Documentos da Guerra Fria: opções militares soviéticas para neutralizar o poder aéreo Sul-Africano em Angola

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Por Albert Caballé Marimón* 

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Aermacchi MB-326 Atlas Impala (Foto: SAAF South African Air Force)

Este Memorando de Inteligência, produzido pela CIA em maio de 1986, avalia as opções e as capacidades de Angola, apoiada por Cuba e pela URSS, de neutralizar a Força Aérea Sul-africana, que no ano anterior havia causado danos a uma ofensiva angolana. A “Guerra Sul-Africana na Fronteira”, ou “Guerra de Independência da Namíbia”, foi um longo e complexo conflito que teve início em 1966, envolveu diversas facções apoiadas pela URSS de um lado e pelos EUA de outro e também esteve ligado à Guerra Civil Angolana (1975-2002). Finalmente culminou com a retirada das forças cubanas e sul-africanas de Angola e a independência da Namíbia.


2 de maio de 1986

Sumário

A ofensiva de Luanda apoiada pelos soviéticos contra a UNITA em 1985 não atingiu o objetivo-chave no outono passado devido aos ataques aéreos sul-africanos. Ao ajudar a planejar a próxima ofensiva, que pode começar já nesta primavera, os assessores soviéticos em Angola provavelmente estão procurando maneiras de impedir que a força aérea da África do Sul repita sua bem-sucedida intervenção. A sua melhor opção é provavelmente defensiva – aumentar a eficácia com que os angolanos e os cubanos usam a grande quantidade de equipamentos de defesa aérea já existentes em Angola, especialmente mísseis superfície-ar móveis e interceptadores a jato. Os conselheiros soviéticos também têm, no entanto, opções ofensivas – ataques aéreos contra os campos da África do Sul no norte da Namíbia, a partir dos quais foram lançados os ataques do outono passado. Do ponto de vista militar, esses ataques aéreos parecem viáveis ​​e podem causar danos significativos. Mesmo desconsiderando as implicações políticas, elas também apresentam sérias desvantagens militares, tais como resultados transitórios e alta probabilidade de represálias sul-africanas.

Este memorando foi preparado pela Divisão de Atividades do Terceiro Mundo, Escritório de Análise Soviética. Comentários e perguntas podem ser direcionados ao Chefe, Divisão de Atividades do Terceiro Mundo, [TRECHO SUPRIMIDO]

  1. As operações do governo angolano, até agora, ocorreram apenas dentro das fronteiras de Angola (embora Angola permita que seu território sirva de base para operações de guerrilha da SWAPO1 na Namíbia). [TRECHO SUPRIMIDO] os soviéticos evitam envolver diretamente seu próprio pessoal nessas operações de combate, exceto em circunstâncias incomuns. Porém, à luz dos ataques aéreos sul-africanos do último outono, não podemos descartar a possibilidade de os angolanos e seus assessores soviéticos decidirem que precisam quebrar um ou ambos os paradigmas para neutralizar o poder aéreo sul-africano em futuras ofensivas angolanas. Essa análise examina as opções militares disponíveis em um cenário como esse, mas não aborda as implicações políticas ou a probabilidade de serem adotadas.
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Ataques aéreos da África do Sul

  1. Em setembro e outubro de 1985, a África do Sul desdobrou aeronaves de combate em quatro aeródromos próximos à fronteira angolana: Ondangwa, Rundu, Grootfontein e Mpacha, na faixa de Caprivi (Figura 1). Em meados de setembro, cinco Canberra2, quatro Buccaneer3 e dez Mirage F-1 foram observados em Grootfontein, seis possíveis Mirage F-1 em Ondangwa e oito Impala4 em Rundu5. Pouco antes de 1º de outubro, os Mirage em Ondangwa aparentemente se mudaram para Rundu, mais perto da zona de combate, e o número de Impala aumentou para catorze. A mudança para Rundu reduziu pela metade a distância entre as aeronaves sul-africanas e a ponta de lança da ofensiva angolana.
  2. [TRECHO SUPRIMIDO] crateras de bombas em torno de uma posição que tinha sido ocupada por forças do governo angolano avançando contra a cidade de Mavinga, da UNITA6. Mais tarde, Luanda acusou Pretória de realizar quatro ataques aéreos em apoio à UNITA. Embora os sul-africanos tenham negado consistentemente qualquer envolvimento, evidências de bombardeios aéreos indicam que eles lançaram um ataque poucos dias após a chegada das aeronaves na Namíbia e um ou mais por volta de 1º de outubro. A ofensiva angolana parou no primeiro ataque e as forças angolanas recuaram no momento dos últimos.
  3. Durante essa operação, os quatro campos de aviação sul-africanos ficaram vulneráveis​​. Não havia redes de radar de alerta antecipado nem sistemas SAM (Surface-to-Air Missiles, Mísseis Superfície-Ar) de longo alcance para protegê-los. Além disso, as aeronaves não foram dispersas ou mantidas em alerta; os Mirage vistos em Rundu estavam estacionados lado a lado, bem longe da pista. Além das aeronaves de combate, as defesas aéreas consistiam em apenas sete SAM Tigercat e uma única instalação de radar com alcance de 70 milhas em Ondangwa. Revestimentos em vários campos foram projetados principalmente para proteção contra ataques insurgentes.

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Figura 1: Alcances a partir de aeródromos sul-africanos na Namíbia

Resposta angolana

  1. Angola falhou em responder às incursões aéreas da África do Sul em seu território na ofensiva de outono. Em setembro, após o primeiro ataque, Luanda levou os Flogger7 para Menongue – seu aeródromo mais próximo da zona de batalha8. Até onde sabemos, Angola não lançou caças interceptadores contra aeronaves sul-africanas e nem sequer os manteve em alerta. Também não moveu seus SAM móveis para fornecer defesa aérea às tropas em campo. Estas eram um alvo fácil – tinham apenas defesas aéreas limitadas, constituídas por armas leves e, talvez, armas antiaéreas de controle óptico.

Opções militares futuras

  1. [TRECHO SUPRIMIDO] consultores soviéticos assumiram um papel mais direto no planejamento e direção das operações de combate angolanas desde a série de reveses de Angola em 1982, 1983 e 19849. Esse envolvimento provavelmente foi um fator que contribuiu para o melhor desempenho na ofensiva de 1985. O Grupo de Assistência Militar Soviética (MAG, Military Assistance Group) em Luanda provavelmente está agora profundamente envolvido no planejamento da próxima ofensiva, e uma de suas maiores prioridades quase com toda a certeza é encontrar formas de impedir uma repetição dos bem sucedidos ataques aéreos da África do Sul.

Defesas aéreas aprimoradas

  1. Uma opção para os planejadores soviéticos é melhorar o desempenho de Angola e Cuba num tipo de guerra para a qual eles já estão organizados e equipados – a defesa aérea. Os conselheiros soviéticos não precisam procurar além da doutrina operacional soviética para encontrar técnicas que podem melhorar sensivelmente as defesas aéreas angolanas. Moscou possui procedimentos detalhados para manter aeronaves em alerta e lança-las contra contatos de radar não identificados ou hostis. Os soviéticos também têm táticas bem desenvolvidas para usar SAM móveis como o SA-9 e o SA-13 para dar cobertura a tropas em campo. Avanços nessas áreas devem ser complementados por progressos no comando e controle em geral, no controle de solo e logística. Essas são áreas nas quais os soviéticos podem desempenhar um papel de coordenação direta até que as forças locais desenvolvam técnicas apropriadas.
  2. Seria necessário relativamente pouco equipamento novo para melhorar as defesas aéreas. Angola já tem aviões de combate e SAM mais que suficientes para montar defesas aéreas substanciais. Sua principal deficiência de equipamento é a falta de cobertura de radar sobre os pontos fortes da UNITA no sudeste de Angola e nos campos de pouso da África do Sul no norte da Namíbia. Moscou poderia fornecer cobertura de alta altitude em ambas as áreas a partir de pontos defendidos, fornecendo o radar de longo alcance Tall King10.
  3. A ênfase soviética em um estilo mais agressivo de operações de defesa aérea pode render dividendos substanciais. Um Flogger ou Fishbed11 pilotado de forma competente e agressiva pode ser competitivo contra o Mirage12 da África do Sul, principalmente se estiver dentro do alcance de seu controle aéreo, embora os sul-africanos ainda possam levar vantagem em pessoal e equipamento. Sistemas SAM acompanhando as tropas podem fazer com que elas não sejam mais o alvo fácil atingido pelos sul-africanos no passado outono. Mudar a localização dos SAM móveis que estão em volta dos alvos fixos aumentaria ainda mais a possibilidade de perdas da África do Sul. Até agora, os sul-africanos têm sido extremamente relutantes em engajar alvos defendidos. A África do Sul pode não ser totalmente dissuadida de atacar, mas seus ataques podem ser conduzidos de maneira mais conservadora – e menos eficaz.
LIVRO RECOMENDADO:

Battle for Cassinga: South Africa’s Controversial Cross-Border Raid, Angola 1978

  • Mike McWilliams (Autor)
  • Em inglês
  • Capa Comum

Participação soviética

  1. Se os planejadores soviéticos decidirem se concentrar na melhoria das defesas aéreas angolanas, provavelmente poderão obter resultados significativos mantendo-se dentro dos limites atuais de participação em combate. A maioria das melhorias necessárias envolve treinamento e supervisão, não combate real. Os assessores soviéticos, por exemplo, podem instilar nas equipes cubanas e angolanas a necessidade de melhores procedimentos de alerta para os caças interceptadores e aumentar a pressão nas autoridades angolanas para lançar as aeronaves contra alvos não identificados ou hostis. O pessoal soviético pode assumir as funções de controle aéreo, direcionando os interceptadores aos alvos. Da mesma forma, se já não o estão fazendo, os assessores do MAG soviético podem aumentar o treinamento das tropas de defesa aérea cubanas e angolanas nos procedimentos soviéticos de uso de SAM móveis, particularmente os SA-9 e SA-13, para dar cobertura às tropas. Finalmente, como no passado, o MAG pode providenciar o fornecimento de equipamento adicional, principalmente radares Tall King. Nessa opção, parece não haver uma necessidade imperiosa de pilotos soviéticos voando as aeronaves angolanas e nem consultores soviéticos acompanhando as baterias de mísseis em campo.

Ataques aéreos na Namíbia

  1. Os planejadores soviéticos do MAG também podem romper o paradigma e continuar a ofensiva contra o poder aéreo sul-africano, embora até agora não haja evidências de que estejam contemplando essa possibilidade. Um ataque aéreo ofensivo provavelmente assumiria a forma de um ataque a aeródromos da África do Sul na Namíbia – particularmente Ondangwa e Rundu, os aparentes pontos de partida para os ataques do ano passado. Os ataques poderiam ter como objetivo danificar os campos de pouso ainda não ocupados ou contra aeronaves sul-africanas depois de serem levadas aos campos de aviação.

Em aeródromos não ocupados

  1. Os ataques aos aeródromos se concentrariam em interromper pistas, com o objetivo secundário de destruir edifícios, equipamentos de apoio e suprimentos. Ataques com bombas numa pista a partir de um caça em alta velocidade, no entanto, é uma tarefa difícil, mesmo para um piloto bem treinado e com sistemas de precisão. Os pilotos angolanos (provavelmente voando os Fishbed) que atacaram a pista de pouso de Mavinga na ofensiva no outono passado erraram completamente a pista, e mesmo o controle de fogo dos Fitter13 angolanos não é preciso a ponto de prescindir de um alto nível de proficiência. Além disso, a interdição desses campos por mais tempo do que alguns dias exigiria múltiplos ataques, já que mesmo um departamento de rodovias tem capacidade para consertar pistas de asfalto como as da Namíbia em apenas um ou dois dias.
  2. A oposição ao ataque inicial contra os campos de pouso não ocupados seria leve – provavelmente apenas um mínimo de fogo de artilharia terrestre no curto prazo, embora as obras atuais em Rundu possam ser para equipamentos de defesa aérea. Durante ataques posteriores, os sul-africanos provavelmente seriam capazes de construir defesas rapidamente desdobrando aviões de combate e sistemas SAM.
LIVRO RECOMENDADO:

North of the Red Line: Recollections of the Border War by Members of the Sadf and Swatf: 1966-1989

  • Gerry Van Tonder, Hanlie Snyman Wroth (Autores)
  • Em inglês
  • Versões eBook Kindle e Capa Comum

Em aeródromos já ocupados

  1. Os ataques contra aeronaves sul-africanas depois de implantadas nos aeródromos da Namíbia apresentam problemas diferentes. Se os sul-africanos não dispersarem suas aeronaves – como não fizeram em Rundu em outubro – pode ser relativamente fácil destrui-las. Armas como bombas de fragmentação ou mesmo os canhões das aeronaves podem ser utilizadas, e podemos esperar explosões secundárias de combustível e material bélico após alguns ataques. Mesmo que os sul-africanos não utilizem equipamentos de defesa aérea, o risco de oposição seria maior do que no caso de um ataque a aeródromos não ocupados, já que o fato de não haver surpresa permitiria que os sul-africanos colocassem alguns Mirage no ar. Inteligência oportuna também seria um problema, pois os sul-africanos parecem limitar sua presença nos campos do norte da Namíbia a apenas poucas aeronaves pelo período mais curto possível.
  2. Angola tem as aeronaves para realizar ataques em pelo menos Ondangwa e Rundu, embora considerações operacionais possam restringir a composição da força de ataque. Implicações políticas à parte, o alcance das aeronaves seria o principal problema. Nossos cálculos indicam que os planejadores soviéticos esperariam que um Fishbed pudesse conduzir uma missão a cerca de 250 milhas náuticas com dois tanques de combustível e duas bombas. Esses cálculos são baseados num padrão ocidental (Mil-C14), que parece aproximar-se dos padrões soviéticos. Os cálculos para vários modelos de aeronaves, sob várias condições, levam às seguintes conclusões:
  • Contra alvos a até de 250 milhas náuticas das bases angolanas (incluindo Ondangwa e Rundu, mas não Grootfontein ou Mpacha), a força de ataque poderia incluir os Fishbed com dois tanques descartáveis e uma carga leve de bombas ou mísseis, Flogger com um tanque descartável e carga de mísseis ar-ar completa, e Fitter com dois tanques de tamanho médio e uma carga relativamente pesada de seis bombas de 500 kg. O perfil da missão envolve a aproximação do alvo a alta altitude, cinco minutos de combate em baixa altitude e retorno à base em alta altitude.
  • Contra alvos mais distantes, de até 350 milhas náuticas com um perfil de missão semelhante, os planejadores poderiam usar Flogger com três tanques descartáveis e carga total de AAM e Fitter com dois tanques descartáveis grandes e uma carga leve de bombas. O alvo estaria fora do alcance dos Fishbed.
  • A exigência de se aproximar do alvo a baixa altitude para evitar a detecção reduziria substancialmente o alcance dos ataques. Nossos cálculos indicam que uma missão com perfil lo-lo-hi15 poderia alcançar 250 milhas pela mesma aeronave que chegaria a até 350 milhas se a missão for realizada com perfil hi-lo-hi16. Os Fishbed não poderiam ser usados ​​e Grootfontein e Mpacha estariam fora de alcance nessas condições.
  1. A Figura 2 mostra arcos de 250 e 350 milhas dos três campos de pouso no sul de Angola a partir dos quais os caças têm operado – Namibe, Lubango e Menongue. Também são mostrados arcos para um quarto campo de pouso, Cuito Cuanavale, que atualmente está em obras e pode se tornar operacional como base de combate a tempo da futura ofensiva.

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Figura 2 – Alcances a partir de aeródromos militares angolanos

  1. Atualmente Angola não possui vigilância por radar ou capacidade de interceptação com controle de solo sobre os alvos em potencial – a seleção de alvos e o combate aéreo teriam que ser realizados exclusivamente pelos pilotos da força de ataque. As forças angolanas, no entanto, têm ou provavelmente podem obter o equipamento restante que precisam para montar um ataque. Mesmo que o Fishbed não pudesse ser usado, os Fitter e Flogger do inventário atual angolano seriam suficientes para realizar fortes ataques simultâneos a pelo menos dois alvos. Os planejadores soviéticos poderiam providenciar os estoques necessários de insumos descartáveis, incluindo bombas e tanques. A decisão de montar uma série de ataques exigiria grandes estoques de insumos, maior apoio de manutenção em campos avançados como o de Menongue e provavelmente algumas aeronaves adicionais, principalmente Fitter. Os soviéticos devem ser capazes de fornecer a inteligência necessária.

Participação soviética

  1. Os soviéticos podem chegar à conclusão que, se Angola realizasse ataques aos aeroportos da Namíbia, seria necessária sua participação direta no combate. As razões para esta conclusão e o tipo de intervenção necessária iria variar dependendo da natureza do alvo.
  2. Se o objetivo da missão for atacar pistas e instalações dos aeródromos, os soviéticos poderiam optar por eles próprios pilotarem a maioria das aeronaves de ataque – ou pelo menos os Fitter. Eles podem achar que apenas os pilotos soviéticos podem ser capazes de atingir as pistas e que a ausência de aeronaves sul-africanas reduziria o risco de perdas a um nível aceitável. A presença de soviéticos em qualquer aeronave atacante, por sua vez, provavelmente faria com que preferissem ter seus próprios pilotos nos caças de cobertura. Se múltiplos ataques fossem realizados, os soviéticos poderiam planejar delegar mais tarefas de combate a cubanos e angolanos à medida que aprendessem as lições dos ataques iniciais. Os soviéticos provavelmente também gostariam de reduzir sua exposição ao risco de perdas, que poderia aumentar em ataques subsequentes.
  3. Para atacar aeródromos já ocupados por aeronaves sul-africanas, os soviéticos podem sentir que pilotos cubanos ou mesmo angolanos podem causar estragos em fileiras de aeronaves estacionadas, tornando desnecessário correr o risco dos pilotos soviéticos encontrarem os sul-africanos no ar. Nesse caso, provavelmente também confiariam missões de cobertura aérea a pilotos cubanos ou angolanos, particularmente se a cobertura de radar de interceptação controlada por solo tivesse sido estendida aos alvos. Em qualquer cenário, no entanto, os soviéticos podem achar que um piloto soviético deve liderar a formação até o alvo, já que o ataque teria que percorrer uma distância substancial sem apoio externo de navegação. [TRECHO SUPRIMIDO]
LIVRO RECOMENDADO:

The Battle of Cuito Cuanavale: Cold War Angolan Finale, 1987-1988

  • Leopold Scholz (Autor)
  • Em inglês
  • Versões eBook Kindle e Capa Comum

Implicações

  1. Os resultados de aumentar a eficácia das defesas aéreas angolanas parecem ser todos positivos. Pouco se perderia (exceto provavelmente alguns equipamentos), ao fazer com que os cubanos e angolanos explorem melhor a mobilidade dos seus sistemas SAM. Esforços mais agressivos para interceptar aeronaves sul-africanas sobre território angolano podem levar a algumas perdas embaraçosas, mas uma aeronave perdida seria facilmente substituída e os engajamentos poderiam fazer com que os sul-africanos fossem mais cautelosos ao dar apoio aéreo à UNITA no futuro. Outro movimento arriscado pode ser a extensão da cobertura de radar sobre o território sul-africano, fornecendo a Angola radares Tall King ou movendo os radares Bar Lock17 para o sul. Os sul-africanos, em 1981, deixaram bem claras as suas objeções à cobertura de radar sobre a Namíbia, destruindo as duas instalações Bar Lock angolanas mais ao sul, e ataques a essas instalações de radar podem ser esperados. Apesar das chances de aumentar as hostilidades nessa opção, os soviéticos provavelmente poderiam evitar expor seu próprio pessoal mais do que já o fazem atualmente.
  2. Os resultados de ataques contra bases sul-africanas na Namíbia são mais problemáticos. Os efeitos de um único ataque contra pistas não ocupadas são provavelmente transitórios demais para valer o esforço, e múltiplos ataques podem ser muito caros, tanto em termos de logística quanto de prováveis perdas.
  3. Um ataque que destrua em solo alguns Mirage sul-africanos pode trazer efeitos mais duradouros – negativos e positivos. Pelo menos a curto prazo, possivelmente produziria uma escalada do conflito. É provável que a África do Sul retaliaria rapidamente – e, portanto, os planos de ataques aéreos angolanos à Namíbia provavelmente seriam precedidos por melhorias nas defesas aéreas e terrestres em torno de alvos de alto valor no sul de Angola, além de precauções contra outros tipos de represálias. Supondo que a retaliação sul-africana não destrua o poder aéreo angolano, no entanto, um ataque bem-sucedido de Angola também pode fazer com que os sul-africanos sejam mais cautelosos no apoio aéreo à UNITA. Eles podem implantar menos aeronaves na Namíbia por vez, limitar ainda mais sua presença nos campos avançados e atacar apenas quando a necessidade for grande. Em conjunto com melhores defesas aéreas em Angola, o resultado pode ser uma diminuição da ameaça aérea sul-africana sobre o país. Embora os soviéticos, cubanos e angolanos precisassem se preocupar com a perda de pilotos num conflito aéreo contínuo, qualquer Mirage perdido pela África do Sul seria insubstituível no ambiente político internacional atual.

[PARÁGRAFO SUPRIMIDO]

[PÁGINA SUPRIMIDA]

APÊNDICE A

Capacidades de defesa aérea e aeronaves de caça da África do Sul

A Força Aérea Sul-Africana é a mais poderosa da África ao sul do Saara. Combina alto nível de proficiência de pilotos com um inventário substancial de aeronaves de combate. A ordem de batalha aérea da África do Sul, resumida na Tabela 1, apresenta cerca de 240 aeronaves de ataque leve Impala produzidas localmente, menos de 100 caças Mirage III e Mirage F-1 de fabricação francesa e um punhado de aeronaves de ataque de longo alcance Buccaneer e Canberra. Embora algumas dessas aeronaves tenham sido produzidas na década de 1960 ou antes, todas são competitivas, se não superiores, a suas contrapartes angolanas fornecidas pelos soviéticos.

A principal restrição de equipamento da força aérea sul-africana é o embargo de armas que impede a África do Sul de receber fornecimentos do exterior. Pretória poderia substituir as aeronaves de ataque leve perdidas e até aumentar seu número graças à produção doméstica do Impala, mas não possui uma fonte comparável de caças de alto desempenho. Embora aeronaves de segunda mão possam estar disponíveis no mercado mundial, a força aérea da África do Sul deve assumir que qualquer Mirage abatido esteja perdido por anos, se não para sempre. Como resultado, é provável que a África do Sul seja particularmente avessa a riscos ao empregar essas aeronaves. Na ofensiva do outono de 1985, ela se concentrou em alvos indefesos como tropas terrestres, em detrimento de ataques contra alvos melhor defendidos como instalações aéreas e de armazenagem em Menongue, que poderiam ser mais decisivos.

LIVRO RECOMENDADO:

Cubans in Angola: South-South Cooperation and Transfer of Knowledge, 1976–1991

  • Christine Hatzky (Autora)
  • Em inglês
  • Versões eBook Kindle e Capa Comum

Outra restrição da força aérea sul-africana é que suas forças estão baseadas no leste da África do Sul, longe de Angola (Figura 3). Os Buccaneer e Canberra de longo alcance e alguns dos Mirage estão estacionados na base aérea de Waterkloof, perto de Pretória, enquanto os demais Mirage estão na base aérea de Hoedspruit, perto da fronteira com Moçambique. A presença permanente de aeronaves de combate no norte da Namíbia é limitada a oito a dez Impala, e qualquer força de ataque substancial deve ser enviada à frente a partir das bases domésticas mais distantes.

Os demais ativos de defesa aérea da África do Sul são menos impressionantes que suas aeronaves. A África do Sul possui dois sistemas SAM – o Tigercat e o Cactus –, mas ambos são de curto alcance e com estoque relativamente baixo. A substituição de lançadores e mesmo de mísseis pode ser difícil – os Tigercat são equipamentos excedentes da Jordânia comprados em 1976, e os Cactus (uma variante do francês Crotale) foi fabricada localmente, mas pode estar fora de produção. A rede de radares de alerta aéreo da África do Sul está concentrada no sul e leste do país e não cobre a parte da Namíbia adjacente a Angola.


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Tabela 1 – Ordem de Batalha da Força Aérea Sul-Africana

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Figura 3 – Aeródromos Sul-Africanos

APÊNDICE B

Capacidades de defesa aérea e aeronaves de caça de Angola

A força aérea e o equipamento de defesa aérea de Angola, resumidos na Tabela 2, são inteiramente de origem soviética. A maior parte da força aérea consiste em cerca de 80 MiG-21 dos modelos mais recentes (Fishbed J e L). O Fishbed tem boa velocidade e capacidade de manobra, mas não tem alcance para operações de ataque de longo alcance e não possui aviônicos e mísseis comparáveis ​​aos dos interceptadores mais modernos. Em 1984, os soviéticos começaram a fornecer aparelhos com essas capacidades – a aeronave de ataque ao solo Su-22 Fitter J e o interceptador MiG-23 Flogger G. A quantidade destes em Angola, no entanto, ainda é relativamente pequena – cerca de 25 Flogger e apenas 9 Fitter.

Angola provavelmente recebeu todos os modelos de SAM exportados pelos soviéticos ao Terceiro Mundo, exceto o SA-5. Boa parte do grande estoque de SAM de Angola está concentrado no sul ao longo da ferrovia Namibe-Menongue (Figura 4). Eles não formam uma barreira completa devido ao tamanho do território angolano, mas proporcionam defesas para a maioria dos principais locais. Por exemplo, os ataques sul-africanos nos dois maiores campos de aviação da região, Namibe e Lubango, teriam que evitar os SA-6 ao sul da linha férrea e depois penetrar nas defesas de vários sistemas, incluindo o SA-2 de longo alcance ao redor dos aeródromos. A outra base principal da região, Menongue, é defendida pelos SA-3, SA-8 e SA-9.

Os SAM angolanos são apoiados por uma rede de radares que fornece cobertura de alta altitude na maior parte do país (Figura 5). A rede emprega radares de vigilância Bar Lock, Flat Face18 e Spoon Rest19 e de altitude Odd Pair20 e Side Net21. A rede de radares também capacita Angola a controlar seus interceptores a partir do solo – a principal técnica soviética para uso de caças na função de defesa aérea. É notável a ausência do radar de vigilância Tall King, mais novo e de longo alcance, que se fosse posicionado nos atuais pontos de radar, poderia ampliar o alerta antecipado em alta altitude de Angola e sua capacidade de interceptação com controle no solo sobre aeródromos da África do Sul no norte da Namíbia.


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Tabela 2 – Ordem de Batalha da Força Aérea Angolana

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Figura 4 – Localização dos SAM angolanos

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Figura 5 – Cobertura de Radar e Localização dos SAM angolanos

APÊNDICE C

Envolvimento passado dos soviéticos em combate em Angola

O envolvimento soviético nas operações militares em Angola aumentou ao longo dos anos e parece ter atingido um novo patamar na ofensiva de 1985. Estimamos que o MAG soviético esteve profundamente envolvido no planejamento da ofensiva e na organização do apoio logístico. Sem dúvida, oficiais do MAG monitoraram o progresso da ofensiva e podem até ter ajudado a supervisionar sua execução.

Oficiais soviéticos também acompanharam as brigadas angolanas em campo. Prisioneiros angolanos reclamaram que, assim que as coisas pioravam, os soviéticos eram levados em helicópteros, seguidos dos conselheiros cubanos, deixando as tropas angolanas para cuidar da situação da melhor maneira que pudessem. Provavelmente os soviéticos também atuam como conselheiros das forças de defesa aérea, mas as unidades aéreas não entraram em combate na ofensiva.

[TRECHO SUPRIMIDO] a maioria das aeronaves angolanas é pilotada por cubanos ou angolanos. O MAG soviético provavelmente inclui pilotos militares qualificados em todos os modelos de caças angolanos.

[TRECHO SUPRIMIDO]

Essa atividade soviética indica que há limites para o envolvimento de seu pessoal em combate. O principal objetivo dos limites parece ser minimizar o risco de perda ou captura de soviéticos. Não parece haver restrições ao envolvimento soviético em funções de planejamento e monitoração de operações de combate. Tais atividades são permitidas, não apenas em Luanda, mas em outros locais seguros em campo. A participação soviética real em combate, mesmo de pilotos, é improvável além de possíveis ocorrências pontuais.

Note-se que, embora os soviéticos em Angola pareçam evitar o combate por uma questão política, pilotos soviéticos realizaram missões de combate em outros países do Terceiro Mundo. O caso conhecido mais recente ocorreu em Aden no início deste ano, quando dois pilotos soviéticos foram abatidos em operações de combate.

Notas

1 Nota do VG: SWAPO (South West Africa People’s Organisation, Organização Popular do Sul da África Ocidental) foi o movimento de independência da Namíbia e tornou-se o partido governante no país desde a sua independência em 1990.

2 Nota do VG: English Electric Canberra, bombardeiro médio a jato britânico projetado no final dos anos 1940.

3 Nota do VG: Blackburn Buccaneer, avião de ataque britânico projetado na década de 1950 para a Royal Navy.

4 Nota do VG: O Atlas Impala é uma versão do Aermacchi MB-326 produzida sob licença na África do Sul.

5 Nota do documento original: O Apêndice A descreve as aeronaves de caça sul-africanas e as capacidades de defesa aérea.

6 Nota do VG: UNITA (União Nacional pela Independência Total de Angola) é o segundo maior partido político de Angola. Lutou junto ao MPLA (Movimento Popular pela Libertação de Angola) na Guerra da Independência (1961-1975) e depois contra o MPLA na guerra civil (1975–2002). Esta foi uma das “guerras por procuração” do período da Guerra Fria, com a UNITA recebendo apoio dos EUA e da África do Sul e o MPLA sendo apoiado pela URSS e seus aliados.

7 Nota do VG: Mikoyan-Gurevich MiG-23 ( “Flogger” pela OTAN), avião de combate soviético com asas de geometria variável.

8 Nota do documento original: O Apêndice B descreve as aeronaves de combate angolanas e as capacidades de defesa aérea.

9 Nota do documento original: O Apêndice C descreve o passado envolvimento soviético em combate em Angola

10 Nota do VG: Sistema P-14 de radar 2D VHF desenvolvido pela União Soviética e designado “Tall King” pela OTAN.

11 Nota do VG: Mikoyan-Gurevich MiG-21 (“Fishbed” para a OTAN), caça supersônico soviético.

12 Nota do VG: Dassault Mirage, aeronave supersônica de caça de fabricação francesa.

13 Nota do VG: Sukhoi Su-17 (designado “Fitter” pela OTAN), caça-bombardeiro soviético com asas de geometria variável.

14 Nota do VG: padrão militar americano para planejamento de missões de voo.

15 Nota do VG: acrônimo para “ low-low-high” (“baixo-baixo-alto”): perfil de voo até o alvo em baixa altitude, missão sobre o alvo em baixa altitude e retorno à base em alta altitude.

16 Nota do VG: acrônimo para “high-low-high” (“alto-baixo-alto”): perfil de voo até o alvo em alta altitude, missão sobre o alvo em baixa altitude e retorno à base em alta altitude.

17 Nota do VG: Sistema P-35 de radar 2D banda E/F desenvolvido pela URSS e designado “Bar Lock” pela OTAN.

18 Nota do VG: P-15, radar 2D UHF desenvolvido pela URSS, designado “Flat Face” pela OTAN.

19 Nota do VG: P-18, radar 2D VHF desenvolvido pela URSS, designado “Spoon Rest” pela OTAN.

20 Nota do VG: PRV-13, radar de alta altitude desenvolvido pela URSS, designado “Odd Pair” pela OTAN.

21 Nota do VG: PRV-11, radar de alta altitude desenvolvido pela URSS, designado “Side Net” pela OTAN.


*Albert Caballé Marimón possui formação superior em marketing, é fotógrafo profissional e editor do blog Velho General. Já atuou na cobertura de eventos como a Feira LAAD, o Exercício CRUZEX e a Operação Acolhida. É colaborador do Canal Arte da Guerra e da revista Tecnologia & Defesa. Pode ser contatado através do e-mail caballe@gmail.com.


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2 comentários

  1. parabéns pelo artigo
    acho q seria mais interessante coloca os fatos em ordem cronológica

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