O Mossad, o Irã e o acordo entre Israel e os Emirados Árabes Unidos

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Albert-VF1 Por Albert Caballé Marimón*

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Foto de arquivo do Ministério das Relações Exteriores de Israel de 15 de outubro de 2015. Benjamin Netanyahu (à esquerda) com Yossi Cohen (à direita). Netanyahu nomeou Cohen chefe do Mossad em 7 de dezembro de 2015 (Foto: AFP/Getty Images/GALI TIBBON).

O anúncio do acordo que estabelece relações diplomáticas entre Israel e os Emirados Árabes Unidos ocorre na sequência de vários anos de colaboração discreta e indica preocupação com o Irã, que ambos os países veem como adversário.


Embora o acordo anunciado na última quinta-feira possa parecer surpreendente para muitos sob a ótica comum da polaridade Israel-Árabes, uma análise um pouco mais cuidadosa indica que não deveria haver surpresas. Com diversos diplomatas profissionais que falam o idioma e são especializados no mundo árabe à sua disposição, Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro israelense, conta com o chefe do Mossad, Yossi Cohen, para promover os laços com os países do Golfo. Uma delegação oficial israelense viajará aos Emirados Árabes Unidos no início da próxima semana para trabalhar nos detalhes do acordo com a liderança do país árabe, e de acordo com o site de notícias Ynet News, será liderada por Cohen.

As negociações sobre o acordo foram conduzidas com tal sigilo que, em Israel, nem mesmo o ministro das Relações Exteriores, Gabi Ashkenazi, e nem o ministro da Defesa, Benny Gantz, sabiam dos contatos. O trabalho de bastidores foi realizado por Cohen e pelo embaixador de Israel nos EUA, Ron Dermer. Enquanto Cohen viajava aos Emirados Árabes Unidos diversas vezes, Dermer mantinha contato constante com Yousef Al-Otaiba, embaixador dos Emirados Árabes Unidos em Washington.

Há sinais de que outros Estados do Golfo seguirão o mesmo caminho. Na coletiva de imprensa em que anunciou o acordo, Netanyahu disse que outros países árabes devem seguir o exemplo dos Emirados Árabes Unidos. Segundo a emissora de TV Kan de Israel, o próximo seria Bahrein. Houve uma manifestação de apoio de Omã, no que poderia ser um sinal de que o país estaria próximo de seguir o exemplo. A título de curiosidade, note-se que, em outubro de 2018, Netanyahu fez uma primeira e histórica viagem a Mascate, capital de Omã. Nessa ocasião Cohen agiu como intermediário na organização da visita.

Toda essa movimentação seria também parte de uma crescente preocupação dos vizinhos do Irã contra o que consideram uma postura agressiva dos aiatolás. Os Emirados Árabes Unidos têm especial importância porque controlam boa parte da costa sul do Estreito de Ormuz, que o Irã, que controla a costa norte, com frequência ameaça fechar.

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Países como os Emirados Árabes Unidos, Qatar e Bahrein dependem em grande medida do Estreito de Ormuz para escoar sua produção de petróleo (Google Maps).

O fechamento do Estreito de Ormuz seria extremamente prejudicial para países como os Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Catar. Mais de 20 milhões de barris de petróleo diários passam por lá. Com a interrupção do tráfego marítimo, esses países teriam problemas para encontrar rotas alternativas para escoar sua produção. A transferência através dos oleodutos da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos não é suficiente, pois a capacidade total de ambos é inferior a 10 milhões de barris diários, ou menos 50% do fluxo marítimo do Estreito. Uma interrupção do tráfego seria particularmente prejudicial para o fluxo de petróleo em direção ao mercado asiático.

Circulam notícias na imprensa internacional de que submarinos israelenses equipados com “armas especiais” patrulham a região, em prontidão para retaliar caso o Irã ataque Israel com seus mísseis balísticos. Forças dos Emirados Árabes Unidos atuam na guerra civil do Iêmen contra os Houthi, aliados iranianos.

Todo esse contexto ajudaria a explicar a rapidez com que o Irã se manifestou contra o acordo. A agência iraniana Tasnim enfatizou o fato de Cohen, o chefe do Mossad, liderar a delegação israelense que vai aos Emirados Árabes Unidos.

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Na realidade, analistas do Mossad e membros de outras agências de inteligência israelenses são visitantes frequentes dos Emirados Árabes Unidos desde muito antes do acordo recém-anunciado. Há também um movimento de especialistas israelenses em big data e segurança cibernética. Diversos analistas preveem acordos de cooperação financiados pelos Emirados Árabes Unidos nos quais Israel participaria com sua experiência em sistemas de segurança.

Em nível oficial as relações militares oficiais são limitadas ao compartilhamento ocasional de inteligência, mas há um número crescente de militares e pessoal de segurança israelenses sendo empregados em empresas dos Emirados Árabes Unidos ao se aposentarem ou durante períodos sabáticos.

Um exemplo que tem estado em evidência ultimamente é a empresa de segurança privada DarkMatter, que sistematicamente emprega ex-membros da Unidade 8200, a equipe de hackers de elite da IAF (Israel Defense Forces, Forças de Defesa de Israel). Entidades e ativistas de direitos humanos dos Emirados Árabes Unidos criticam a empresa e os especialistas israelenses, afirmando que eles apoiam o país no monitoramento de grupos antigovernamentais – alguns dos quais teriam ligações com o Irã.

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Durante as próximas semanas poderão surgir notícias mais esclarecedoras. De qualquer forma, como sempre, nenhum acontecimento no Oriente Médio deveria ser surpreendente.


ASSISTA AO VÍDEO 1360 DO CANAL ARTE DA GUERRA – ISRAEL: TRUMP COMEMORA ACORDO COM EMIRADOS ÁRABES UNIDOS


*Albert Caballé Marimón possui formação superior em marketing. Depois de atuar vários anos em empresas nacionais e multinacionais, tornou-se fotógrafo profissional e editor do blog Velho General. Já atuou na cobertura de eventos como a Feira LAAD, o Exercício CRUZEX e a Operação Acolhida e proferiu palestras na Academia da Força Aérea. É colaborador da revista Tecnologia & Defesa e do Canal Arte da Guerra. Pode ser contatado através do e-mail caballe@gmail.com.


Referências

A crise do petróleo que a Arábia Saudita não pode resolver. O Petróleo, 28 de junho de 2019. Disponível em: https://www.opetroleo.com.br/a-crise-do-petroleo-que-a-arabia-saudita-nao-pode-resolver/. Acesso em: 15 de agosto de 2020.

EGOZI, Arie. Israel Meets With UAE, Declares It’s Joining Persian Gulf Coalition. Breaking Defense, 16 de agosto de 2019. Disponível em: https://breakingdefense.com/2019/08/israel-meets-with-uae-declares-its-joining-persian-gulf-coalition/. Acesso em: 15 de agosto de 2020.

Report: Israel to station nuclear missile subs off Iran. Ynet News, 30 de maio de 2010. Disponível em: https://www.ynetnews.com/articles/0,7340,L-3896024,00.html. Acesso em: 15 de agosto de 2020.

BASSIST, Rina. Mossad chief likely to continue advancing Israel, UAE contacts. Al-Monitor, 14 de agosto de 2020. Disponível em: https://www.al-monitor.com/pulse/originals/2020/08/israel-uae-us-oman-bahrain-benjamin-netanyahu-yossi-cohen.html. Acesso em: 15 de agosto de 2020.

EGOZI, Arie. Years of intel contacts laid foundation for UAE-Israel deal. Breaking Defense, 14 de agosto de 2020. Disponível em: https://breakingdefense.com/2020/08/years-of-intel-contacts-laid-foundation-for-uae-israel-deal/. Acesso em: 15 de agosto de 2020.

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2 comentários

  1. Nada deveria nos surpreender, quando o assunto envolve a Ásia (Oriente Médio)…
    Mas, é exatamente o oposto que ocorre. A região, desde sempre, palco de disputas de toda ordem, continuará, por muito tempo ainda, considerando cenários atuais, fonte de instabilidade (política, econômica, geopolítica…) e de surpresas de nos prender a respiração.
    Parabéns ao autor do texto.

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