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Presidente chinês Xi Jinping, Presidente de Taiwan Tsai Ing-wen e a bandeira chinesa (Imagem: montagem Nikkei Asian Review / Fotos: Reuters).

“Analistas na China Continental afirmam que uma quantidade cada vez maior de chineses está perdendo a fé em uma reunificação pacífica… Eles acreditam que uma reunificação pela força poderia resolver a questão de uma forma mais efetiva e eficiente”.


Essas afirmações, tratando das relações entre China e Taiwan, constam de uma reportagem publicada pelo jornal chinês Global Times, na edição do dia 16 de janeiro (https://www.globaltimes.cn/content/1176998.shtml). O texto faz, ainda, comparações sobre o poderio militar da China e de Taiwan, demonstrando a grande superioridade chinesa, além de recomendar que o país intensifique os exercícios militares de desembarque anfíbio, o tipo de operação que seria realizada no caso de uma invasão a Taiwan.

É importante destacar que o jornal Global Times é controlado pelo Partido Comunista Chinês. Seus textos, via de regra, enviam as mensagens que as autoridades chinesas desejam passar. Aliás, sobre esse mesmo assunto, o próprio presidente Xi Jinping já havia afirmado que não faria promessas de que abandonaria a possibilidade de uso da força; pelo contrário, manteria a opção de utilizar todas as medidas que se fizessem necessárias para a “completa reunificação da nação chinesa”.

O artigo do Global Times foi publicado na esteira da reeleição, em Taiwan, da presidente Tsai Ing-wen, que desagrada a Pequim por manter uma postura mais independente em relação à China, e da promulgação da chamada “Lei Anti-infiltração”, editada com a finalidade de tentar restringir a influência chinesa na política taiwanesa.

Taiwan, considerada pelo governo de Pequim como uma província rebelde, se mantém, de facto, independente. Essa situação surgiu com a vitória da revolução comunista, em 1949. O governo derrubado por Mao Tse-tung exilou-se na ilha e, desde então, nunca se submeteu à autoridade chinesa. Entretanto, apenas 14 dos 193 países-membros da ONU, além do Vaticano, reconhecem a soberania de Taiwan. Todos os demais membros da comunidade internacional reconhecem a China e comprometem-se com o princípio de “uma única China”, o que necessariamente implica em não apoiar a independência de Taiwan.

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A postura dos EUA em relação a Taiwan é aquela que atende aos seus próprios interesses geopolíticos. No mesmo dia em que as relações entre EUA e China foram normalizadas, em 1 de janeiro de 1979, os norte-americanos promulgaram a Lei de Relações com Taiwan que, dentre outras coisas, estabelece que “para ajudar a manter a paz, a segurança e a estabilidade no Pacífico Ocidental”, mesmo não mantendo relações diplomáticas oficiais ou não reconhecendo Taiwan como um país soberano, é política dos EUA fornecer armamentos para que Taiwan possa prover sua autodefesa. Além disso, a lei estabelece que qualquer tentativa de se determinar o futuro de Taiwan pelo uso da força, incluindo-se aí embargos e boicotes, será considerada pelos EUA uma “séria ameaça à paz e a segurança do Pacífico Ocidental” e, consequentemente, uma “grave preocupação” para os EUA. Em atenção à essa política, no ano passado, os EUA autorizaram uma venda de armamentos para Taiwan de cerca de US$ 2,2 bilhões, o que provocou protestos do governo chinês.

A elevação do tom da retórica chinesa demonstrada na matéria do Global Times certamente está relacionada, também, aos acontecimentos em Hong Kong. A política chamada “um país, dois sistemas”, adotada pela China em relação à antiga colônia inglesa era o chamariz com o qual Pequim pretendia convencer os taiwaneses de que a reunificação poderia ser vantajosa. Eles poderiam ser favorecidos pelo progresso econômico da China ao mesmo tempo em que manteriam seu modo de vida, mantendo as liberdades individuais que não existem na China continental. Entretanto, os protestos que persistem em Hong Kong escancaram a insatisfação, especialmente dos jovens, com a política “um país, dois sistemas”, acendendo um alerta para os taiwaneses, de que os “dois sistemas” talvez não fossem suficientemente diferentes entre si. Assim, a crise em Hong Kong acabou por colaborar para a reeleição, em Taiwan, da presidente Tsai.

A reunificação completa é, para os chineses, um objetivo nacional permanente. O governo chinês definiu, em diversos documentos oficiais, o ano de 2049, centenário da revolução comunista, como o marco para se alcançar o “sonho chinês”, que inclui a completa reunificação do país.

“Taiwan é um porta-aviões que não se pode afundar”. A frase, atribuída ao General MacArthur, mostra a importância geopolítica da ilha para os interesses norte-americanos no Pacífico. Chegará o momento, e este se dará entre um futuro próximo e o ano de 2049, em que a situação de Taiwan terá que se resolver. Ou a ilha passará integralmente à soberania chinesa, com grandes perdas geopolíticas para os EUA, ou se tornará independente, nesse caso com a China sendo a grande perdedora. Em qualquer dos cenários, as chances de fricção entre as duas potências mundiais serão grandes.

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*Paulo Roberto da Silva Gomes Filho é Coronel de Cavalaria do Exército Brasileiro. Foi declarado aspirante a oficial pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) em 1990. É especialista em Direito Internacional dos Conflitos Armados pela Escola Superior de Guerra (ESG) e em História Militar pela Universidade do Sul de Santa Catarina;  possui mestrados em Ciências Militares pela Escola de Comando e Estado Maior do Exército (ECEME) e em Defesa e Estratégia pela Universidade Nacional de Defesa, em Pequim, China. Foi instrutor da AMAN, da EsAO e da ECEME. Comandou o 11º RC Mec sediado em Ponta Porã/MS. É autor de diversos artigos sobre defesa e geopolítica e atualmente exerce a função de assistente do Comandante de Operações Terrestres, além de ser o gerente do Projeto Combatente Brasileiro (COBRA). E-mail: paulofilho.gomes@eb.mil.br.


 

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8 comentários

  1. Se a China invadir Taiwan o EUA vai isolar ela igual a coreia do Norte, ela não fará isso até que tenha domínio sobre todas as tecnologias do EUA. Por enquanto não estamos vivendo toda a intensidade da nova guerra fria, mas quando ela vier não podemos ficar neutros e nem escolher o lado perdedor.

  2. A curto e médio prazo isso não passa de apenas publicidade do partido comunista chines, para tentar manter o assunto vivo e não se dar por vencido, nem dar o braço a torcer. O fato é que diferente do que aconteceu com a Russia, quando esta invadiu a Crimeia, as sansões impostas depois aos Russos os afetaram e mesmo hoje ainda afetam, mas a Russia conseguiu remediar uma parte do problema, já que sua maior fonte de renda externa é a venda dos seu gás natural a Europa, a qual não pode simplesmente deixar de compra-lo, devido ao fato que não tem como substituir essa mátris energética até o momento.

    Mas com a China é diferente, de longe o principal comprador dos produtos chineses são os Norte-americanos. Sansões impostas por esses apos uma invasão da ilha de Taiwan, seriam desastrosas para a economia chinesa, mesmo que o restante do mundo não acompanhe tais sansões, principalmente agora com a economia da China, abalada com a perda de confiança e fuga de capital, devido a crise com o Coronavírus.

    A meu ver, a não ser que surpreendentemente a politica mundial de uma inexplicável guinada, o que acontecerá é que veremos mais uma ou duas décadas passarem, com Taiwan se mantendo independente e a China resmungando sobre isso.

  3. Torço muito por Taiwan. No último parágrafo do texto diz: “…,ou se tornará independente…”. Taiwan é independente.

  4. A grande questão não e quando si? mais quando. creio que hoje a china ja tem o poderio necessário para tal. A marinha chinesa ainda não rivaliza com a americana. no entanto a proximidade da costa chinesa pesa na balança. No entanto como o amigo colocou a cima. O atual modelo chines de comercio externo ainda não suporta uma empreitada deste nível. para a sorte de Taiwan.
    E uma pena que uma matéria com esta relevância no contexto militar tenha tao pouco comentários.. parabens pelo artigo

  5. ter informações é estratégico e fundamental em qualquer área da atuação.
    Hoje 29/5/2020 se percebe a a qualidade e assertividade do jornalismo militar de 1ª linha.

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