O pensamento crítico e criativo no combate do Século XXI

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Cel-Paulo-Filho.png Por Paulo Roberto da Silva Gomes Filho*

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Hoje a informação é produzida em quantidades gigantescas e disseminada por meios e velocidades inéditas. Nesse contexto, a capacidade de discernir com rapidez entre o que é ou não relevante ou verdadeiro, evitando (ou engendrando) armadilhas é fundamental.


“A mente não é uma vasilha a ser enchida, mas um fogo a ser aceso.”

(Plutarco)

No último dia 1º de maio, os Chefes de Estado-Maior das seis Forças Armadas norte-americanas (Marinha, Exército, Força Aérea, Corpo de Fuzileiros Navais, Guarda Costeira e Força Espacial) assinaram e divulgaram um novo documento denominado Developing today´s joint officers for tomorrow´s ways of war. The joint chiefs of staff vision and guidance for professional military education and talent management[1].

No documento, os Chefes de Estado-Maior transmitem suas orientações e visões sobre as mudanças que devem ocorrer imediatamente nos sistemas de educação militar e de gestão de talentos das Forças Armadas norte-americanas.

No texto de doze páginas, destaco um aspecto como estímulo à nossa meditação. As expressões “pensamento crítico” e “pensamento criativo” aparecem no texto mais de uma dezena de vezes. São duas habilidades que o documento descreve como cruciais para que “os líderes de todos os níveis possam superar intelectualmente seus adversários”.

Não é sem razão que as Forças Armadas norte-americanas estão preocupadas em estimular o pensamento crítico e criativo de seus oficiais. O ambiente volátil, incerto, complexo e ambíguo no qual os líderes do século XXI atuam exige a capacidade de discernir, dentre um imenso turbilhão de dados e informações, quais são relevantes, quais verdadeiramente interessam, e quais estão ali para intencionalmente confundir e desorientar. Exige mentes treinadas na habilidade de pensar criticamente e sensibilidade para entender contextos. Demanda, ainda, um tipo de mentalidade aberta que permita realizar saltos criativos e obter insights.

Isto ocorre porque a guerra moderna mudou a forma de tratar a informação. Nos tempos em que era escassa, até as chamadas guerras de terceira geração, a informação era tratada como uma commodity valiosa, assim como o combustível, a munição ou o alimento. Adquirir e manter seguras as informações de alta qualidade era obter uma grande vantagem sobre o inimigo. Na medida em que uma grande quantidade de informação passou a ser digitalizada, tornou-se muito mais simples produzir, transmitir, coletar e arquivar dados e informações. O desafio passou a ser a abundância, não a escassez de dados.

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Para lidar com essa abundância de dados e informações, separando-se o que realmente interessa do que é supérfluo ou mesmo prejudicial, aquilo que é verdadeiro do que é falso ou distorcido, exige-se um pensamento crítico, que tem por característica ser reflexivo e focado, constantemente preocupado em avaliar o processo de pensamento em si mesmo. Trata-se de uma maneira de pensar que requer boa dose de ceticismo e de capacidade de julgamento, além de habilidade para se identificar e examinar hipóteses, influências e tendências.

Quem emprega as premissas do pensamento crítico, busca entender o todo, de uma forma ampla, de modo a se assegurar de que os problemas sejam analisados a partir de uma perspectiva coerente e fundamentada. Além disso, reconhece a diferença entre resultados de curto prazo e resultados sustentáveis de longo prazo.

O Exército Brasileiro valoriza o pensamento crítico e criativo. O manual EB70-MC-10.211 – Processo de Planejamento e Condução das Operações Terrestres (PPCOT), publicado no corrente ano, dedica uma seção ao assunto em seu capítulo dedicado à Arte do Comando.

É fundamental que o comandante e seu Estado-Maior, no desenvolvimento do processo de planejamento das operações, utilizem o pensamento crítico e criativo. Tal medida contribui para a compreensão das situações, para a tomada de decisões adequadas e para a orientação da ação com precisão

EB70-MC-10.211

As escolas do Exército Brasileiro, sempre atentas à evolução do combate, também já perceberam, desde alguns anos, a importância do assunto. Na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, o Pensamento Crítico está inserido nos currículos, com cargas horárias nos Curso de Altos Estudos Militares e de Política, Estratégia e Alta Administração do Exército. Dessa maneira, uma massa crítica de oficiais superiores passou a ter melhores condições de assessorar e decidir, contando com essa poderosa ferramenta.

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Um dos mais frequentes erros cometidos por exércitos de todo o mundo ao longo da história, foi preparar-se para as guerras que já haviam sido travadas, ao invés de preparar-se para as guerras do futuro. O pensamento crítico e criativo é um antídoto ao dogmatismo que, em sua versão deletéria, impede a evolução do conhecimento e da arte da guerra. Por isso, é essencial aos líderes do século XXI.

[1] “Desenvolvendo oficiais de hoje que atuem em Operações Conjuntas para os tipos de guerra do amanhã. A visão e a orientação da Junta de Chefes de Estado-Maior para a educação profissional militar e a gestão de talentos” em tradução adaptada. Disponível para download aqui.

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*Paulo Roberto da Silva Gomes Filho é Coronel de Cavalaria do Exército Brasileiro. Foi declarado aspirante a oficial pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) em 1990. É especialista em Direito Internacional dos Conflitos Armados pela Escola Superior de Guerra (ESG) e em História Militar pela Universidade do Sul de Santa Catarina;  possui mestrados em Ciências Militares pela Escola de Comando e Estado Maior do Exército (ECEME) e em Defesa e Estratégia pela Universidade Nacional de Defesa, em Pequim, China. Foi instrutor da AMAN, da EsAO e da ECEME. Comandou o 11º RC Mec sediado em Ponta Porã/MS. É autor de diversos artigos sobre defesa e geopolítica e atualmente exerce a função de assistente do Comandante de Operações Terrestres, além de ser o gerente do Projeto Combatente Brasileiro (COBRA). E-mail: paulofilho.gomes@eb.mil.br.


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4 comentários

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