O Sea Harrier na Guerra das Falklands

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Por Rudnei Dias da Cunha*

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Sea Harrier FRS.1 #XZ454 do 800o Squadron da Fleet Air Arm (Foto: RN/Asas de Ferro).

SGAM-Logo-300px.pngO Harrier foi o primeiro avião de combate V/STOL (Vertical/Short Take- off and Landing) a ser produzido em série e a entrar operacionalmente em combate. De sua adaptação para uso naval pela Fleet Air Arm da Royal Navy, emergiu o Sea Harrier, cuja atuação foi essencial para a vitória britânica na Guerra das Falklands/Malvinas em 1982.


O Sea Harrier

  • Aeronave V/STOL embarcada.
  • Designada de FRS.1 (Fighter, Reconnaissance, Strike, Mk.1).
  • Desenvolvida a partir do Harrier GR.3 baseado em terra.
  • Equipada com turbina R-R Pegasus Mk.104 de 21.500lb de empuxo, com quatro tubeiras vetoradas, posicionadas nas laterais da aeronave (duas de cada lado).
  • A turbina teve suas partes feitas em magnésio substituídas por outras, em alumínio, devida à corrosão no ambiente marinho.
  • A turbina foi equipada, ainda, com um sistema melhorado de injeção de água, para auxiliar em decolagens/recuperações com maior peso.
  • O cockpit foi elevado 11 pol e as paredes laterais afinadas, a fim de se poder instalar os novos displays e equipamentos.
  • Equipado com radar ar-ar/ar-terra Ferranti Blue Fox (desenvolvido a partir do Sea Spray instalado em helicópteros navais Lynx ASuW).
  • Sistema de navegação inercial NAVHARS, integrado ao HUD (Smiths Industries), informando posição, rumo, ponto de lançamento de bombas.

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Sea Harrier em transição de voo vertical para horizontal.
FOTO-3.jpg Radar Ferranti Blue Fox:

  • Antena plana;
  • Mudança rápida de frequência para melhor ECCM e resposta a “cluttering”;
  • Alcance ar-ar: aprox. 20 milhas.
  • Pode ser equipado com uma variedade de cargas, mas para uma PAC era equipado normalmente com:
    • dois tanques de 455l;
    • dois canhões Aden de 30mm;
    • dois mísseis AIM-9G/L Sidewinder.
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Possíveis configurações de armamentos do Sea Harrier.

  • Primeiro voo efetuado em 20/08/1978.
  • Primeira entrega: XZ451, 01/06/1979.
  • Em 26/05/1979 foi criada a “Intensive Flight Trials Unit” (IFTU), para a implantação da aeronave.
  • Em 19/09/1979 a IFTU foi redesignada como No.700A NAS:

Resultado de imagem para No 700 NAS squadron

No 700 NAS: Esquadrão encarregado de introduzir em serviço novas aeronaves, tem uma letra adicionada ao numero, de acordo com a função no período (atualmente, o No 700W NAS está implantando o helicóptero Westland Lynx Wildcat).


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Sea Harrier FRS.1 do No 700A NAS a bordo do HMS Hermes.

  • Tem uma limitação no combate aéreo: o Sea Harrier está limitado a menos de 4G.
  • À baixa velocidade, no entanto – perto de 120nós, com um AoA de 50° e com as tubeiras para trás – ainda mantém controle lateral.
  • Em combate simulado contra os F-5E do 527th TFS (Aggressor) sediado em Alconbury, Inglaterra, em 1980, os resultados nas primeiras três missões 1- v-1 foram:
    • Sea Harrier 9:3 F-5E.
  • Com um elemento de F-5E no poleiro, a 2.000 pés acima, 700m para um dos lados e 1.800m atrás, assim que os Sea Harrier eram engajados, eles giravam em direção aos F-5E .
  • Nessa altura, os pilotos dos F-5E tentavam adquirir os Sea Harrier com os AIM-9 mas, para diminuir o sinal de calor, as tubeiras dos Sea Harrier eram colocadas 30° para baixo (VIFF – Vectoring In Forward Flight).
  • Com isso, o Sea Harrier tem um “pitch” instantâneo de +20° e coloca a asa entre a fonte de calor e a cabeça do AIM-9L.

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  • Ao mesmo tempo, os F-5E aproximam-se rapidamente mas os Sea Harrier fazem uma parada instantânea (tubeiras a 90°) seguida de um tunô barril a 4G, o que os coloca atrás dos F- 5E.
  • Em um dos combates simulados 2-v-2 um dos pilotos de Sea Harrier era o LCDR Nigel David “Sharkey” Ward, CMT da IFTU: ele foi “abatido” por um dos F-5E a baixa altura e baixa velocidade, pois durante uma “tesoura horizontal”, ele deixou o nariz do seu Sea Harrier cair abaixo do horizonte e, com isso, o F-5E venceu.
  • O escore final desse exercício, por piloto de Sea Harrier, foi:
    • Ward 12:1;
    • Mortimer 9:3;
    • David 6:6;
    • para um total de 27:10 em favor do Sea Harrier.
  • À mesma época, em exercício 2-v-2 contra os F-15 de Bitburg (Alemanha), o escore foi 7:1 a favor dos Sea Harrier.

Os porta-aviões e o Sea Harrier

  • A Royal Navy só demonstrou interesse por uma versão naval do Harrier quando perdeu seus porta-aviões convencionais (HMS Ark Royal, Eagle e Albion) no final da década de 70.
  • Nos novos “Cruzadores ASW” ou “Through-Deck Cruisers” (TDC), só uma aeronave V/STOL poderia operar.

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HMS Invincible (Foto: Amazon.com).

  • Uma característica dos TDC é a “ski-jump”, uma rampa inclinada (a 7°ou 12°), com a qual é possível lançar um Sea Harrier com mais carga, de forma mais segura:

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  • Os TDC da classe Invincible eram:
    • HMS INVINCIBLE (“ski-jump” a 7o).
    • HMS ILLUSTRIOUS (“ski-jump” a 7o).
    • HMS ARK ROYAL (“ski-jump” a 12o).
  • Apenas o Invincible participou da guerra das Falklands.

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Sea Harrier levantando voo na “ski-jump” do HMS Invincible.

  • O Illustrious permanecia em serviço (2012) como porta-helicópteros.
  • O outro porta-aviões utilizado foi o HMS Hermes (Classe Centaur), modificado para a operação dos Sea Harrier com a adição de uma “ski-jump” a 12°.
  • Vendido em 1987 à Índia, em serviço como INS Viraat.

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HMS Hermes.

Esquadrões de Sea Harrier da Fleet Air Arm

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Nunquam non paratus

(Nunca despreparado)

No 800 SQUADRON ­– Criado em 1933 


• “Battle Honours”:

• Noruega 1940-1944    • Mediterrâneo 1940-1941

• Spartivento 1940         • Comboios de Malta 1941-1942

• “Bismarck” 1941         • Diego Suarez 1942

• Norte da África 1942  • Normandia 1944

• Sul da França 1944     • Mar Egeu 1944

• Birmânia 1945             • Coréia 1950

• Ilhas Falkland 1982

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Hawker Nimrod do No 800 Squadron, 1934.

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Sea Harrier FRS.1 do No 800 NAS, no padrão de pintura pré-Falklands.
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On les aura

(Nós os pegaremos)

No 801 SQUADRON ­– Criado em 1933 


“Battle Honours”:

• Noruega 1940-1944         • Dunquerque 1940

• Atlântico 1940                  • Comboios de Malta 1942

• Norte da África 1942       • Japão 1945

• Coréia 1952-1953             • Ilhas Falkland 1982

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Hawker Sea Hurricane do No 801 NAS, 1942.

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Sea Harrier FRS.1 do No 801 NAS,
no padrão de pintura “Extra Dark Sea Grey” usado na Guerra das Falklands.
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Immortal

(Imortal)

No 809 SQUADRON ­– Criado em 1941 


• “Battle Honours”:

• Ártico 1941                        • Comboios de Malta 1942

• Norte da África 1942        • Salerno 1943

• Sul da França 1944           • Egeu 1944

• Birmânia 1945                   • Ilhas Falkland 1982

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Fairey Fulmar do No 809 NAS, 1941.

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Sea Harrier FRS.1 do No 809 NAS, no padrão de pintura “Barley Grey” usado na Guerra das Falklands.
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Strike and Defend

(Atacar e Defender)

No 899 SQUADRON ­– Criado em 1942 


• “Battle Honours”:

• Sicília 1943                        • Salerno 1943

• Egeu 1944                          • Sul da França 1944

• Ilhas Falkland 1982

Esquadrão de treinamento equipado com Sea Harrier FRS.1 e T.4N biplace

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Supermarine Seafire F.III do No 899 NAS, 1944.

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Sea Harrier T.4N do No 899 NAS, no padrão de pintura “Dark Sea Grey” usado pós-Falklands.
  • Como o T.4N não dispunha de radar, o treinamento para operação do Blue Fox era feito nos Hunter T.8M, modificados adequadamente com um nariz de Sea Harrier!
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Hawker Hunter T.8M e Sea Harrier FRS.1 do No 899 NAS, equipados com radar Blue Fox.

A preparação para o conflito

  • Segundo o LCDR Nigel David “Sharkey” Ward, CMT do 801 NAS durante o conflito e, também, responsável pela introdução em serviço do Sea Harrier, como CMT da IFTU (700A NAS), três medidas iniciais foram tomadas, duas semanas antes de ser criada a Força-Tarefa:
  • pintura dos Sea Harrier em cinza escuro;
  • entrega com a maior rapidez possível dos AIM-9L (utilizavam até então o AIM-9G);
  • manutenção: as 6 ANV do esquadrão estavam 100% disponíveis.
  • Com o estabelecimento da Força-Tarefa, os pilotos e aeronaves do 899 NAS foram divididos entre os 800 e 801 NAS:
    • 800 NAS a bordo do HMS Hermes recebeu mais 6 Sea Harrier, totalizando 12 anv no efetivo;
    • 801 NAS a bordo do HMS Invincible recebeu mais 2 Sea Harrier, totalizando 8 anv no efetivo.
  • Os Sea Harrier ainda não tinham sido liberados para o lançamento de bombas e foguetes.
  • Aproximadamente 60% do efetivo do 801 NAS não era qualificado para voo noturno em porta-aviões (no 800 NAS a taxa era quase de 90%!).
Harrier 809: Britain’s Legendary Jump Jet and the Untold Story of the Falklands War (English Edition) por [White, Rowland] LIVRO RECOMENDADO:

Harrier 809: Britain’s Legendary Jump Jet and the Untold Story of the Falklands War

  • Rowland White (Autor)
  • Em inglês
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  • Durante o deslocamento até as Falklands, o LCDR Ward estipulou um programa de treinamento e qualificação para lançamento de bombas e foguetes, bem como voo noturno.
  • Todas os pilotos do 801 NAS estavam qualificados em duas semanas.
  • Inteligência a respeito da capacidade aérea da Fuerza Aérea Argentina e da Armada Argentina resumia-se a um volume do “Jane’s” a bordo do HMS Invincible!
  • Um piloto do 801 NAS, LT Alan Curtis, era ex-piloto de A-4K com a RNZAF e foi responsável pela inteligência a respeito de como engajar os A-4 argentinos.
  • A aeronave que representava mais perigo para a frota britânica eram os Dassault-Bréguet Super Étendard, equipados com os mísseis ar-superfície Aérospatiale AM-39 Exocet.
  • Segundo a Jane’s, cinco Super Étendard haviam sido entregues até a invasão das Falklands, possivelmente com numero igual de Exocet.
  • Apesar dos Super Étendard terem capacidade REVO, os AWI (Air Weapons Instructor) do 801 NAS julgaram que os argentinos não arriscariam seus dois tanques KC-130 – no máximo, os levariam até a costa da ilha West Falkland.
Sea Harrier over the Falklands: The Black Death (English Edition) por [MacCartan-Ward, Nigel] LIVRO RECOMENDADO:

Sea Harrier over the Falklands: The Black Death

  • Nigel MacCartan-Ward (Autor)
  • Em inglês
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  • Assim, calcularam que, mantendo a frota a uma distância de 425nm da costa argentina, estariam provavelmente livres, porém:
    • era necessário o estabelecimento de PAC a baixa altura, para poder interceptar os Super Étendard !
  • Previa-se que os ataques argentinos seriam mistos, com um grande número de Mirage/Dagger voando alto, protegendo os Super Étendard/Skyhawk, os quais provavelmente atacariam rente à superfície e em um eixo diferente da escolta.
  • A tática para interceptar tais ataques era baseada em se deslocar um elemento de Sea Harrier:
    • o Líder atacaria de frente a formação inimiga, tentando pelo menos uma vitória;
    • o Ala faria um “gancho” e procuraria lançar seus mísseis por de trás da formação inimiga;
    • Líder e Ala passariam pela formação inimiga sem procurar um “dogfight”, entrando em formatura assim que possível.
  • Também julgou-se que o perigo de um ataque a partir do ARA 25 de Mayo era reduzido, pois seria apenas de A-4 Skyhawk.
  • Quanto a ataques noturnos, os argentinos dispunham apenas dos Neptune para localizar os alvos para os Super Étendard.
  • Os Neptune deveriam ser facilmente localizados pelos radares dos navios britânicos.
  • Uma curiosidade:
    • enquanto os pilotos do 801 NAS constantemente conseguiam detectar alvos aéreos a 21-23 milhas com os radares Blue Fox,
    • os pilotos do 800 NAS não conseguiam detectar a mais de 11 milhas!
  • Qual a razão para tal diferença?
    • A manutenção dos radares no 801 NAS era de 1a linha!
  • Resultado:
    • o 801 NAS ficou a cargo da maioria das missões DA;
    • enquanto o 800 NAS desempenhou a maior parte das missões de ataque a superfície;
RAF Harrier Ground Attack: Falklands (English Edition) por [Pook, Jerry] LIVRO RECOMENDADO:

RAF Harrier Ground Attack: Falklands

  • Jerry Pook (Autor)
  • Em inglês
  • Versões eBook Kindle e Capa Comum
  • Durante o deslocamento, nos dias 21a 24 de abril, um Boeing 707 da Fuerza Aérea Argentina foi localizado pelos radares britânicos e um Sea Harrier foi acionado para interceptá-lo;
  • No dia 23, o LCDR Ward iluminou o Boeing 707 com o seu Blue Fox, a aproximadamente 150nm de distância da força-tarefa;
  • O Boeing 707 era provavelmente equipado com RWR pois assim que o Blue Fox foi acionado, os argentinos abortaram a missão;
  • No dia 25, os pilotos britânicos foram autorizados a destruir o 707;
  • Nesse mesmo dia, cessaram os voos dos 707!

Em Guerra!

  • No dia 30, à noite, iniciaram-se os ataques britânicos:
    • fragatas bombardeariam o aeroporto em Port Stanley, à noite, em preparação para o ataque de um Avro Vulcan, armado com 21 bombas de 1000lb, vindo da ilha de Ascensão;
    • os Sea Harrier manteriam PAC para proteger o Vulcan em caso de necessidade;
  • Os ataques com os Vulcan, apesar de terem sido os mais longos da história, até aquela época, só tiveram valor como propaganda, pois nem uma bomba caiu sobre a pista.
  • Foi também um desperdício de combustível: 137.000 galões permitiriam 260 surtidas de Sea Harrier armados com cinco bombas de 1000lb, ou seja, 1.300 bombas!
    • Alguma dessas tinha de acertar!
  • Além disso, a necessidade de REVO com pelo menos 15 Handley-Page Victor, reduziu a vida útil dessas aeronaves.
  • Na madrugada do dia 1º, oito Sea Harrier do 800 NAS bombardearam o aeroporto em Port Stanley, destruindo um BN Islander.
  • Outros quatro Sea Harrier do mesmo esquadrão bombardearam a pista de pouso em Goose Green no mesmo período, destruindo um Pucará.
  • Nos primeiros contatos com os Mirage, não houve engajamento, pois os radares argentinos, em terra, alertavam sobre o deslocamento das PAC de Sea Harrier.
  • A tática argentina consistia em interceptar com vantagem em altitude, a alta velocidade.
  • Se os Sea Harrier encontravam-se frente-a-frente, então os pilotos argentinos ejetavam seus tanques/bombas e retornavam à base.
  • No dia 1 de maio, dois Sea Harrier, controlados pelo radar do HMS Glamorgan, interceptaram três Beech T-34 , sem derrubar nenhum, apesar de acertarem tiros de 30mm em um deles.
  • No dia 2 de maio, ocorreram as duas primeiras vitórias do Sea Harrier, usando a manobra “gancho”.
LIVRO RECOMENDADO:

Sea Harrier Over The Falklands

  • Commander Sharkey Ward (Autor)
  • Em inglês
  • Versões Capa Comum e Capa Dura
  • Com as condições atmosféricas do dia – camada de nuvens baixa – os Mirage, voando alto, poderiam facilmente detectar os Sea Harrier acima das nuvens.
  • Em contrapartida, seria difícil ver os Mirage contra o azul do céu.
  • Novamente o HMS Glamorgan detectou dois Mirage, a 25 milhas, mergulhando em direção à PAC de Sea Harrier.
  • Os pilotos britânicos eram os LT Steve Thomas RN e FLTLT Paul Barton RAF, do 801 NAS.
  • Contato foi feito pelo LT Thomas:
    • “I’ve got them, Paul. 10° high at 17 miles. 10° right. JUDY!”
  • O LT Thomas comandou o “gancho”, atacando de frente os Mirage, enquanto o FLTLT Barton curvou à esquerda, para se separar lateralmente dos Mirage e enganchá-los.
  • Logo, o FLTLT Barton detectou-os no seu Blue Fox:
    • “I have contact! Right 30. 11 miles.”
  • Os Sea Harrier e os Mirage aproximavam-se a uma velocidade de mais de 1 milha a cada 3 segundos.
  • A 4 milhas, o LT Thomas fez contato visual:
    • “4 miles. Visual. Attempting Sidewinder lock.”
  • Quando ele estava quase ultrapassando o elemento de Mirage, os argentinos ejetaram seus tanques.
  • Nesse meio tempo, o FLTLT Barton tinha feito contato visual, girando em direção aos Mirage pela direita deles.
  • Os Mirage estavam praticamente um à frente do outro e, assim, não podiam se proteger mutuamente.
  • O Mirage mais atrás, sem ver o FLTLT Barton, iniciou uma curva ascendente à direita, em direção ao LT Thomas.
  • Logo um dos Sidewinder no Sea Harrier do FLTLT Barton adquiriu aquele Mirage:
    • “Fox Two away!” … “Splash one Mirage!”
  • O líder argentino iniciou uma espiral descendente em direção às nuvens, o que foi seu erro
  • O LT Thomas girou sobre o dorso, mergulhou quase na vertical e, assim que o Sidewinder adquiriu o Mirage:
    • “Fox Two away!”
  • O AIM-9L atingiu o Mirage assim que ele entrou na camada de nuvens, o que impediu a confirmação imediata da destruição do alvo.
  • Depois, soube-se que o AIM-9L detonou próximo ao Mirage e que o piloto, ao tentar aterrissar em Port Stanley, foi abatido pelas próprias tropas argentinas.

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Dois Mirage são derrubados pelo 801 NAS, 01/05/1982.

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Um Mirage é derrubado por um Sidewinder, 01/05/1982.

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Lt. Thomas retornando ao HMS Invincible após as duas primeiras vitórias do Sea Harrier.

  • Dez minutos após esse combate, um Dagger foi derrubado por um AIM-9L, disparado de um Sea Harrier pilotado pelo LT Penfold do 800 NAS, enquanto, juntamente com outros dois Dagger, atacava os HMS Glamorgan e HMS Arrow ao largo de Port Stanley.
  • Quase ao anoitecer, o radar do HMS Invincible detectou um alvo a 120 milhas, 320°.
  • A PAC de Sea Harrier, com os LT Curtis e LTCDR Broadwater, interceptou o eixo 320 a 40 milhas do HMS Invincible.
  • A PAC nivelou a 3000 pés e a camada de nuvens estava a 2000 pés; logo o LT Curtis fez contato:
    • “Two contacts bearing 315 at 24 miles. They are in the deck and appear to be in battle formation. Taking it round the back!”
  • Girando para a direita, o LTCDR Broadwater também fez contato e avisou seu líder:
    • “There are three of them, Alan”.
    • “ I’ll take the lead aircraft”.
  • Pelo radar, o LT Curtis detectou que as aeronaves argentinas estavam a 200 ou 300 pés de altitude
  • Iniciando a última curva antes de se posicionar atrás delas, foi feito contato visual:
    • “Tally ho!”
  • Eram três Canberra. Disparando um AIM-9L, esse atingiu o Canberra líder na raiz da asa mas não houve explosão.
  • Assim que o LT Curtis disparou o seu segundo “Lima”, o Canberra explodiu:
    • “Splash one Canberra!”
  • Nesse meio tempo, o LTCDR Broadwater disparou um Sidewinder que não seguiu o alvo. O segundo “Lima”, aparentemente, explodiu próximo ao alvo, mas sem confirmação

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Dois Canberra são derrubados pelo 801o NAS, 01/05/1982.

  • No noite de 3-4 de maio, houve outro ataque de um Vulcan ao aeroporto em Port Stanley – precedido por bombardeio naval.
  • Todas as 21 bombas, lançadas acima de 12000 pés, caíram à esquerda da pista.
  • Não importa muito onde caíram, pois as espoletas não haviam sido armadas a bordo do Vulcan!
  • Na madrugada do dia 4, o 800 NAS bombardeou novamente o aeroporto em Port Stanley e a pista em Goose Green – nesse último ataque, o LT Nicholas Taylor foi abatido quando uma granada de 30mm acertou o Sea Harrier na altura da cabine.
  • No mesmo dia, o HMS Sheffield foi atingido por um ASM Exocet lançado por um Super Étendard que pôde se aproximar devido à remoção de uma PAC de Sea Harrier para efetuar uma busca visual de navios a 120 milhas de distância, quando poderia ter se usado o radar Blue Fox afastando-se apenas 20 milhas!
  • No dia 6 de maio, o 801 NAS perdeu dois pilotos de Sea Harrier, os quais aparentemente chocaram-se dentro de uma camada de nuvens.
  • O 801 NAS estava, agora, reduzido a seis Sea Harrier e nove pilotos.
  • No dia 9 de maio, o 801 NAS inventou duas novas formas de lançar “chaff”:
    • um maço de “chaff” colocado no freio aerodinâmico
    • um maço de “chaff” colocado entre uma bomba e o pilone
  • Por que essa improvisação?
    • Só o HMS Hermes e seu esquadrão, 800 NAS, receberam os lançadores de “chaff” ALE-40 – e não repassaram nenhum ao HMS Invincible, até o penúltimo dia da guerra – e , mesmo assim, apenas dois foram enviados e um estava amassado, inutilizável!

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Sea Harrier e Harrier a bordo do Atlantic Conveyor – um Sea Harrier do 809 NAS está em alerta na proa.

  • No dia 21 de maio, em uma PAC em apoio ao desembarque britânico em San Carlos, uma seção de três Sea Harrier do 801 NAS – LTCDR Ward, LT Thomas e LT Craig (recém-chegado com os reforços a bordo do navio-container Atlantic Conveyor) engajou dois Pucará.
  • Os dois Pucará foram abatidos a tiros de 30mm, e o combate desenrolou-se a uma altitude mínima entre 10 e 60 pés, ao final.
  • No mesmo dia, um elemento de Sea Harrier do 801 NAS – LTCDR Ward e LT Thomas – engajaram três Dagger sobre San Carlos, abatendo-os com três Sidewinder.

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Três Dagger são derrubados pelo 801 NAS, 21/05/1982.

  • Minutos após esse combate, a seção Vermelha do 800 NAS, em PAC sobre San Carlos, abateu dois A-4Q Skyhawk do Comando Aéreo Naval Argentino; um terceiro Skyhawk lançou suas bombas sobre a fragata HMS Ardent.
  • Após saber que o imprensa argentina havia batizado os Sea Harrier de “La Muerte Negra”, os pilotos do 801 NAS usavam a frequência-rádio de emergência argentina para avisar:
    • La Muerte Negra ees-a-coming!”
  • No dia 1º de junho, o LTCDR Ward abateu um C-130 Hercules, a última vitória aérea dos Sea Harrier na guerra.

Estatísticas

  • 28 Sea Harrier utilizados;
  • 376 missões (2.088 pousos em conveses) totalizando 2.675h25min, entre 2/4 e 16/5;
  • 100 missões PAC;
  • 26 Sidewinder lançados;
  • 24 aeronaves derrubadas (incluindo 3 helicópteros);
  • 3 Pucará destruídos no solo;
  • 3 navios inutilizados por bombardeamento.

As 8 regras de “Sharkey” Ward para o sucesso no combate aéreo

  1. O piloto de caça deve conhecer profundamente a sua aeronave e sistema de armas;
  2. O piloto de caça deve conhecer as limitações da sua aeronave e sistema de armas;
  3. O piloto de caça deve sempre adotar as táticas que melhor se adequam à sua aeronave;
  4. O piloto de caça deve conhecer as capacidades da aeronave inimiga (e, se possível, dos pilotos inimigos);
  5. O piloto de caça deve ser sempre agressivo, sem descuidar das regras 1 a 4;
  6. O piloto de caça deve antecipar-se às manobras do inimigo;
  7. O piloto de caça deve ver o inimigo antes de ser avistado por ele;
  8. O inimigo nunca está sozinho – “always check your six!”.


*Rudnei Dias da Cunha é Doutor em Ciência da Computação pela University of Kent at Canterbury e Bacharel em Ciência da Computação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É Professor Titular do Departamento de Matemática Pura e Aplicada do Instituto de Matemática e Estatística da UFRGS. Ocupou diversos cargos de direção e coordenação do Instituto de Matemática e do Programa de Pós-graduação em Matemática Aplicada da UFRGS. Foi condecorado com a Ordem do Mérito Aeronáutico (grau Oficial) e com a Medalha Mérito Santos-Dumont. É Membro Honorário da Força Aérea Brasileira, da Royal Aeronautical Society, da Society for Industrial and Applied Mathematics e da Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional. Com Leandro Casella, é coautor dos livros Curtiss P-40 no Brasil, Grumman S-2 no Brasil e Northrop F-5 no Brasil.


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4 comentários

  1. A cada artigo, o leitor vive cada movimento, cada batalha desta guerra! O melhor conselho é “always check your six!”, ou seja, sempre atento à retaguarda (6 o’clock)!

  2. A algum tempo atrás li que o principal erro dos argentinos foi na aproximação, onde poderia ser usado a maior potência e velocidade como vantagem, não sei se procede ?

    1. A maior potência e velocidade dos argentinos estava nos Dagger e Mirage; no entanto, eles não podiam explorar o afterburner pela questão do combustível.

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