O Maior General dos Estados Unidos

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Por Cap Fr (FN) RM1 Robinson Farinazzo*

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Robert E. Lee posa para fotografia nos fundos de sua casa na Franklin Street, em Richmond, em 20 de abril de 1865 – apenas 11 dias após a rendição em Appomattox (Foto: National Archives/Mathew Brady).

“Robert Lee chegou o mais perto possível de ser uma divindade viva… e quando ele morreu, o ar serenou.”

(Richard Dreyfuss, ator vencedor do Oscar, Golden Globe e BAFTA)


Nas cercanias de Washington, às margens do Rio Potomac, há um aprazível conjunto de colinas, onde estão enterradas algumas das pessoas mais icônicas da História dos Estados Unidos: o Cemitério Nacional de Arlington, Virgínia. Lá estão os astronautas da nave Challenger, o general Omar Bradley, o cientista Albert Sabin, o Senador Robert Kennedy e seu irmão, o Presidente John Fitzgerald Kennedy, acompanhados por milhares de soldados mortos em todas as guerras dos EUA. Isto, muita gente sabe.

Mas, o que nem todo mundo tem conhecimento é que este local sagrado era uma fazenda que foi confiscada pela União do tático mais brilhante de toda a História dos Estados Unidos, o general Confederado (sulista) Robert Edward Lee durante a Guerra da Secessão (1861-65). E, por suprema ironia da história – e há muitas na vida deste homem – seu antigo proprietário não está enterrado ali. Agora vamos saber porquê.

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Nascido em 1807, era filho de um também herói de guerra, o General Henry Lee III. O pai faleceu antes de Lee ingressar na Academia Militar de West Point, em 1825. Aí, já começa o primeiro paradoxo do futuro General Robert E. Lee: ele não se formou infante, ou artilheiro, nem foi da arma de Cavalaria. Lee graduou-se em Engenharia Militar, especializando-se em construir fortificações e fazer levantamentos topográficos para obras civis e militares. Ou seja, o futuro líder militar mais ágil, rápido e ofensivo da Guerra da Secessão Americana era um homem que aprendera a combater de posições fixas no início de sua carreira!

Em 1861, a América estava dividida: de um lado, a industrializada União – o governo do Presidente Abraham Lincoln – o qual desejava abolir a escravidão, contrapondo-se aos Estados Confederados do Sul, todos agrícolas e dependentes da mão de obra escrava, os quais decidiram se separar da União. A guerra era inevitável.

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Lee e Grant em Appomattox (Imagem: Library of Congress).

Quando as hostilidades entre Norte e Sul eclodiram ainda naquele ano, Lee, que não desejava a guerra, acabou sendo movido pela lealdade ao seu estado natal, a confederada Virginia. Pediu, então, demissão do exército nortista e voltou ao seu torrão, onde recebeu um comando militar. Há que se fazer um parênteses neste ponto de nossa narrativa: Lee provavelmente tinha lá suas reservas sobre a moralidade da escravidão, mas elas foram definitivamente abafadas por suas raízes sulistas.

De início, suas funções no exército confederado foram puramente defensivas, mas a partir da Segunda Batalha de Manassas (ou Bull Run, 28 de agosto de 1862), ele, em flagrante inferioridade numérica contra o Exército da União (tinha 49.000 soldados contra 76.000 do inimigo), derrotou seu oponente infligindo 16.000 baixas ao Norte (contra apenas 9.000 sulistas).

Daí em diante, este seria o modus operandi de suas operações, atacar em inferioridade numérica, obtendo a vitória através de brilhantes movimentos táticos que tiravam o melhor aproveitamento possível do terreno. Ele sabia envolver o oponente, manobrava seu exército com maestria e conseguia extrair o máximo rendimento de seus homens no campo de batalha. Uma verdadeira raposa, das treze grandes batalhas que travou nos quatro anos que durou a Guerra da Secessão, ele venceu seis, perdeu cinco e empatou duas.

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Os segredos do seu sucesso? São vários, mas vamos tentar enumerar apenas três deles aqui, pois servem de ensinamento até os dias de hoje, e transcendem para áreas do conhecimento muito além da pura arte da guerra:

  1. Inobstante seu caráter tímido, Lee era um líder brilhante, que inspirava seu pessoal. Dizem que ele conseguiria transformar em soldado qualquer pessoa que tivesse braços e pernas!
  2. Lee possuía muita experiência. Seus anos como oficial júnior foram de grande aprendizado construindo fortificações por todo o interior dos Estados Unidos e mais tarde, como oficial superior, adquiriu expertise combatendo na guerra contra o México (1846-48);
  3. Ele teve sob seu comando alguns dos melhores generais da Guerra Civil, tais como P. G. T. Beauregard, Stonewall Jackson e J. E. B. Stuart, todos homens brilhantes que ajudaram a transformar seus planos e decisões em realizações práticas no campo de batalha.
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Lee e Traveller (Fotografia atribuída a Michael Miley).

Mas, a excelência tática de Lee não bastou para conduzir o Sul Confederado à vitória final. O poderio industrial da União, aliado às suas facilidades de comunicação e logística e amparados por um eficiente bloqueio naval, acabaram por fazer valer o peso dos números e levar os sulistas à rendição em Appomattox, em 9 de abril de 1865.

Lee foi um grande general (provavelmente, o maior que os EUA já tiveram), mas estava do lado errado da História. A causa do Sul estava perdida antes de começar, pois a liderança política confederada não conseguira perceber a desumanidade e a ignomínia que haviam na escravidão, e que era chegado o tempo de extingui-la. Causa que custou as vidas de mais de 700.000 americanos, mortos por seus próprios conterrâneos.

Após o conflito, Lee (que perdeu seus direitos políticos, mas foi anistiado) tornou-se um ícone da reintegração do Sul e da reconciliação nacional, colaborando positivamente com a pacificação e reunificação dos Estados Unidos até sua morte, em 1870.

Seu leal cavalo Traveller, que o acompanhou por boa parte da guerra, morreu pouco tempo depois. Ambos foram enterrados na sulista Virgínia, não muito distante de Arlington.

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*Robinson Farinazzo é Capitão de Fragata (FN) RM1, expert em tecnologia aeronáutica e articulista de Defesa. Com mais de trinta anos de carreira militar, extensa experiência de campo e formação superior em Administração de Empresas, é Editor do Canal Arte da Guerra. E-mail: robinsonfarinazzo@gmail.com


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5 comentários

  1. Boa Noite Comandante, os artigos que o Sr vem publicando nós últimos dias aqui no blog VG estão um primor caro Comandante, assim como os do grande Albert e os demais convidados do blog, imagino o que vem por aí na semana das Malvinas/Falkland, estou ansiosamente no aguardo, o conhecimento que venho tendo aprendendo com os Srs está sendo muito gratificante Comandante.
    Abraços e Fé no Brasil!

    1. Olá Manolo, comentários como o seu nos animam a continuar publicando. Semana da Guerra Aérea nas Malvinas vai trazer muita informação, acompanhe! Forte abraço!

  2. Pena que na história da humanidade, nem sempre as forças cósmicas se ajustam e fazem “justiça” pela estupidez dos homens.

    (…) Lee foi um grande general (provavelmente, o maior que os EUA já tiveram), mas estava do lado errado da História. A causa do Sul estava perdida antes de começar, pois a liderança política confederada não conseguira perceber a desumanidade e a ignomínia que haviam na escravidão, e que era chegado o tempo de extingui-la. Causa que custou as vidas de mais de 700.000 americanos, mortos por seus próprios conterrâneos. (…)

  3. Concordo mas na verdade não foi bem isto os EUA foram através do norte extremamente arrogantes com o sul não respeitando a sua condição operante tanto é que a segregação continuou muito forte ainda inclusive no norte o grande problema do Brasil do norte é que nunca teve politica social adequado a sua posição financeira e tanto Lee quanto Jackson lutavam por fidelidade regional e o Jackson odiava uma certa mentalidade financista vinda do norte profético não.

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