Perfil: Alexandr Dugin, ideólogo de Putin?

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Por Osmar Visibelli*


Aleksandr Dugin em Bucareste, Romênia, em maio de 2017 (Foto: LCV/Shutterstock).

Este artigo procura traçar um breve perfil de Alexandr Dugin, teórico e analista político russo cujo trabalho e ideias vem despertando interesse e obtendo ampla influência intelectual, sendo até mesmo identificado por alguns como influenciador da política russa sob o atual governo de Vladimir Putin.



Alexandr Gelyevich Dugin é Doutor em Ciências Políticas e Ciências Sociais e um importante geopolítico russo da atualidade. Trabalha no departamento de Sociologia das Relações Internacionais da Universidade de Moscou, sendo o Diretor do Centro de Estudos Conservadores desta Universidade.

Dugin nasceu em Moscou em 1962. Sua mãe era médica e seu pai oficial da inteligência militar soviética, condição que lhe deu oportunidade de trabalhar, quando jovem, nos arquivos da KGB, travando contato com obras censuradas para a maioria da população soviética, dentre estas sobre eurasianismo[1] e diversas religiões do mundo.

Publicou livros sobre a Escola Tradicionalista, metafísica, simbolismo, sociedade pós-moderna e a situação política da Rússia pós-soviética. Seu livro Fundações da Geopolítica, o futuro geopolítico da Rússia, tornou-se leitura obrigatória da Academia Militar do Estado-Maior Geral da Rússia e tem influenciado decisivamente a elite política e militar daquele país.

É fundador do Movimento Internacional Eurasiano e um dos principais teóricos do nacional-bolchevismo, que se apresenta como movimento de oposição à influência das nações ocidentais no espaço político ocupado anteriormente pela União Soviética.

É o principal pensador do movimento neoeurasiano, cujo projeto político está relacionado a unificar as nações europeias e asiáticas em uma União Eurasiana, definida de antemão como uma oposição à hegemonia americana, e seu objetivo final é estabelecer uma realidade geopolítica global multipolar.

Mais do que uma simples ideologia política, o Movimento Eurasiano é “uma visão do mundo, um projeto geopolítico, uma teoria econômica, um movimento espiritual, um núcleo destinado a consolidar um amplo espectro de forças políticas”.

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Entre suas principais obras estão: Conspirologia (1992), Revolução Conservadora (1994), Mistérios da Eurásia (1996), Os cavaleiros templários do proletariado (1996), Fundamentos da Geopolítica (1997), A filosofia da guerra (2004), Geopolítica pós-moderna (2007), A quarta teoria geopolítica (2009), dentre outros.

Algumas das obras citadas foram editadas no Brasil pela Editora Austral, de Curitiba, em 2012: Geopolítica do mundo multipolar e A quarta teoria política.

Podem ser encontrados na Amazon, em português, suas obras Teoria do Mundo Multipolar e Geopolítica da Rússia Contemporânea, publicadas em Portugal, além de diversas outras publicadas em língua inglesa, que permitirão ao interessado conhecer com maior profundidade a estrutura de seu pensamento.

“Como fundador do Partido Eurásia – e, sem surpresa, um dos principais defensores do Eurasianismo – a visão política de Dugin está baseada em antiliberalismo, antiamericanismo e num retorno ao imperialismo russo. A ideologia do Eurasianismo, desenvolvida entre a comunidade emigrante russa durante os anos 1920, considera que a Rússia tem ligações mais próximas com a Ásia do que com a Europa ou o resto do Ocidente. Dugin quer ver a formação de um novo império eurasiano, que incluirá todos os estados da ex-União Soviética, além de se estender por outros países asiáticos.” (https://www.vice.com/pt_br/article/ezgb87/falamos-com-aleksandr-dugin-o-cerebro-de-putin-e-ele-quer-a-volta-do-imperialismo-russo, consulta em 29 de agosto de 2020).

Ainda que o conjunto teórico apresentado por Dugin tenha fortes semelhanças com algumas das políticas adotadas pela Rússia, elos diretos entre o intelectual e o presidente russo, ainda que possam existir, não estão claramente identificados.

Contudo, uma relação direta é encontrada especialmente entre Dugin e Sergei Naryshkin[2], importante político russo do partido Rússia Unida[3], o mesmo do presidente Vladimir Putin.

O conjunto teórico da visão geopolítica de Mackinder[4] é um importante componente do pensamento de Dugin mas, de forma alguma, é limitado por ele, uma vez que seu foco á a centralidade eurasiana, a qual segundo o próprio Dugin significa um novo modelo: “A ideia eurasiana representa uma revisão fundamental da história política, ideológica, étnica e religiosa da humanidade, e oferece um novo sistema de classificação e de categorias que suplantará os clichês estabelecidos.” (http://www.4pt.su/pt-br/content/id%C3%A9ia-eurasiana, consulta em 30 de agosto de 2020).

O conjunto formado pelos modelos teóricos citados serão tratados com maior profundidade em textos futuros.

Finalizando, o professor Dugin desenvolve estudos geopolíticos de amplo interesse e que merecem a atenção dos interessados no tema, especialmente pelo fato de que o jogo geopolítico possui diversos campos, antagônicos ou colaborativos e que, a cada Estado, cabe tomar decisões que implicam não apenas a situação presente como a construção de pontes para o futuro.


*Osmar Visibelli é graduado em Ciências Econômicas pela PUC São Paulo e em Administração de Empresas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Possui especialização em Finanças Empresariais pelo Mackenzie e mestrado em Ciências Sociais pela PUC/SP. Foi professor na Universidade Anhembi Morumbi e na UNIP. Atualmente é professor da Universidade São Judas Tadeu nos cursos de Ciências Econômicas e Comércio Exterior e na Faculdade das Américas nos cursos de Ciências Econômicas e Administração de Empresas. Atua também como pesquisador nas áreas de Finanças Corporativas, História Econômica/Política e Geopolítica.


Referências

The Fourth Political Theory, http://www.4pt.su/pt-br.

Vice Brasil, http://www.vice.com/pt_br.


Notas

[1] Eurasianismo é um movimento político que defende que a civilização russa não se enquadra como “europeia” ou “asiática”, mas sim ao conceito geopolítico mais amplo da Eurásia, que compreende toda a Europa e Ásia.

[2] Sergey Yevgenyevich Naryshkin, nascido em 27 de outubro de 1954, é Diretor do Serviço de Inteligência Estrangeira desde 2016.

[3] Rússia Unida é o partido político majoritário na Rússia. É o maior partido do país e, desde 2018 detém 335 das 450 cadeiras da Duma. Seus membros constituem a maioria da Duma desde 2007.

[4] Sir Halford John Mackinder (1861-1947) geógrafo, acadêmico e político inglês, é considerado um dos fundadores da geopolítica e da geoestratégia.

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6 comentários

  1. A “mãe’ Rússia desde sempre, imperialista. Está no DNA. Arrefeceu um pouco, com a derrocada da era soviética. Lentamente, pelas publicações mais recentes, está ressurgindo.
    Como leigo, me parece que, muito mais que a China, é a Rússia que representa a grande ameaça os valores ocidentais legítimos.
    Nossos netos poderão confirmar Isso.
    Parabéns pelo excelente artigo. O Velho (e bom) General sempre mantendo a linha editorial de nos brindar com o melhor. É um prazer essas leituras.
    Obrigado.

  2. O Duguin é um ideologo , realmente , de cunho fascista.
    O pior é que já existem em nossas universidades grupos apoiados por “ele” querendo disseminar essa idieologia no Brasil. Pelo menos uma que eu sei é a tal “Nova Resistência” .
    Isso deveria ser acompanhado muito de perto por nossa inteligência , é uma tentativa de interferi dentro do nosso país !

  3. PS: esse nogócio de “multipolar” é evidentemente um chamariz como a palavra “igualdade” é para o socialismo. Atrai os incautos, mas evidentemente não é intenção verdadeira, basta ser um pouco inteligente para notar que a intenção é transformar a Rússia num novo império, como bem reclamou o Putin ao lamentar o fim da URSS.

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