A influência das ordens religiosas na expansão ultramarina portuguesa

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Cristiano Leal.png Por Cristiano Oliveira Leal*

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Vista de Lisboa e o Rio Tejo no século XVI – Caravelas e Carracas na era das descobertas portuguesas; corte da parte superior da obra Civitates Orbis Terrarum, de Franz Hogenberg e Georg Braun (Imagem: Wikimedia Commons/Domínio Público).

A monarquia portuguesa, graças ao prestígio obtido junto ao papado devido à sua participação na Reconquista da península ibérica aos mouros, conseguiu vincular as ordens religiosas à Coroa, garantindo assim que os seus recursos se tornassem disponíveis para o financiamento da expansão marítima.


As ordens religiosas, em especial a Ordem de Cristo, tiveram grande influência no processo de expansão ultramarina português, financiando e dando ímpeto ao empreendimento. Isso aconteceu graças ao prestígio adquirido junto ao papa de Roma pela monarquia portuguesa durante o processo de reconquista da península ibérica, inserindo o projeto de expansão marítima dentro do espírito cruzadístico do combate aos muçulmanos, tornando possível o uso justificado de recursos da igreja e das ordens.

O projeto de uma Marinha Real Portuguesa teve início durante o reinado de D. Diniz (1279-1325) e teve continuidade com os seus sucessores, tendo como objetivo a defesa da costa portuguesa dos ataques dos piratas mouros, em especial os de Granada. Argumentando que os custos com a defesa e combate aos mouros era elevado, D. Diniz, que era respeitado pela igreja por seu papel durante a Reconquista, conseguiu junto ao papa Clemente V recursos financeiros provenientes da dízima (imposto sobre os rendimentos eclesiásticos destinados a uma nova Cruzada), sendo estes investidos no fortalecimento da marinha.

Com a extinção dos Templários, o papa Clemente desejava transferir os recursos dessa ordem para os Hospitalários, algo que D. Diniz via como uma ameaça à soberania portuguesa, porque ocorreria uma concentração de grande parte do território português sob controle dos Hospitalários que, na época, eram subordinados ao grão-comendador da Hispânia que residia em Castela ou em poder do Papa em Avignon, sob influência do rei francês Filipe IV, o Belo. Dessa forma, D. Diniz iniciou negociações com a Santa Sé para que a coroa portuguesa mantivesse o controle dos bens dos antigos Templários em território luso, nascendo assim a Ordem de Cristo.

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Durante o reinado de D. João I (1383-1433), antigo mestre da Ordem de Aviz, houve a conquista de Ceuta, liderada pelo seu filho D. Henrique (1393-1460), marcando o início da expansão portuguesa na África. D. João sempre procurou salientar o aspecto cruzadístico dessa expansão, a fim de proteger e justificar sua conquista e, consequentemente, o fortalecimento de Portugal contra qualquer monarca que visse com receio tal empreendimento.

Usando de sua influência, D. João consegui junto a Santa Sé a nomeação de D. Henrique como mestre da Ordem de Cristo, em 1420. A partir de então, a escolha do mestre da ordem passa a ser feita pelo rei português e confirmada pelo papa, atrelando o controle da ordem à monarquia portuguesa.

Com a coroação de D. João III, em 1522, que na época já era mestre da Ordem de Cristo, todos os demais reis passaram a serem mestres da ordem; até que, em 1551, o papa o Papa Júlio III uniu oficialmente os mestrados das Ordens de Santiago, de Avis e de Cristo à coroa portuguesa, garantindo que os recursos dessas ordens estivessem disponíveis para o financiamento da expansão marítima portuguesa.

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Bibliografia

BALLARINI, Helmo Magno. A Ordem de Cristo no contexto de uma economia de mercês. Critérios de provimento de cargos e ofícios nos séculos XVII e XVIII: o caso da capitania do Espírito Santo. 2016. Dissertação de Mestrado em História – Universidade Federal do Espírito Santo, ES. Disponível em: http://repositorio.ufes.br/jspui/handle/10/9258.

SALLES, Bruno. A Administração do Infante D. Henrique na Ordem de Cristo e os inícios da expansão marítima portuguesa no século XV. Revista Tempo de Reconquista nº 4, 2008. Disponível em: http://revistatempodeconquista.com.br/documents/RTC4/BRUNOSALLES.pdf.


*Cristiano Oliveira Leal é aficionado em história e aviação militar desde a infância, iniciando suas primeiras pesquisas ainda na adolescência. Após o serviço militar no 2º Regimento de Cavalaria Mecanizada, cursou graduação em História na Unisinos, período em que passou a estudar Teoria Militar e estagiou durante um ano no Museu Militar do Comando Militar do Sul. Realizou pesquisas em alguns dos principais museus militares britânicos, em especial os da Royal Air Force. É titulado Especialista em História Militar pela Unisul.


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6 comentários

  1. Ótimo texto, Cristiano Oliveira parabéns. Um dos pontos históricos que eu mais me orgulho, é o fato da Ordem dos Templários não ter caído nas mãos de Filipe IV , o Belo. Assim como, o apoio de Portugal para a continuidade da existência da Ordem. Toda via, vemos o contraste de liderança, pois a França utilizou covardemente e para fins próprios os Templários, e acabaram por serem arruinados por essa atitude. Em contraponto a isso, Portugal fortaleceu sua aliança com a Ordem, e assim foi agraciado com a expansão de seu império, além de mais prosperidades.

    1. Muito obrigado pelo comentário João Victor. Originalmente esse ensaio foi feito como atividade durante minha pós graduação (por isso é curto) e, assim como você, também achei interessante a forma e as manobras feitas pela coroa portuguesa para ter acesso aos cofres eclesiásticos, principalmente dos Templários, para financiar a expansão do império.

  2. E nossos irmãos “portugas”…. Desde e sempre dando um jeitinho. Até o Papa enrolaram para a sua causa!
    Esquecendo o parágrafo acima, os portugueses foram extremamente inteligentes e enxergaram uma oportunidade única de financiarem suas atividades expansionistas, via navegação marítima (alcançando excelência nisso) ,alargando horizontes e territórios para um pais de área e recursos naturais tão pequenos, tornando-se um império gigante. Pena que os descendestes destes mesmos portugueses não foram competentes e viram o seu império escorrer entre os dedos das mãos. Faz parte.
    No mais, parabéns ao autor. Qualquer artigo, bem redigido, não interessa quantas laudas, é sempre bem vindo. Obrigado.
    Abraços a todos que ajudam a disseminar a boa semente do Velho (e bom) General.

    1. Já vi pessoas dizendo “pena que os holandeses não ficaram por aqui”, e lembro do Suriname, por exemplo. Acho que tivemos sorte de ser colonizados pelos portugueses. Forte abraço, José!

  3. Os nossos irmãos Brazukas esquecem que são filhos dos irmãos portugas . Um Abraço ao Jose Wammes

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