O navio russo de inteligência Yantar

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Albert-VF1 Por Albert Caballé Marimón*

Com informações do Estado de São Paulo, BBC, H I Sutton e Myshiptracking.com.

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O Yantar, navio russo de inteligência (Foto: Hisutton.com).

Com histórico de atividades suspeitas e dotado de sensores de alta tecnologia e capacidade de interferir em cabos de comunicação submarina, o navio sempre esteve sob suspeita de diversos governos.


Foi noticiado hoje, pelo jornal O Estado de São Paulo, que a Marinha do Brasil monitorou durante uma semana o Yantar, navio russo de pesquisa e inteligência suspeito de espionagem na Europa e nos Estados Unidos. No último dia 10, o Centro Integrado de Segurança Marítima do Rio de Janeiro detectou o Yantar na Zona Econômica Exclusiva (ZEE) do Brasil. O navio desapareceu após tentativa de contato, o que levantou a hipótese de que teria desligado o AIS (Automatic Identification System, Sistema de Identificação Automática), um equipamento comparável a um transponder, que permite a sua localização.

Na tarde do domingo, 16 de fevereiro, um helicóptero da Marinha e uma aeronave da FAB localizaram a embarcação a cinquenta milhas (oitenta quilômetros) da costa do Rio de Janeiro. Questionada sobre as atividades que desenvolvia, a tripulação russa não atendeu às primeiras chamadas e depois deu respostas evasivas. O navio atracou no porto do Rio de Janeiro na noite do dia 18, onde deve ficar até o final de semana.

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Segundo a reportagem do Estado, um militar consultado informou que o fato de o navio ter desligado o sistema de identificação poderia ser devido a atividade de espionagem ou procedimentos fora do padrão; o militar teria dito ainda que o fato do Yantar estar na costa brasileira não é necessariamente ilegal, mas que seu “desaparecimento” por seis dias foi considerado estranho pela Marinha. O mais intrigante foi ele ter “reaparecido” nas proximidades dos cabos de comunicação submarinos que ligam o Brasil a outros países.

A Marinha brasileira informou que não levanta suspeitas e disse que adota procedimentos previstos em normas internacionais de navegação a serem cumpridas pelas autoridades marítimas. Até a quinta-feira dia 20, a embaixada da Rússia no Brasil não havia se manifestado sobre o caso.

Atividade recente

De acordo com o Myshiptracking.com, site especializado no rastreamento de embarcações, estes foram os portos e atividades recentes do Yantar:

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Port Calls recentes do Yantar (Mushiptracking.com).

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Atividade recente do Yantar (Myshiptracking.com).

Antecedentes

Oficialmente, a Rússia informa que o Yantar é um navio oceanográfico. Com sensores de alta tecnologia, a embarcação atuou nas buscas do submarino argentino ARA San Juan, que desapareceu na costa argentina.

Devido à tecnologia dos sensores embarcados, o Yantar sempre esteve na mira de governos; em junho, ao passar pelo Canal da Mancha, foi escoltado pela RAF (Royal Air Force). Em novembro de 2019 novamente levantou suspeitas por desligar o AIS no mar do Caribe e na costa dos EUA. Autoridades americanas suspeitam que os pequenos submarinos transportados pelo navio operam no rastreamento de áreas de cabeamento submarino.

No final de 2017 os movimentos do Yantar provocaram alerta nas forças armadas do Reino Unido de que a Rússia poderia interromper ou cortar cabos de comunicação submarina. Muitos quilômetros de cabos de fibra óptica cruzam os mares e a OTAN também dispõe de cabos dedicados à comunicação militar no fundo do oceano.

De acordo com Igor Sutyagin, especialista em forças armadas russas do Royal United Services Institute, de Londres, o Yantar é capaz de adulterá-los. No entanto, não há evidências de que isso tenha acontecido. Em entrevista à BBC, Sutyagin disse que, na década de 1970, durante a Guerra Fria, a Marinha dos EUA perdeu o controle de um posto de escuta submarino SOSUS (Sound Surveillance System, Sistema de Vigilância Sonora) de rastreamento de submarinos no Oceano Atlântico. Após uma investigação, os militares americanos concluíram que um submarino soviético havia cortado os cabos.

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O Yantar no porto do Rio de Janeiro (Foto: Wilton Junior/Estadão).

Há relatos dando conta que, nesse mesmo período, os americanos instalaram instrumentos de escuta de cabos submarinos soviéticos no mar de Okhotsk, base de submarinos soviéticos. Uma reportagem da Parlamentskaya Gazeta, do parlamento russo, dá conta que o Yantar pode fazer exatamente esse trabalho clandestino, usando submersíveis de mergulho profundo.

“O Yantar possui equipamentos projetados para rastreamento em alto mar e dispositivos que podem se conectar a cabos de comunicação ultrassecretos”, de acordo com a reportagem de outubro de 2017. De acordo com Sutyagin, o Yantar pertence à Diretoria Principal de Pesquisa Subaquática da Rússia, subordinada ao ministério da defesa russo.

O relatório parlamentar russo observou que, no verão de 2015, o Yantar havia operado próximo à base naval de Kings Bay, na Geórgia, “lar” de seis submarinos de mísseis balísticos classe Trident, armados com 24 mísseis nucleares cada um. Sutyagin disse que os sensores na área de Kings Bay seriam interessantes para os militares russos, pois poderiam copiar a tecnologia americana.

No final de 2016 o Yantar navegou em uma área de cabos de comunicação submarina na costa da Síria que inclui links para a Europa. As frequentes paradas do Yantar em pontos ao longo de rotas de cabeamento submarino sugerem que um submersível pode estar examinando o fundo do mar.

A embarcação

O Yantar foi projetado pelo CMDB Almaz Design Bureau em São Petersburgo, Rússia, e construído no estaleiro Yantar, em Kaliningrado. Foi lançado ao mar em dezembro de 2012 e concluiu os testes de mar em maio de 2015.

A embarcação tem 108 metros de comprimento, deslocamento total de 5.736 toneladas e utiliza propulsão diesel-elétrica. Sua velocidade máxima é de aproximadamente quinze nós (28 km/h).

O navio conta com sessenta tripulantes e é o primeiro da série (classe) chamada Projeto 22010. Pode transportar os mini submersíveis Rus e Konsul, que operam com três tripulantes e mergulham a cerca de 6.000 metros de profundidade.


Assista ao Vídeo 1.010 do Canal ARTE DA GUERRA: Navio espião russo que está no Brasil comprova que somos alvo de interesse das grandes potências.

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*Albert Caballé Marimón possui formação superior em marketing, é fotógrafo profissional e editor do blog Velho General. Já atuou na cobertura de eventos como a Feira LAAD, o Exercício CRUZEX e a Operação Acolhida. É colaborador da revista Tecnologia & Defesa e do Canal Arte da Guerra, onde, entre outras atividades, mantém uma resenha semanal de filmes e documentários militares. Entre suas atividades, já proferiu palestras para os cadetes da Academia da Força Aérea. Pode ser contatado através do e-mail caballe@gmail.com.


 

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6 comentários

  1. Albert tu poderias escrever um artigo sobre a Tecnologia de Transmissão de Energia elétrica, Dados, etc…. Sendo que essa Tecnologia não precisa de Cabos para Transmissão. É o princípio da Indução ou algo do tipo.!

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