos dificultar a ocorrência de um ataque. Uma das medidas preventivas para dificultar um ataque é aumentar a segurança de um ambiente, seja local de residência, trabalho, estudo ou lazer.

Podemos mencionar um conceito criado nos Estados Unidos na década de 1960 conhecido como CPTED (Crime Prevention Through Environmental Design, que podemos traduzir como Prevenção Criminal Através do Design do Ambiente) que traz princípios a serem observados por arquitetos e engenheiros no projeto e construção de ambientes, para facilitar a segurança.

Os quatro princípios do CPTED são a Vigilância Natural, o Controle Natural de Acessos, o Reforço Territorial e a Manutenção e Gestão.

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Outro fator preventivo para dificultar o ataque de um potencial Atirador Ativo é poder identificar, previamente, pessoas que possam, por vários motivos, desencadear esse tipo de ação. Principalmente nas escolas, é necessário um acompanhamento constante da saúde mental dos alunos.

Palestras sobre bullying são importantes para evitar todos os efeitos danosos dessa prática, infelizmente comum, e muitas vezes aceita em alguns grupos sociais. Não apenas em escolas, mas também em empresas, ressaltando que o assédio moral também é uma espécie de bullying.

As autoridades brasileiras, nos últimos anos, já perceberam a necessidade de monitorar indivíduos com determinadas condutas violentas. Pessoas que incitam o ódio e a discriminação, seja de gênero, de origem, de etnia ou religiosa, ou aqueles que mantém contato ou demonstram simpatia por organizações criminosas ou terroristas, devem ter suas atividades acompanhadas, inclusive aquelas que ocorrem no campo virtual.

O acesso a armas de fogo deve realmente ter um controle rígido, lembrando que apenas dificultar a venda legal de armas de fogo não impede que um indivíduo com intenções de cometer um ataque tenha acesso às mesmas. Se ele não pode comprar legalmente, irá atrás de meios ilegais para obter o que quer. Entretanto a verificação de antecedentes e avaliação psicológica e técnica para compra de armas vão inibir, e muito, o acesso legal de indivíduos mal-intencionados às armas de fogo.

Na parte preventiva, o esclarecimento sobre o que é uma situação de Atirador Ativo, para toda a população, e o que as pessoas devem fazer, durante um ataque, devem ser importantes preocupações do Estado.

Escolas, universidades, shoppings, cinemas, empresas, enfim, todos os locais com grande concentração de pessoas, além dos procedimentos obrigatórios de evacuação do local e ação da brigada de incêndio no caso de incêndios, deveriam criar planos de evacuação e atuação de funcionários e seguranças no caso do ataque de um Atirador Ativo.

Elaboração de normas de procedimento e sua divulgação, através de palestras, campanhas de esclarecimento, distribuição de vídeos, cartazes e folders possivelmente irão orientar as pessoas a tomar as atitudes corretas durante o ataque de um Atirador Ativo e salvar vidas.

Medidas reativas para a população

No momento em que ocorre um ataque já não há mais tempo para esclarecer corretamente às pessoas sobre como devem proceder. Os ataques são rápidos e mortais.

Por essa razão, o U.S. Department of Homeland Security, o Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos, desde 2013 faz campanhas de esclarecimento e orientação através de vídeos, palestras cartazes, folders (em várias línguas, inclusive português), orientando a população em geral sobre o perfil e características de um Atirador Ativo e como proceder durante um ataque.

FIGURA 07: Folheto explicativo do governo americano sobre atiradores ativos (Fonte: U.S. Department of Homeland Security).

FIGURA 08: Folheto explicativo do governo americano sobre como proceder em um ataque de Atirador Ativo (Fonte: U.S. Department of Homeland Security).

Para facilitar o entendimento e o aprendizado, as ações, nos Estados Unidos, foram divididas em três situações: “RUN, HIDE OR FIGHT” (FUGIR, ESCONDER OU LUTAR).

FIGURA 09: Cartaz do National Counter Terrorism Security Office, do Reino Unido (Fonte: National Counter Terrorism Security Office).

Em outros lugares, como no Reino Unido e outros países da Europa, a orientação é “RUN, HIDE AND TELL” (FUGIR, ESCONDER E CONTAR). Esse CONTAR seria ligar para os serviços de emergência. Não é encorajada a luta contra o atirador, mesmo com a possibilidade de ser morto. Desta forma, apresentamos uma junção dos dois procedimentos com as seguintes providências: FUJA, SE ESCONDA, LIGUE OU LUTE.

Algumas orientações gerais são examinar o ambiente em que se encontra e possíveis perigos, identificando pelo menos duas saídas do local para serem utilizadas. FUJA rapidamente para a saída, em caso de emergência, deixando bolsas e sacolas para trás.

Se, durante o ataque, estiver em uma sala ou um escritório, SE ESCONDA dentro do local, trancando a porta. Se estiver em um saguão ou corredor, entre em uma sala e tranque a porta. Não fique atrás da porta porque o atirador pode atirar nela e atingir você. Procure colocar móveis pesados para barricar a porta.

Coloque o celular no modo silencioso e desligue fontes de barulho ou luz. Feche as cortinas e faça silêncio. SE ESCONDA atrás de móveis sólidos. Só abra a porta quando tiver certeza que é a polícia que está do outro lado.

Assim que estiver seguro, LIGUE para o serviço de emergência da polícia (No Brasil, 190). Lembre-se de ligar primeiro para a POLÍCIA, antes de ligar para outra pessoa. Muita gente, em situações de crise, liga primeiro para a família ou para amigos, perdendo minutos preciosos antes de chamar a polícia.

Quando for atendido pela POLÍCIA, fale com calma e pausadamente. As informações mais importantes são ONDE (o endereço com nome da rua e número), O QUE (disparos de tiros, pessoas sendo mortas) e QUEM (quantos atiradores, e se possível, suas descrições, armas que estão usando e onde estão no momento).

Só tente enfrentar o Atirador Ativo se ele estiver perto de você e se a probabilidade de atirar em você for muito alta. Então LUTE por sua vida. Lembre que o fato de ele te conhecer ou ter amizade com você pode não o impedir de atirar. Ataque violentamente, jogue móveis e objetos e grite alto, tentando neutralizar o atirador, ou para criar condições para que você consiga fugir.

Quando a polícia chegar ao local e tiver contato com você, mantenha-se calmo e levante as mãos, vazias, obedecendo a todas as instruções. Evite movimentos bruscos ou tentar segurar os policiais. Se possível e se você souber, informe a localização do Atirador Ativo e qual é a aparência dele.

Entenda que a prioridade da polícia, nesses casos, é encontrar e neutralizar o Atirador Ativo. Então os primeiros policiais que chegarem ao local, não poderão ajudar a evacuar as pessoas ou a socorrer os feridos. Conforme chegarem mais policiais e serviços de resgate pré-hospitalar, os feridos serão atendidos.

As pessoas que foram evacuadas possivelmente serão levadas a um local seguro, para triagem. Não deixe o local antes da autorização da polícia. Peça a parentes e amigos que só se aproximem se a polícia autorizar.

É muito importante identificar todas as pessoas, para saber quem está vivo, morto ou ferido. Se durante a evacuação você avistar um suspeito de ser o Atirador Ativo tentando se passar por vítima e fugir, avise imediatamente um policial.

Administração de locais com risco de sofrer ataques de Atirador Ativo

Durante uma crise, as pessoas fazem o quer foram treinadas para fazer nessas situações. Se não foram treinadas, possivelmente não farão nada, ou pior, tomarão atitudes impensadas e desesperadas que podem aumentar, em muito, o número de vítimas e de prejuízos.

FIGURA 10: Professoras evacuando crianças durante um ataque de Atirador Ativo à escola Sandy Hook, nos EUA, em 2012 (Foto: Shannon Hicks/Newtown Bee/AP/ Encyclopedia Britannica).

Funcionários e, principalmente, seguranças, devem ser treinados em como agir no caso de ataque de um Atirador Ativo. Precisam orientar e ajudar as pessoas a fugir, além de avisar a polícia.

No Brasil já existem normas, inclusive legais, para prevenção e atuação nos casos de incêndios em estabelecimentos com grande concentração de pessoas. Muitas das providências são as mesmas para um ataque de Atirador Ativo. Devem ser estabelecidos planos de ação e evacuação.

Não adianta haver planejamento e divulgação se não houver um treinamento periódico para testar os procedimentos, corrigir possíveis falhas e preparar, principalmente os funcionários, para atuarem em casos de Atirador Ativo.

FIGURA 11: A Polícia Federal brasileira realizando uma simulação de Atirador Ativo no aeroporto de Viracopos, em Campinas, em 2019 (Fonte: Aeroporto de Viracopos).

Forças de Segurança

Uma ocorrência de Atirador Ativo deve ter prioridade no atendimento. Sabemos que muitas vezes pode ser uma ocorrência de trote e às vezes se aguarda uma confirmação antes de despachar a viatura. Entretanto, quanto mais tempo a viatura demorar para chegar ao local, maior é o número de vítimas e a possibilidade de o atirador fugir.

A prioridade das forças de segurança, da polícia, em uma situação de Atirador Ativo, é LOCALIZAR e NEUTRALIZAR o elemento.

A rapidez da polícia em chegar e adentrar ao ambiente onde está ocorrendo o ataque e localizar o Atirador Ativo é essencial. Desde o ataque em Columbine, quando a demora da SWAT em entrar na escola e neutralizar os dois atiradores custou a vida de muitos estudantes, isso ficou bem evidente.

O protocolo de cercar, isolar e negociar ainda deve ser empregado em ocorrências com reféns, mas se houver um Atirador Ativo atirando nas pessoas, ele deve ser localizado e neutralizado.

Quando falamos de neutralização nos referimos a necessidade de fazer com que o Atirador Ativo pare imediatamente de atirar contra as pessoas. Cada minuto que a polícia demora para fazer isso, pode significar a morte de mais uma pessoa.

A PRIMEIRA RESPOSTA é dada pelos primeiros policiais que chegam ao local. Ou até mesmo por seguranças particulares, armados e treinados, que já estejam no local. Devem entrar no ambiente, localizar e neutralizar rapidamente o Atirador Ativo.

Esses primeiros policiais que chegam ao local, normalmente, são patrulheiros comuns, sem equipamento ou treinamento tático especializado. Podem até ser policiais que fazem o Patrulhamento Escolar ou Policiamento de Trânsito que foram acionados pelo rádio, ou que estavam próximos e ouviram os tiros, ou viram gente correndo, ou foram solicitados pessoalmente por outras pessoas.

FIGURA 12: Policiais brasileiros treinando técnicas de CQB com instrutores americanos da SWAT para agir contra atiradores ativos (Foto: Acervo do Autor).

Por isso, nos Estados Unidos, investiu-se no treinamento e preparação de policiais comuns nesse atendimento de primeira resposta a ocorrências de Atirador Ativo, quando foi criado no Texas, em 2002, o programa ALERRT (Advanced Law Enforcement Rapid Response Training, Centro de Treinamento de Rápida Resposta para as Forças de Aplicação da Lei), um convênio entre a Universidade do Texas e o Departamento de Polícia daquele estado. Em 2013 o Centro ALERRT foi considerado o padrão nacional para treinamento de policiais para ações contra atiradores ativos.

Esse treinamento consiste no ensino de táticas e técnicas básicas de busca, varredura e CQB (Close Quarters Battle, combate em ambiente confinado) para patrulheiros atuarem na primeira resposta a uma ocorrência de Atirador Ativo com um mínimo de segurança.

O conceito de PRONTA RESPOSTA diz respeito ao emprego de equipes táticas especializadas no atendimento de ocorrências de Atirador Ativo, em apoio aos primeiros policiais que chegaram ao local ou qualquer tipo de ocorrência de gravidade, como reféns ou artefatos explosivos.

Medidas pós-evento

Destacamos a importância de aplicar o Sistema de Gerenciamento de Incidentes e Crises, na questão do Comando Unificado e no Gerenciamento por Objetivos, principalmente porque uma ocorrência desse tipo irá demandar vários tipos de serviços além da polícia, como bombeiros, trânsito, serviços de atendimento médico e pré-hospitalar, transporte público, empresas de agua, luz e telefone, e outros órgãos, públicos e privados, que forem necessários.

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Mentes perigosas: O psicopata mora ao lado

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A divulgação de informações deve ser centralizada, checada, analisada e divulgada por quem o Comando da Operação determinar e somente por ele. Informações erradas sobre o Atirador Ativo, sobre as vítimas, mortos, feridos ou sobreviventes, podem gerar desgaste e estresse desnecessários.

Além de providenciar atendimento médico aos feridos e pessoas afetadas fisicamente pelo ataque do Atirador Ativo, o estado deve se preocupar com o atendimento psicológico das vítimas e seus familiares, não só nos momentos imediatamente posteriores ao ataque, mas durante longo tempo, até para prevenir casos de suicídio entre os sobreviventes.

Existe uma preocupação, nos EUA, sobre a forma pela qual alguns meios de comunicação tratam casos de Atirador Ativo. Muitas vezes a situação é tratada de forma sensacionalista, exibindo e expondo desnecessariamente a dor e o sofrimento de vítimas e familiares, apenas para ganhar audiência. Deve existir um mínimo de ética por parte da imprensa na cobertura destes eventos.

No Brasil, tivemos casos em que o Atirador Ativo foi tratado como “vítima”, porque sofria bullying, era pobre ou tinha uma mãe drogada e ausente. Não se pode “endeusar” essas pessoas por respeito à suas vítimas e para evitar que eles se tornem “exemplos” para outros potenciais atiradores ativos.

As investigações não devem ser apenas no campo jurídico, para coletar evidências para uma condenação. Esses casos têm que ser estudados atentamente por equipes multidisciplinares, especialmente com especialistas em saúde mental, para determinar e entender as causas e motivações que levaram aquela pessoa a cometer esses atos. Deve ser examinado também como ele planejou e adquiriu os meios para realizar o ataque, até mesmo para dificultar que outras pessoas sigam esses caminhos.

As forças de segurança devem realizar estudos de casos para avaliar onde agiram errado e onde agiram certo, para melhorar procedimentos, desenvolver novas técnicas, adquirir novos equipamentos e implementar treinamentos.

Conclusão

A Doutrina de Gerenciamento de Crises nos EUA sofreu muitas mudanças nos últimos anos, até chegar ao atual NIMS (National Incident Management System) ou em português, Sistema Nacional de Gerenciamento de Incidentes.

O episódio de Atirador Ativo em Columbine, em 1999, certamente foi um dos eventos que forçaram mudanças no gerenciamento de ocorrências policiais graves, diante da necessidade de padronizar procedimentos, terminologia, equipamentos e treinamentos das várias agências e órgãos públicos e privados envolvidos, colocando-os sobre um comando único.

No Brasil, os governos federal, estaduais e municipais precisam preparar a estrutura dos serviços públicos, principalmente de segurança pública, para atuar em cenários voláteis, incertos, complexos e ambíguos, como em um ataque de Atirador Ativo.

Além disso, o governo deve se preocupar em orientar a população sobre o perigo do Atirador Ativo e o que fazer em caso de ataque. Essas atitudes, certamente, poderão salvar muitas vidas inocentes.

PREPARE-SE


*Márcio Santiago Higashi Couto, coronel da reserva da PMESP, é graduado pela Academia de Polícia Militar do Barro Branco em 1992 e possui mestrado e doutorado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública pela mesma instituição. Graduou-se em Direito pelas Faculdades Integradas de Guarulhos e cursou Especialização em Supervisão de Ensino pela UFRJ, Política e Estratégia pela USP, História Militar pela UNISUL e possui um MBA em Administração Executiva pelo INSPER. Foi professor assistente da Universidade Bandeirante de São Paulo/Anhanguera. Atualmente cursa o mestrado em Segurança Internacional e Defesa na Escola Superior de Guerra (ESG), no Rio de Janeiro.


Referências

AGUILAR, Paulo A. MACTAC Multi-Assault Counter-terrorist Action Capabilities (Capacidade de Resposta Contra-terrorista Frente a Múltiplos Ataques). Força Policial, São Paulo, p. 13, 2018.

BLAIR, Pete J.; BURNS, David; CURNUTT, John; NICHOLS, Terry. Active Shooters: Events and Response. Boca Raton, Taylor & Francis Group, 2013.

DAYNES, Kerry; FELLOWES, Jéssica. Como identificar um psicopata. Tradução Mirtes Frange de Oliveira Pinheiro. São Paulo, Cultrix, 2012.

DOSS, Kevin; SHEPERD, Charles. Active Shooter: Preparing for and Responding to a Growing Threat. Oxford, Butterworth-Heinemann Editors, 2015.

ESTADOS UNIDOS. National Incident Management System-NIMS. 3ª. Ed. Washington: Federal Emergency Management Agency, 2017.

ESTADOS UNIDOS. Active Shooter- Pocket Card 508. Washington, Department of Homeland Security, 2015.

MASSACRE DE COLUMBINE. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2020. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Massacre_de_Columbine>. Acesso em: 5 fev. 2020.

MASSACRE DE REALENGO. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2020. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Massacre_de_Realengo>. Acesso em: 23 fev. 2020.

MASSACRE DE SUZANO. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2020. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Massacre_de_Suzano>. Acesso em: 16 mar. 2020.

SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Bullying: Mentes perigosas na escola. Rio de Janeiro, Editora Objetiva, 2010.

__________________________. Mentes perigosas: O psicopata mora ao lado. Rio de Janeiro, Objetiva, 2008.


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7 comentários

  1. Tive a honra e o privilégio de ter o Maj PM Res Marcio Santiago Higashi Couto como meu professor quando fiz o curso de Tecnólogo em Gestão de Segurança Empresarial na UNIBAN-SP. Ótimo artigo, Mestre Santiago!

  2. Que belíssimo artigo. Muito bem redigido, uma sequência didática maravilhosa, riqueza de detalhes dos eventos utilizados como base no discurso…
    Os votos ao autor são merecidos e necessários. Um artigo de profundidade que deve, com certeza, exigido pesquisas e leituras de muitas fontes.
    Ao Velho (e bom) General, os meus agradecimentos e reconhecimento pela qualidade ímpar e me possibilitar o acesso à leitura. Obrigado.

    1. Muito obrigado José. O autor, oficial da reserva da PM de SP, é muito preparado e realmente tem muito conhecimento na área. Mais uma vez muito obrigado por nos acompanhar. Um abraço!

  3. Parabéns pelo artigo, muito bem redigido e muito esclarecedor, como todo texto do Higashi (como nos bons textos que ele publicava na Magnum, ainda como tenente), mas há um porém: toda vez que se torna necessário adjetivar um substantivo há algo errado, muito errado, pois é assim que esquerda que passa a determinar (pautar) a narrativa.
    A esquerda catequiza pela narrativa eufemística. Inventam termos que parecem inocentes, mas que lá na frente se viram contra os inocentes.

    Um atirador (SIGMA-EB) é definido como um desportista.
    Apesar de inconstitucional, o EB obriga a filiação associativa e a, no mínimo, 8 participações anuais no clube.
    Logo todo atirador no Brasil (quem tem CR) é ativo.

    Cuidado com a linguagem. Tome isso como um alerta, não como uma imposição de opinião.

    Melhor usar os termos bandido, meliante, crápula, assassino etc…

    Muito Obrigado.
    cordiais saudações conservadoras,
    Marcelo J. Z. Shimomura

    1. Marcelo, o comentário do cel. Higashi: é justamente o adjetivo que faz o contexto. “Atirador desportivo”, teoricamente, é uma pessoa de bem. “Atirador de precisão” é uma função e “atirador ativo” serve para designar alguém que está cometendo um crime. O adjetivo é o que irá caracterizar o substantivo. No texto foi utilizada a expressão “atirador ativo”, e não apenas “atirador”, justamente para diferenciar do termo técnico “atirador desportivo”. Obrigado pela leitura.

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