A História Militar no desenvolvimento da doutrina do Exército dos EUA

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Por Cel. Claudio Moreira Bento*

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“Assault Groups Taking Cover”/“Grupos de assalto se protegendo” (Aaron Bohrod, US Army Artwork and Photography, WWII The Early Years).

Em 1972, como membro da Comissão de História do Exercito do Estado–Maior do Exército (CHEB), que tinha por missão produzir a “História do Exército Brasileiro – Perfil militar de um povo”, como contribuição do Exército às comemorações do sesquicentenário da Independência, produzimos para a Revista Cultura Militar nº 221 do EME o artigo a seguir, com o apoio de tradução pelo então Major José Spangenberg Chaves do AR 870-5 Military History – Responsibilities, Policies and Procedures, 1965, do Exército dos EUA. Aproveitamos, decorridos 54 anos, para o republicar, resgatando-o do sepulcro do número 221 da Revista Cultura Militar, do EME desde então extinta e sem um índice da preciosa coleção que facilitasse a consulta dos valiosos artigos que ela publicou.

As atividades de História do Exército dos Estados Unidos são reguladas pelo AR 870-5 Military History – Responsibilities, Policies and Procedures, 1965. Este regulamento estabelece responsabilidades, normas e procedimentos relacionados com o preparo e utilização da História Militar, bem como fixa responsabilidades no tocante ao planejamento e desenvolvimento do Programa Histórico do Exército Norte-americano.

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História, Historiadores do Exército, etc.

O Exército dos Estados Unidos os define nos seguintes termos:

  • História Militar: é o registro objetivo, preciso, descritivo e interpretativo de todas as atividades do exército, na paz e na guerra. Do seu estudo devem ser retiradas lições relevantes para auxiliar na solução de problemas militares, presentes e futuros.
  • Historiador do Exército: é um historiador profissionalmente qualificado, militar ou civil, que ocupa posição num quadro específico.
  • Historiador de Estado Maior: é um historiador do exército ou oficial de História do Exército que recebeu responsabilidades de estado-maior para atividades históricas no estado-maior de um comandante.

Objetivos da História do Exército dos EUA

  1. Conscientizar o exército de que sua história é uma fonte básica de experiências que contribui para a solução de problemas militares e para o desenvolvimento teórico e prático da arte e ciência militares;
  2. Utilização contínua da História do Exército para obter-se os seguintes resultados:
    1. Uma doutrina do exército adequada às demandas da guerra moderna;
    2. Melhor treinamento e eficiência profissional;
    3. O mais alto desenvolvimento das forças da guerra, no soldado e no exército em seu conjunto.
  3. Difusão dos feitos históricos do exército entre outros elementos de governo e povo estadunidenses como atividades de relações públicas, visando a uma perfeita integração Exército-Governo-População dos EUA.
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Utilização da História Militar

  • Valor: O conhecimento da História do Exército equivale a dispor-se de um saber comprovado pela experiência, pré-requisito para o desenvolvimento da capacidade intelectual e de um raciocínio educado, voltado para problemas militares atuais e futuros.
  • Fontes: As fontes da História do Exército são os acontecimentos de sua experiência. Os fatos relacionados com estes acontecimentos fornecem subsídios de tipo especial, necessários ao desenvolvimento teórico e prático à arte e ciência militares.

História Militar e a Eficiência Profissional

A utilização da História Militar é essencial para quem deseja uma carreira militar bem sucedida. A maior parte dos conhecimentos é obtida através do estudo e da leitura. Muito pouco conhecimento é adquirido por experiência pessoal.

Utilização: O Exército dos EUA reconhece quatro maneiras de utilização de sua História:

  1. Como fonte de dados empíricos dos quais se possam deduzir princípios e procedimentos;
  2. Como um importante substitutivo de experiência pessoal em arte e ciência militares;
  3. Como elemento auxiliar de redução do espaço entre o real e o imaginário;
  4. Campo base para o estabelecimento e identificação das necessidades do presente, relacionando-as com as do passado, bem como para o estabelecimento de novos padrões de pensamento e de conduta, não importando posição social e conveniências pessoais.

Desenvolvimento da Doutrina Militar

O militar profissional deve apoiar-se na experiência do passado e no conhecimento do presente para, através da lógica, determinar o que poderá ser feito no futuro. O planejamento, a programação e as operações devem basear-se em conhecimentos científicos válidos e não em intuições ou opiniões. Quando se dispõe de poucos conhecimentos sobre determinado problema militar, a aproximação científica do mesmo deverá apoiar-se na análise de exemplos históricos.

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Manual de autoria do Cel. Bento publicado em 1979 pelo EGGCF e patrocinado pelo EME, republicado em 1999 e disponível para download no site da FAHIMTB (Acervo do autor).

Para complementar o conhecimento sobre uma atividade especializada, obtido através da experiência pessoal ou educação formal, espera-se que o militar profissional recorra à leitura de História Militar para ampliar seu conhecimento sobre esta atividade.

Na instrução militar serão selecionados exemplos históricos, como meios auxiliares, para visualização e aprendizagem de parte dos instruendos, de ideias abstratas, conceitos e princípios de arte e ciência militares.

Para proporcionar motivação deverão ser explorados casos históricos que permitam comprovações e que indiquem sucessos e fracassos e apontem ensinamentos decorrentes.

A utilização da História Militar deve contribuir para um estado de espírito no exército, no qual cada um de seus integrantes se subordine voluntariamente aos objetivos da organização.

A História Militar na Comunicação Social

A História Militar é um grande auxiliar nas atividades de Comunicação Social com o público externo.

A abordagem de glórias e sucessos militares constitui uma fonte de orgulho nacional a serem usados para facilitar uma melhor integração Exército-Povo estadunidense.

Nestas circunstâncias, a História Militar será difundida ao povo na forma de cartazes, discursos e cerimônias cívico-militares através de filmes, audiovisuais, programas de TV, rádio, jornais, publicações específicas e visitas a museus de organizações militares.

Atualidade

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O Gen. Adhemar, então Comandante Militar do Sudeste, e o Cel. Bento durante a solenidade de instalação da AHIMTB/SP, em Sorocaba, em 28 de maio de 2013 (Acervo do autor).

No momento (em 1965), os historiadores do Exército dos Estados Unidos concentravam suas atenções no estudo histórico-militar de sua experiência na Segunda Guerra Mundial, buscando ensinamentos doutrinários decorrentes de erros e acertos na condução das operações.

Estas análises críticas abrangiam o desempenho operacional de grandes unidades e subunidades e a determinação do perfil do soldado americano no conflito.

Os casos de improvisações operacionais bem sucedidas são analisados criticamente profundamente e, conforme o caso, incorporados à doutrina.

Grupos de historiadores do exército mergulhavam na História Militar buscando subsídios para o desenvolvimento de uma doutrina de combate à guerrilha no Sudeste Asiático. Não só analisam suas experiências passadas como as de outros povos.

No tocante à ação cívico-social, estavam estudando a experiência do Brasil, principalmente no tocante aos trabalhos desenvolvidos neste setor pelos batalhões de engenharia de construção que, após atuarem no sul, desenvolvem seus trabalhos no nordeste e norte.

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As forças terrestres do Brasil possuem uma tradição de quatro séculos em matéria de ação cívico-social em decorrência da organização militar portuguesa, em que todo cidadão era militar de 1ª linha, miliciano ou de ordenança, tradição mantida até o início do século XX com a extinção da Guarda Nacional.

Aqui no Brasil, três anos antes da publicação da AR 850-5 Military History, a ECEME, sob influência ali exercida por longo tempo pelo marechal Castelo Branco1, realizou a valiosa pesquisa de História Militar Crítica tendo por tema “O Combatente Brasileiro na Itália”, a qual resgatamos em parte em O Guararapes nº 13-FAHIMTB, disponível no site da FAHIMTB (www.ahimtb.org.br) em “Informativo”.

1 Foi, mais tarde, pensador militar, depois de retornar da FEB, da qual fora o Oficial de Operações.


*Claudio Moreira Bento, coronel da reserva, historiador e jornalista, é presidente e fundador da Federação de Academias de História Militar Terrestre do Brasil.


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