O Império do Mao

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Por Reis Friede*

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Imagem: Wikimedia Commons/Domínio Público.

Considerando a declaração de Xi Jinping de estabelecer hegemonia global até 2050, a ameaça de retomar Taiwan por via militar, a criação de Ilhas artificiais no Mar do Sul da China, a instalação de bases militares em vários territórios (inclusive o Ártico) e silenciosamente controlando instituições internacionais (vide OMS), a China é hoje uma potência disruptiva da ordem internacional.


MAO TSÉ-TUNG, após expulsar as forças nacionalistas de CHAN KAI-SHEK para Taiwan, proclamou a República Popular da China (RPC) em 1º de outubro de 1949, instaurando, muito provavelmente, o regime político mais brutal que a história da humanidade ousou testemunhar.

Estima-se que, apenas durante o seu governo (1949-76), cerca de 30 milhões de seus próprios compatriotas (chineses) foram mortos (de alguma forma) pelo implacável regime comunista instaurado sob a sua liderança, existindo estimativas que apontam números ainda maiores, próximo de 45 milhões, quando computados outros fatores, como a fome produzida por sua completa insanidade (FABIO PREVIDELLI; De Canibalismo a Ratos: A Grande Fome de Mao, o “Holodomor” Chinês, disponível em: https://url.gratis/3sQXa, acesso em: 2 de junho 2020).

Apenas dois anos após sua chegada ao poder, a “Nova China” incorporou, ao seu território, o Tibete (em outubro de 1951), massacrando a população nativa, e ameaçando, – após Nova Delhi conceder asilo político para o líder DALAI LAMA –, invadir parte da Índia (EMILIANO UNZER MACEDO; O Lama e o Dragão – as Relações entre o Tibete e a China desde 1949, Revista Mundorama, 16/07/2019, disponível em: https://mundorama.net/?p=25747, acesso em: 2 de junho de 2020).

Todos esses fatos, – adicionados ao emprego de mais de um milhão de soldados chineses em apoio a criminosa invasão da Coreia do Sul, pelas forças do Ditador norte-coreano KIM IL-SUNG (25 de junho de 1950 a 27 de julho de 1953) –, marcaram, à época, a completa desilusão das forças democráticas ante a ausência de uma esperada determinação norte-americana (com exceção da frágil reação no episódio coreano) no sentido de conter a configuração de um verdadeiro império do mal na Ásia, liderado por MAO TSÉ-TUNG.

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Com sua consolidação no poder, MAO construiu o maior exército em termos de efetivos do mundo, detonou sua primeira bomba atômica em 1964, lançou ao mar seu primeiro submarino nuclear em 1974, e continuou, durante praticamente todo o seu plano de governo vitalício, desafiando todo o mundo, em especial os Estados Unidos, a quem atribuiu o desonroso título de tigre de papel (MAO TSÉ- TUNG; U.S. Imperialism is a Paper Tiger, 14 de julho de 1956, disponível em: https://url.gratis/iGdZR, acesso em: 2 de junho de 2020).

Passados mais de 40 anos de sua morte, sua herança permanece mais viva do que nunca na mão do novo ditador chinês XI JIPING, que ostensivamente já declarou que pretende estabelecer uma hegemonia chinesa em nível global até 2050, impondo, por consequência, a todas as nações, o seu modelo político de um “Socialismo com Características Chinesas” (TAMARA GIL; Os Princípios Políticos de Xi Jinping para Transformar a China em uma Superpotência Global, disponível em: https://www.google.com/amp/s/www.bbc.com/portuguese/amp/internacional-41689224, acesso em: 2 de junho de 2020).

Rasgando os acordos que permitiram a devolução de Hong Kong e Macau, a administração chinesa, através do modelo “um estado dois sistemas” (China Elogia Princípio “Um País, Dois Sistemas” Implantado em Macau, disponível em: https://www.google.com/amp/s/agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2019-12/china-elogia-principio-um-pais-dois-sistemas-implantado-em-macau%3famp, acesso em: 2 de junho de 2020), ameaçando retomar a república de Taiwan pela força militar, criando Ilhas artificiais no Mar da China Meridional (algumas a mais de 1.500 km de suas costas e a poucos quilômetros da costa de outros países), estabelecendo bases e instalações militares em vários territórios, incluindo uma presença na região Ártica, a República Popular da China é, além de qualquer controvérsia, no mínimo, uma potência disruptiva da ordem internacional e, consequentemente, a maior ameaça a paz e a estabilidade mundiais, superando (até mesmo) os extraordinários desafios históricos representados, no passado, pelo nazi-fascismo (1939-45) e pelo comunismo soviético (1947-91).

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Silenciosa e dissimuladamente tomando gradualmente conta das principais instituições internacionais, sendo a sua última vítima a OMS (em um verdadeiro conluio que impediu que informações estratégicas sobre a disseminação do novo coronavírus estivessem disponíveis para todo mundo em tempo hábil), e negando-se a assumir a responsabilidade pelas gravíssimas consequências da disseminação do vírus chinês SARSCOV-2 (e inclusive a sua própria origem nacional), bem como das principais e mais recentes pandemias que assolaram a humanidade (ex vi a gripe asiática em 1957, a gripe de Hong Kong em 1968, a gripe aviária A-H5N1 em 1997 e a SARS em 2003), parece que chegou a hora do mundo (finalmente) despertar para a real ameaça representada pelo império vermelho, estabelecendo, por derradeiro, um ponto final as agressivas ações chinesas de dominância global.

Talvez essa seja a última oportunidade em que o mundo ainda seja capaz de (unido) impor limites ao desafio e a própria arrogância chinesa. Caso contrário, muito provavelmente a repressão que hoje limita-se a Hong Kong, talvez possa vir a acontecer no nosso próprio quintal, valendo lembrar que Pequim (como a história muito bem comprovou) tem o péssimo hábito de romper (unilateralmente) acordos e ludibriar a ingenuidade das democracias ocidentais.


*Reis Friede é desembargador, presidente do Tribunal Regional Federal da Segunda Região (biênio 2019/21), professor emérito da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e professor Honoris Causa da Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica, professor emérito da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais do Exército (EsAO) e Conferencista Especial da Escola Superior de Guerra (ESG). É autor do livro Ciência Política e Teoria Geral do Estado. Pode ser contactado através do e-mail: reisfriede@hotmail.com.

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10 comentários

      1. Que interessante essa posição da China, porém muito preocupante devido o regime político.

  1. Com uma população de 1,3 bilhões de humanos, não fazer valer essa descomunal massa de poder, seria muita ingenuidade. China tem vocação milenar de imperialismo. Têm êxito surpreendentes sobre nossas fraquezas e insegurança. Temos, na verdade, medo da força da China.

  2. Há menos de 150 anos atrás a China era completamente submetida ao ocidente, de onde surgiu o acordo sobre a posse secular de Hong Kong pela Inglaterra e expirada em 1997. Depois de sua independência como nação (1949) fez-se surgir como um império em menos de 50 anos e agora, quando substitui o controle dos meios de produção pelo controle do capitalismo financeiro, é exposta como mais um participante do “eixo do mal”. Mas está longe de ser essa força mundial opressora, como foram Inglaterra e EUA. Concordo com José Wammes sobre o poder de 1,3 bilhão de habitantes, considerando também o consumo de vidas que foi combustível da construção deste império. Que o próximo século é asiático não tenho dúvidas, mas o que o texto parece apontar é um tanto de rancor de perdermos as costas de onde tentávamos parasitar. Escolhemos o leão errado. O economista italiano Geovanni Arrighi que a hegemonia capitalista migra para onde há mais controle e poder. Assim foi nas cidades-estados italianas, na península ibérica, na Inglaterra e EUA. Sobre denunciar os crimes e a capacidade de passar sobre soberanias próximas, pergunto se Hong Kong ou Taiwan são tão soberanas quanto Panamá ou Granada foram para os EUA. Escolher atualmente nosso futuro depende de considerações fortes sobre nossas próprias institucionalidades e resolvermos a educação de nossos recursos humanos com objetividade. Temos que assumir um papel de player mundial controlando os impactos de decisões liberais sobre nossos recursos naturais e humanos. 70% do PIB em serviços é um exagero e um tiro no pé.

  3. Prezados Senhores,
    Muito bom o material publicado.
    Gostaria de receber os artigos já divulgados.
    Cordialmente.
    Antonio Carlos Prado Pinto

  4. Com os políticos e o regime que tem lá e com os políticos que temos aqui, me sinto extremamente preocupado com o nosso futuro tanto na política, na economia e nas nossas liberdades individuais.

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