O BOP dos EUA e o SORT, sua Equipe de Resposta de Operações Especiais

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Albert-VF1 Por Albert Caballé Marimón*

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Agentes do Federal Bureau of Prisons bloqueiam rua próxima da Casa Branca, em Washington, em 3 de junho de 2020 durante os protestos pela morte de George Floyd (Foto: Brendan Smialowski/AFP/Getty Images).

Em meio as forças engajadas na contenção dos distúrbios originados pela morte de George Floyd, nos EUA, algumas equipes de agentes federais bem equipados e fortemente armados, mas sem identificação pessoal ou de unidade, chamaram a atenção da imprensa e dos manifestantes. Trata-se de uma equipe de operadores especializados no controle de tumultos e a lidar com elementos de alta periculosidade.


No dia 25 de maio de 2020, policiais de Minneapolis, estado de Minnesota, nos EUA, prenderam George Floyd, de 46 anos, sob a acusação de passar dinheiro falsificado num mercado. Durante a abordagem de prisão, imagens feitas por populares mostraram Floyd deitado no chão ao lado da viatura da polícia com o policial Derek Chauvin ajoelhado sobre o seu pescoço. Dois outros policiais ajudaram Chauvin a imobilizar Floyd, enquanto um quarto conteve passantes que tentaram intervir. Chauvin manteve a pressão por quase nove minutos; em decorrência, Floyd veio a falecer por asfixia. George Floyd era negro; Chauvin e os demais policiais, brancos.

As cenas gravadas rapidamente se espalharam pela internet, causando enorme revolta popular, e no dia seguinte os quatro policiais foram demitidos. Derek Chauvin foi acusado de homicídio culposo e os três outros policiais indiciados por cumplicidade. O FBI e o Departamento de Apreensão Criminal do estado de Minnesota investigam o caso.

A indignação tomou Minneapolis. Inicialmente foram protestos pacíficos, mas o que seria uma justa manifestação contra um ato de racismo e abuso de um membro da força policial, rapidamente descambou para a violência em massa quando uma delegacia e duas lojas foram incendiadas e muitos estabelecimentos saqueados. Rapidamente saques e pilhagens espalharam-se por mais de 350 cidades em todos os estados dos EUA. Em muitas localidades a turba entrou em confronto com a polícia. Com velocidade e similaridade de ação que podem sugerir algum tipo de coordenação, os protestos tiveram reflexos em várias cidades do mundo, inclusive no Brasil, com episódios violentos notadamente em São Paulo e Curitiba.

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Postagem mostra dúvidas sobre quem são os agentes (Imagem: Twitter).

Em várias cidades americanas os efetivos policiais não foram suficientes para contes as massas, e alguns governadores acionaram a Guarda Nacional. Na última segunda-feira o presidente Donald Trump declarou que usará todos os recursos federais para parar a violência e “estabelecer uma presença esmagadora da polícia”, inclusive ameaçando empregar as forças armadas (o Pentágono e militares em altos postos posicionaram-se contrários a essa hipótese). Trump disse que, ainda que seja “aliado de manifestantes pacíficos”, nos últimos dias uma “multidão enfurecida” tomou as cidades.

Após mais de uma semana de tumultos e saques, a tensão parece estar se reduzindo. A agência de notícias Associated Press informou que “membros do serviço militar transferidos para Washington” para ajudar na manutenção da ordem seriam retirados, mas aparentemente essa decisão não se confirmou.

Ao menos em duas cidades, Washington e Miami, os manifestantes foram confrontados por agentes fortemente armados que não pertencem aos quadros do Departamento de Defesa. Em comum, compartilham uma característica inesperada: sua afiliação e identidades pessoais não são facilmente discerníveis.

Alguns desses agentes, que não portam nenhuma tarjeta de identificação pessoal ou de unidade, se recusaram a identificar-se para os jornalistas ou manifestantes que os questionavam sobre a que agência pertenciam. Responderam apenas que “trabalhavam para o governo federal”. Outros disseram que trabalhavam para o Departamento de Justiça. Armados com fuzis e equipados com coletes, muitos portavam escudos e latas de spray de pimenta. Internautas intrigados espalharam mensagens no Twitter e outras redes com fotos desses agentes questionando sua identidade.

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Outra postagem mostra dúvidas sobre quem são os agentes (Imagem: Twitter).

Principalmente em Washington, capital do país, a presença de agentes federais bem equipados e sem sinais de identificação espalhou-se rapidamente, levantando a questão: quem são esses agentes?

Força especial

Na noite de terça-feira, em Washington, dois desses agentes afinal acabaram se identificando como membros de uma força especial do BOP (Bureau of Prisons, o Departamento de Prisões, pertencente ao Departamento de Justiça americano). Trata-se de pessoal do SORT (Special Operations Response Team, Equipe de Resposta de Operações Especiais).

A atuação destas equipes é resultado da orientação do presidente Trump ao procurador-geral William Barr, para “liderar os esforços federais de aplicação da lei para ajudar na restauração da ordem no Distrito de Columbia”. Assim, Barr ordenou que o BOP enviasse suas equipes para ajudar na aplicação da lei e na contenção de distúrbios.

Um porta-voz do BOP disse em comunicado à imprensa que a agência possui equipes especializadas no gerenciamento de crises, que inclui essas equipes SORT, unidades táticas altamente treinadas para responder a distúrbios e rebeliões em prisões e prestar assistência a agências policiais em emergências. Segundo o comunicado, incluem também equipes especializadas em cenários de controle de multidões. De acordo com o porta-voz, diversas destas equipes foram posicionadas em várias partes do país.

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Equipe SORT em treinamento (Foto: Special Ops Magazine).

O BOP e o SORT

O Bureau of Prisons foi criado em 14 de maio de 1930 para administrar e regulamentar as instituições penais e correcionais federais dos EUA. O sistema penitenciário federal já existia há quase 40 anos, mas os guardas operavam de maneira autônoma, às vezes sob supervisão de um funcionário do Departamento de Justiça. Portanto, o BOP passou a ser o responsável pela supervisão, gerenciamento e administração das prisões federais, incluindo os guardas.

O SORT foi criado em 1982 para fazer frente a uma onda de violência ocorrida na penitenciária de Leavenworth, no Kansas. Atualmente, todos os complexos correcionais federais acima de determinado nível de segurança são obrigados a manter essas equipes. Seus operadores são escolhidos a partir do próprio pessoal de cada complexo através de um rigoroso processo de seleção física e mental. São equipes fixas em cada instalação, mas sempre em prontidão para atender a qualquer incidente em qualquer local controlado pelo governo federal. São, portanto, agentes treinados para lidar com criminosos e outros elementos de altíssima periculosidade.

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Uma equipe SORT é tipicamente composta por 15 operadores com diversas funções, como paramédicos, instrutores de armas de fogo, mestres de rapel, especialistas em segurança, equipes de atiradores (snipers), especialistas em entrada forçada treinados no uso de explosivos e especialistas em agentes químicos, entre outras. As equipes SORT atuam em motins e rebeliões, agressão a funcionários ou reclusos, fugas ou tentativas de fuga, situações com reféns e ataques terroristas ou militares contra os Estados Unidos. Atualmente o BOP dispõe de 44 equipes SORT, envolvendo mais de 700 operadores.

Nas situações que exijam seu emprego, as equipes são imediatamente alertadas e dirigem-se à sua instalação de origem. O BOP mantém depósitos móveis de equipamentos em áreas de armazenamento espalhadas em pontos estratégicos do território dos EUA para o caso de emergências de larga escala. Também mantém acordos para que, em caso de necessidade, seu pessoal e equipamentos possam ser transportados em aeronaves do Departamento de Defesa.

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Equipe SORT em treinamento (Foto: Special Ops Magazine).

Equipamento

Os uniformes consistem em trajes de combate padrão dos EUA, capacetes de kevlar e calçados táticos. O equipamento pode variar de equipe para equipe, mas todas empregam coletes nível IIIA, algum tipo de colete tático e escudos balísticos. Em relação às armas, são utilizadas pistolas SIG Sauer P228 ou Glock 19, submetralhadoras Colt 9 mm SMG ou HK MP5 SMG, espingardas Benelli M1 Super 90, fuzis McMillan M86 SR, pistolas a gás de 37 mm, dispositivos diversionários, de controle de distúrbios e munições químicas.

Treinamento

O BOP mantém diversas instalações de treinamento, dividido entre a NCA (National Corrections Academy, Academia Nacional de Correções) e a STA (Staff Training Academy, Academia de Treinamento de Pessoal). Localizada em Aurora, Colorado, a NCA abriga o MSTC (Management and Specialty Training Center, Centro de Treinamento em Gerenciamento e Especialidades) e o NIC (National Institute of Corrections Academy and Information Center, Academia e Centro de Informações do Instituto Nacional de Correções).

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  • O MSTC proporciona o treinamento especializado para que as equipes adquiram e mantenham a expertise em suas áreas funcionais;
  • O NIC concentra-se no treinamento em gestão e liderança e no desenvolvimento da capacidade de treinamento nos sistemas prisionais. Além disso, atua com assistência técnica, serviços de informação e consultoria no desenvolvimento de políticas e programas para agências federais, estaduais e instalações prisionais.
  • O STA, localizado no FLETC (Federal Law Enforcement Training Center, Centro Federal de Treinamento Policial), em Glynco, Georgia, oferece o curso “Introdução às Técnicas Correcionais” com duração de três semanas obrigatório para os novos funcionários, além de instrução em técnicas avançadas, incluindo Operações com Ônibus, Apoio para Snipers e Segurança de Testemunhas. Há também uma Divisão de Treinamento e Revisão Jurídica que fornece instrução jurídica especializada.

Após o treinamento e a certificação iniciais, os operadores são obrigados a treinar um mínimo de horas mensais. O treinamento inclui, além da preparação física, instrução com armas de fogo, planejamento tático, atendimento médico de emergência, rapel e técnicas de controle de distúrbios, entre outros.

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Patch de unidade SORT (Spec Ops Magazine).

Os operadores SORT participam de um exercício anual de avaliação visando manter sua certificação. As equipes avaliadas abaixo de um determinado padrão passam por treinamento corretivo para voltar ao padrão da certificação. Além disso, devem realizar pelo menos dois exercícios simulados de emergência por ano para testar sua capacidade de resposta a situações de crise.

O BOP mantém depósitos móveis de equipamentos em áreas de armazenamento espalhados em pontos estratégicos em todo o território dos EUA para o caso de emergências de larga escala. Também mantém acordos para que, em caso de necessidade, seu pessoal e seus equipamentos possam ser transportados em aeronaves do Departamento de Defesa.

Os recentes tumultos

As autoridades americanas ainda não tem certeza sobre quem exatamente está por trás da violência, mas o procurador-geral Barr e o presidente Trump atribuem a culpa a radicais de extrema esquerda. “Infelizmente, com os tumultos que estão ocorrendo em muitas cidades do país, as vozes de protestos pacíficos estão sendo sequestradas por elementos radicais violentos”, afirmou Barr no fim de semana. “Grupos de radicais e agitadores estão explorando esta situação para buscar sua própria agenda violenta”. Ele acrescentou que, em muitos lugares, a violência parece ser liderada por “anarquistas e extremistas de esquerda, usando táticas semelhantes à Antifa, muitos dos quais vieram de fora do estado para promover a violência”.

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No domingo, o presidente anunciou que pretende designar a Antifa como grupo terrorista. De acordo com alguns especialistas, isso pode não ser tão simples pois a Antifa, abreviação de “antifascista”, não é uma entidade organizada, mas um movimento difuso de ativistas da extrema esquerda.

Por enquanto, apesar do apoio do BOP/SORT e de outras agências e entidades federais e estaduais, as prisões vem sendo feitas pelas polícias estaduais e municipais. O FBI também está envolvido conduzindo entrevistas para determinar se as leis federais foram violadas.

Conclusão

Em suma, o SORT, apesar de ser pouco conhecida inclusive para os americanos, como parece, é uma unidade com treinamento de excelência, bom nível de equipamentos e muito bem organizada. Trata-se de operadores, conforme já mencionado, com experiência em lidar com criminosos de alta periculosidade e treinados no controle de motins e distúrbios. Assim, seu emprego para ajudar a conter os tumultos atuais parece fazer sentido.


*Albert Caballé Marimón possui formação superior em marketing. Depois de atuar vários anos em empresas nacionais e multinacionais, tornou-se fotógrafo profissional e editor do blog Velho General. Já atuou na cobertura de eventos como a Feira LAAD, o Exercício CRUZEX e a Operação Acolhida e proferiu palestras na Academia da Força Aérea. É colaborador da revista Tecnologia & Defesa e do Canal Arte da Guerra. Pode ser contatado através do e-mail caballe@gmail.com.

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Referências

BUMP, Philip. A dangerous new factor in an uneasy moment: Unidentified law enforcement officers. The Washington Post, 4 de junho de 2020. Disponível em: https://www.washingtonpost.com/politics/2020/06/03/dangerous-new-factor-an-uneasy-moment-unidentified-law-enforcement-officers/. Acesso em: 4 de junho de 2020.

A storied past. Federal Bureau of Prisons. Disponível em: https://www.bop.gov/about/history/. Acesso em: 4 de junho de 2020.

BARR, Luke, e OWEN, Quinn. As Washington DC militarizes amid George Floyd protests, some experts say it’s gone too far. ABC News, 4 de junho de 2020. Disponível em: https://abcnews.go.com/Politics/trump-deploys-federal-police-crack-protests/story?id=71050111. Acesso em: 5 de junho de 2020.

LUCAS, Ryan. Attorney General Steps Up Federal Law Enforcement Response To Protests. NPR, 1º de junho de 2020. Disponível em: https://www.npr.org/2020/06/01/867059312/attorney-general-steps-up-federal-law-enforcement-response-to-protests. Acesso em: 5 de junho de 2020.

BUBLÉ, Courtney. Federal Bureau of Prisons Goes into National Lockdown Over Protests. Government Executive, 1º de junho de 2020. Disponível em: https://www.govexec.com/management/2020/06/federal-bureau-prisons-goes-national-lockdown-over-protests/165820/. Acesso em: 4 de junho de 2020.

Federal Law Enforcement Training Centers. Disponível em: https://www.fletc.gov. Acesso em: 5 de junho de 2020.

Special Operations Response Team. Wikipedia, the free encyclopedia. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Special_Operations_Response_Team. Acesso em: 4 de junho de 2020.

SOF, Eric. Special Operations and Response Teams (SORT). Special Ops Magazine, 2 de janeiro de 2013. Disponível em: https://special-ops.org/federal-bop-special-operations-and-response-teams-sort/. Acesso em: 5 de junho de 2020.

WILLIAMS, Katie Bo. Who Are They? Unmarked Security Forces in DC Spark Fear. Defense One, 3 de junho de 2020. Disponível em: https://www.defenseone.com/threats/2020/06/who-are-they-unmarked-security-forces-dc-spark-fear/165892/?oref=defense_one_breaking_nl. Acesso em: 4 de junho de 2020.

World-class correctional instruction. Federal Bureau of Prisons. Disponível em: https://www.bop.gov/about/facilities/training_centers.jsp. Acesso em: 5 de junho de 2020.


 

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5 comentários

  1. Otimo esclarecimento, que bom que exista essa forca especial, para lidar com esses terroristas que nao conhecem outra linguagem a nao ser a força ! Que botem medo mesmo neles !

    1. Zé, não posso afirmar com certeza absoluta, mas me parece que não. Salvo engano, no Brasil essas funções são feitas pela tropa de choque das PMs. Grato por comentar, forte abraço!

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