Logística e mobilização nacionais

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Entrevista com o coronel Antonio Celente Videira


Porto de Santos, São Paulo (Foto: Unsplash/Sergio Souza).

As capacidades industriais e logísticas de um país são vitais na sua defesa. Neste contexto, é fundamental a compreensão de que “Defesa” não é um tema da alçada exclusivamente militar, mas responsabilidade de toda a sociedade. Assim, a capacidade de integrar a base industrial e logística nacional à estratégia de defesa, no conceito de Mobilização Nacional, é imprescindível. Em entrevista ao Velho General, o coronel da reserva da FAB, Antonio Celente Videira, docente da ESG, discorre sobre este assunto.


VELHO GENERAL: Muito se fala em Mobilização Nacional. O que é Mobilização Nacional?

ANTONIO CELENTE VIDEIRA: Segundo a Lei 11.631 de 27 de dezembro de 2007, Mobilização Nacional é o “conjunto de atividades planejadas, orientadas e empreendidas pelo Estado, complementando a Logística Nacional, destinadas a capacitar o País a realizar ações estratégicas, no campo da Defesa Nacional, diante de agressão estrangeira”. Costumo dizer, em minhas aulas e palestras, que a Mobilização é uma Logística “parruda”, ou seja, uma Logística “revigorada”.

VG: Sabemos que os conceitos de Poder e Potencial são imprescindíveis na diferenciação entre Logística e Mobilização. Esses conceitos são definições pétreas constantes no Manual Básico do Pensamento da Escola Superior de Guerra (ESG). Poderia falar mais sobre essas formulações, enfatizando suas distinções, para um melhor entendimento do leitor?

ACV: Vamos, primeiramente, definir cada um desses conceitos, visando a um melhor entendimento:

Poder Nacional é a capacidade que tem o conjunto de homens e meios que constituem a Nação, para alcançar e manter os objetivos nacionais, em conformidade com a Vontade Nacional;

Potencial Nacional é a capacidade que tem o conjunto de homens e meios que constituem a Nação, em estado latente, passível de serem transformados em Poder.

Sobre estas definições, podemos informar que a Logística Nacional se socorre do Poder Nacional, uma vez que esse está disponível a qualquer momento, dentro do território ou fora deste, sendo, neste último caso, factível a sua obtenção. Já a Mobilização, como uma ação complementadora da Logística Nacional, vai buscar seus meios no Potencial Nacional, disponível de forma ainda latente, não configurada, mas com possibilidade de uso, desde que a Nação tenha capacidade tecnológica e gerencial em transformar esses meios intangíveis em recursos palpáveis e utilizáveis.

VG: Como está estruturado o Sistema Nacional de Mobilização (SINAMOB) capaz de transformar o Potencial em Poder, diante de uma possível ameaça de agressão armada ou de contingências naturais?

ACV: Na realidade, o SINAMOB é um sistema integrado com sinergia, visando dar respostas efetivas tanto no preparo como numa possível execução da Mobilização Nacional. Fazem parte do SINAMOB os seguintes órgãos: o Ministério da Defesa (MD – órgão central do sistema), a Casa Civil da Presidência da República, o Ministério das Relações Exteriores, o Ministério da Economia, o Ministério da Ciência e Tecnologia, o Ministério da Integração Nacional, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, o Ministério da Justiça e o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. O Ministério da Defesa, através da Subchefia de Mobilização (SubMob), coordena a complexa interatividade que deve haver entre todos os elos do Sistema.

VG: A interatividade que deve existir entre os elos do Sistema, tão bem enunciada na resposta anterior, realmente existe?

ACV: Veja bem, apesar do esforço da Subchefia de Mobilização (SubMob) do MD, há ainda uma reação por parte dos demais elos do Sistema, em consequência do desconhecimento, pois, evidentemente, estão preocupados com os eventos recorrentes e imediatos da economia nacional. Não existe ainda a percepção de que Mobilização Nacional leva ao Desenvolvimento e à Defesa nacionais. Aliás, prevalece, infelizmente, a mentalidade de que Defesa é exclusiva do segmento militar. A Estratégia Nacional de Defesa (END) é categórica em desmistificar esse estigma. Defesa Nacional é responsabilidade da Sociedade Brasileira, portanto cabe a todos terem consciência de Segurança Externa e Interna como fatores asseguradores da paz e do progresso. A Segurança Interna talvez seja a mais iminente, diante de um mundo globalizado, em que as ameaças despontam em todos os quadrantes geográficos, envolvendo tanto a percepção física como a psicológica.

O apanágio de que Mobilização Nacional deve ficar sob a tutela militar não corresponde mais à realidade em um mundo com novas configurações de relacionamento internacional e na condução dos contemporâneos modelos econômicos. As forças produtivas do País devem ser cúmplices dessa mais recente Ordem, em que atores distintos têm suas participações e responsabilidades em cenários de incertezas e crescentes ameaças.

VG: Poderia explicar melhor esse aspecto? Onde o empresariado estaria inserido nesse contexto?

ACV: As duas Grandes Guerras Mundiais foram pontos de inflexão para as novas estratégias no século passado. Os grandes efetivos e a complexidade técnica da indústria bélica arrastavam atrás de si todo o Potencial Econômico e Militar dos países. Surge assim a ideia de nação armada, cuja característica é a mobilização de todas as forças vivas de um povo. Com o advento de nação armada ou guerra total, a guerra deixa de ser um episódio na vida de um país, tornando-se um acontecimento de consequências sociais e econômicas profundas e imprevisíveis. A partir de 1914, surgiu a designação de Guerras de Massa, que nada mais era do que a manutenção do esforço de guerra, em grande parte, por uma economia industrializada de alta produtividade, nas mãos de setores não combatentes da população. Hoje, com os novos conceitos administrativos, isto está mudando.

As Forças Armadas têm que dispor de logísticas enxutas e preparadas para respostas imediatas. Falo e repito, em meus escritos e palestras, que o chão-de-fábrica é um espaço estratégico de extrema relevância, quando bem administrado e reconhecido pelas Forças Militares, ao se pretender dispor de um Potencial capaz de transformar-se em Poder. Logo, parcerias com a indústria, conhecendo suas capacidades, é significativo. Entender o negócio do operador logístico, a intimidade do seu talento, atravessa a revitalização do pilar da tomada de decisão. Não há mais como dispor de estoques abarrotados, com armazéns em excesso.

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O novo olhar consiste em saber onde estão disponíveis os recursos para fazer uma Força Singular atuar. Simbolizo esse meu pensar com o “olho que tudo vê”, tão bem representado e usado pelas ordens herméticas, como por exemplo a Maçonaria, mostrando como o conhecimento transcende o tempo profano dos acontecimentos medíocres e estatelam-se na sabedoria secular.

Da mesma forma, essa ideia correlaciona-se com os Sistemas de Informações Industriais, em que os bancos de dados têm riquezas esplendorosas na identificação das fontes produtivas, bem como das compatibilidades e alternâncias de materiais estratégicos, tudo conectado e em rede, para o caso de emprego emergente nos vetores de guerra, como carros blindados, aeronaves e fragatas.

Nesse espectro, as Federações Estaduais das Indústrias têm papel relevante como identificadoras da capacidade de estabelecimentos produtivos, na maioria das vezes, desconhecidos pela sociedade e, em especial, pelas Forças Armadas. Veja o que aconteceu, recentemente, com a procura de respiradores diante da pandemia do coronavírus. Houve aquisição com preços elevados no exterior, quando se descobriu a capacidade de nossos empresários e centros acadêmicos de pesquisa universitária em produzir tais equipamentos.

VG: Mas é viável dispor de uma Indústria Bélica exclusiva para atender as Forças Armadas?

ACV: Essa concepção não vinga mais. O novo conceito, no contexto da Mobilização Nacional, é o material ou equipamento dual, em que o mesmo é empregado nas ações belicosas, porém sua utilização primordial deve direcionar-se ao cotidiano da vida econômica, com estímulo à pesquisa e ao desenvolvimento. Para isso, algumas Federações de Indústrias têm sido cooptadas para trabalhar em parceria com as Forças Armadas e o Ministério da Defesa, na seleção do elenco de empresas que tocam o desenvolvimento do País, mas também estão em condições de fornecer itens bélicos de uso comum ou exclusivo às ações de combate.

Atualmente, a Associação Brasileira de Indústria de Material de Defesa e Segurança (ABIMDE) e a Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB) contam, respectivamente, com 130 e 47 empresas e instituições associadas, algumas com reconhecimento internacional pela qualidade e complexidade tecnológica de seus produtos. Para que se tenha ideia, o número total de empregos diretos é de, aproximadamente, 60 mil diretos e 240 mil indiretos. Com isso, deve-se enfatizar a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN), da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul ( FIERGS), da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) e da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC), que já perfilam como desfraldadoras da flâmula da Mobilização Nacional.

A FIESP dissemina esse pensar junto ao empresariado e ao mundo acadêmico de São Paulo, com a aplicação do Curso de Gestão de Recursos de Defesa (CGERD) nas suas instalações, em parceria com a Escola Superior de Guerra (ESG). Mais recentemente, a ESG, em cooperação com algumas Federações, tem promovido os Ciclos de Estudos Estratégicos de Defesa, com a participação de nossas elites industriais e autoridades federais do âmbito da comunidade de Defesa Nacional.

Para que se perceba melhor a integração entre empresas e Forças Armadas, a Lei 12.958, de março de 2012, permite a grandes conglomerados empresariais criarem subsidiárias no setor para obterem vantagens tributárias e condições especiais, no que tange a intermediação na incorporação de compras do Governo. Essas iniciativas tendem a convergir esforços para parcerias plenas entre a Indústria de Defesa e indústrias de outros segmentos, tudo buscando promover a sustentabilidade econômica desses setores voltados à nossa Base Industrial de Defesa (BID). O complexo militar, industrial e acadêmico é o trinômio que prima pela nova perspectiva desenvolvimentista, proporcionando, como consequência, a sensação de segurança.

VG: Existe algum curso exclusivamente destinado a entender essa nova forma de se fazer Logística voltada para o Mobilização Nacional?

ACV: Sim. O Curso de Logística e Mobilização Nacional (CLMN), da ESG, é um programa que qualifica assessores e executores para a Mobilização Nacional. Tem como objetivo preparar civis e oficiais superiores das Forças Armadas e das Forças Auxiliares para atuar nos níveis gerenciais executivos da Logística e da Mobilização Nacional e no assessoramento aos órgãos responsáveis pelo Sistema Nacional de Mobilização – SINAMOB.

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Percebe-se que, mesmo aqueles que não estão inseridos no SINAMOB, mas que tem interesse em fazer o CLMN, podem se matricular, desde que sejam indicados por seus órgãos de origem, mediante convite da ESG. É um curso “provocador”, pois estimula o questionamento de assuntos relativos à gestão com eixo para as Logísticas Militar e Empresarial, é “propugnador”, já que sugere temas complexos visando uma administração integrada com foco na Defesa Nacional e, por fim, é “exploratório”, considerando o incitamento ao desbravamento do saber de novas áreas do conhecimento que proporcione melhor governança voltada à Mobilização Nacional.

Com o advento do Plano de Concessões de Rodovias e Ferrovias em que culminou na criação da estatal denominada Empresa de Planejamento e Logística (EPL), bem como no Plano Nacional de Gestão de Risco e Resposta a Desastre Natural, a ESG dá grande contribuição à Nação, disponibilizando o CLMN aos órgãos governamentais envolvidos com esses desafios, desde que os mesmo se interessem e a procurem, com o intuito de prepararem seu pessoal para a gestão de uma Logística Integrada.

VG: De forma mais prática, como está estruturado o CLMN em termos pedagógicos, para atender a demanda do saber da logística no contexto dos órgãos públicos e privados?

ACV: Costumo dizer que o CLMN é inédito na articulação do ensino da Administração. Proporciona visão da Logística Nacional, identificando os meios, bem como as ferramentas a serem empregadas para as boas práticas governamentais. Dá completa compreensão da Gestão Logística Empresarial, para que o gestor público perceba as dificuldades e potencialidades do ambiente privado, como coadjuvante por excelência do Estado. Ao conhecer o nosso parque industrial e a nossa malha infraestrutural, com suas fraquezas e possibilidades, o aluno descortina caminhos alternativos e promissores, até então desconhecidos, para o emprego específico na sua esfera de atuação funcional.

Na realidade, os concludentes adquirem um novo olhar estratégico na solução de problemas locais, porém com reflexos globais. Suas aproximadas 400 horas, em 15 semanas, com período integral, entre aulas, palestras, simpósios, debates, trabalhos em grupo e individuais, além de visitas e viagem ampliam a percepção do discente na sua matriz intelectiva, transformando-o em verdadeiro estrategista, capaz de oferecer assessorias micro e macroeconômicas, relacionadas às ações Logísticas e de Mobilização a superiores e diretores de seu órgão de trabalho. Essa atitude não se presta apenas à área militar, mas é empregada, com êxito, no ambiente corporativo, de acordo com pesquisa de validação a chefes de alguns ex-alunos dos CLMN dos últimos anos.

VG: Poderia explicar por que sempre a ESG foi o centro das ideias acadêmicas da Mobilização Nacional?

ACV: Para que possamos responder a essa pergunta temos que rever um pouco da história contemporânea. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, inicia-se o que denominamos período da Guerra Fria. Tudo levava a crer, sob uma conjuntura prospectiva dos anos 1950, que seria inevitável a eclosão da Terceira Guerra Mundial. Esse foi um dos motivos da criação da ESG em 1949, em que, como já comentamos, a guerra se revestia de outras características. Agora a sociedade civil estava, quer queira quer não, engolfada e exposta a conflitos.

Nessa circunstância, o estudo Cratológico (estudo do Poder) era essencial a uma elite que tinha perspectiva de ocupar posições de destaque no cenário nacional. Além das disciplinas que permeavam esse saber, fazia-se necessário conhecer Mobilização Nacional. Tal tema foi proferido em palestra, na ESG, pela primeira vez, em 1953, pelo general Fiuza de Castro. Em 1958 e 1959, sob o comando do major-brigadeiro-do-ar Vasco Alves Secco e tendo como Presidente da República Juscelino Kubitschek de Oliveira, o Curso de Mobilização foi ministrado na ESG, formando, respectivamente, 31 e 11 gerentes de Mobilização Nacional, entre civis e militares. Em 1960, o curso foi interrompido, passando a funcionar na extinta Escola de Nacional de Inteligência (EsNI), em Brasília, de 1982 a 1987, mas com apoio do Corpo Docente da ESG, que se deslocava à Capital da República, no intuito de engrossar o time de professores e conferencistas que se prontificavam a ministrar esse corpo de conhecimento específico na área da Logística e Mobilização Nacional. Após quatro anos em recesso, em 1991, retorna à ESG, sob o esforço de gigantes como o tenente-brigadeiro Pedro Ivo Seixas, o coronel Everaldo Montenegro e o capitão-de-mar-e-guerra Ney Marino Monteiro.

A partir daquele ano, 1991, o Curso de Logística e Mobilização Nacional (CLMN), como é conhecido hoje, vem preparando profissionais para a área da Logística e da Mobilização Nacional, tendo diplomado até hoje 764 cidadãos, entre civis e militares, para a função. É interessante mencionar que, antes da aprovação da Lei 11.631, de 27 de dezembro de 2007, que criou o SINAMOB, o Ministério da Defesa, em parceria com a ESG, disseminou a mentalidade de Logística e Mobilização Nacional, aplicado, em nove capitais brasileiras (Brasília, Curitiba, Porto Alegre, Campo Grande, Belém, Belo Horizonte, Fortaleza, Manaus e Recife) o Estágio Intensivo de Mobilização Nacional (EIMN), de duração de duas semanas, em horário integral, incluindo os sábados, quando, na oportunidade, ao longo de quatro anos, de 2004 a 2007, contou com 625 alunos oriundos dos diversos segmentos da sociedade. Com essa trajetória, a ESG se consagra como centro irradiador dos conceitos e práticas da Logística e Mobilização Nacional no País.

VG: Como senhor vê a Logística e a Mobilização Nacional, nesse novo ambiente globalizado, em que modernos conceitos de gestão são implementados na administração pública e privada?

ACV: A instabilidade dos acontecimentos mundiais demanda ações emergentes inesperadas. Estar em constante vigilância é o estado de espírito dos gestores de hoje. A nitidez do “fazer mais com menos” é o mantra das melhores práticas do empreendedorismo. Atentar aos acontecimentos, correlacionando-os aos mais simples movimentos administrativos da empresa ou organização militar culmina na postura que se quer dos novos líderes responsáveis por pessoas e insumos. Possuir um programa, com revisão dos pontos primordiais indicadores dos meios, na sua localidade e quantidade, é o que se deve perseguir, para caracterizar um constante estado de prontidão. Isso é uma questão de mentalidade.

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Possuir conhecimento técnico ou especial de ferramentas facilitadoras da boa gestão torna-se imperativo. Aplicar essas ferramentas adequadamente, bem como entender suas funcionalidades, nos diversos processos gerenciais, significa possuir expertise inusitada ao domínio de um saber intangível, que permeia os mais complexos negócios. O supply chain management, a intermodalidade, o recebimento e distribuição, o just-in-time, o controle de estoque, a previsão e a provisão, o inventário, o marketing, são processos que demandam perícia e perspicácia dos novos gerentes.

Entender Logística e Mobilização Nacional exigem permear todo esse saber, identificando suas conexões, vendo o global a partir do local. Todo esse domínio forja o espírito dos mais habilidosos estrategistas de Logística e Mobilização Nacional. O arcabouço desse conhecimento deve impregnar chefes militares e gerentes empresariais, o que possibilita troca de conceitos e formulações nos planejamentos integrados entre Força Armada e Corporação Produtiva.

É, portanto, o moderno contemplar dos que se habilitam a trabalhar de forma cooperativa, em perfeita colaboração, compartilhando sucesso e fracasso, no contexto de uma operação empreendedora, cujos frutos beneficiam a sociedade. Logo, fazer parte da comunidade dos profissionais de Logística e Mobilização significa divisar todas essas nuances e compreender sua posição, dentro de um sistema de extrema significância. Tudo isso converge para o desenvolvimento da economia do país, em época de paz e de possibilidades de Segurança e Defesa, na situação de conflito interno, agressão armada ou calamidade natural.

VG: Que mensagem o senhor passaria para o leitor que venha a se interessar em Logística e Mobilização Nacional?

ACV: Logística e Mobilização Nacional induzem a um inovador modo de administrar. Tal talento reveste-se de outra roupagem de conhecimento, uma vez que preâmbulos do arcabouço dos assuntos extrapolam a simples gestão, pois agora o olhar se prende, também, ao aprofundamento de um corpo de saberes, dentro de disciplinas como Economia de Guerra, Indústria de Defesa, infraestruturas críticas e outros módulos essenciais ao Desenvolvimento e Defesa Nacionais. As parcerias em vigor, entre Estado e Indústria, permeiam Sistemas dos mais complexos, sendo difusas suas instruções normativas, de forma simbiótica e recíproca em um contexto atual, no que diz respeito a processos e produtos lançados em mercados amplos e sofisticados.

As soluções interagentes das Forças Armadas na infraestrutura, com o Plano Nacional de Logística e Transporte (PNLT), nas telecomunicações, com o emprego da tecnologia satelital, tanto no Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM) como no Sistema Integrado de Fronteiras (SISFRON), na energia atômica, com a propulsão do submarino nuclear, na aviação, com itens aviônicos inteligentes, na defesa terrestre, com a construção de carros-de-combate de alta performance, com radares e tiro de precisão, enfim, é a conjuminância do emprego dos princípios científicos de excelência e os controles burocráticos de resultados ótimos.

Percebe-se que Logística e Mobilização atuam no espaço cibernético e virtual, bem como nas dinâmicas áreas geográficas estratégicas mutáveis, cujas riquezas recrudescem e extinguem-se de formas inesperadas e instantâneas. Esse é o alvorecer do mais recente corpo de conhecimento, no que tange a sustentabilidade das políticas públicas e privadas, em que pese o aprendizado da administração, como ferramenta de controle dos processos embutidos nas exigências da nova gestão que abarca o mundo dos negócios da governança pública.

Divisar técnicas emergentes da Logística, alinhadas com o conceito de Mobilização Nacional, é o que se espera dos novos gestores. Olhar a constelação de empresas, com suas vocações funcionais e combinadas, objetivando agregar-se à construção de produtos e serviços, para a Segurança e Desenvolvimento Nacionais, tem sentido previsível e exitoso. Eis aí o reordenamento organizacional com visão distendida. O instigante está lançado, e cabe a cada um vislumbrar os novos desafios. Boa sorte!


*Antonio Celente Videira, coronel reformado da Força Aérea Brasileira, é membro do corpo docente da ESG (Escola Superior de Guerra), presidente do Conselho Fiscal da ADESG (Associação dos Diplomados da ESG), membro da Academia Brasileira de Defesa (ABD) e membro do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil (IGHB). É autor do livro: Da Industrialização Militar à Mobilização Nacional – Escola Superior de Guerra – Uma História do Desenvolvimento e Defesa Nacionais.


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8 comentários

  1. Muito bom, a logística(cujo curso superior da mesma eu não concluí, tendo parado no meio ) é essencial e pode se tornar o calcanhar de Aquiles de um exército durante um conflito se tornando o motivo de vitória ou derrota mediante seu grau de assertividade e efetividade.

  2. Excelente entrevista. O Velho (e bom) General sempre se superando e surpreendendo leitores.
    Ao entrevistado, parabéns pela forma, profundidade e fluidez da entrevista.
    O desafio, para o Velho General é, cada vez mais, a excelência. Mas isto não é problema. Têm se superado continuamente.
    Parabéns ao Velho (e bom) General. Sou grato por me disponibilizarem, para leitura, tão rico e valioso material.

  3. Como sempre, alto escalão de matéria para conhecimento dos leitores, Parabéns General e ao entrevistado, tive a honra de servir como Fuzileiro na ESG durante cinco anos. Excelente Instituição.

  4. O entrevistado o cel Antonio Celente Videira mostra não só conhecimento do assunto ,mais também uma clareza no explicar extraordinaria . Gostei do que li aprendi.Obrigado

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