A aquisição do NAe São Paulo

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Fragelli Por José Alberto Accioly Fragelli*

Artigo publicado na Revista Marítima Brasileira Vol. 140 nº 01/03 jan/mar 2020.


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O A12 São Paulo em 23 de dezembro de 2013, visto de um helicóptero Bell 206 Jet Ranger (Foto: Rob Schleiffert/Wikimedia/Creative Commons Attribution-Share Alike 2.0 Generic).

O almirante-de-esquadra (Ref2) José Alberto Accioly Fragelli enviou à RMB (Revista Marítima Brasileira), a seguinte correspondência, que esclarece fatos relativos à aquisição do NAe São Paulo da Marinha da França (ex-Foch), em 2001.


A aquisição do Navio-Aeródromo (NAe) São Paulo envolveu muitos fatores com várias características de naturezas políticas, diplomáticas, internacionais, financeiras e logísticas.

Na época, participei indiretamente da negociação, por ser o Comandante de Operações Navais e, posteriormente, Chefe do Estado-Maior da Armada.

Recordando um pouco, em 1993 fui o comandante da primeira Operação ARAEX, que tinha como capitânia o Navio-Aeródromo Minas Gerais. Ao chegar em Puerto Belgrano, Argentina, conheci o comandante da Aviação Naval daquele país, o capitão-de-mar-e-guerra (CMG) Colombo, que teve participação ativa na Guerra das Malvinas, comandando um esquadrão de ataque aeronaval, afundando alguns navios ingleses, entre eles a Fragata Sheffield. Em 1993, a Marinha argentina possuía 12 modernos aviões Super Étendard, cujos pilotos precisavam manter sua qualificação para operar em navio-aeródromo, motivo pelo qual a nossa Marinha ofereceu o Minas Gerais, em razão de que o único NAe argentino, o 25 de Mayo, estava parado para troca de sua propulsão, fato que nunca aconteceu, ficando atracado definitivamente em estado de baixa.

Além do CMG Colombo, fiz amizade com o contra-almirante Fusari, comandante de La Flota, e seu chefe de Estado-Maior, CMG Stella. Em conversa comigo, eles me expuseram o desejo de terem um novo navio, e, pelos estudos que fizeram, este só poderia ser o Foch, da marinha francesa, ao término de seu período operativo. Quando, em 2000, nos foi oferecido o Foch, lembrei-me daqueles oficiais amigos da marinha argentina.

Mas, antes de iniciarmos as negociações, este navio visitou o Rio de Janeiro. sendo eu então o comandante de Operações Navais. Como não tive oportunidade de visitá-lo, depois do trabalho, à noite, fui com meu carro ao cais onde ele estava atracado e, andando pelo mesmo, pude observar as dimensões e o porte maravilhoso daquele navio, ficando vivamente impressionado.


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Por esta ocasião, a marinha francesa nos ofereceu um convite para alguns oficiais brasileiros nele embarcarem, na viagem de regresso à França. Determinei, então, que o CMG Nigro, comandante do Centro de Adestramento Almirante Marques de Leão (CAAML) e ex-comandante do Minas Gerais, fosse um dos oficiais a embarcar no Foch.

O CMG Nigro, oportunamente, me apresentou o relatório abaixo, a pedido meu:

Antes das negociações relativas à aquisição do ex-PA Foch, o navio visitou o Rio de Janeiro no início do ano 2000. Na curta estadia de quatro dias, apagou a planta propulsora (com as caldeiras principais). Tal fato retratou a confiança do comandante e da tripulação ao submeterem a instalação propulsora ao transiente deapagar e acender o navio em tão curto espaço de tempo, mesmo com o Foch no final de seu ciclo operacional. O navio tinha o seu Período de Manutenção Geral (PMG) programado para o início de 2000. Na ocasião, a tripulação francesa deixou para ‘acender’ o Foch horas antes da partida, o que causou quantidade incomum de fumaça, noticiada pela imprensa do Rio de Janeiro.

O navio zarpou com uma Comissão de Inspeção de oficiais da MB, chefiada pelo comandante do CAAML, órgão responsável pelo treinamento das tripulações da Esquadra e pela condução das inspeções operacionais, base da avaliação da prontidão para o combate e a certificação de um navio e sua tripulação para as operações navais no Brasil e no exterior. Durante 48 horas o PA Foch navegou com a comissão da MB e realizou operações aéreas noturnas em área de calmaria, onde desenvolveu 29 nós para atender aos requisitos de recolhimento dos jatos Super Étendard.

Nesta inspeção, a Comissão da Marinha averiguou que o PA Foch, mesmo no fim do seu período operacional, mantinha condições de pleno emprego em operações da guerra aeronaval.”

O início das negociações para aquisição do Foch foi muito interessante. Oficialmente, podemos dizer que tudo começou em Paris, num almoço que o presidente Jacques Chirac ofereceu ao nosso presidente Fernando Henrique Cardoso. Fomos avisados com antecedência, pelo nosso adido naval em Paris, que o presidente francês iria oferecer o navio. Soubemos deste fato por meio de uma ligação que recebi do nosso adido. Desci, então, do meu gabinete e fui falar com o nosso comandante da Marinha, almirante Chagasteles, que de início concordou com a oferta. Em seguida, fiz uma ligação ao CMG Casaes, subchefe do Gabinete Militar, que acompanhava o nosso presidente, participando a decisão do nosso comandante. No meio do almoço, o presidente Chirac, por ocasião do brinde, fez a oferta da França ao Brasil de um cadeau, o porta-aviões Foch. Nosso presidente, já assessorado pelo CMG Casaes, aceitou.

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Daí em diante começaram as negociações. O preço inicial seria de US$ 50 milhões, uma “pechincha”. Entretanto, em uma viagem que fiz por ordem do almirante Chagasteles, para representar a nossa marinha na posse do novo chefe de Operações Navais americano, Vernon Clark, na Academia Naval de Anápolis, encontrei-me com meu antigo amigo Stella, agora chefe do Estado-Maior da Armada Argentina. Nas conversas que tivemos, por dever de oficio, participei que a nossa marinha estava adquirindo o Foch. Foi então que ele me contou que, recentemente, a Argentina tinha adquirido da França o navio-tanque de abastecimento no mar Patagônia (ex-Durance), cujo preço inicial seria de US$ 16 milhões, tendo a Argentina feito uma contraproposta de 1/4, ou seja, US$ 4 milhões, e a França aceitou.

Com a informação de bastidores nos dada pelo almirante Stella, posteriormente fizemos uma contraproposta à França de US$ 12 milhões, 1/4 da inicial, tendo esta sido prontamente aceita.

E assim iniciamos as negociações com alguns setores do Itamaraty, do Ministério da Defesa e da nossa própria marinha, não muito favoráveis. O Itamaraty argumentava que o Foch poderia provocar uma corrida armamentista no Cone Sul. De fato, esta corrida tinha acontecido em 1910, na aquisição dos encouraçados São Paulo e Minas Gerais. A Argentina imediatamente encomendou dois encouraçados aos Estados Unidos, o Rivadavia e o Morena. Mas agora, com as excelentes relações entre a Marinha do Brasil e a da Argentina, não havia a menor possibilidade de que isso se repetisse. Na nossa Marinha, alguns setores da área do material tinham certas preocupações, alegando que não tínhamos experiência com material francês. Então, nosso querido almirante Chagasteles levou a discussão para o almirantado, sendo o almirante Peixoto e eu plenamente favoráveis.

O almirante Chagasteles, percebendo que a decisão não era unânime, estava indeciso. Compreendendo a indecisão do almirante, numa tarde de domingo saí da minha casa, em Brasília, e fui visitá-lo. Tendo muito respeito, admiração e amizade por ele, expressei, numa conversa franca, minha opinião. Argumentei que o nosso Minas Gerais não possuía condições para operar plenamente os 23 AF-1 adquiridos, mas que o Foch as tinha. No final, ele concordou com a decisão de compra. Restavam então o Ministério da Defesa e o das Relações Exteriores.

O almirante Chagasteles era uma pessoa muito introvertida, mas muito inteligente e conhecedor dos assuntos navais em profundidade. Entretanto, infelizmente, não tinha boas relações com o ministro da defesa, dr. Quintão, ex-advogado da união. Estando no Rio adoentado, Chagasteles determinou-me que fosse à audiência com o ministro da Defesa, para tratar da aquisição do Foch, acompanhado do seu chefe de gabinete, almirante Saraiva. A conversa foi muito longa. Por ser o dr. Quintão um grande advogado, ele olhou a aquisição somente sob o ponto de vista jurídico. Inicialmente, desejava que houvesse uma licitação por parte da França, argumentando que US$ 12 milhões era uma quantia muito alta para ser comprometida sem este procedimento. Tentei mostrar-lhe que uma licitação por parte da França era inviável, pois a compra se dava de governo para governo. Além disso, a França era apenas o país cedente. Entretanto, ele discordou de mim. Para que não continuássemos num impasse, e visando nos proteger, decidiu que pediria ao presidente que convocasse o Conselho de Segurança Nacional. E assim ele fez, tendo o presidente aceitado.

Com essa nova solução, fui procurar o general Cardoso, chefe do Gabinete Militar, para saber como proceder. Ele me informou que a reunião não seria feita de maneira formal, sugerindo-me que, sendo eu o CEMA, produzisse uma ata da reunião e lhe entregasse a mesma, pois ele obteria as assinaturas de todos os componentes do Conselho, cabendo à Marinha somente obter as do ministro das Relações Exteriores e do presidente do congresso, senador Antônio Carlos Magalhães, pois este não estava muito afinado com o governo.


Leia também: Descomissionamento do navio-aeródromo São Paulo


O almirante Chagasteles era muito bem relacionado com o senador Antônio Carlos Magalhães, conseguindo facilmente sua assinatura. Faltava o ministro das Relações Exteriores, embaixador Lampreia. Coube-me esta tarefa. O Itamaraty tinha se pronunciado contrário à compra. Fizemos então uma pesquisa no EMA e descobrimos que o embaixador Lampreia possuía um antepassado almirante. Vesti o branco completo e fui à sua audiência, levando debaixo do braço a referida Ata. Lá chegando, fui muito bem recebido e comecei a falar do seu antepassado. Ele apreciou bastante a conversa, que se alongou. Após algum tempo, ele perguntou se a razão da visita era somente falar de seu parente. Neste momento puxei a Ata, que ele assinou prontamente.

Com as assinaturas, fui ao ministro da Defesa para que ele assinasse e, em seguida, levasse ao presidente da república. Ele leu toda a Ata, mas, para minha surpresa, não quis assinar. O ministro alegou que o tratamento dado a ele na Ata era impróprio, pois ele não era o ministro da Defesa, mas sim estava ministro, determinando-me que a refizesse, coisa totalmente impossível, pela quantidade de assinaturas existentes, ou que pedisse ao presidente da república um decreto corrigindo a impropriedade. Refazer a Ata era inexequível. Procurei, então, o general Cardoso, levando um decreto para o presidente assinar. Ele hesitou, mas foi comigo até a presença do presidente, que assinou. Em seguida, o ministro assinou a Ata.

Com todos os documentos iniciais prontos, iniciaram-se as negociações. Do nosso lado, o ministro da Defesa e o almirante Longo, diretor-geral de Material da Marinha. Faltava ainda organizar a tripulação, que, por motivo de economia, não poderia ser completa, indo somente o pessoal essencial para operar e trazer o navio para o Brasil. A FAB, num gesto magnânimo por parte do brigadeiro Baptista, seu comandante, nos forneceu os aviões necessários. O comandante do navio, ao meu ver, deveria ser o mais completo e com experiência de operação com navio-aeródromo. Assim, sugeri ao almirante Chagasteles o nome do CMG Nigro, que tinha comandado o Minas Gerais. Seu nome foi plenamente aprovado.

Quanto ao nome do navio, não havia dúvidas: o Chagasteles, num gesto de gratidão ao presidente Fernando Henrique Cardoso, escolheu, para homenageá-lo, o nome do estado onde o presidente viveu a maior parte de sua vida, São Paulo.

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Para tratar do recebimento do navio, vamos ao relatório feito pelo ex-comandante do navio, o CMG Nigro:

O recebimento do Foch foi dividido em duas partes. Na primeira, com duração de dois meses e meio, os brasileiros foram adestrados com o navio atracado e no mar, em operações aéreas diurnas e noturnas e visitas aos centros de treinamento da Marinha francesa.

O Programa de Adestramento foi preparado pela Marinha Nacional (MN) francesa como se o navio fosse transferido para uma tripulação francesa sob a Organização de Combate daquela Marinha. Constatou-se que seria inexequível realizar a transferência do navio para a MB. A MN foi persuadida a reprogramar a transferência para atender aos requisitos organizacionais da MB e da formação do seu pessoal. Os brasileiros foram divididos em dois grupos: o primeiro com 300 militares, que chegaram em 4 de setembro de 2000 na Base Naval de Toulon, França; o segundo grupo, de 150 militares, chegou antes dos primeiros treinamentos no mar, na primeira semana de outubro de 2000.

Ao final dos adestramentos, o Foch sob comando, pavilhão tricolor e ainda incorporado à MN, navegou e foi transferido da Base Naval de Toulon, no Mediterrâneo, para a Base Naval de Brest, no Atlântico, com tripulação mista de 448 brasileiros e 450 franceses, limitado a somente realizar operações aéreas com helicópteros. Efetivamente, foi usado um helicóptero para evacuação aeromédica de um tripulante francês com destino à Espanha.

A segunda parte teve seu início em 15 de novembro de 2000, no Arsenal de Brest, onde o NAe São Paulo foi incorporado à Marinha do Brasil, com uma tripulação de 598 homens, 150 dos quais chegaram 48 horas antes da Incorporação e Mostra de Armamento, presidida pelo chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA), Almirante José Alberto Accioly Fragelli.

Naquele Arsenal, com apoio do Grupo Técnico da MB, o_ navio realizou as obras indispensáveis para regressar ao Brasil e realizar as tarefas planejadas pela MB, visto que o NAe São Paulo foi recebido ao fim do ciclo operacional e não conduziu o Período de Manutenção Geral (PMG), programado pela MN para o segundo semestre de 2000.

Em 25 de janeiro de 2001, o São Paulo se fez ao mar pela primeira vez para experiência de máquinas em águas do Golfo de Biscaia. Regressou à Base Naval de Brest na tarde do dia 26 de janeiro de 2001. Nesse período, o navio foi testado pela tripulação brasileira e desenvolveu 30 nós com as seis caldeiras principais acesas na planta de propulsão. Ainda mais, enfrentou mau tempo na noite de 25 para 26, com mais de uma tonelada de sobressalentes armazenada no hangar. O peiamento dessa carga foi testado nas condições adversas de mar e vento de intensidade 10 na escala Beaufort (1 a 12). Três dias depois, zarpou para o Brasil transportando os sobressalentes do ex-Foch e do seu irmão ex-Clemenceau e um simulador de catapulta, sem serventia para a marinha francesa. Esse material foi avaliado em aproximadamente US$ 27.000.000,00.

O A12 chegou ao Rio de Janeiro em 17 de fevereiro de 2001. Conduziu a qualificação dos tripulantes e das aeronaves da Força Aeronaval, em especial dos aviões AF-1, de interceptação e ataque, a jato, da MB. Para esse fim, antes foram recebidos e adestrados em terra e no mar 884 novos tripulantes; realizadas manutenções corretivas pelo Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ); concluídas as inspeções de Segurança de Aviação pela Diretoria de Aeronáutica da Marinha (DAerM) e de Eficiência pelo CAAML.

O São Paulo foi aprovado naquelas inspeções e incorporado à Esquadra em 28 de abril de 2001. em cerimônia presidida pelo presidente da república, Fernando Henrique Cardoso, o qual viajou do Rio de Janeiro para Santos a bordo do A12. O presidente aproveitou a viagem para conhecer as principais instalações do navio, como o Centro de Operações, Comando e Controle, Praças de Máquinas e os alojamentos e refeitórios da tripulação.”

Para encerrar esta longa ladainha, cabe-me apenas discutir um assunto pendente. Se nós, MB, tivéssemos aceitado a sugestão francesa de ter feito o PMG na França, que custaria não mais de 50 milhões de dólares, estaria o São Paulo ainda operando? O fato é que o AMRJ, infelizmente, não tem mais condições de reparar navios a vapor, como no passado recente fez com o Minas Gerais, trocando praticamente toda sua propulsão. Naquela obra, realizada entre 1975 e 1979, sob a condução do AMRJ, pelo contra-almirante (EN) Schieck e por um grupo de oficiais liderados pelos comandantes Lizardo e Peixoto, foram trocadas as quatro caldeiras, confeccionadas pelo próprio AMRJ, e feitas as revisões das redes de todo o sistema de vapor e auxiliares; foi substituído todo o sistema de energia por diesel geradores e, ainda, foram feitas a revisão da catapulta e muitas outras obras. Lembro que o Minas operou até 2003.

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O São Paulo, apesar de não ter feito o PMG de final de comissão, operou plenamente de 2000 a 2012. Seu casco ainda está em perfeito estado, e seu convés de voo de dupla camada pode operar com aviões muito pesados. Mas, infelizmente, o navio teve sua baixa em 2018 e hoje repousa no cais do AMRJ, esperando seu destino final. Sinto-me de certa forma culpado por, na época, sendo eu o CEMA, não ter batalhado com afinco para que o São Paulo permanecesse na França por mais algum tempo a fim de realizar o PMG de final de operações, talvez por confiar no desempenho que ele vinha demonstrando.

P.S: na aquisição do São Paulo muitas pessoas criticaram a sua compra dizendo que o navio era uma sucata e algumas outras coisas desfavoráveis. Para contestar essas pessoas, publicamos agora um trecho do excelente artigo do almirante Luiz Edmundo Brígido Bittencourt, A Aquisição do Navio-Aeródromo São Paulo – Foi uma decisão acertada?, publicado na RMB do 4º trimestre de 2000:

Com o novíssimo De Gaulle (de propulsão nuclear, deslocando 34.500 toneladas, 857 pés [261 metros] de comprimento, 27 nós de velocidade e 35 a 40 aeronaves) entrando em serviço com a Esquadra em 2000, optou a Marinha francesa em dar baixa no Foch, apesar de estar o navio em bom estado e atualizado (em velocidade, comunicação, sensores e armamento), capaz ainda de seus 30 nós e que representou a França no esforço da ONU/OTAN na crise do Kosovo há não mais que seis meses. Revistas francesas, como a Cols Bleus e Armées d’Aujourd’hui, só para considerar os anos de 1999 e 2000, colocaram em evidência inúmeras vezes o Foch, navio capitânia da OTAN no Adriático e em muitas outras operações e exercícios. Elas mostram, orgulhosamente, um Foch desenvolvendo alta velocidade, em plena atividade naval operativa!


*José Alberto Accioly Fragelli é almirante-de-esquadra reformado. Foi chefe do Estado-Maior da Armada, comandante de Operações Navais, diretor-geral do Pessoal da Marinha, diretor de Hidrografia e Navegação e diretor de Ensino da Marinha. Comandou o 5º Distrito Naval, a Escola Naval, o Centro de Adestramento Almirante Marques Leão, a Fragata Liberal, o Contratorpedeiro Alagoas e o Corpo de Aspirantes e, na reserva, foi diretor-presidente da Coordenadoria-Geral do Programa de Desenvolvimento do Submarino com Propulsão Nuclear.


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12 comentários

  1. Depoimento de valor incalculável do Almirante Fragelli.

    A compra por 12 milhões de dólares foi uma pechincha, não sou da área, mas creio que o valor do navio como sucata não deve ser muito maior.
    E no entanto, era uma unidade que colocava o Brasil em uma posição única no Hemisfério Sul em termos de poder aeronaval. Mesmo com os citados 50 milhões de PMG ainda valeria a pena. E acho mais, mesmo que o país tivesse que gastar 4 vezes isso, sobretudo agregando a recuperação da capacidade do AMRJ de proceder os reparos apontados, também teria valido a pena. Infelizmente, nossos governantes e políticos não dão a mínima bola para as questões de defesa nacional e nem conhecem a nossa história. Recomendaria que lessem os três volumes de “A Política Exterior do Império”, de J. Pandiá Calógeras, disponível em edição em brochura pela gráfica do Senado, para perceberem o valor que teve o poder naval para o Brasil (aliás, essa leitura deveria ser obrigatória). Ainda sobre o valor pago pelo navio, eu já li, salvo engano, que a Índia já teria gasto 2.35 bilhões de dólares no retrofit do ex-porta-avioes soviético Baku (agora INS Vikramanditya). E a China não revela quanto gastou no ex-soviético Varyag (atual Liaoning), mas estima-se que só a nebulosa operação que levou o navio até o país tenha custado 120 milhões de dólares. E sinceramente nenhum destes dois navio é muito superior ao ex-Foch. Quer dizer, a operação foi um gol de placa, pena que os “cartolas” depois entregaram o jogo…

    1. Olá Eduardo, bom dia. Não discordo de seu comentário no tocante às preocupações de nossos políticos com nossa defesa! Ainda assim, nos próximos dias publicaremos um artigo no qual o ex-comandante da marinha Leal Ferreira explana as razões para a decisão do descomissionamento do São Paulo; posso adiantar que foi um conjunto de razões. Muito obrigado por acompanhar e pelo comentário, forte abraço!

  2. Os bastidores, bem como revelações relatadas, demonstram que o Foch foi uma aquisição acertada, porém, tudo leva a crer que a falta de PMG se tornou um fator preponderante nos problemas enfrentados pela belonave nos anos que se sucederam. É uma pena não ter mais o A-12 São Paulo operativo em nossa gloriosa Marinha do Brasil.

  3. Negócio de oportunidade. Estamos desprezando uma ótima oportunidade de aprendizado naval, que poderia ser desenvolvida ao longo dos anos, em nossos estaleiros. O casco e a pista estão em boas condições.
    1- Troca-se as caldeiras por 2 geradores nucleares, daqueles que serão usado no submarino. Há espaço e a tecnologia é nossa.
    2- Troca-se catapultas a vapor pelas magnéticas feitas na China, já que USA bloquearia essa tecnologia para nós.
    3- Radares e tecnologias de navegação usaria os nacionais.
    4- Armamento, especialmente misseis, nacionais.
    5- Aviões Sea Gripen, nacionais.
    Isso levaria de 20 a 25 anos para ser alcançado, incluindo desenvolvimento tecnológico. Mas já pensaram em quantos empregos seria gerados e o volume de divisas que poderiam ser obtidos na negociação com países que não gostariam de depender dos atuais possíveis fornecedores?
    Ao meu ver, não é impossível pensar assim para um País com nossa dimensão territorial e uma economia que é a 8ª mundial.

  4. E a história de que o USS Kitty Hawk foi nos oferecido por 83 milhões de Dólares? É verdade ou mais uma “fake mils”?

  5. Depois de ler esse belo texto penso que seria prudente termos pago pelo PMG, e para garantir um certo aprendizado colocar alguns brasileiros lá também para colherem um pouco de conhecimento.
    Mas não foi bem assim…
    Abraços…

  6. FORÇAS ARMADAS, PRIORIDADES VITAIS
    Artigo no Jornal do Comércio – PA/RS
    A prioridade um, para sobrevida soberana da nacionalidade, que não se duvide, passa pela denúncia do “TNP” e do “MCTR”, na medida em que o primeiro nos impede dissuasão nuclear, e o segundo nos limita alcance/carga de mísseis balísticos, os dois nos condenando ficar à mercê dos desígnios imperialistas dos “grandes predadores militares”, nada mais nada menos do que os “5” membros permanentes do “CS/ONU”. Paralelamente a esta denúncia, mais do que justa, dos dispositivos maquiavélicos que nos desqualificam face ao brio e à altivez dos países que se dão ao respeito, há que se providenciar muito nas três Forças Armadas.
    Para o Exército Brasileiro (EB), desde já, priorizar mais alguns itens básicos, tanto para se atingir o “estágio de dissuasão extra regional” como, na pior das hipóteses, para emprego na “estratégia da resistência”, tais como: mísseis balísticos de cruzeiro (vetores de respeito/VDR com alcance mínimo de 1.500/2.500 km), para bater o inimigo bem distante do litoral/costa, dissuadindo o desembarque; a entrega de viaturas plataformas Astros II para estes mesmos vetores; minas e armadilhas, sensores remotos de percussão à distância, além de lança rojões/RPG, à farta, para as unidades do Comando Militar da Amazônia/CMA e adestramento de civis; suspensão dos cursos no “CIGS” para militares dos países membros permanentes do CS/ONU.
    A Marinha do Brasil (MB), por sua vez, precisa aumentar o poder de fogo dos “navios de escolta” com os mesmos VDR, a fim de torná-lo compatível/dissuasório para bater o inimigo ainda em deslocamento para o Atlântico Sul; capacitar submarinos a lançar mísseis na situação de submersos, nas mesmas condições de alcance/carga das belonaves dos “grandes bucaneiros navais”; manter presença da Força Aeronaval, decolando de bases ao longo do litoral/costa, substituindo, sem gastos, os aeródromos perdulários; incorporar os ‘F5″ na medida em que a Força Aérea for recebendo os “GRIPEN”, isto, pelo menos, até a Força Naval passar a receber os caças suecos.
    A Força Aérea Brasileira (FAB) e a Marinha do Brasil precisam planejar, com a Força Terrestre, o deslocamento de uma brigada de infantaria mecanizada para Roraima. Esta grande unidade deve liberar a brigada de infantaria de selva local para emprego nas reservas indígenas, e atuar nas regiões planas de savanas existentes naquela unidade da federação. Para tanto, deve intensificar a fabricação dos “KC 390”, que se diga uma excelente aeronave logística de transporte, porém, sem nenhum significado para o alcance do estágio de dissuasão extra regional, este que só será obtido baseando os “GRIPEN”, que se fizerem necessários, em capitais da grande região norte, face à Calha Norte e foz do Amazonas. Para que se tenha uma ideia, o transporte de apenas uma companhia de fuzileiros completa (efetivos e equipamento), pelos KC-390, exige, no mínimo, 3 (três) aeronaves. Isto que, imagina-se, o avião transporte apenas de dois a três “JEEPS” ou até duas
    PRRPAIVA
    CEL INF E EM

  7. Saudações ao Almirante Fragelli e a todos!
    Muitos não conhecem a história do Navio Aeródromo São Paulo e sua aquisição.
    Infelizmente vivemos num país de investigadores críticos, aponta-se o dedo mesmo se não erramos.
    Sou Presidente do Instituto São paulo/Foch, nosso trabalho é salvar o Nae e transforma-lo em um museu. A missão é difícil pois há muta gente contra, provavelmente por ser uma história diferente dos destino de todas embarcações da marinha.
    Embora sabendo que lutamos contra gigantes, continuaremos a recorrer até que tenhamos a mesma chance de participação do pleito (casco) como das empresas de desmanche.
    Alem de nosso país precisar de algo que venha a motivar o desenvolvimento turístico. O NAe estará em mãos amigas ( Veteranos das Forças Armadas).
    Vamos ver os próximos capítulos e o desfecho desta novela das quais iniciamos desde novembro de 2017.

    Forte abraço.

    Gratidão

    Emerson Miura
    ISPF

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